Mate Angela escrita por Sebastian


Capítulo 2
Amare




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Ato I

“Angela” ela observa seu irmão com uma expressão nada agradável nos olhos, o rapaz tenta limpar os lábios manchados de batom e arrumar a gola da camisa.

— Walter, seu zíper está aberto —  diz, após se contorcer de ódio por dentro, enquanto seu irmão se deleitava com tolas por aí, de maneira irresponsável, ela tinha de viver sob um regime rudimentar e puritano, somente porque precisava de um bom casamento. 

— Oh, minha irmãzinha, espero que não esteja com pensamentos impróprios.

— Eles estão tão bem guardados quanto os seus. — Ela encara a paisagem pela janela da carruagem, suas divagações estranhamente estão voltadas para Lucius, o intrigante rapaz do museu. Nunca o viu antes, porém, a presença, a voz e qualquer outra coisa que não tenha percebido lhe são extremamente familiares. 

“Condenada a esquecer.”

— No que está pensando? — Walter pergunta, apenas para encher sua paciência. 

— Quer mesmo saber? — Ela estreita os olhos. 

— Minha atenção é completamente sua. 

— Não quero me casar com aquele velho ranzinza que vocês chamam de pretendente. 

— Essa conversa de novo? — O garoto suspirou, entediado. 

— Walter, por favor… — Ela senta segura suas mãos, pronta para apelar para o seu lado emocional. — Você é o único que pode convencer o papai e a mamãe. — Angela aperta os olhos, talvez alguma lágrima possa cair. — Eu quero mais que isso, você sabe. O mundo é grande, é cheio de aventuras, absolutamente não me importo de morrer velha e sem marido. Mas não quero que minha vida seja em prol de salvar vocês e por dinheiro! — A garota se afasta, a raiva começou a crescer em seu peito como um incêndio. 

Walter se mantém em silêncio, é uma situação delicada e além do mais, uma irmã perdida é tudo o que menos quer, Angela deveria ao menos zelar pelo nome da família. 

— Ele já é velho, não vai durar muito tempo, em um ou dois anos será viúva e continuará rica. — Walter fala, sem olhar para ela, sabe que o que acabou de dizer atravessou seu coração como uma navalha.

Angela engole em seco, seus olhos marejam e por mais que não queira demonstrar vulnerabilidade, começa a chorar de raiva. São todos canalhas, oportunistas e ela… uma moeda de troca. Quantas vezes já brigou com seus pais, foi castigada e silenciada, todo mundo sempre soube do seu gênio forte e mesmo assim, querem lhe colocar uma coleira, impor um preço sobre sua liberdade. Todos são cruéis, até mesmo Walter — nunca foram muito ligados, apenas uma relação normal de irmãos, sem apoio e sensibilidade. A verdade é que sempre esteve sozinha, a única companhia é literalmente a voz que habita em sua cabeça, como um ser fora de si. Não entende como isso funciona, só sabe que ela vem e volta desde seus quinze anos. A voz masculina. O aviso prévio. A tempestade que se aproxima. Será que é seu anjo da guarda? Ela se perde novamente em seus devaneios. 

“Mas eu me lembro sempre” a carruagem para, finalmente, após uma viagem tortuosa e silenciosa. 

— Eu sinto muito, Angela. — Walter a ajuda a descer. — Não quis ser rude. 

— Está tudo bem. — Ela mente. — Em um ou dois anos esquecerei tudo isso. 

Ele fica quieto, sabe que mereceu essa resposta. 

Angela o deixa sozinho na entrada principal da casa, direcionando-se para o jardim, precisa ficar sozinha e entrar em casa não a fará bem. Um tempo para respirar. Ela deita na grama e sente o bálsamo das flores invadir suas narinas, a luz do sol queimar seu rosto de forma débil e o canto dos pássaros que já voam para seus ninhos. Está cansada. Não é um cansaço físico, está intrínseco na sua alma e domina seus pensamentos como um verme. Ela fecha os olhos, uma lágrima percorre seu rosto e, sem se dar conta, adormece. 

Em seus sonhos, encontra-se num lugar em chamas, repleto de corpos e sangue, ela sente o odor da morte e os gritos agonizantes dos que ainda não se foram. Pôde ver a silhueta de um homem que anda sobre as ruínas do que parece ser uma cidade, de alguma maneira, o conhece. Ele marcha em sua direção, mas não consegue ver seu rosto. Não está com medo, pelo contrário, seus sentimentos transmudam entre ódio e tristeza. Ele está perto, cada vez mais perto, um passo de cada vez… 

— Koschei! 

Angela acorda, de repente. Walter está à sua frente, encarando-a com uma expressão confusa. 

— Quem? — indaga, ajudando-a a levantar. 

— O que? — Ela se desvencilhou dele.

— Você disse um nome. 

— Não, não disse. — A garota revira os olhos. — O que está fazendo aqui, acho que deixei bem claro que quero ficar sozinha. 

— E eu entendi. — Ele coça a cabeça, inquieto. — É… bem, já é tarde e você não apareceu para o jantar. 

— Perdi meu apetite há horas. — Angela ainda está muito magoada, só de pensar em toda essa situação. — Boa noite, Walter. 

— Boa noite, Angela. — O rapaz olha para o céu, perguntando-se o que fez para merecer tal castigo.

Ela caminha devagar para o quarto, tentando lembrar de seu sonho e o que gritou ao acordar, todavia não consegue. “Mais um pouco”, Lucius passa por sua cabeça e uma estranha necessidade de vê-lo novamente a consome por dentro, precisa voltar ao museu, procurá-lo o quanto antes, mas por quê? O que vem depois disso? O que ganhará além de mais uma cicatriz em seu peito? Afinal, irá se casar em menos de um mês, não pode nem mesmo arriscar se apaixonar por outra pessoa ou pode? Viver uma aventura é tudo o que mais deseja, nem que seja para quebrar protocolos e desafiar regras. 

— Eu vou te encontrar, Lucius Phelps.


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