O Conto do Cão Negro escrita por BlackLupin


Capítulo 11
Capítulo 11: Bons Amigos




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Sirius encontrou Flori e suas amigas em um dos vagões no meio do trem. Elas pareciam conversar animadamente, enquanto trocavam os resultados de seus N.OM.s entre si, passando os pergaminhos uma a outra. Sirius sabia que Flori havia tirado sete N.O.M.s e Excede as expectativas no restante, até mesmo em História da Magia, a matéria a qual todos concordavam ser uma das mais chatas e desinteressantes dentre todas. Ele hesitou por um momento à porta do compartimento, dividido entre não acabar com seu bom-humor e entre a vontade de resolver logo as coisas entre ambos.

Não precisou continuar com o debate interno, pois Marlene cutucou a amiga com o cotovelo e, cochichando algo em seu ouvido, indicou o rapaz parado à porta. Tomando sua decisão, Sirius não esperou que o convidassem ou o ignorassem e continuassem conversando, e entrou na cabine.

— Oi. – Cumprimentou.

Nenhuma delas lhe saudou e as quatro garotas o encararam em espantado silêncio. Havia um olhar de profunda aversão no rosto de Lílian Evans e um de angústia no de Flori. Sirius não se deixou abater e resolveu prosseguir; não era primeira vez que lidava com um público difícil.

— Será que eu posso dar uma palavrinha com você aqui fora, Flori? – Perguntou, virando-se para ela.

Ela trocou um olhar com as amigas.

— Hum...

— O que você quer com ela? – Interpelou Lílian.

— Eu acho que isso não é da sua conta, é, Evans? – Retrucou Sirius, irritando-se com a petulância da garota.

— Se você tentar encher a cabeça da minha amiga com suas mentiras e enganações novamente, então, sim, é da minha conta também, Black. – Disparou ela.

— De todas nós. – Acrescentou Marlene.

— Eu não sou mentiroso! – Defendeu-se Sirius, enraivecido.

Flori se levantou de repente e as outras, que estavam prestes a responder, se calaram.

— Tudo bem. – Disse.

— O que está fazendo? – Perguntou Lílian, chocada.

— Quero ouvir o que ele tem a dizer. – Respondeu Flori e Sirius sorriu exultante.

— Não pode estar falando sério, Flori! Não lembra o quanto esse cafajeste a fez...

Flori interrompeu Lílian com um olhar de advertência, indicando que já havia falado demais.

— Eu sei o que estou fazendo, Lily. – Assegurou. – Ao contrário do que pensam, não sou uma bonequinha frágil, eu sei me virar.

A outra suspirou e deu de ombros.

— Faça o que achar melhor. – Decretou.

— Mas se precisar de algo estaremos aqui. – Declarou Marlene, olhando feio na direção de Sirius.

Ele abriu a porta e afastou-se para o lado, abrindo passagem para que ela fosse à frente. Ao chegarem ao corredor e a porta da cabine ser fechada, Flori se virou para ele.

— E então, o que tem a me...?

— Um momento. – Pediu. – Não vamos conversar aqui fora, as cabines têm ouvidos. – Murmurou ele, indicando alguns alunos que olharam curiosos à sua passagem.

— Duvido que tenha uma cabine vaga.

— Por incrível que pareça, encontrei uma vazia enquanto estava a sua procura. Venha. – Chamou.

Ele tentou pegá-la pela mão, mas a garota a deslizou para trás, longe de seu alcance. Ela o seguiu em silêncio, enquanto Sirius procurava a tal cabine. Encontrou-a um minuto depois e abriu a porta, indicando que ela tomasse a dianteira de novo. Flori parou à entrada, hesitante. Era óbvio que ela não se sentia confortável com a ideia de ficar a sós com ele novamente. Sirius sentiu um nó se formando em seu estômago, tomando aquilo como um mau sinal. Ele entrou primeiro e Flori veio logo em seguida, fechando a porta.

— E então, o que você queria me dizer? – Indagou ela mais uma vez, virando-se em sua direção.

— Não quer se sentar? – Ofereceu Sirius, indicando o assento diante dele.

— Não. – Ela cruzou os braços.

O significado por trás daquela negativa ficou muito claro a Sirius; não aceitando sua oferta, ela demonstrava que qualquer coisa que ele dissesse que não a agradasse, ela se viraria e iria embora para deixá-lo falando sozinho com seus botões.

