Contrato de Casamento escrita por Emmy Alden


Capítulo 67
Sessenta e Três


Notas iniciais do capítulo

TÁ CHEGANDO O CASAMENTO!! n esqueçam de comentar ♥



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"Hell was the journey

But it brought me heaven"

(invisible string)

 

SEBASTIAN

Quando eu acordei pela manhã, Olivia não estava mais na cama.

A noite anterior tinha sido uma tormenta.

Depois de tê-la completamente para mim, parecia um tipo cruel de tortura ter que deitar ao seu lado e fazer com que meus toques em seu corpo se resumisse em carícias quase platônicas, em especial depois daquela noite.

A memória da maldita minissaia poderia muito bem ter sido gravada na minha mente com ferro em brasa.

Por outro lado, apenas ficar ao lado dela, ouvindo sua respiração e reparando no modo como seu corpo se moldava ao meu era uma experiência bem calmante, e eu dormi como um anjo.

Disposto a tentar ir atrás de Sartori, convencê-la a mudar de ideia e passar o resto do dia sob os lençóis, acabei descobrindo que era mais fácil eu conseguir marcar um encontro com o Papa do que encontrá-la com tempo livre.

Quem imaginaria que uma cerimônia modesta e planejada em menos de um mês traria tanto trabalho assim para ser realizado na véspera?

Eu estava observando a movimentação de entra e sai dentro da casa, tentando arrumar algo para fazer ou ajudar alguém, qualquer coisa que não me rendesse uma olhada séria para que eu apenas sentasse e ficasse quieto, quando percebi que Hunter tinha acabado de chegar.

Quer dizer, acabado de chegar mesmo, o que dava a entender que ele tinha passado o restante da noite anterior longe da casa dos Sartori.

Sem notar que eu tinha o visto se esgueirar pela porta na cozinha, Hunter fez a tentativa patética de ir para o quarto de hóspedes onde estava instalado sem chamar atenção de ninguém.

Só que quando ele chegou na base da escada, eu me coloquei na sua frente.

— Isso lá são horas de chegar em casa!

Meu amigo colocou a mão no peito se sobressaltando.

— Puta que pariu, Sebastian, qual o seu problema?

— Meu problema? Nenhum. Só curiosidade para saber onde o senhor passou a noite. — disse, cutucando-o enquanto subíamos a escada lado a lado. — Encontrou alguma gracinha caipira por aqui?

— Virou minha mãe agora? — Hunter perguntou, murmurando e eu franzi o cenho para ele.

— Ei, ei. Qual o problema? E não adianta me dizer: "Problema nenhum, Sebastian, cai fora!" porque dessa vez eu não vou deixar que você se safe tão facilmente.

— Tá sem nada para fazer, é? — Meu amigo abriu a porta do quarto e entrou. — Você não vai se casar, tipo, amanhã?

Fechei a porta atrás de mim e me joguei sem cerimônias na cama de Hunter.

— Aparentemente todos estão de acordo que eu sou mais útil fora do caminho deles do que tentando ajudar e acabando atrapalhando a organização.

Ele riu.

— Eu apostaria uma fortuna que foi especificamente Olivia que pediu para que não deixassem você tocar em nada.

Fiz uma cara feia.

— Eles não sabem o que estão perdendo, eu sou muito útil. — rebati, apoiando minha cabeça em uma mão enquanto Hunter tirava os sapatos.

— Aham, útil em ficar babando sua noiva como um cachorro.

Nós dois rimos.

— Tenho meus motivos, mas e então? Quem foi a sortuda que tirou proveito do seu corpinho e, de alguma forma, te deixou de mau humor.

— Duvido que ela descreveria a si mesma como sortuda. Na verdade, tenho certeza que ela diria exatamente o contrário. — Hunter suspirou, procurando algo para vestir no armário.

Apenas o encarei, arqueando uma sobrancelha e ainda à espera de uma resposta, mas meu amigo continuou quieto, o que não era característico dele.

— Você pretende me contar quem é ou assinou um termo de confidencialidade?

