Capítulo 20 – Surpresa

                Peter e Gwen estavam sentados lado a lado de mãos dadas na cama do quarto de repouso, observando as filhas dormirem nos três bercinhos transparentes ao lado, sem monitores cardíacos ou respiradores agora, como quaisquer bebês normais.

                Helen, May e os meninos viriam busca-los em algumas horas, quando finalmente levariam as filhas para casa.

Batidas suaves na porta chamaram sua atenção, e se viraram para olhar. Peter desceu da cama para receber quem quer que fosse.

                - Danny, Milton – ele sorriu em cumprimento – Mas o que...?! Eu desconfiei que era isso, mas... Nossa!

                Gwen o ouviu falar estarrecido, e algumas risadas foram ouvidas do lado de fora.

                - Podiam ter avisado pra eu preparar Gwen psicologicamente. Assim ela vai ficar internada de novo.

                Mais risadas chamaram o suficiente a atenção de Gwen para que ela também deixasse o conforto do colchão e se aproximasse do marido.

                - Querida... – ele falou se virando para ela com um sorriso, ainda segurando a porta meio fechada – Lembra daquela surpresa que te fiz antes das meninas nascerem?

                - Como eu ia esquecer? Marido mais fofo do mundo – ela sorriu, vendo Peter rir.

                - Então... Agora é a parte 2.

                Gwen o olhou curiosa quando a porta abriu e Danny e Milton entraram. Danny era a editora chefe da revista para a qual Peter costumava levar fotos, e Milton era seu irmão mais velho, trabalhava na edição junto com ela desde sempre. Apesar de serem irmãos, eram tão diferentes quanto suas meninas. Danny tinha olhos castanhos meios puxados, e cabelos também castanhos, curtos e com algumas mechas naturais em tom mais claro. Com apenas 1,54 de altura e sua expressão jovem, ela parecia uma criança perto de Peter e Gwen, ainda que estivesse quase em seus 30 anos de idade. Milton, ou Mil, para os mais próximos, tinha cabelos dourados e cacheados, olhos azuis claros, e era mais alto que a irmã. A única coisa em que pareciam combinar é que ambos tinham a pele alva.

                - Oi, Gwen! – Os dois falaram ao mesmo tempo, vindo abraçá-la.

                - É bom ver vocês – ela respondeu sorrindo, e vendo Peter ainda falando com alguém na porta.

                - Temos uma mega surpresa pra você que foi difícil de conseguir fazer o hospital permitir. Só deixaram porque você e as meninas estão assustadoramente bem de saúde. Então vê se não desmaia, porque ainda precisa cumprir a punição daquele vídeo – Danny brincou enquanto Milton ria.

                - Como assim? – Gwen perguntou sem entender nada.

                Quando finalmente Peter abriu a porta, ela só pode ficar pasma quando ninguém menos que todas as cinco Spice Girls e uma mulher desconhecida, provavelmente uma agente de marketing ou algo assim, entraram em silêncio no quarto.

                Gwen respirou fundo enquanto via Peter sorrir e os demais rirem baixinho, em alegria por sua surpresa.

                - Emma Bunton tá na minha frente?!

                Todos no quarto riram.

                - Eu não acredito nisso!

                - É uma honra conhecer você, Gwen – a loura falou.

                Gwen riu, e seus olhos se encheram de lágrimas enquanto todos achavam isso fofo e ela e Emma se abraçavam.

                Os próximos minutos se passaram entre abraços, fotos, conversas e risadas sussurradas para não acordar as trigêmeas.

                - Elas são tão adoráveis e fofas! – Emma falava baixinho enquanto as cinco cantoras olhavam para as bebês.

                - Aliás, trouxemos um presente – a assistente do grupo falou sorridente, entregando a sacola ao casal.

                Os dois agradeceram e Peter espalhou o conteúdo na cama de Gwen, que ficou radiante com os três bodies temáticos. Um rosa, um azul e um verde, todos em tons pastéis e com uma mesma frase: Mini Spice Girls Fan.

                - Eu AMEI isso! – Gwen falou.

                - Bom saber que acertarmos – Emma falou.

                - Você ainda nos deve explicações de porque prefere a Emma – Mel B brincou, fazendo todos rirem outra vez.

                - Elas são quase sósias, Mel – Geri falou.

                - Sim, isso me fascinava quando eu era criança. Minha mãe às vezes me chamava de Emma por causa disso – ela dizia se divertindo com as cantoras enquanto Peter respondia à Mel C como conseguia tirar fotos do Homem Aranha em Nova York.