— Certo. – Suspirou. Ainda não se daria por vencido. Resolveu ficar de pé também. – Eu pensei bastante sobre a nossa briga durante as férias. – Contou. – Confesso que levou um tempo para admitir que não agi certo na época, mas quando minha cabeça esfriou, eu percebi que você tinha razão. Eu odeio o Ranhoso e isso nunca vai mudar, mas... estou consciente agora de que não deveria tê-lo atacado por diversão.

— Você percebeu, não foi? Demorou.

— Tem razão. – Assentiu. – Eu não costumo admitir meus erros. – Reconheceu. – Eu sei que agi como um trasgo naquele dia, mas eu gostaria que me perdoasse. Não parei de pensar um minuto na forma decepcionada com que você me olhava e me arrependo de ter sido tão cabeça dura.

O olhar de Flori estava indecifrável. Não sabia se acreditara em seu pedido de desculpas ou se só estava encontrando palavras fortes o suficiente para xingá-lo. Ele não aguentou a intensidade com que seus olhos de rubi o encaravam e desviou o olhar para o lado, observando alguns estudantes passando pelo corredor. Para o seu total espanto, os braços da garota desvencilharam-se e ela soltou um profundo suspiro.

— Você não foi o único que errou, Sirius. – Murmurou. Ela parecia incapaz de olhá-lo nos olhos. – Eu lhe disse coisas horríveis, muito piores do que as suas. Você não é mau, até cortou todos os laços com sua família, comprovando que não pensa como eles, o que já o torna infinitamente melhor. Sou eu quem lhe devo um pedido de desculpas. – Declarou, finalmente erguendo os olhos.

Sirius sorriu e sentiu uma enorme vontade de abraçá-la, inclusive fez menção de se aproximar, mas mudou de ideia no último segundo.

— Nós dois estávamos de cabeça quente naquele dia e erramos. Que tal deixarmos tudo isso para trás e fazer de conta que nunca aconteceu? – Sugeriu.

— Eu adoraria.  – Afirmou Flori, parecendo aliviada.

— Ótimo.

Ele ergueu a mão, prestes a tocar em sua bochecha, quando Flori o impediu e o fez baixar o braço.

— Porém... não acho uma boa ideia voltarmos.

— E por que não? – Assustou-se o rapaz. – Está me dizendo que realmente não sentiu a minha falta durante todo esse tempo? Nenhuma vez?

Ela baixou os olhos e ele percebeu que estava se lembrando do porta-retratos em seu quarto.

— A questão não é essa. – Flori ergueu a cabeça. – Quando terminamos eu me senti... fraca, desamparada. Como se não me lembrasse mais como eu era antes de você e eu não gostei desse sentimento. Eu não quero me sentir assim de novo. – Confessou.

— Mas dessa vez vai ser diferente. Nós não vamos terminar. – Argumentou Sirius, numa tentativa falha.

— Eu acho que acabei me firmando muito em você, Sirius, e agora preciso de um tempo sozinha. – Explicou. – Mas eu gostaria muito que continuasse meu amigo. Embora eu compreenda totalmente se você não quiser. – Acrescentou.

Sirius não podia acreditar que mais uma vez o destino não os queria juntos. Algo sempre aparecia em seu caminho, impedindo-os de prosseguir, fossem fofocas espalhadas por toda a escola, fosse a sua própria falta de coragem. Ele não queria esperar mais; sabia que o correto era estarem juntos e ela também deveria saber, então por que continuar adiando? Mesmo que a garota tivesse apresentado seus motivos, não achava que ela tinha sido totalmente sincera, deveria haver algo por trás daquela decisão, não? Tinha de haver. Percebeu que Flori aguardava por sua resposta.

— Tudo bem. – Disse por fim.

Ela sorriu.

— Obrigada. – Agradeceu. – Eu sei que não deve ser fácil para você uma situação dessas. Acredite, para mim também não é, mas realmente acho que é o melhor para nós dois.

“Talvez para você”, pensou Sirius, no entanto nada disse. Ele se contentou em lhe dar um sorriso de canto e acompanhou-a para fora da cabine. As coisas não haviam saído exatamente como esperara, mas haviam se desculpado e voltariam a serem amigos e já era um progresso. Não estava feliz com aquele cenário, mas se ao menos pudesse continuar tendo-a por perto como amigo já seria algo, ainda que não o suficiente. Contudo, ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, Flori cairia na real e voltaria atrás.

 


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