Desabando em meu próprio destino escrita por Arisusagi


Capítulo 2
Capítulo 2 - Nasci apenas para de conhecer


Notas iniciais do capítulo

Título do capítulo retirado da música MASQUERADE
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A história dos dois começou há mais de 200 anos. Ambos nasceram em 1622, Kaito em fevereiro e Gakupo no final de julho.

Kaito era filho de uma das criadas da família do Barão Kamui, pai de Gakupo. Os dois cresceram juntos, brincando pelos jardins do casarão em que moravam, junto com Meiko, a irmã mais velha de Kaito, e Kaiko, sua irmã mais nova.  

Na infância, a coisa que Gakupo mais temia era o próprio pai, homem severo e agressivo, que o agredia com frequência. Em consequência disso, ele cresceu muito tímido e apegado à mãe, sempre andando agarrado na barra de suas saias. 

A mãe de Gakupo era uma mulher doce e gentil. Vinte anos mais nova que seu marido, Irina era do leste, e o casamento dos dois ocorreu puramente por dinheiro, que o pai dela precisava desesperadamente para pagar algumas dívidas. 

Ela tinha a saúde frágil, e ficava de cama com muita frequência. Mesmo estando doente, ela gostava de ler livros e contar lendas de sua terra para seu filho e para as outras crianças da casa. Essas eram algumas das melhores memórias da infância de Gakupo

Nem é preciso dizer o quanto ele se abalou quando ela veio a falecer, vítima de uma tuberculose, quando ele tinha apenas 12 anos de idade. 

Kaito então tornou-se sua única alegria no inferno que era viver naquela casa. Os dois estavam juntos a todo momento, até mesmo quando cresceram e atingiram a puberdade, a época em que a relação dos dois começou a ficar um pouco confusa.

Mesmo que não soubessem exatamente o que era amor, ambos sabiam que havia ali um sentimento forte demais para ser ignorado. Especialmente depois que Gakupo disse o primeiro “eu te amo” para Kaito. 

O primeiro beijo foi quando ambos tinham quinze anos, tímido, vindo da parte de Gakupo. Não muito tempo depois, quando o inverno começou, Kaito passou a escapar de seu quarto no meio da noite para se esquentar debaixo das cobertas junto com Gakupo. 

Era inocente a forma como eles às vezes passeavam pelo bosque de mãos dadas, ou como roubavam beijos um do outro, escondidos atrás do estábulo. Gakupo era mais expansivo, várias vezes declarando seu amor por Kaito usando palavras bonitas que aprendera nos livros de poesia de sua falecida mãe. 

Não demorou muito para que rumores começassem a correr entre os empregados e chegassem aos ouvidos do dono da casa.

O barão não ficou nada feliz em saber que diziam por aí que seu filho estava se envolvendo com outro rapaz. Gakupo sempre negou tudo, dizendo que eram apenas mentiras. Entretanto, antes que pudesse sequer começar a se preocupar com isso, o pior aconteceu: Kaito adoeceu.

A princípio, parecia ser um simples resfriado, mas quando a tosse se tornou cada vez mais constante, ficou claro que era muito mais sério. Quando o médico da família o diagnosticou com tuberculose, o mundo de Gakupo desabou. 

Mesmo que não chorasse como a mãe e irmãs de Kaito faziam, Gakupo parecia estar ainda mais abalado do que elas. Seguindo a orientação do médico, ele imediatamente ordenou que preparassem cavalos e carruagens para levá-los para a casa de veraneio que o barão tinha nas montanhas. 

Seu pai não contestou, afinal, era o mínimo que podia fazer pela família que os servia há gerações. Entretanto, era um tanto suspeito seu filho estar tão preocupado assim. 

O tratamento recomendado pelo médico era se alimentar bem, tomar bastante leite de cabra e repousar, tudo isso aliado ao clima das montanhas e ao ar puro. Foi exatamente o mesmo que sua mãe fez quando adoeceu, mas mesmo assim, ela faleceu pouco mais de dois anos depois de contrair a doença. 