— Vai se foder. — ele resmungou e falou num tom ainda mais baixo. — É a amiga de Olivia.

Só para provocá-lo mais um pouco, ergui minha outra mão na altura da orelha, estreitei os olhos e perguntei:

— Quem? Não consegui ouvir direito.

Hunter me olhou com um olhar assassino, mas eu já estava acostumado com isso.

Ele, Olivia...todos mais cedo ou mais tarde tinham pensamentos sobre me assassinar, mas eu não ligava nem um pouco.

Meu amigo soltou o ar com força e se virou para mim.

— Patricia, tá legal? Eu estava com a Patricia. — ele disse, se enfiando no banheiro.

Minha boca se abriu: eu estava metade surpreso e metade não surpreso com aquela informação.

Tentei me levantar e correr para a porta do banheiro, mas Hunter conseguiu fechá-la na minha cara bem a tempo.

— Não creio! — exclamei contra a madeira. — A mesma Patricia que é a "mulher louca da qual você não vê a hora de não ter que encarar pelo resto da sua vida"?

Meio a contragosto ele respondeu:

— A própria. E só para esclarecer nós passamos a noite juntos, não dormimos juntos, nem nenhuma merda dessas.

Franzi a testa, embora ele não pudesse me ver.

— Você parece bravo por isso.

Hunter ficou em silêncio e então o barulho do chuveiro ecoou pelo cômodo.

Resolvi sentar e esperar ele sair.

Dez minutos depois, meu amigo abriu a porta, me encarou e soltou de uma vez:

— Eu estava passando um tempo com Patricia, já faz alguns dias. — ele começou. — Nada com segundas intenções como você deve estar pensando. Nós simplesmente matávamos tempo juntos, eu ajudava a organizar as coisas na loja da família dela enquanto conversávamos sobre você e Olivia, entre outras coisas. Claro que de dez conversas, nós acabávamos brigando em onze, mas parecia que ela gostava de estar comigo e eu com ela. Só que, do nada, ela começou a ser mais rude do que o normal, o que é surpreendente.

"Uns dias atrás disse que eu deveria parar de ficar atrás dela porque não seria prêmio de consolação de ninguém. Nós dissemos umas coisas meio maldosas um para o outro, e prometi que não falaria mais com ela. Porém, ontem, todo mundo tinha bebido além da conta. Ficamos um tempo no karaokê e ela falou que precisava organizar algumas entregas para hoje e eu perguntei se poderia ajudar. Patricia concordou, fomos para sua casa, seu quarto e...nós nos beijamos...por um tempo. Estava agradável, pelo menos para mim, mas então antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, Patricia me afastou, me olhando como se eu fosse louco. — Hunter suspirou. — Disse que aquilo era um erro, que não deveria ter acontecido, que ela não sabia o que tinha passado por sua cabeça porque eu definitivamente era o tipo de cara que ela mais detesta ou qualquer porcaria dessas. Que eu provavelmente só queria levá-la para cama e depois desaparecer. Fiquei puto e fiz que ia embora, mas aí teve o plot twist: ela disse que de jeito nenhum eu iria sair da sua casa uma hora daquelas e semi embriagado. Eu rebati que ela só podia ser louca e ela teve a pachorra de parecer ofendida. O negócio é que estávamos cansados demais para voltar a brigar e não lembro bem quando caí na cama e dormi."

Assoviei, olhando assombrado para meu amigo.

— Acho que você está até mais leve depois de tirar tudo isso do coração, não é?

Hunter passou o desodorante e ajeitou sua camiseta.

— É loucura, sabe? Ela é louca, descontrolada. Desequilibrada talvez. Não entendo o que ela quer de mim. E sinceramente não sei porque me incomoda tanto não saber o que ela quer. Não tenho feito nada do que tentar ser legal com ela desde que chegamos aqui.

Meu amigo se jogou na cama e colocou um braço sobre o rosto.

— Já parou para pensar que talvez ela tenha tido experiências ruins e, apesar de claramente sentir algo por você, tem medo que se repita? Sei lá, talvez tenha tido um namorado ou um ficante em quem ela apostou todas as fichas e ele sumiu. — Dei de ombros. — Explicaria porque ela parece tão certa que depois que você conseguir conquistá-la vai sumir.

