Assassina de aluguel: O início de uma vingança. escrita por Garota Neutra


Capítulo 2
Capítulo 2 - Meus pais eram tudo o que não sou




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[8 anos e 11 meses antes da prisão...]

~~~

— Prenda a respiração. – Uma ordem, não um pedido.

— Eu não consigo, eu não... – E antes que eu pudesse fazer algo meu pai havia me atirado no rio.

Bem, eu não sabia nadar e isso era algo irrelevante que eu não considerava mudar aquilo, pois eu tinha em mente de que era uma perda de tempo e de que era melhor ser rápida na terra, tipo manusear armas. Eu odiava barcos, navios, e por conta disso, eu odiava passeios em lugares que haviam piscinas e água para diversão. Somos seres terrestres, não aquáticos, mas meus pais insistiam em me treinam e acabar com esse ponto fraco que eles diziam que eram. E como sempre, o mesmo episódio se repetia.

Assim que fui jogada na água sem a promessa de que ele me salvaria, comecei a afundar tão rápido como uma pedra atirada a um rio, logo comecei a me debater tentando encontrar um apoio que claramente não existia ali. Não importava para onde eu olhasse desesperadamente, só havia mais água e mais água. Um local perfeito para treinos, para nadadores. Não para pessoas como eu.

Era um rio fundo próximo a uma montanha de onde meu pai me empurrara. A água era ríspida e havia uma correnteza fraca, eu não duvidaria se houvesse uma cachoeira. Árvores enfeitava aquele leito do rio, a floresta onde meus pais e seus amigos treinavam. Eles a chamavam de A floresta ilegal, pois era do governo para treinamento do exército antigamente, e que hoje se recuperava das ações dos mesmos, mas meus pais era um deles, haviam treinando ali e mesmo depois que saíram, continuaram indo ali ilegalmente.

— Se concentre! – Um grito do meu pai lá de cima da montanha.

Era inútil. Tudo o que eu tentava fazer, mais eu me debatia e afundava, mais água entrava pela minha boca, enchendo meus pulmões de água em vez de ar, e o cansaço me vencia. Minha vista embaçava e lá estava eu embaixo da água, afundando. Meus olhos estavam se fechando, tudo estava escurecendo, meus membros cansados de tanto tentar nadar, mas eu não sabia nadar. Era um desastre, mas no fundo eu sabia que ele iria me socorrer. Eu sabia que meu pai não iria me deixar morrer afogada. Mas, porque ele estava demorando tanto? Porque não vinha logo? Estava demorando mais do que o costume, e minhas pálpebras não estavam respondendo ao meu comando. Minha mente estava perdendo o foco em esperar o meu pai. E tudo ficou preto. E tudo se apagou.

~~~

O jardineiro desligou a mangueira e a ausência do barulho da água caindo na terra fez com que eu saísse do transe do passado. Olhei em volta para saber se alguém tinha percebido aquele meu bug do tempo e avistei de longe meu tio que estava se aproximando e conversando com alguns policias que estava com seus filhos ao encalço. Meu tio olhou em minha direção e os meninos caminhavam até mim. Revirei os olhos e a vontade que eu tinha era de fingir uma diarreia, eu poderia fazer isso caso meu tio não tivesse me avisado desse encontro arranjado.

Olhei uma última vez para as poças de água que o jardineiro havia deixado quando estava irrigando aquelas rosas, e respirei fundo. Lembrando do porque eu tinha que esta ali.

Os meninos que viam em minha direção aparentavam serem mais velhos do que eu e mais altos, mas não me deixei intimidar, na verdade, eu só queria ir embora o mais rápido possível. Eles vestiam calças, além das camisas de mangas compridas. Enquanto eu estava vestida com um macacão jeans, uma blusa e um tênis brancos.

Fiquei no aguardo daquelas criaturas, pois quanto mais rápido me apresentasse, mais rápido eu iria para casa, bem, não para minha casa, mas para a casa do meu tio.

— Você é a senhorita Katherine? - perguntou o loiro estendendo a mão.

Que pergunta boba, meu tio já havia apontado em minha direção e eu era a única presente.

Estendi a mão em cumprimento.

— Pode me chamar de Ket, não gosto do senhorita e nem muito menos do nome Katherine. - Falei com indiferença e apertando com força a mão dele e o encarando. Ele não reagiu ao meu aperto forte.

Meu pai me ensinara que um bom aperto de mão tem muito a dizer, então...

— Prazer, Ket, me chamo Philipe.

Em seguida o mais alto e de cabelos pretos e curto se aproximou e estendeu a mão.

— É um prazer te conhecer, me chamo Samuel. Ouvimos muito sobre você, é uma futura policial com talento nato. - Disse Samuel.