A mãe de Gakupo também havia passado seus últimos anos de vida naquela casa nas montanhas. Ele ainda se lembrava bem dos sons horríveis que ela fazia quando tentava respirar, sufocada pelas crises de tosse constantes. 

Gakupo chorou durante toda a viagem. Enquanto Kaito ia com sua mãe e irmãs em uma carruagem, Gakupo ia sozinho montado em seu cavalo, sentindo o mais puro desespero em pensar que mais uma vez veria uma pessoa tão importante de sua vida definhar até morrer. 

Kaito, pelo contrário, estava bem otimista quanto a seu estado. Ele continuava sorrindo, pedindo que Gakupo se acalmasse e parasse de se preocupar porque logo a doença iria embora. 

Sua mãe e irmãs também pareciam um pouco otimistas, mas Gakupo as pegava chorando escondidas em algum canto da casa com certa frequência.

Apesar de querer passar o tempo todo morando naquela casa com a família de Kaito, seus compromissos na cidade não podiam ser ignorados. Pouco mais de um mês depois de chegarem, o barão enviou um mensageiro para levar Gakupo de volta, e ele foi sem questionar.

Foi então estabelecida uma rotina que Gakupo seguiu por pouco mais de dois anos: quinze dias na cidade, estudando economia com seus tutores e ajudando na mais nova empresa de comércio de tecidos de seu pai; seguidos por cinco dias nas montanhas com seu amado. 

Por mais que o desespero de poder receber a qualquer momento a notícia do falecimento de Kaito o acometesse enquanto estava na cidade, Gakupo mantinha a compostura, uma vez que seu pai continuava suspeitando da relação dos dois.

O barão nunca teve paciência para lidar com o filho, nem quando era garoto, nem agora que já era praticamente um adulto. Agora que tudo tinha que ser resolvido com diálogo, sem poder apelar para punições físicas, a tarefa de criar um filho parecia ainda mais difícil para ele. Era nesses momentos que ele sentia falta da falecida esposa, que parecia ser a única pessoa para quem Gakupo dava ouvidos. 

Se ela estivesse viva agora, provavelmente já o teria convencido a se casar com alguma moça de boa família,  e ele  não estaria tão agarrado ao filho da criada a ponto de fazer aqueles rumores vergonhosos circularem pela casa. 

Ele mesmo já havia tentado apresentar algumas moças para o filho, mas Gakupo nem sequer fingia interesse nas jovens, por mais bonitas e educadas que fossem, esnobando-as e ignorando qualquer tentativa de iniciar uma conversa. Isso deixava o barão furiosíssimo. Entretanto, levando em conta que o negócio de tecidos rendia dinheiro mais do que o suficiente para que os dois vivessem com luxo, e que ele mesmo só se casou muito depois dos 30 anos de idade, não havia motivo algum para Gakupo se casar assim tão cedo.

E era por isso que ele não se opunha às visitas constantes que seu filho fazia à casa das montanhas, por mais que quisesse proibí-lo de ver aquele rapaz. 

Para Gakupo, aquelas visitas conseguiam ser, ao mesmo tempo, o paraíso e o inferno.

Era doloroso ver Kaito ficando cada vez mais magro. Por mais que insistisse que estava melhorando, era possível ver seu rosto ficando cada vez mais cansado e seus ossos cada vez mais visíveis sob a pele. A tosse ainda era constante, e Gakupo sentia um nó no estômago toda vez que presenciava uma crise.

O tratamento recomendado pelo médico claramente não estava fazendo efeito, nem os tratamentos alternativos com infusões e xaropes de todo tipo de planta e muito menos todas as preces e orações. Era muito desesperador. 

Com o tempo, até Kaito parecia ter aceitado que eventualmente morreria com aquela doença, mas para Gakupo, essa aceitação nunca veio. Nesses dois anos que se passaram, só havia negação e desespero em seu coração.

E foram essas emoções que o levaram a tomar uma decisão precipitada que mudou a vida dos dois radicalmente.


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