Contrato de Casamento escrita por Emmy Alden


Capítulo 69
Sessenta e Quatro pt. 2


Notas iniciais do capítulo

hora de pesar a mão muahahahaahahah



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"My heart's already breaking, baby, go on and twist the knife

Oh, why you're wearing that to walk out of my life?"

(Love You Goodbye)

 

SEBASTIAN

O relógio no meu pulso marcava que a cerimônia deveria ter começado há 30 minutos.

Mas noivas se atrasavam.

Pelo menos, era o que eu estava repetindo na minha cabeça desde que verifiquei pela milésima vez que todas as mulheres já estavam sentadas em seus lugares.

Até mesmo Patrícia estava no seu lugar no pequeno tablado onde o celebrante e Hunter estavam posicionados.

Meu coração batia forte no peito, mas era loucura. Ninguém parecia alarmado o tanto quanto minha mente queria que eu começasse a ficar.

Mantive minha expressão neutra. A qualquer momento ela apareceria, o braço enlaçado com o do pai, caminhando em minha direção.

E eu perceberia que minha preocupação foi atoa.

Sinto muito, Sebastian. Mas você não está pronto para isso. Não sei se um dia vai estar, Eloise disse na minha cabeça, repetindo as palavras de anos atrás.

Apesar de você ser um cara incrível, e nunca duvide que você é, isso nunca iria funcionar entre nós. Você se entrega demais e eu não queria que no futuro, eu olhasse para trás e percebesse que você desistiu de sua vida por mim. Tampouco queria olhar para trás e ver que eu vivi uma vida que não queria apenas para atender suas expectativas.

Engoli em seco.

Eu não estava repetindo os mesmos erros. Não estava. De jeito nenhum.

Não me leve a mal, Seb, mas você não é o cara que alguém consegue imaginar se casando.

Senti como se minha gravata estivesse me apertando a cada minuto que se passava.

Troquei o meu peso de um pé para o outro.

Contei quantos arranjos elaborados tinham no corredor que Olivia passaria: 12.

Acordei de manhã, ou pelo menos achei que era de manhã, mas na verdade nenhuma luz entrava pelas janelas.

Contei quantos arranjos simples estavam pendurados nas paredes: 16.

Era madrugada e meus braços procuraram o corpo de Eloise. Apenas para encontrar o espaço vazio no seu lado da cama.

Contei todos os integrantes da bandinha que tocaria a marcha nupcial: 4.

Minha pele roçou em algo que parecia um pequeno pedaço de papel. Acendi o abajur e vi que meu nome estava escrito em cima. De alguma forma, meu corpo já sabia que aquele não era um bom sinal.

Hunter caminhou por trás de mim, indo até Patricia e cochichando algo em seu ouvido. Ela deu de ombros, mas materializou do nada o seu celular. Meu amigo voltou para o seu lugar.

Do fundo para frente, percebi todos ficarem em silêncio gradativamente, o que provavelmente indicava que os passos de Olivia já poderiam ser ouvidos.

Meu coração se expandiu.

Esperei a caminhada lenta começar, mas Olivia apareceu num piscar de olhos, desacompanhada, — seu pai estava logo atrás, com uma expressão confusa e preocupada no rosto —perfeita dos pés à cabeça.

A visão mais linda que eu já tinha visto na minha vida, mas havia algo em seus olhos.

Eles encontraram os meus por alguns instantes, mas ela desviou o olhar rapidamente, como se não aguentasse me encarar.

Meu coração afundou no peito.

Era como se eu pudesse ver claramente o que aconteceria a seguir.

 

OLIVIA

quarenta e cinco minutos antes

O advogado da B&T estar parado na minha frente só poderia significar alguma coisa muito boa ou algo muito ruim.

Pela cara de Santiago, era a segunda opção.

— Estamos, ou pelo menos estávamos, de férias. — Ele disse sério, me respondendo. — Pode me chamar de Eric, Olivia. Posso entrar para conversar por alguns minutos?