— Não quero conquistá-la. — Hunter disse firme. — Foi só um beijo influenciado pela bebida, pelo amor de Deus.

— Um beijo influenciado pela bebida que poderia muito bem ter levado a algo mais. Meu querido, eu te conheço desde que me conheço por gente, você não estaria nessa angústia toda se fosse só um beijo.

Ele abriu os olhos, se erguendo um pouco do colchão para dizer:

— Foi um puta beijo.

Eu comecei a rir.

— Bem, pense com carinho sobre sua situação, posso pedir que Olivia jogue o buquê diretamente na cara da amiga dela.

Hunter gargalhou:

— Tenho certeza que a primeira coisa que Patrícia faria seria colocar fogo.

 

OLIVIA

Toda vez que eu pensava em ir atrás de Sebastian aparecia alguma coisa precisando da minha atenção, o que eu desconfiava que era de propósito.

No casamento de Liz, ela e meu cunhado haviam ficado sem se ver o dia anterior inteiro ao casamento. Eu desconfiava que todos ali sabiam que aquela "ordem" não seria de jeito nenhum aceita por mim nem obedecida por Sebastian, então eles tentaram uma maneira mais sutil de fazer isso acontecer.

Só queria ver o que aconteceria se eles soubessem que Ferrante já havia me visto usando o vestido de noiva.

Sentia arrepios só de pensar.

Eu estava recebendo um tratamento digno de uma rainha na casa de uma das amigas da nossa família.

Minha pele estava tão lisa e macia quanto a de um bebê e eu quase caí no sono durante uma massagem que recebi.

A cerimônia seria no começo da tarde do dia seguinte e só de pensar que eu estaria casada muito em breve, fazia um frio subir pela minha barriga.

Cecília se encarregou de cuidar das minhas unhas e ficamos a sós por um tempo.

Pela primeira vez desde o início daquele acordo, eu me peguei insegura sobre o que ela achava sobre eu ser a mulher com quem seu filho iria casar.

Será que conviver comigo durante aquelas poucas semanas era o suficiente para me achar digna de ser a mulher — ou pelo menos a namorada — do seu filho?

Lembrava que Sebastian costumava dizer que sua família sempre gostou muito de Julie e apoiava que eles ficassem juntos desde muito antes de Ferrante e eu nos conhecermos.

Será que Cecília preferiria que fosse ela ali? Ou talvez Eloise?

Será que ela e Caleb achavam loucura o nosso casamento, e apenas não queriam contrariar o filho?

O que será que eles pensariam quando soubessem do meu...problema?

A família de Max fez um inferno na minha vida. Não sei se aguentaria passar por tudo outra vez, principalmente se eles fizessem Sebastian perceber que...

No meio ao silêncio do ambiente, percebi que encarava Cecília e ela me encarava de volta, com um sorriso.

— Sabia que alguns dias antes do meu casamento com Caleb, eu estava em uma posição bem parecida com a sua? Olhando para minha sogra e imaginando milhares de coisas. Me questionando sobre cada decisão que me levou até ali. — Ela pegou o meu pé de dentro da pequena bacia e apoiou com cuidado em seu colo. — Minha história com o pai de Sebastian foi um tanto conturbada. Nós nos conhecemos na adolescência por acaso. Eu estava auxiliando minha mãe que era chef em uma das festas que os Ferrante estavam dando. — A mãe de Sebastian começou a trabalhar com o alicate. — Tarde da noite, insisti para que minha mãe fosse descansar porque o movimento estava quase no fim. Eu daria conta de organizar o resto do pessoal. E então, quando eu estava fechando tudo, um garoto entrou na cozinha procurando algo forte para beber. Veja só, um garoto da minha idade pedindo bebida alcoólica. Se eu permitisse e aquela notícia vazasse, minha mãe estaria frita. Caleb disse que foi amor à primeira vista da parte dele, o que eu duvido muito. Eu estava pingando de suor e exausta, usando uma touca.