Todos vinham com o mesmo papo para cima de mim por causa dos meus pais. Eles sempre se gabavam e espalhavam sobre meu progresso. Ser filha única era um saco, às vezes. E eu sentia falta daquele mimo. Eu sentia falta dos meus pais.

— Filha de dois gênios, só poderia resultar nisso.

Gênios? Meus pais eram deuses e todos sabiam que era verdade. Se conheceram no dia da prova do concurso da polícia e eu daria tudo para verem os dois jovens, saudáveis e vivos. Eles me contaram como se conheceram, e eu imaginei cada cena porque não haveria mais descrições que mais combinasse com eles dois.

[20 anos antes do assassinato...]

— Licença, está atrapalhando as pessoas de verificarem seus nomes nas listas. – Disse uma mulher alta, magra e de cabelos pretos curtos no ombro. Vestia uma calça e blusa de gola alta preta e justa ao corpo evidenciando cada curva de um corpo saudável e treinado. Além de um salto que fazia parecer que era a responsável pelo concurso e não uma estudante. E não bastava o conjunto todo preto, estava com óculos e uma pequena bolsa para guardar os objetos pessoais.

O homem virou lentamente para ver quem era aquela que ordenava que ele saísse do local onde estava e a observou de cima a baixo sem vergonha do que estava fazendo. Ele era alto também, mais do que a mulher se esta não tivesse de salto. E estava todo de preto, se as pessoas ao redor não soubessem que eram estranhos, diriam que eram um casal, pois eles combinavam perfeitamente um para o outro.

— Só mais um instante e eu saio. – E ele se virou voltando para a mesma posição.

— Não pode estar falando sério?!

— Estou.

E a mulher estava perdendo a paciência. Ela virou para as pessoas que estavam atrás resmungando e dizendo algo.

— Irei falar uma última vez com este sujeito folgado. – E ela ouviu uma risada baixa do cara que estava causando tudo aquilo. – Acha engraçado atrapalhar as pessoas de verificarem os seus nomes no quadro e depois se dirigirem para os locais de prova? – Sua voz mais firme e mais alta.

— Acho engraçado o modo como chamou um estranho de folgado. Não tem medo de que algo possa te acontecer? – Ele se virou com um sorriso asqueroso no rosto, fazendo a mulher revirar os olhos por baixo dos óculos escuros.

— Se eu tivesse medo disso, eu não estaria aqui. E se não sair do meio, irá se arrepender.

O homem ainda sorria para ela. Ela não era só sexy e bonita, era corajosa, pensava o homem. E antes que ele respondesse, um fiscal os orientou a irem para seus locais de provas, e para surpresa dos dois, um estava do lado do outro e quando pararam em frente a mesma porta de uma sala... 

— Só pode ser brincadeira. - Eles disseram em uni som.

Após descobrirem um ao outro os seus nomes e fizerem a prova, Dennis esperava do lado de fora do prédio a Elenn sair da prova, o que não demorou muito.

— Achei que estava com dificuldade na prova. – Disse Dennis com aquele ar de arrogância para irrita-la. 

— E eu achando que você queria uma colinha, mas acabou saindo antes porque não obteve ajuda.

Uma pausa e eles se encararam por um bom tempo. 

— Você é sexy e corajosa. - Disse Dennis. 

— E você arrogante e irritante. - Disse Elenn colocando os óculos pretos. 

— Só vai me criticar? E os elogios? 

E foi assim que meus pais, Dennis e Elenn se conheceram. Foram aprovados em primeiro e segundo lugar do concurso. Em seguida, mostraram serem os melhores não só na teoria e na prática, ganhando cada vez mais rápido títulos, até serem convocados pelo governo para trabalharem no exército. Logo, revistas de fofocas noticiaram a novidade ao estado e ao pais, do casal classe alta mais rápido que já subiram no topo. O que eles tinham de inteligência, tinham de esperteza e responsabilidade. Logo se casaram e viajaram o mundo em missões, juntos, provando que o amor e a responsabilidade quando aliadas, tornam-se excelentes armas.

[20 anos depois do assassinato...]

Tentei sorri para eles, me segurei para não dizer que eles eram deuses, de que eles eram tudo o que eu não sou, voltei a sentar no meu banco entediada por meu tio não ter se aproximado ainda para acabar com essa interação forçada.

— Você tem apenas 14 anos e já domina as armas, as armadilhas, as técnicas, os ensinamentos, as leis e tudo mais, mais do que alguns adultos. Você é incrível. - Disse Philipe me olhando como se eu fosse uma deusa. Talvez eu fosse, mas não naquele dia. Naquele dia eu só queria me trancar no quarto.

— Gostaria de treinar a mira com a gente?

— Não. - Neguei sem uma explicação, os dias, as semanas e os meses estavam me ensinando isso. Não dar explicação ou detalhes da minha vida a ninguém.