Soltei uma risada nervosa.

— Eu...estou meio ocupada agora. — falei, gesticulando para o meu vestido, mas Santiago não riu.

— Por favor, Olivia... — Corte o papo furado, era o que o seu tom parecia querer dizer.

Engoli em seco e apenas abri mais a porta, dando espaço para ele passar, fechando-a logo em seguida.

O homem olhou tudo em volta.

— Bem, não posso dizer que vocês realmente não se empenharam. É impressionante. Estou supondo que ninguém mais saiba o que tudo isso aqui é de verdade.

— Santiago...— Sacudi a cabeça. — Eric, o que está fazendo aqui?

Ele cruzou os braços do jeito que Mia chamava de sua pose "Capitão América estourando uma pobre e frágil camiseta".

— O que acha que estou fazendo aqui?

Dei um sorriso amarelo.

— Veio ver a cerimônia? — arrisquei, e Santiago puxou um banquinho para sentar.

— Eu esperaria cinismo de Sebastian, não de você. O que é tudo isso?

Franzi a testa.

— Eu e Sebastian vamos nos casar. Hoje. Deveria estar acontecendo agora na verdade.

O advogado apertou os lábios numa linha fina, depois de me observar de cima a baixo.

— Sabe, Olivia, eu estava aproveitando meus dias de férias com a minha mulher e minha bebezinha. Esses últimos dias foram incríveis, é a primeira vez que consigo passar um tempo integral com elas desde que minha esposa deu à luz. — Senti meu estômago dar um nó. A esposa de Eric fazia tratamento para engravidar na mesma clínica que eu, e no final do ano anterior havia finalmente conseguido obter êxito. Uma linda menininha que eu sabia que era a alegria dos pais. Santiago continuava falando: — Grande foi minha surpresa quando recebi, no meio de um banho de piscina, uma ligação do meu chefe, praticamente berrando comigo. Sabe por que ele estava irritado, Olivia?

Neguei com a cabeça, mas eu tinha uma ideia.

Eric continuou:

— Ele me liga e me diz que dois funcionários dele estavam tirando uma com a cara da empresa. Com a cara dele. Tentando enganá-lo. — Ele respirou fundo. — Fiquei extremamente surpreso quando o seu nome e o de Sebastian foram mencionados. Eu pensei: Será que nem casados eles vão me dar sossego? Quer dizer, vocês são a melhor unidade que temos por aqui, mas não são o time mais pacífico...

— Eric...

Ele levantou uma mão me calando.

— Quando você me disse que estavam noivos, confesso que minha mente resolveu não acreditar. Achei que você iria olhar para mim e dizer: Pegadinha! — Ele me encarou. — Sempre teve essa tensão meio esquisita entre você e Ferrante, e o jeito como ele ficava babando cada passo que você dava desde que entrou na B&T era no mínimo alarmante. Mas eu pensei: ainda não teve nenhuma denúncia de assédio no RH, então um dia desses eles vão acabar no armário da limpeza, se agarrando loucamente, e quando tudo acabar, vão fingir que nada aconteceu. Afinal, era só para dar uma aliviada na tensão. O quê? Não me olhe assim, não seria a primeira vez que uma coisa desse tipo acontece numa empresa. Porém a notícia do noivado me pegou totalmente de surpresa. Mas, de novo, fazia sentido. Pelo menos para mim. Vocês têm química, têm uma ligação e um sincronismo interessante, apesar de toda a picuinha. Escolhi acreditar que era só o destino fazendo um trabalho excepcional e...

Um celular começou a tocar e Eric buscou o aparelho no bolso. Fez uma careta ao identificar a chamada.

— É o senhor Boscher. — Meu queixo quase tocou o chão e meus olhos quase pularam para fora. — Ele vai querer falar com você. Espero que esteja entendendo a gravidade da situação, Olivia.

