Mate Angela escrita por Sebastian


Capítulo 7
Carpe Diem




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ATO II

Sicília, 1943

“Thea, Thea, onde você está?”, o comandante disse pela manhã que eles estavam perto da costa, já passa do meio dia e o sol está alto, ele vê uma nuvem de pássaros voando em direção ao sul. A embarcação não é tão grande, acomoda o comandante e mais seis pessoas contando com ele, alguns refugiados de guerra e outros conterrâneos voltando para terra natal. Angel, está retornando porque sabe que vai encontrá-lo lá. Ele o estará esperando, estava marcado em seus sonhos. 

Ele vem unindo todos os seus pedaços, desde que começou a ouvi-lo dentro de sua cabeça pela primeira vez depois de um século, sua mente não é mais humana, têm certeza disso. Ele se lembra de todas as vezes que Lucius o matou, por doze séculos, exceto um, quando eles tentaram quebrar a maldição juntos. 

Angel contempla o mar, a luz do sol reflete e as ondas brilham, ele respira o ar salgado junto com cheiro de peixe fresco, não muito longe dali um pelicano descansa. Ele fecha os olhos e busca em sua mente por mais fragmentos desta história, não recorda mais qual é a sensação de estar em seu planeta natal e como os sóis aqueciam sua pele. Ele poderia desenhar, mas não chegaria perto da sensação original de ver a luz, o ar e as constelações. Theta poderia esboçar Koschei na sua alma e, ainda assim, não alcançaria sua melhor recordação dele, seu coração dói, seu amado nunca mais será o mesmo. Não depois de todos esses séculos, eles caíram no inferno e suas mãos não puderam se agarrar, seus dedos soltaram um por um e Koschei caiu no abismo — a mente dele, era como uma cova cheia de vermes e havia tambores percutindo o tempo inteiro, Angel conseguia sentir isso agora.

“Toda história tem começo, meio e fim” lhe disse Tempo quando ainda era uma criancinha, Theta era o começo e Koschei, o fim. Eles tentaram mudar o curso da profecia e foram castigados. Ele recorda o dia em que trocaram votos secretos e, depois, casaram-se pela segunda vez aqui na Terra, no oitavo século da maldição. Ainda sim, ele continuava mais louco e cruel a cada vida que passava. 

“O Híbrido andará sobre as ruínas de Gallifrey” lhe disse Tempo quando ainda estava crescendo sob a redoma de Tecteun que roubava seus poderes em prol de uma civilização nascida para governar, e Koschei crescia livre e condenado depois de olhar para dentro do vórtex temporal. E então, seus destinos se cruzaram, Theta pôde relembrar o frescor dos dias em que eram jovens e selvagens, costumavam correr pelas ruas como ovelhas perdidas, eles já estavam condenados ao inferno. Thea costumava cantar ao longo do vento, com sua voz má e bela, filhos amaldiçoados. Theta estava em Koschei e Koschei estava em Theta, como um sussurro, um fantasma, uma doença. O retrato de um amor profundo e amargo, eles abraçaram o inferno.

“Doze vidas, doze mortes” lhes disse Tempo, quando estavam presos em um campo de força no Panopticon, rodeados pelos deuses fundadores e o próprio Tempo, um reflexo de Theta, jogou-lhes a maldição — Koschei seria Lucius, um Senhor do Tempo perdido, seu castigo seria matar sua esposa por doze séculos terrestres. Theta seria Angela, um Senhor do Tempo estilhaçado doze vezes em um corpo humano, sem memórias, seu castigo seria morrer sem saber a razão. O ciclo era inquebrável, uma maldição jogada pelo próprio tempo não pode ser desfeita. No último século, Theta voltaria com seu corpo imortal: dois corações e mentes; seus poderes e o restante das memórias foram guardados em um relógio que foi jogado na Terra como um meteóro, ela o encontraria no momento certo, porque estava no seu oráculo. 

“Terra, eu vou te encontrar” , o  barco está próximo da costa, Angel aprecia as luzes amarelas da pequena vila, pontinhos como estrelas, flutuando como sua alma. O sol se pôs e tudo o que se pode ouvir agora são os animais noturnos e as vozes de seus colegas tripulantes, a embarcação para no porto e eles descem, um por um, eufóricos por finalmente chegarem ao seu destino. Ele não está lá.

Angel retira os sapatos, sentindo seus pés afundarem na areia, ajeita a bolsa em seus ombros e segue para as ruas da cidade. Ele deveria estar lá.


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