— É só um treino rápido. - Falou Philipe pegando em meu braço e puxando-me. Me firmei no chão.

— Como ousa tocar em mim? - Falei retirando a mão dele do meu braço. - Se tocar mais uma vez, irei deslocar seu ombro!

Ok. Talvez eu fosse esquentadinha, mas eu odiava toques. Eu odiava, mais do que água, barcos e navios.

O meu tio se aproximou com aqueles policiais.

— Então, está é a sua sobrinha, Paullo?  - Perguntou uma das mulheres a meu tio que sorria e olhava para mim, minha roupa e os meninos ao meu lado.

— Sim, está é a minha sobrinha preferida. Não, a melhor. - Falou meu tio rindo e piscando para mim. - E estes eram os amigos dos seus pais, Ket.

Meu tio é uma das pessoas mais legais que já conheci, assim que perdi meus pais, ele foi o primeiro a pedir a minha guarda, meus pais o adoravam e eu também. Meus avós não discutiram muito e logo concordaram com a escolha do meu tio. Solteiro, sem filhos e rico, eu seria uma ótima companhia para ele, uma moeda em troca, ele cuidaria de mim agora e depois eu cuidaria dele, foi isso que meus avós disseram e eu não questionei. Era ele ou era viver com meus avós pulando de casa em casa.

— Eu estou apresentando vocês a ela - Disse meu tio olhando para direção aos garotos - para que ela possa se divertir um pouco. Ser sozinha nunca é uma boa escolha. As vezes precisamos de amigos em quem possamos confiar e compartilhar nossos problemas.

Meu tio começou o discurso de que eu deveria fazer amigos e que ficar sozinha só traria mais tristeza para mim. Ele já havia tentado trazer as filhas dos amigos dos meus pais e a coisa não rolou muito bem. Me chamaram de chata, antissocial, depressiva e bla, bla, bla. E agora ele tinha inventado que amizade com o sexo oposto daria certo. Não o questionei, raramente. Mas meu tio era impertinente, quando colocava algo na cabeça...

Olhei de soslaio para os garotos que olhavam para mim sem entender o que meu tio queria dizer e desviei o olhar para o meu tio erguendo as sobrancelhas em uma expressão de "isso também não dará certo."

Ele caminhou até mim.

— Querida, já fazem 8 meses e está na hora de você sair desse casulo e fazer novos amigos, passear, se divertir. A vida fica mais bonita e colorida quando temos amigos ao nosso lado. – Disse meu tio me olhando nos olhos com uma expressão de cachorrinho pedindo comida.

Eu olhei na direção dos garotos e soltei o ar pela boca. Não tinha como tirar isso da cabeça do meu tio, já estava enraizado como erva daninha.

— Ok, ok. – Falei por fim olhando para meu tio e o vendo sorrir.

— Está é minha garota.

Sorri de volta para ele e agora eu teria que entrar na personagem que está se esforçando para ser melhor.

— Vamos para a sala de treinamento. – Falei já caminhando e torcendo para que os pais deles dissessem que já iam embora e para minha tristeza, eles estavam me seguindo.

Chegamos na sala e decidimos que seria atirar facas nos alvos. Será que eles sabiam que essa era uma das melhores coisas que eu sabia fazer, apesar de não ser usado pelos policiais.

— Eu sinto muito pelos seus pais. – Disse Samuel ao meu lado e eu apenas concordei com a cabeça.

Philipe tinha uma mira muito boa, apesar de nunca acertar o centro, talvez se recebesse mais orientações sobre levantar mais o braço e expirar quando jogasse a lâmina, acertaria em cheio, mas eu não estava ali para ensinar, estávamos apenas sendo obrigados a criar um laço de amizade.

— Alguma descoberta ou pista sobre quem matou seus pais? – Perguntou Philipe.

Virei na direção dele e fixei meu olhar nos olhos dele. Era uma pergunta que não tinha resposta e isso me deixava irritada, pois era a pergunta que eu sempre perguntava ao meu tio e era a pergunta que eu sempre recebia a mesma resposta, uma negação.

Sem pensar duas vezes joguei a lâmina sem olhar o alvo.

— Ela acertou sem olhar o alvo. Como?! – perguntou Philipe ao meu lado e eu gostaria de dizer a ele que a razão era o ódio. Ódio por meus pais terem sido assassinados, ódio por eles terem me protegido em vez de se protegerem, ódio porque eu não sabia o motivo ou quem fez aquilo.

Se alguém notou ou não, eles não repararam, apenas me encheram de perguntas e elogios. Se eu gostasse de tal coisa, talvez rolaria de darmos certos, mas do jeito que a coisa estava indo, eu não via muito futuro para isso.

Eles foram embora e meu tio estava com um sorriso do tamanho do mundo em seu rosto, já eu, estava neutra.


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