Eu sabia sobre o que deveria ser tudo aquilo, meu receio agora era o que iria acontecer, o que eu deveria fazer. Sentia como se estivesse prestes a desmaiar.

Minha cabeça só repetia:

Sebastian, Sebastian, Sebastian.

Aliás, por que eu era a única que estava ouvindo aquela conversa? Por que Santiago não havia chamado Sebastian para estar ali? Ele saberia o que falar, não pareceria tão culpado. Ele me daria suporte e...

— Ele quer falar com você. — A voz do advogado interrompeu meus pensamentos e só então eu percebi que a câmera estava ligada, o chefe da empresa olhando diretamente para mim.

 

SEBASTIAN

agora

Olivia parou na outra extremidade do corredor.

Seu peito subia e descia pesadamente, como se ela tivesse desaprendido a coordenar a sua fala com a sua respiração.

As mãos estavam juntas na frente do corpo e ela brincava, nervosa, com os próprios dedos.

Todos os olhos estavam nela agora. Eu não conseguia tirar os meus.

Sabia que estava a minutos de uma tragédia, de ser vítima de uma, mas eu não conseguia deixar de analisar cada detalhe dela. Desde o arranjo no cabelo, até os pés, que estavam... descalços.

— B-boa...,— Olivia gaguejou, mas então limpou a garganta, assumindo uma postura inabalável que eu já tinha presenciado diversas vezes nos últimos anos. — Boa tarde a todos. Eu...eu estou aqui porque preciso esclarecer algumas coisas. Algo que pensei muito antes de fazer, mas que é necessário, uma vez que nada disso aqui...— Ela fez uma pausa e sua voz falhou um pouco quando continuou.: —...faz o menor sentido.

Olivia ainda olhava para qualquer coisa, exceto para mim. Para evitar transparecer o que quer que fosse.

— E não é justo com vocês, que nos amam tanto, não é justo com Sebastian, nem... comigo.

Queria ir até ela e perguntar o que estava acontecendo, mas meus pés pareciam grudados no chão.

— Há um mês, quando anunciei que eu e Sebastian estávamos noivos, a primeira reação de vocês foi, no mínimo, de surpresa. E vocês não estavam errados em ficar assim porque...

Seus olhos encontraram os meus.

Não, Olivia, por favor...

— Porque...esse noivado nunca foi real.

 

OLIVIA

trinta minutos antes

— Senhorita Sartori, — a voz forte do senhor Boscher soou no alto falante do celular. — Acho que te liguei bem a tempo.

Senti como se minhas costelas estivessem comprimindo meus pulmões ao ver sua expressão extremamente séria na tela.

— Senhor Boscher, a que devo a honra de...

— Vamos cortar as formalidades e floreios, querida. — ele disse bruscamente — Sabe a segunda coisa que eu odeio, que vem logo após ter prejuízos? — Fiquei em silêncio. — Ser enganado.

— Senhor, eu não...

— Sabe, senhorita, desde o momento em que te contratei pessoalmente, eu sabia que tinha muito futuro em nossa empresa. Suas notas eram impecáveis, seus projetos impressionantes e você parecia esforçada, ambiciosa. Seu período da B&T provou isso. — O homem se recostou na cadeira, seus olhos me encaravam como se analisasse cada expressão no meu rosto. — Sua unidade é uma das mais lucrativas que temos. Eficiente, inovadora e competente. Palavras que também podem ser aplicadas a você... Percebe onde quero chegar? Você tinha um presente brilhante e um futuro ainda mais. Era uma peça vital para minha unidade. A vaga de supervisor geral tinha praticamente seu nome assinado embaixo se fôssemos analisar o desempenho de cada um. Confesso que o edital da vaga e o requisito do matrimônio atrapalhavam algumas coisas, mas você poderia ter vindo até mim. Poderíamos ter entrado em um...acordo.

O modo como a palavra acordo saiu da sua boca fez meu estômago se revirar um pouco. Eu não tinha o mínimo interesse em saber que tipo de acordo seria aquele.