Eu sorri, me recostando na cadeira e fechando os olhos imaginando a cena com os pais de Sebastian mais novos. Cecília continuou contando sobre como ele desistiu de beber, mas insistiu em ajudá-la a limpar tudo.

Em um momento, sem deixar ela perceber, Caleb pegou seu chaveiro e anotou o número do fax e do telefone fixo de Cecília, que só foi descobrir só no dia seguinte quando recebeu o convite para tomarem um milkshake em algum lugar.

Depois disso, os dois se viam cada vez mais, até o dia que vários faxes chegaram às 2 da manhã que diziam:

Eu estou em outro país e perdi meu celular.

Entrei em pânico, voltei em todos os lugares que visitei durante o dia para tentar encontrá-lo sem sucesso.

O mais incrível foi perceber o porquê de eu estar tão preocupado, afinal, volto para casa em dois dias.

Então percebi que eu poderia esperar 48 horas para recuperar minha agenda com todos meus contatos importantíssimos, mas não poderia ficar 48 horas sem falar com você.

Foi aí que, mesmo sem um telefone, me dei conta que eu sabia o número do seu fax de cor. Desde o primeiro dia porque fiquei encarando-o incessantemente até ele ficar grudado na minha cabeça.

É o quanto você é importante para mim. Queria saber se é recíproco, mas seria péssimo levar um fora através de um fax em outro país. Então guarde sua resposta para quando eu voltar, está bem?

Até lá estarei pensando em você. Não que eu tenha parado em algum momento.

— Eu estava desesperada tentando fazer o meu fax meio capenga parar de fazer barulho em plena madrugada antes que minha mãe ou minha irmã acordassem. E depois fiquei desesperada porque Caleb Ferrante estava dizendo que não conseguia me tirar da cabeça. — Ela riu e foi como se todo seu rosto voltasse para a idade que ela tinha na história. — Bem, mesmo com todos os avisos que minha mãe me dera sobre garotos que tinham condição e como eles poderiam ser canalhas, eu sabia que Cal era diferente. Nós começamos a namorar e meu maior desafio passou a ser a família dele.

Ela prosseguiu contando sobre como o pai de Sebastian já estava praticamente prometido para outra garota, branca e rica, e como ele foi contra a vontade da família para ficar com Cecília. Durante todo o namoro e noivado, a sogra fez da vida dela um inferno de todo jeito possível. Ela passou por humilhações horríveis até a pior de todas quando alguns meses antes do casamento, a mãe de Caleb passou uma bateria de exames para ela.

— Juro que não teve um centímetro de mim que aquela mulher não colocou para ser examinado. Foi então que descobrimos que eu era estéril.

Meu coração parou e eu encarei Cecília. Ela tinha parado de mexer nas minhas unhas e sua mão tremia um pouco:

— Aquele foi, de longe, um dos piores dias da minha vida. Ela obviamente leu os resultados primeiro e me olhou de cima a baixo como se eu fosse um verme. "Eu sabia que tinha algo errado com você.", foi o que ela disse. Eu tinha uns 20 anos na época, só fui entender quando peguei os papéis na minha mão. A mãe de Caleb me levou até sua casa, onde ele estava nos esperando e fez o maior escândalo. Caleb era filho único, precisava passar a empresa da família para alguém. — Cecília suspirou. — Lembro que estava em choque, não conseguia nem mesmo chorar. Enquanto Caleb discutia com a mãe de que o casamento não seria cancelado, o pai dele veio até mim e disse que sentia muito por tudo. Que aquilo não importava nada para ele e muito menos para Caleb, mas que para não ouvir mais nenhum absurdo, eu deveria sair dali e voltar mais tarde. Me deu a chave do seu carro e eu fui.

Cecília contou que dirigiu direto para casa e chorou toda a água que tinha no seu corpo na garagem. Quando subiu e encontrou a mãe, que estava se arrumando para trabalhar em um evento em outro estado, ela contou tudo.