                - Eu usava lentes enormes e andava com elas o tempo quase todo. Quando ele aparecia, a câmera já tava pronta.

                - É impressionante você conseguir se dividir entre trabalho científico, fotografia e família ao mesmo tempo. E nós achávamos que a vida artística era corrida – Victoria brincou.

                Peter riu.

                - É difícil mesmo, mas dá pra conciliar

                - Falando no Homem Aranha, ouvimos algumas pessoas se referindo à Mulher Aranha como Aranha Fantasma quando chegamos aqui, é verdade que faz seis meses que ela sumiu? – Geri perguntou – O Homem Aranha nos disse que ela está bem, mas nada mais além disso.

                - Com aquele uniforme branco até que parece mesmo um fantasma quando a vemos passando pela cidade à noite – Gwen respondeu – E ela anda sumida mesmo, mas não tinha percebido que já faz esse tempo todo. Também queria saber o que houve.

                Um murmúrio de bebê chamou a atenção de todos antes que a conversa pudesse continuar, viram Destiny se agitar no berço, abrindo os olhinhos verdes e observando a movimentação no quarto.

                - Bom dia, querida – Gwen sorriu para a filha ao erguê-la em seus braços.

                A bebê olhava em volta com curiosidade. A médica tinha lhes dito que elas ainda não enxergavam com nitidez, mas podiam perceber movimento e algumas formas.

                Parecendo ter os pensamentos em sincronia entre si, Hope e Emma acordaram pouco depois da irmã, e logo Peter tinha Hope em seus braços e Emma segurava a criança que recebera seu nome para que todos eles tirassem mais uma foto juntos enquanto o tempo da visita ainda durava.

                - Agora precisamos ir antes que o hospital nos expulse. Foi maravilhoso conhecer vocês e as crianças – Emma disse sorridente.

                - Nós é que agradecemos – Gwen respondeu igualmente radiante.

                - Ela nunca mais vai parar de falar disso. Muito obrigado por virem – Peter dizia – Obrigado, Danny e Mil!

                - Não há de que, Peter. Não podíamos deixar isso passar – Danny falou.

                Gwen trocou um último abraço com as cantoras antes de fechar a porta e se virar com um sorriso radiante para o marido.

                - Você sabia! – Ela o acusou.

                - Dessa vez não, eu só desconfiei. Mas não achava que o hospital ia permitir, então achei que era outra coisa. Mas isso te deixa menos feliz?

                - Não! – Gwen respondeu rindo e se jogando nos braços dele, sendo abraçada de volta e o ouvindo rir junto com ela.

                Um choro chamou a atenção dos dois novamente e se aproximaram dos berços das meninas.

                - Acho que alguém tá com fome – Gwen falou pegando Emma e se acomodando na cama – Traga Destiny pra mim e distraia Hope enquanto isso.

                - Certo.

                Peter colocou a almofada de amamentação no colo da esposa e a ajudou a abrir a roupa e posicionar as gêmeas em seu colo, em seguida segurando Hope enquanto sentava-se perto de Gwen para os dois aproveitarem o momento juntos.

                Uma enfermeira veio vê-los enquanto isso, e pouco depois os irmãos de Gwen, Helen e May entraram no quarto enquanto Simon, Philip e Howard falavam empolgados de como tinham se deparado com as próprias Spice Girls no estacionamento do hospital.

******

                Peter entrou pela janela do corredor do andar em que moravam, agradecendo por apenas eles continuarem morando no local. O apartamento sobressalente era alugado às vezes, mas no momento estava vazio, ao que ele agradeceu quando caiu com um baque no chão e sem máscara. Ainda assim se apressou para trancar a janela e correr para casa ao se lembrar que sua sogra e cunhados não sabiam sobre sua identidade secreta.

                Decidira sair e voltar por ali numa tentativa de não acordar Gwen e as filhas quando resolveu dar uma carona para alguns traficantes chegarem mais rápido à polícia. Isso tinha lhe rendido alguns machucados, na tentativa de não matá-los ou feri-los gravemente com sua força extra de aranha, o que ele e Gwen sempre faziam na verdade.

                Ficou um tempo escutando os arredores ao trancar a porta de casa, ficando mais calmo ao deduzir que a família de Gwen não tinha escutado sua queda. Caminhou silenciosamente para o quarto deles, vendo Gwen ainda adormecida e bem coberta, do jeito que ele a tinha deixado ao beijar seus cabelos, verificar as filhas e sair. Elas também pareciam continuar dormindo no berço compartilhado, separadas apenas pela divisória de tecido vazado, que permitia que uma visse a outra.