— Senhor Boscher...— Tentei me manter calma. — Agradeço de verdade as palavras, é bom saber que o senhor tem confiança no meu trabalho. Vejo que não teremos nenhum problema com a vaga porque eu e Sebastian realmente estamos prestes a nos casar e...

Ele começou a rir do outro lado da linha e eu parei de falar.

— Você de fato abraçou o seu papel, posso ver. Me convenceria, não fosse por um único detalhe. Santiago, por favor.

Só naquele momento percebi que o advogado carregava uma pasta, que abriu com certa relutância.

Meu coração martelava no peito.

— Foi isso, senhorita Sartori, que recebi por e-mail recentemente. — Boscher anunciou.

Eric tirou um papel e me entregou. Nele, havia uma foto escaneada, mas bem clara do meu contrato de casamento com Sebastian. Com nossas assinaturas. Registrado em cartório.

 

SEBASTIAN

agora

Primeiro veio um arfar de surpresa de todo mundo. Os olhares agora se alternavam entre mim e Olivia, como se fôssemos dois extraterrestres.

Então um silêncio pesado tomou conta do salão enquanto Olivia falava sobre o nosso acordo, sobre nosso contrato. Os termos e condições. Os possíveis prazos para tudo acabar.

Uma parte de mim ainda tinha esperanças que ela só estivesse esclarecendo tudo e acabaria chegando ao momento em que tudo mudou. Em que o acordo não era apenas um acordo. Em que os toques e os beijos não eram apenas encenação. Em que o que tínhamos era real até demais.

Em vez disso, quando acabou e todos estavam de queixo caído, Olivia pediu para conversarmos a sós.

Ela caminhou pelo corredor até mim — como eu havia sonhado diversas vezes nas últimas noites — mas no pior contexto possível.

Assim que entramos no cômodo, Olivia apenas me encarou por alguns instantes, sua mandíbula travada. Seus olhos estavam marejados, mas uma lágrima sequer não ousava cair.

A primeira coisa que Olivia fez foi me pedir desculpas. E a princípio, eu não estava entendendo o porquê. Suas palavras estavam se embaralhando na minha mente até eu decidir ouvi-las com atenção.

O objetivo dela sempre foi continuar no emprego, era a sua vida, a sua carreira.

Estar comigo foi bom, não havia sido tudo mentira, eu havia a ajudado mais do que poderia imaginar, mas ela não podia continuar deixando que eu vivesse aquela ilusão.

Levantei a mão interrompendo-a. Um detalhe me incomodava mais do que tudo naquela conversa:

— Se o seu objetivo sempre foi a empresa, por que não estamos casados, Sartori? Se você se deu o trabalho de fazer tudo isso para garantir a vaga, por que desistir de tudo quando estava tão perto de alcançar seu objetivo?

Minha voz soava estranha até para mim mesmo. Era semelhante a dela enquanto contava para todos os presentes da nossa "farsa".

— Recebi outra proposta. — ela disse, encarando as mãos. — De outra empresa. Essa manhã.

Ri sem humor.

— Outra empresa? Você estava o quê? Enviando currículos enquanto estávamos aqui?

Dei um passo em sua direção. Ela deu um passo para trás.

— Claro que não! Foi uma resposta a um email que mandei...logo após Santiago nos dar a notícia da vaga. Eu não sabia se você aceitaria de verdade nosso acordo, tudo estava muito incerto e...não sei o que dizer, além de sinto muito. — Sartori fez uma pausa se recompondo — Me casar...com você...quer dizer, você não quer realmente se casar, Sebastian. Todo mundo que analisar seus últimos cinco anos consegue ver isso. — Ela mordeu o lábio como se sentisse dor. Dei mais um passo. — Há um mês, não conseguia dormir com a mesma garota nem por duas vezes, o que te faz pensar que nós daríamos certo?