Apesar do consolo, sabia que a mãe também não entendia como ela estava se sentindo. Afinal, ela avisou várias vezes que aquilo não terminaria bem. Cecília implorou para que sua mãe a levasse com ela naquele exato momento, mas a mãe resolveu que pegaria o ônibus da noite. Antes, Cecília precisava se resolver com Caleb.

— Eu não tinha mais o que chorar. Me sentia vazia. Quando abri a porta para Cal, ele me pegou em seus braços e me pediu desculpa milhares de vezes. Disse que nada daquilo importava para ele. Que poderíamos nos casar em outro lugar, mas eu achava que em parte a mãe dele estava certa. — A mãe de Sebastian respirou fundo. — Eu nunca faria Caleb completamente feliz. A família era a vida dele e eu não o forçaria, ainda que indiretamente, a se afastar deles. Então, eu disse que não poderia ir adiante. Contei todas as humilhações e ofensas que a minha sogra fazia questão de me fazer passar quando estávamos sozinhas e percebi o quão exausta eu estava de aguentar tudo aquilo. Que não queria viver uma vida assim. Caleb chorou e implorou para que eu não fizesse aquilo e sei que parte do seu coração ficou comigo quando o fiz passar pela porta.

Cecília e Caleb ficaram quase cinco anos afastados.

Ela trocou de número, mudou de endereço por um tempo e foi como se nunca tivesse existido na vida dele. Esperava que ele tivesse seguido em frente, que tivesse encontrado alguém, embora doesse pensar naquilo.

Foi um período extremamente difícil na sua vida. Além da separação de Caleb, alguns anos depois sua mãe morreu e sua irmã mais nova se rebelou contra tudo e todos.

Cecília trabalhava em dois empregos para conseguir sustentar a casa, tinha assumido o negócio da mãe, mas, como não tinha muitas referências sobre seu nome na área, era muito difícil conseguir trabalhos bons.

Sua irmã, Fabi, começou a se envolver com um cara terrível e coisas começavam a sumir da casa das duas, inclusive dinheiro.

A mãe de Sebastian voltou para sua cidade natal e um dia recebeu uma proposta inesperada para assumir a cozinha de um evento enorme que lhe deixaria um pouco folgada pelo menos por algumas semanas.

No fim da noite, um rapaz entrou na cozinha procurando algo para beber.

— Àquela altura ele já tinha idade suficiente para tomar algo com álcool. — Nós duas rimos. — Passamos a madrugada conversando como nas primeiras vezes que saímos, ainda adolescentes. A naturalidade de estarmos um ao lado do outro ainda estava ali, como se o tempo não tivesse passado. Colocamos o papo em dia e quando estava prestes a ir embora perguntei se ele havia me indicado para aquele evento e Cal disse que sim. Eu agradeci, mas ele disse que só aceitaria o agradecimento em forma de um encontro por semana, sem segundas intenções. Só para bater um papo e garantir que eu não iria sumir de novo. — Ela sorriu. — Eu tinha a leve impressão que eu nunca tinha realmente sumido para ele, mas fiquei quieta e aceitei, porque ainda que aqueles anos todos tivessem passado, ao vê-lo pela primeira vez em tanto tempo, eu percebi que ainda era uma idiota apaixonada por ele.

Cecília voltou a trabalhar no meu pé.

— Depois daquele evento, aconteceu que o anfitrião acabou me indicando para uma rede de contatos dele e eu larguei o bico de garçonete apenas para focar nos eventos. Em meio à correria, Caleb sempre dava um jeito de mantermos nossos encontros de pé e, quando eu ou ele estávamos fora da cidade, os "encontros" aconteciam pelo telefone.

Cecília me contou que tudo estava indo bem até a notícia de que a irmã mais nova dela, que havia ficado no outro estado, estava grávida.

— Imagine só, Fabi tinha 21 anos. E considerando os tipos que ela se envolvia, eu não estava muito confiante de que o pai sequer iria querer o bebê. — Cecília suspirou. — Quando cheguei lá a situação era ainda pior do que eu pensava. O local estava um lixo, bebidas por toda parte e sinais de que ela estava usando drogas. Eu fiquei desesperada. Levei Fabi no médico e custeei todos os exames, vitaminas e cuidados.