                Verificou se todas respiravam bem, e suspirou aliviado ao não notar nada errado. Estava se encaminhando para o banheiro quando ouviu uma delas murmurar, e se virou para ver Hope se mexendo. Correndo até a pia do banheiro enquanto abria os zíperes para remover as luvas do uniforme, lavou as mãos rapidamente e localizou uma das chupetas da filha entre os pertences infantis em cima da cômoda, se inclinando no berço para oferecer a chupeta a Hope, que parou sua reclamação solitária, apesar de estar completamente acordada agora.

                - Ei, querida – sorriu para a filha – O que há de errado? Você precisa trocar a fralda?

                Peter abriu a banheira retrátil, cuja tampa servia como trocador, e pegou a filha no berço, levando-a para a banheira e abrindo seu macacão, já procurando o que seria necessário ao descobrir que não era isso que a bebê precisava.

                - Sua fralda tá seca. O que você quer então? Papai precisa tomar banho agora, mas quero deixar a mamãe dormir. Espera aqui – pediu, colocando a filha de volta no berço e removendo a parte superior de seu uniforme.

                Largou-a no chão junto com a máscara e pegou Hope no colo novamente, se movendo lentamente pelo quarto até a pequena manifestar outra vez seu descontentamento com alguma coisa.

                - Shhh – Peter a balançou suavemente – Não acorde suas irmãs agora, por favor. Você tá com fome?

                Caminhando para a cozinha, decidiu preparar uma das garrafas dosadoras que deixavam a postos para a madrugada, quando as três precisavam mamar ao mesmo tempo, ou quando não queria interromper o descanso de Gwen, como hoje. Surpreendendo-se ao conseguir efetuar o feito com apenas uma mão sem se atrapalhar, e certificando-se que o leite estava em boa temperatura, Peter voltou ao quarto, sentando no chão e posicionando Hope em seu braço.

                - Finalmente acertei? – Perguntou com um sorriso ao deixar a chupeta no berço e oferecer o alimento à filha, que aceitou imediatamente.

                Passaram algum tempo assim, sem que ele percebesse Gwen acordando. Ela abriu os olhos ao ouvir Peter falando baixinho com alguém, e a princípio seu coração se derreteu com a cena diante dela, mas só até notar que ele estava vestindo o uniforme do Homem Aranha da cintura para baixo, e que alguns cortes e hematomas marcavam seu rosto e seu corpo. Isso fez Gwen despertar e se sentar imediatamente.

                - Peter...?

                Ele ergueu a cabeça para olhá-la, parecendo surpreso.

                - Nós acordamos você?

                - O que aconteceu? Você tá ferido.

                - Bobagem, vai ter melhorado de manhã. O sentido aranha me acordou. Resolvi dar uma carona pra uns traficantes chegarem mais rápido na polícia. Eram burros, mas bem reativos, e você sabe... Sempre tentamos entregá-los vivos e em boa condição. Agora... Aquele trato. Voltar vivo e fazer tudo que você quiser – ele disse com aquele sorriso que sabia que derreteria seu coração.

Gwen sorriu e balançou a cabeça, numa falsa indignação, e se perguntando porque seu sentido aranha não a havia despertado. Ultimamente vinha notando que quase sempre quando essa habilidade era ativada, tinha algo a ver com as trigêmeas. Talvez fizesse parte de sua mutação direcionar seus cuidados quase que totalmente aos bebês durante o resguardo. Peter também tinha percebido. Ainda não tinham analisado a questão profundamente, mas fez tanto sentido para ambos que não sentiram necessidade de discutir muito a respeito por enquanto.

                - Eu disse que não ia funcionar. Que ia acabar com você ferido ou cansado, precisando de cuidados.

                - Eu tô bem.

                - Venha aqui, me dê Hope, e pegue o kit de primeiros socorros.

                Ele assim o fez, e levantou suavemente, esperando que a filha terminasse de sorver o conteúdo da garrafa antes de acomodá-la nos braços de sua mãe, que removeu uma das alças da camisola para colocá-la no seio, que Hope logo começou a sugar.

                Peter sorriu observando a cena antes de fazer o que a esposa pediu, buscando o kit médico e o abrindo na cama entre eles, antes tirando o restante do uniforme para evitar sujar os lençóis. Com a mão livre Gwen limpou um corte em seu ombro com um lenço, enquanto Peter a ajudava fazendo o mesmo com outros machucados.