Avancei mais um pouco e suas costas bateram na porta, meu corpo a centímetros do seu.

Minha voz saiu como um sussurro.

— Não amava nenhuma das outras garotas, Sartori. — Toquei seu rosto e ela se encolheu, fechando os olhos apertado. — Não queria passar o resto da minha vida com nenhuma delas.

Sua voz quase não era audível:

— Não posso deixar você se casar com alguém...que não te ama. — As palavras era como facadas em mim. — Você é um homem incrível, bom, e que merece ser feliz com alguém que te quer desse jeito. — Ela engoliu em seco, e quando abriu os olhos, eles estavam sem qualquer traço de emoção. — Por mais que eu tenha tentado, esse alguém não sou eu, Ferrante.

 

OLIVIA

vinte minutos antes

Eu iria desmaiar.

Como?

Santiago me amparou me colocando sentada em uma das cadeiras.

— Entende agora como se colocou e me colocou em uma situação delicada, senhorita Sartori?

Minha voz tremia ao dizer:

— O senhor não está entendendo, eu e Sebastian... nós erramos. Na verdade, a culpa é totalmente minha, eu o coagi a fazer parte disso. Santiago pode confirmar que Sebastian parecia tão surpreso quanto ele quando eu anunciei o noivado. Foi um ato de desespero, impensado, porém...esse casamento de hoje é cem por cento real. O homem que está me esperando lá fora é com quem eu quero passar o resto da minha vida. — Meus olhos começaram a lacrimejar de uma maneira impressionante. Minha voz soava patética. — Começamos errado, eu sei, mas eu amo Sebastian mais do que achei que fosse possível. Não é mais um acordo, desconfio que nunca tenha sido.

O senhor Boscher me encarava do outro lado com uma expressão de pena condescendente que me fazia querer gritar.

— Querida...como posso acreditar no que diz? O contrato está bem aí na sua frente. Você estava disposta a se casar com alguém para manter seu emprego. Como eu vou acreditar que essa não é apenas mais uma encenação para continuar no trabalho? Como posso ter certeza que um dia essa história não vai vazar e eu ficarei com cara de idiota?

Cuspi as palavras, desolada:

— Eu abro mão da minha vaga, da minha função. Só peço que não envolva Sebastian nisso.

— Mas ele já está envolvido nisso, afinal, ele aceitou seu plano. O nome e a assinatura dele também não estão no contrato?

— Sim, mas...

O homem me interrompeu.

— Não posso viver com a dúvida de que esse casamento é real ou não, entende? Você me diz que é real, mas eu tenho testemunhas que podem afirmar que vocês passavam metade do tempo brigando e outra metade fingindo que o outro não existia. — ele disse calmamente. — Agora você me diz que o ama... Bem, digamos que eu acredite: um de vocês consegue a vaga, o outro vai para outro setor. Seis meses se passam, um ano, dois...e de repente, os dois percebem que não está mais funcionando. Que vão se separar, afinal, é um direito de vocês. Coisas mudam, pessoas também e blá, blá, blá. Mas o que me garante que não vai ser apenas o cumprimento da cláusula... como era mesmo? — Boscher colocou o óculos e leu o papel na sua frente que provavelmente era mais uma cópia do contrato: — O contrato pode ser finalizado a qualquer momento após o período em que o objetivo comum tenha sido alcançado.

Olhei para Santiago, buscando alguma ajuda, qualquer coisa, mas eu conseguia ver no seu rosto que o nosso chefe tinha pensado bastante sobre o assunto e já tinha um ultimato.

