— Podemos começar com vocês me contando um pouco mais sobre suas competências e como podem ser úteis na Arena — disse Finnick, mordendo um pedaço de sua torrada. Nós estávamos sentados à mesa, debatendo estratégias que podíamos usar durante os Jogos. Philip e eu ficamos em absoluto silêncio — Ou vocês podem simplesmente se calar e sobreviver sem meus preciosos conselhos.

— Hazel sabe pescar — disse Philip, parecendo incerto do que estava dizendo. Sim, talvez essa fosse minha melhor competência, mas como usar isso nos Jogos Vorazes? Eu apenas tinha a pesca ao meu favor quando precisava ajudar meu pai, e não para enfrentar vinte e dois jovens em uma Arena — e eu vi como ela arremessou o Tridente contra o garoto do Distrito 2, ela sabe muito bem como usá-lo.

— Philip entende de plantas — eu disse, enquanto balançava os ombros para os elogios que o mesmo havia feito a meu respeito — ele sabe diferenciar as que são venenosas, as que ajudam a nos curar e as que são comestíveis.

— Não acho que isso vá me ajudar muito na Arena — disse ele, com um tom triste e apático. Philip tinha uma esperteza difícil de ser encontrada dentre os garotos da sua idade. Ele tinha mais chances de vencer do que muitos outros Tributos.

— Pare com esse pessimismo. Lembre-se que eu também tinha quatorze anos quando venci e me tornei mentor dos Jogos Vorazes, e eu não tinha sequer metade de sua inteligência — disse Finnick, enquanto apontava para Philip. Apesar de não ter nos recebido da melhor maneira possível, Finnick podia ser gentil de vez em quando — Bom, primeiro, vocês não devem ir à cornucópia no início, todos os outros Tributos vão pensar em ir para lá, e quando alguns deles pegarem as armas disponíveis, vai ser um banho de sangue.

— Podemos encontrar um lugar para nos esconder, procurar água e ascender uma fogueira — disse Philip, enquanto Finnick o encarava por alguns minutos antes de se levantar.

— Essa é a segunda coisa que vocês não devem fazer. O fogo vai fazer com que os demais Tributos saibam onde você está — acrescentou Finnick, enquanto se deitava no sofá — Meu último conselho é que vocês fiquem vivos.

(...)

Nesse momento, Philip e eu nos encontrávamos nos movendo para o Centro de Treinamento. Tínhamos combinado com Finnick de não mostrar nossas habilidades, e sim fazer apenas os exercícios obrigatórios. Eu meu peguei pensando em Cato e seus olhos azuis penetrantes, que continham a ameaça de uma morte eminente quando tudo aconteceu no ginásio, há três dias. Tudo aconteceu muito rápido, a fúria me consumiu e segundos depois eu me encontrava com a vida condenada. Eu pensava em maneiras de me esconder dele, não apenas na Arena, mas também durante a minha estadia na Capital. Meu único objetivo nesse momento, era me manter longe dele.

— E então, por qual exercício você vai começar? — Pergunta Philip. Nós estávamos parados, apenas assistindo aos outros Tributos enquanto treinavam. Cato empunhava sua espada por todos os lados com o que parecia ser ódio, como se ele já estivesse na Arena. Ele não se importava em esconder dos demais Tributos seus talentos e competências, seu objetivo era causar medo, o que ele era capaz de fazer com sucesso.

— Acho que vou começar com os exercícios de combate. — Eu disse, enquanto suspirava. Eu nunca tinha lutado com ninguém, mas isso era essencial para que eu pudesse sobreviver na Arena.

Começo caminhando até o instrutor de combate, ele estava ocupado, lutando com o tributo feminino do Distrito 7. Eu espero inquietamente, desejando que a luta terminasse em breve. Eu olhava fixamente as técnicas do homem, tentando memorizar algumas delas. A menina chutava e socava o vento, tentando acertar o instrutor, porém sem nenhum sucesso. Quando, de repente, ele aplica o último soco, causando um baque alto o suficiente para ressoar por todo o ginásio. Ela vai embora, parecendo constrangida.  

Então eu me posiciono dentro da área de combate, apenas esperando para que o homem fosse até mim. Parecia que ele estava esperando que eu desse o primeiro passo. Eu deposito meu primeiro chute, alcançando ele de surpresa. Ele se aproxima de mim rapidamente, concedendo seu primeiro soco, do qual eu havia desviado com dificuldade. Ele, de repente, me chuta na costela, fazendo com que eu caísse no tatame, completamente tímida. Assim, essa luta havia terminado.

Eu me senti desapontada comigo mesma. O combate é essencial para minha sobrevivência, para que eu soubesse me defender. E eu havia falhado de maneira miserável. Eu me perguntava como sobreviver à Arena sem ao menos saber como lutar com outra pessoa.

— Você não tem músculos. — E então, uma voz disse, de repente. Eu olho para baixo da área de combate, para me deparar com os olhos azuis penetrantes de Cato. Me senti tensa, como se meu corpo estivesse completamente congelado. — Tente se mover mais rápido, você pode desviar de certos socos e chutes. — Com apenas um salto, ele se encontrava no tatame onde eu estava. Eu tentava me tranquilizar sabendo que ele estava desautorizado de me machucar nesse momento. Afinal, ele podia ser severamente punido. Mas ainda assim, eu estava com medo. Ele, então, posiciona suas mãos em minha cintura, fazendo movimentos para ambos os lados.

— Por que está me ajudando? — Eu pergunto para ele, mesmo sabendo que a resposta não vai ser satisfatória. — Pensei que quisesse me matar — ele me encara por alguns segundos, antes de soltar uma gargalhada que ressoou por todo o ginásio de treinamento.

— Eu vou matar você, lentamente — disse ele, enviando arrepios por todo o meu corpo. — Mas para saborear cada momento, eu preciso que você pelo menos saiba como se defender — ele sussurrou em meu ouvido. E então, foi até o meu pescoço, com os lábios, fazendo uma pressão com a boca a ponto de deixar uma marca.

(...)

Hoje foi o último dia de treinamento, e também o dia das avaliações a cada Tributo. Nesse momento, eu estava em uma sala, da qual estavam todos os Tributos, com exceção daqueles que já haviam passado pelo avaliamento. Eu me encontrava nervosa e com muito medo. As notas de cada Tributo eram de extrema importância, afinal elas podiam trazer patrocinadores. Eu precisava urgentemente me destacar de alguma maneira.

— Hazel Abbott