Mate Angela escrita por Sebastian


Capítulo 9
Carpe Diem




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805600/chapter/9

Ato II

“Estou hospedado no hotel Sorrentino, venha ao meu encontro” já passa da meia-noite, é 10 de julho de 1943 e é verão, o calor está derretendo seu cérebro e  está fatigado pelos dias que passou em alto mar, ele acordou de um cochilo, com a voz de Lucius ecoando em sua cabeça. Ele o respondeu, logo viria. Não que estivesse preocupado ou tenso, mas sente que não está preparado para isso, talvez Koschei não passe de um estranho agora. Angel passou um bom tempo cultivando raiva e desprezo por suas ações para que o amasse menos, contudo, falhou miseravelmente nesta tarefa. 

Ele levanta da cama, sentindo o ar asfixiante entrar pela janela e vai ao banheiro, lavando seu rosto e cabelos, procura por um frasco de perfume no meio da sua bagunça e encontra algo com erva doce e alecrim, servindo para disfarçar o odor de suor descendo por seu pescoço. Ele escuta alguém batendo na porta, desviando-o de seus pensamentos, Koschei. 

Angel gira a maçaneta devagar, seu coração está palpitando como o rufar de mil tambores e mal consegue respirar, em uma fração de segundos se vê contemplando Koschei. Um instante de silêncio e o rapaz avança para lhe dar um abraço, mas Angel recua, o sorriso nervoso dele desapareceu do rosto e deu lugar ao constrangimento. Lucius entrou encabulado e ficou parado na porta, como se tivesse espinhos em seus pés, ao mesmo tempo que Angel estava sentado cabisbaixo na cama. O silêncio permaneceu, eles estão esperando quem vai dizer a primeira palavra ou se há de fato algo a ser dito. 

— Eu… — Os lábios de Lucius tremem e um som estranho saiu de sua boca. — Eu sinto muito, Thea. 

— Você passou treze séculos ensaiando um pedido de desculpas, isso é tudo o que consegue dizer?

— Nada que eu disser fará diferença — ele responde com apatia. — Você ainda é capaz de me perdoar? 

— Eu poderia te perdoar um milhão de vezes e ainda sim, você estaria disposto a me arruinar — Angel falou com desgosto. — Você é um assassino. — Ele se levantou de uma vez, não conseguiu evitar a ira inflando em seu peito, Angel se aproxima o encurralando contra a porta e suas mãos seguram seu colarinho. — Destruiu cada versão de mim, como se eu fosse um estranho. Aposto que sentiu prazer com isso. 

— Errado — Lucius diz, cerrando os dentes. — Tudo o que eu fiz foi tornar as coisas mais fáceis. — Eles estão tão perto, é inevitável olhar para sua íris, ainda que estivesse com raiva, há tristeza nele.  — O que teria feito no meu lugar? — Ele observa a expressão desconcertante nos olhos de Theta que aos poucos retira as mãos de seu pescoço. — Hã? Como teria provado que é melhor que eu? Me mostre como teria agido diferente, a pior parte não é morrer ou esquecer, Theta, o pior é se tornar aquilo que sempre disseram que eu seria. 

— Você matou mais pessoas além de mim, mentiu, subornou e trapaceou. Nada disso está associado a maldição, isso veio de você e do seu egoísmo. 

— Tentei ser o mais humano possível. — Ele sorriu. 

— Matar alguém que você ama não te ensinou a perder ou se arrepender, só mostrou sua pior parte e é a que permanece para mim agora. — Angel mentiu para si mesmo.

— Eu não estava matando Theta, estava matando Angela, foi assim que lidei com essa merda. — Lucius sente sua garganta secar, parece haver vidro nas suas cordas vocais, nada do que diz é verdade, mentir se tornou um hábito compulsivo. O olhar que Theta o devolveu, não é desprezo ou ódio, é decepção. — Pensei que quanto mais cruel fosse, mais rápido seríamos livres. Nós tentamos de todos os jeitos possíveis quebrar essa porra de maldição. — Lucius encosta sua testa na dele e fecha os olhos. —  E você me disse que no final, estaria tudo bem.

— Na verdade, eu queria cortar sua garganta, despedaçar sua carne e queimar seus ossos. — Angel sussurra, sentindo a ponta do nariz de Lucius encostar no seu, eles estavam ofegantes. — Eu te odeio.

— Eu duvido. — Lucius está em êxtase, sua boca está tão próxima da dele. — Eu duvido muito.

— Você nos arruinou. — Angel está a um passo de sucumbir, enquanto segura as lágrimas.

— Eu sei, sou um fodido. 

 Lucius o beija e é correspondido com frenesi, seus lábios são ásperos e um arrepio percorre todo seu corpo ao sentir a língua dele encostando na sua. Angel segura seu rosto e o empurra contra a parede, Lucius produz um pequeno gemido, sentido o gosto salgado de suas lágrimas se misturando com as dele e sente o cheiro do seu perfume com suor. Eles se despem de maneira ébria e selvagem, deitando-se sobre o colchão seco, pele com pele, respiração com respiração, mãos sobre mãos, seus corpos resvalam como se fosse o último dia do universo. Angel desejava poder odiá-lo a ponto de nunca mais tocar em sua carne ou sentir o gosto de seu beijo, ele se sente fraco por clamar pela sensação inebriante da respiração dele em sua nuca e de suas mãos percorrendo seu corpo. Eles gozam, indo de maneira instantânea do ápice da alegria para melancolia, os dois ficam quietos por um instante. 

— Vamos para casa — Lucius sussurra.

— Aquela não é mais nossa casa. — Angel suspira, passando a mão por seu rosto. 

— Eu a colocarei abaixo e vamos reconstruí-la tijolo por tijolo, seremos os novos deuses. 

— Não, Koschei. 

— O que? — Lucius se levanta de forma brusca, irritado. — É a nossa vez, finalmente. 

— Você lembra da Grécia? — Angel indagou, sentando-se contra a cabeceira. 

— Claro, você era escocês. — Lucius encostou a cabeça em seu ombro. — Nos casamos pela segunda vez lá.  

— Tentamos quebrar a maldição de modo subversivo pela terceira vez. — Angel fica absorto por um momento como se tivesse procurando as palavras certas. — E… isso nos deu mais um século de castigo. — Ele ficou quieto de novo, esperando uma reação explosiva, mas Lucius ficou calado como uma criança que sabe que foi malcriada. 

— Você tem apenas um coração — Lucius diz com desgosto. — Estou tão cansado dessa merda. — Ele desliza de volta para o travesseiro, virando de costas para Theta. — Nunca seremos livres, estão zombando de nós — cochichou mais alto do que deveria. 

Angel o abraça por trás, deslizando suas mãos por seu peito e sente seus corações batendo com a velocidade de um trem. Ele sabe que essa não é a reação natural dele, Koschei está tramando algo e não é nada bom. O dia está quase amanhecendo, 10 de julho de 1943, Lucius não precisaria matar Angel, desta vez, ele se encarregou de traçar seu próprio destino. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mate Angela" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.