— Como eu já demonstrei, acho você uma garota brilhante, senhorita Sartori. Tem um talento e uma organização excepcional, coisa que não vemos em muitos jovens de hoje. Perder você vai ser um prejuízo que vai doer de verdade em mim, mas preciso que entenda que não gosto que me enganem, não gosto que brinquem comigo. Tudo tem uma consequência. Perceba que, quando aceitei um pedido pessoal para contratar como estagiário o garoto que está prestes ou não a se tornar seu marido, eu nunca imaginaria que a consequência seria perder uma profissional de valor como você. Se eu soubesse, muito provavelmente nunca teria o contratado. Tenho certeza que ao assinar aquele contrato não imaginou que ele acabaria em minhas mãos, não imaginou que teria que escolher se salvaria ou não sua carreira. — Ele suspirou tirando os óculos. — Como você disse, foi um ato de desespero, um impulso que se tivesse pensado mais um pouquinho sobre o assunto, teria achado uma solução. Atributos não faltam em você. Se não na B&T, seu currículo certamente te levaria a outros lugares... o que me faz pensar: medo do que fez você tomar uma atitude tão imprudente? Mas, enfim... Não tirei Santiago das férias dele apenas para te mostrar um pedaço de papel que você tem uma versão original guardada em algum lugar. Preciso que tome uma decisão, Olivia.

— O que o senhor quer que eu faça?

Ele deu um sorriso de canto, bem característico do tipo de homem repugnante que sempre achei que ele era.

— Temos prioridades em nossas vidas: carreira, família, romance, fama... E, não importa o que os filmes tentem te dizer, mas não se pode ter tudo. — Boscher fez uma pausa. — Já que parece tão firme sobre seus sentimentos quanto ao rapaz, você pode escolher ir em frente. Case-se com ele, sejam, sei lá, felizes para sempre. Vai ser uma história bonita para se contar para a família. Porém, eu serei forçado a, além de demitir vocês dois, usar essse contrato para processá-los pela má fé. Garanto que com esse processo, nem você nem Sebastian Ferrante conseguirão um emprego em nenhuma empresa de nome nem aqui nem do outro lado do mundo. O que não seria um problema tão grande considerando a família do seu noivo, mas, infelizmente, além de um tanto rancoroso, tenho ótimos contatos. Bons o suficiente para que todo o legado do seu sogro vire ruínas em um piscar de olhos. Não sei se você conseguiria viver com a culpa, mas vou torcer que sim.

Aquele homem não poderia estar falando sério. Não poderia ser tão mesquinho a ponto de fazer aquilo.

Mas no fundo, eu sabia que sim. Ele faria aquilo e muito mais. Com aquele contrato, eu tinha praticamente tirado uma com a sua cara não importava que o pedaço maldito de papel não significasse mais nada para mim.

— Por outro lado, analisando sua trajetória, seu passado e seu possível futuro, sei que abriu mão de muita coisa para ir atrás de desenvolver sua carreira dos sonhos. Quantas noites sem dormir, quantas oportunidades perdidas, quanto julgamento alheio... Isso tudo faz parte do nosso cotidiano quanto escolhemos pôr nossas carreiras em primeiro lugar. Afinal, ninguém vai entender nossa sede de chegar no topo mais do que nós mesmos. — Ele disse como se fôssemos, de alguma forma, semelhantes. — Você está no caminho certo, basta continuar nele. Por isso, por ser um grande admirador do seu trabalho e de pessoas ambiciosas como você, se você desistir desse casamento, obviamente ainda terá que se demitir, mas eu te darei uma carta de recomendação que qualquer lugar vai te contratar antes mesmo que você abra a boca. Nada de processos nem ostracismo profissional. Um currículo intacto que vai te levar longe. Vai ser como se esse contrato nunca tivesse existido ou parado nas minhas mãos. — Abri a boca para rebater, mas, como se lesse a maior preocupação na minha mente, Boscher levantou um dedo. — E...o cargo novo será automaticamente de Sebastian. Sem competições ou requisitos ou apresentações. E claro, sem processos para ele também.

Uma risada amarga escapou da minha boca, mas minha vontade era de chorar até que eu perdesse essa capacidade:

— Sebastian nunca vai aceitar essa proposta.