                -  Eu disse que ia terminar comigo cuidando de você – ela falou baixinho com diversão.

                O fotógrafo riu.

                - Você quase sempre tá certa. Mas você não precisa fazer isso agora, se concentre na nossa princesa.

                Ele a ajudou limpando a maioria dos arranhões enquanto se distraíam observando a filha mamar e trocar olhares longos e significativos com os dois. Peter acariciou os cabelos de Hope quando ela se deu por satisfeita, e olhou demoradamente para sua mãe. Gwen sorriu para a bebê, que sorriu de volta, fazendo seus pais se segurarem para não expressar suas emoções verbalmente e assustar as duas filhas que ainda dormiam. Gwen a posicionou para que arrotasse e olhou para Destiny e Emma.

                - Tá na hora delas comerem.

                - Eu coloco Hope pra dormir – Peter estendeu os braços para pegar a filha do meio.

                Gwen a entregou ao pai, beijando os lábios do amado e trocando um sorriso com ele antes de levantar para acordar as meninas da maneira mais suave que podia, já estando perfeitamente recuperada da cirurgia e não tendo problemas em dividir os cuidados com as crianças com Peter quase de igual para igual, uma vez que algumas coisas apenas ela mesma podia oferecer às pequenas.

                - Como você saiu tão sorrateiramente?

                - Saí e voltei pela janela do corredor de entrada dos apartamentos.

                - Acha que alguém percebeu?

                - Não sei. Acabei meio que caindo quando voltei, eu tava dolorido. Mas se alguém perguntar de manhã vou dizer que escorreguei e caí dentro de casa.

                Gwen assentiu.

                - Gwen... No hospital nos disseram que leva até um ano e meio pra uma recuperação completa desse tipo de cirurgia, e que é até recomendado evitar engravidar de novo enquanto isso. Apesar dos resultados assustadoramente promissores dos seus exames, como você se sente? Algo dói? Algo parece errado?

                Gwen pareceu pensar enquanto amamentava Destiny e Emma.

                - Não. Eu senti incômodo por alguns dias depois que tiraram os pontos. E só. Nenhuma dor, parece que nunca fui operada. Quase não dá pra ver a cicatriz como você já sabe. E com o quanto você tem cuidado de mim, meu fator de cura tem funcionado melhor que o esperado.

                Peter trocou um sorriso com ela, sentindo o coração tranquilo ao saber disso.

                - Mamãe disse que levou meses sentindo os efeitos. Embora só Simon tenha nascido por uma cirurgia. É bom duas semanas depois já não sentir mais nada.

                Peter assentiu, percebendo que Hope voltara a dormir enquanto ouvia seus pais conversarem, e cuidadosamente a colocou de volta em seu berço, cobrindo-a e guardando a chupeta esquecida ali. Sentou-se ao lado de Gwen, a fim de ajudá-la com Destiny e Emma quando terminassem.

                - Que horas são exatamente?

                - Quatro da manhã – Peter respondeu.

                - Você tem energia suficiente pra tomar banho e dormirmos mais um pouco?

                - É o que eu ia fazer quando Hope acordou.

                Minutos depois estavam os dois, cada um com um bebê, andando pelo quarto enquanto as faziam dormir de novo.

                - Me chama se precisar – Peter disse quando todas as crianças já estavam devidamente adormecidas em seus berços, vendo Gwen assentir, e a beijando antes de seguir para sua tarefa.

                Ela se juntaria a ele, mas os dois tinham decidido abrir mão disso por enquanto, querendo sempre ficar de olho nas filhas.

                Colocando o uniforme para lavar, apesar de todas as reservas que tinham, Peter seguiu para o banheiro para se limpar, feliz em perceber que os ferimentos já estavam começando a cicatrizar, e os hematomas clareando.

                Voltando ao quarto alguns minutos depois, encontrou Gwen acomodada debaixo dos lençóis, achando que ela já tivesse pegado no sono, até que se juntou a ela e a esposa se aconchegou nele, então Peter a estava abraçando em seu peito e beijando seu cabelo louro.

                - Também senti falta disso – ele lhe disse.

                Gwen sorriu e suspirou.

                - Eu te amo – ela disse sonolenta.

                - Eu também, coração.

                Ela riu e o beijou, e logo os dois deixaram que o sono os levasse.