Anormais Presentes para Morte escrita por Alice Prince


Capítulo 2
­­1 -V I CI S S I T U D E –




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­­1

—V I CI S S I T U D E –

 

[O evento inesperado onde destino pôs seus olhos em uma alma; não mudando sua trajetória, mas fazendo de sua história, algo importante para o mundo...]

Os ventos do outono carregavam consigo sentimentos, angústias e más notícias naquele começo de dia cinzento, as nuvens agourando uma chuva ao fim da tarde, pareciam ansiosas no céu, como se soubessem de algo.

O barulho insistente do celular fez com que ela bufasse mais uma vez, com os olhos cansados semi abertos, encarando a tela do aparelho, o nome de sua mãe estampado quase como uma piada, não podia ser real. Laura jamais ligava para ela nos dias comuns, e muito menos em seu aniversário.

Assim que atendeu a respiração de sua mãe pareceu sumir, antes que as palavras dela fossem ditas Claire sentiu como se algo em si fosse puxado para o fundo, como se um mau agouro tivesse pisado naquele momento em seu quarto.

— Seu pai está morto, Claire! — Eram apenas quatro palavras, mas fizeram com que o ar em volta se tornasse inexistente, o coração falhou uma, duas batidas e a linha do outro lado seguiu muda, como se Laura soubesse que nada mais precisasse ser dito.

Morto!

Os segundos se amarram até se tornarem minutos incontáveis em que ela ficou ali, parada olhando para a janela que ficava em frente à sua cama, as nuvens lutando umas com as outras fazendo o céu rugir alto.

Seu pai está morto!

Claire conhecia sobre a dor e a tristeza, mas não dessa maneira, era como estar sufocando em um abraço que não cessava nunca, seu peito doía a cada nova batida de seu coração, um limbo enorme se formava em sua alma e as garras da dor lhe arranhavam de forma agoniante, ela não teve dúvidas sobre as palavras de sua mãe, pois sentiu naquele dia algo escuro andando atrás de si querendo sussurrar que nada mais seria como antigamente.

— Você não pode não estar mais aqui, porque eu não falei com você, eu não o abracei... — Sua voz falhou e os olhos doeram, inchados e judiados pelas lágrimas que já tinham secado em sua pele, o nó em sua garganta se comprimiu e o choro voltou. — Eu não pude me despedir...

Seus olhos se focaram em um ponto do céu, como se pudesse ver além das nuvens, e ela odiou com toda a força que sua alma possuía aquele que todos amavam e chamavam de Deus, ela o amaldiçoou, que ser poderia tirar o pai de uma filha assim de uma hora para outra como quem sopra um fio de cabelo para longe.

[...]

Seus pés a levaram para o refúgio cercado de plantas onde passava a maior parte de seus dias. As pedras de tom marrom da floricultura a fizeram sentir um pouco menos o peso da dor em seu corpo, as vitrines tomadas pelos inúmeros vasos de plantas pediam para que qualquer pessoa que ali passasse tirasse um minuto de seu dia para apreciar a beleza das flores ali dispostas.

O sorriso inevitável costurou seus lábios, mesmo que triste, ela sempre amou a beleza delicada da natureza, cada pequena folha e flor, cuidar e ver a vida crescer diante de seu esforço, sempre foi o maior dos alívios em sua alma.

— Oh Claire! — O sino da porta anunciou sua chegada e um senhorzinho de baixa estatura saiu de trás de uma enorme planta que estava no balcão, o cabelo branco salpicando a cabeça, os óculos meia-lua ameaçando cair de seu nariz. Seu sorriso largo e feliz foi morrendo aos poucos assim que seus olhos focaram na figura à sua frente.

Aquela não era a garota que ele estava acostumado a encontrar todas as manhãs, o que havia entrado pela porta era apenas um fantasma dela. Seus olhos inchados denunciavam que não só os céus estavam tristes naquele dia, o que o intrigou muito, afinal, era o aniversário dela, a quem amava como uma filha.

— Mas o que aconteceu, minha querida? — Seus braços logo a envolveram, ela deitou a cabeça em seu ombro e mais uma vez as lágrimas desabrocharam de seus olhos, ela desabou ali em meio a tudo que amava, sentindo novamente as garras em seu peito, afiadas como lâminas.

— Meu pai está morto, senhor Evans, ela se foi! — Proferir pela primeira vez aquilo fez com que algo em si adormecesse, como se uma parte de sua alma não tivesse fé naquelas palavras. — Laura me ligou essa manhã, fiquei tão surpresa ao ver o nome dela, pensando que finalmente ela estava tomando o seu lugar de mãe, mas não. Ela apenas me disse isso, que ele se foi e agora eu não consigo respirar direito... Isso dói tanto.

O homem a abraçou ainda mais forte, e ali ela sentiu o alento que tanto precisava. As horas se passaram e o senhor Evans a fez sentar diante da enorme bancada que tinha na parte de trás da floricultura, as mãos sujas com a terra negra agiam de forma lenta, como se Claire estivesse em um transe, ele a conhecia bem e sabia que ela precisava daquilo.

— Você sabe que precisa ir, não é? — A tarde já se fazia presente e Claire estava imersa entre folhas e raízes, cuidando delas como se fossem joias preciosas, ela o olhou de canto e suspirou, a realidade da vida batendo mais uma vez em sua porta.

— Não sei se irei ter coragem para isso. — Ela acariciou a pétala delicada de uma rosa que acabara de cair sobre a mesa. — Não é a última lembrança que quero ter dele.

— Você é Claire Rosenrot, tem a coragem necessária para dar o último adeus ao homem que tanto lhe amou, e fará isso porque sabe que jamais se perdoará se não der o conforto que os seus dois pequenos irmãos precisam nesse momento. — O homem vinha dos fundos, com um pequeno vaso em mãos, nele uma flor diferente de todas ali jazia pálida como um papel, caída como se lutasse para continuar presa a terra. — Procurei por ela o ano inteiro, rara e bela como é, seria o presente perfeito para alguém que ama tanto as plantas como eu, mas agora, querida, receio que seu significado seja diferente.

O velho largou a planta diante dela e viu seus olhos se iluminarem por um breve segundo antes de perceber que as lágrimas apenas estavam refletindo a luz do ambiente.

— Uma orquídea fantasma. — Um sorriso triste se formou enquanto ela tomava para si o vaso, com um cuidado enorme como se fosse feita de cristal.

— Você tem que ir, Claire, não porque é seu dever, mas porque mesmo que ele não esteja mais vivo, ele sentirá sua presença, ele saberá que você foi dar a ele seu adeus, o amor daqueles que deixamos é o que nos fortalece para seguir em frente para o outro lado!

[...]

Seus olhos focaram mais uma vez na passagem em suas mãos, ela pensava mais uma vez em como aquilo era cruel, a Escócia sempre foi o seu sonho de infância, conhecer o lugar onde seu pai nasceu era algo que a fazia trilhar esperança de um dia se conectar com o passado de sua família.

Agora ela estava a caminho desse sonho, mas o cruel disso era que conheceria o lugar onde ele nasceu apenas agora que ele havia partido deste mundo, seu coração se partia a cada novo passo que dava, a morte havia arrancado as esperanças, sentia-se afundando em um espaço mar de tristeza.

Era como se o destino tivesse dado a ela um novo caminho a trilhar, agora cheio de pedras e buracos, e ela estava prestes a cair no mais fundo deles.

 

 


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