— Não estou fazendo essa proposta para ele, querida, ela é exclusiva para você. Considere um presente: imagine ele descobrindo que você escolheu prosseguir com o casamento sabendo que isso acabaria com a vida profissional e financeira dele e da família dele. Sendo assim, o senhor Ferrante não vai saber dessa proposta.

Não era um pedido. Era uma ordem.

E eu soube muito bem o que ele queria dizer.

Fiquei em silêncio por alguns segundos.

— Bem, acho que isso é tudo. Santiago está com a papelada e vai me manter a par dos acontecimentos. Escolha com cautela, senhorita Sartori. Isso aqui define o resto da sua vida.

 

SEBASTIAN

agora

Passei a mão por sua cintura e encostei minha testa na sua, mas os olhos de Olivia estavam sem foco.

Ela nem mesmo reagia à minha proximidade.

— Eu não acredito em você, Sartori. — murmurei, mas ambos sabíamos que eu estava tentando convencer mais a mim mesmo do que qualquer outra pessoa. — Não pode me dizer que eu imaginei tudo o que vivemos nesses dias. Não pode me dizer que eles não significaram nada para você.

Tentei tocá-la então com palavras, mas ela continuava distante. Inacessível.

Qualquer parede que ficou erguida entre nós durante cinco anos, agora tinha virado uma muralha intransponível.

— Sabe que nenhuma mulher em sã consciência seria capaz de resistir a você, Sebastian. Não sou melhor do que nenhuma delas e não posso negar que a...atração que sinto é muito forte. Mas não passa disso. — Ela empurrou suavemente meu peito, me afastando. — É coisa de corpo. Não vai durar para sempre e eu não posso te enganar e dizer que vai. Não posso dizer que...eu sinto o mesmo que você. Prefiro quebrar sua ilusão agora. Não sou a pessoa que cultivou na sua mente. Não sou quem você idealizou. Sou... a mesma Olivia que você pensava que eu era há algum tempo. Não posso fingir ser diferente ou ser egoísta ao ponto de te dar menos do que merece.

Fechei meus olhos, mordendo meu dedo, sem acreditar.

Que droga era aquela?

Simples.

Era Eloise acontecendo tudo de novo.

Pensei ter ouvido um leve tremor em sua voz ao dizer:

— Você sempre soube como o meu trabalho era importante para mim. Que eu faria qualquer coisa pela minha carreira. Sinto muito por ter te colocado no meio disso. Sinto muito por ter colocado toda a sua família mas...Não posso levar isso adiante. Simplesmente não dá.

 

OLIVIA

agora

Cada palavra era como um bolo espinhoso saindo da minha garganta.

Àquela altura, eu estava sangrando por dentro.

O olhar machucado de Sebastian, o brilho das lágrimas em seus olhos. Ele estava se segurando para não desabar, mas não fazia ideia de que eu também.

Voltar a usar minha máscara de indiferença foi muito mais fácil do que eu esperava. Era como se ela estivesse sempre bem ali do lado, porque sabia que o momento de eu usá-la chegaria mais cedo ou mais tarde.

E chegou.

Chegou muito cedo. Cedo demais.

Foi um esforço doloroso ter Sebastian tão próximo de mim — me tocando, me olhando com tanta preocupação — e fingir que o meu único interesse nele era usá-lo para alcançar meus objetivos.

Fingir para o homem que havia tocado minha alma que a única coisa que me ligava a ele era o seu corpo quando meu coração estava completamente ao seu dispôr.

Eu era muito pior do que a garota que havia deixado ele no meio da noite.

— E como eu fico, Olivia? — Sebastian perguntou de repente. — Tenho a leve impressão que isso não tem nada a ver com carreira nenhuma, mas já que quer ir por esse caminho: e o meu emprego? Tínhamos um contrato, como você mesmo está disposta a me lembrar.

Controlei minha voz o máximo possível para expressar calma e praticidade quando tudo que eu queria era correr até Sebastian e desabar em seus braços:

— Se tiver qualquer tipo de prejuízo profissional, estou disposta a arcar com o que for preciso. — Se eu não tivesse assinado papéis que garantiriam que Sebastian não seria afetado no emprego pelas minhas escolhas, eu estaria falando um monte de porcaria.

Sebastian soltou o ar pelo nariz.

— Achei que confiasse em mim, Sartori. Pelo menos para não tentar me enganar desse jeito.

Engoli em seco.

— Não...não entendo o que quer dizer.

— Alguma coisa está acontecendo e você não quer me contar.

— Posso te garantir que não tem nada acontecendo, Ferrante. Eu... só estou tentando ter consideração por você. Me ajudou tanto nesses últimos dias com toda a questão de Max e...

Sebastian bateu forte numa mesinha que tinha ali e eu me calei, abaixando rapidamente a cabeça porque uma lágrima desceu rolando pelo meu rosto.

Esperei que ele gritasse ou quebrasse alguma coisa mais sua voz era baixa ao dizer:

— Porra de consideração nenhuma, Olivia. Se tudo o que diz é real, escolher exatamente esse momento para ter "consideração" por mim foi um plano? Esperar que eu entregasse meu coração e cada parte de mim, me fazer parecer um idiota na frente de todos é a sua ideia de mostrar consideração por mim? Porque, para sua informação, a porra do seu "sinto muito" não faz a menor diferença.

Era aquilo que eu desejava: que seu sofrimento virasse raiva, mas ainda doía assistir. Doía ver que eu estava conseguindo fazer com que ele pensasse o pior de mim.

— Como você se sentiria se eu aparecesse hoje ou um dia antes do casamento, dormindo com uma conhecida sua? Aposto que causaria um déjà vu nada legal na sua mente, não é? — Ele andou em minha direção novamente. — Então se ponha no meu lugar, o cara que acordou com uma carta da noiva dizendo que não conseguiria se casar com ele porque não sentia o mesmo, como acha que sua "consideração" está sendo boa para mim? Acha que ela está cumprindo seu papel? — Ele abaixou ainda mais a voz. — Nós começamos tudo isso com um contrato, Olivia. Definimos alguns termos juntos, mas eu não sabia que você tinha outros por trás, guardados na sua própria mente. Como consegue chamar isso de consideração? Se era só uma boa foda sem compromisso que você queria enquanto garantia seu emprego, sabe que eu ficaria mais do que contente em te dar. Sem ressentimentos. Agora o que você fez, não se faz com ninguém...

Queria gritar, segurar seu rosto em minhas mãos, mas não poderia dar para trás agora.

— Já deveria saber que eu não trabalho nem ajo da maneira que você ou qualquer pessoa acha que seria melhor. — Forcei um sorriso fraco. — Conhece Olivia Sartori há cinco anos, Ferrante, deveria saber onde estava se metendo. Mas, de qualquer forma, eu realmente sinto muito.

Antes que Sebastian pudesse abrir a boca, antes que eu pudesse voltar atrás, retirar tudo que eu disse, e condenar nossos futuros, eu me virei e saí dali.

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Notas finais do capítulo

Heeyyy, meus amores! SILÊNCIO ESTOU REFORÇANDO A SEGURANÇA DA MINHA CASA... NÃO ADIANTA MANDAREM BOMBARDEAR!!!

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como vcs estão? estão vivos? querendo me matar? (com ctz) lembrem que amo vcs e como dizia katy perry depois do furacão vem o arco-iris kkkkkkkkkkk

CONTEM!! OQ ACHARAM? EU TO CHORANDO DE ODIO (minha olivia, meu sebastian, meu deeeeeus)

Não se esqueçam de comentar o que estão achando (pf sou escritora independente preciso receber validação a todo momento rs), deixar aquele fave básico e compartilhar a história com os amigos ♥


A gnt se vê daqui a pouquinho (estamos chegando no final!!) !!

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