"Caleb sabia que eu não estava na cidade, mas não sabia o que estava acontecendo. Eu tinha certeza que se ele estivesse ciente iria se oferecer para me ajudar, mas eu queria fazer aquilo sozinha. Sabia que não tinha sido certo deixar minha irmã em outro lugar, se recuperando de um luto sozinha, mas também estava cansada de trabalhar que nem louca e ser roubada."

Ela relatou que um dia, enquanto tinha ido fazer compras no mercado, o pai da criança tinha ido visitar e ficou furioso com a notícia de que seria pai. O estresse foi o suficiente para fazer com que Fabi tivesse uma recaída.

— Quando eu cheguei em casa e a vi naquele estado, comecei a chorar. Nós duas éramos muito novas e eu não tinha ideia do que fazer. Lembro vagamente que liguei para Caleb e contei tudo o que estava acontecendo. Tive tanta vergonha da minha situação. Esperava que ele fosse chegar e torcer a boca como sua mãe certamente faria, ou que desaparecesse no dia seguinte e nunca mais entrasse em contato comigo. — Ela indicou para que eu lhe desse o outro pé. — Mas Caleb ficou ali, me ajudou a limpar tudo que minha irmã havia quebrado enquanto eu estava fora. Arrumou as compras no armário e na geladeira enquanto eu a colocava embaixo do chuveiro. Deitou ao meu lado no sofá e me abraçou enquanto eu chorava por tudo. Pela minha mãe, pela minha irmã e a criança que nem tinha nascido e pelo nosso relacionamento. Naquele momento, eu percebi que se não fosse ele o homem da minha vida, não seria mais ninguém. Eu não iria querer mais ninguém.

"Cal ligou para os médicos da sua família e arranjou tudo para que Fabi tivesse o melhor tratamento e acompanhamento possível durante toda a gravidez. Nós a levamos de volta para nossa cidade e em meio a isso, começamos a nos aproximar novamente, com discrição. Deus sabe que eu não queria ver a mãe dele nem pintada de ouro."

Quando o sobrinho de Cecília nasceu, ela confessou que se afastou um pouco. O assunto ainda era sensível. Fabi tinha uma equipe para ajudá-la com a criança e Cecília queria se preparar para não desabar quando ficasse cara a cara com o bebê, agora que ele tinha saído do hospital.

Ela e o pai de Sebastian estavam firmes e fortes — sem o conhecimento da família —, mas a irmã e o sobrinho eram um lembrete do que nunca poderia dar a Caleb.

— Eu conversei sobre isso com ele, que me assegurou pela milésima vez que aquilo não fazia a menor diferença. Então, um mês depois, Caleb programou uma visita à Fabi. — Ela fez uma pausa, um sorriso enorme se abrindo em seu rosto. — No momento em que passei pela porta e vi aquele bebê gorducho no braço da minha irmã, eu me apaixonei. Não prestei atenção em mais nada que não fosse ele. Caleb ria ao meu lado porque eu não queria nem mesmo que ele segurasse a criança. Ele era tão perfeitinho e fofo. Do fio de cabelo até a ponta do pé. Durante o dia inteiro, eu me encarreguei de dar banho, dar mamadeira, trocar sua fralda, tudo para não soltá-lo.

"Caleb e Fabi desistiram de tentar chamar minha atenção e começaram a conversar entre si. Enquanto isso, eu reparava cada detalhe do menininho mais lindo que já tinha posto meus olhos. A pele dele era bem mais clara por causa do pai, quem eu havia visto apenas uma vez, mas o formato dos olhos e o nariz eram meus, ou melhor, de Fabi, que era bem parecida comigo."

Cecília contou que na hora de ir embora, Fabi disse a ela que gostaria de ter tanto jeito com o bebê quanto a irmã e que sentia muito pela situação de Cecília.

— Nossas visitas eram frequentes. Caleb tinha saído da casa dos pais para morar no seu próprio apartamento e me chamou para ficar com ele. Inevitavelmente o momento de contar para os seus pai chegou quando um belo dia a mãe dele apareceu na nossa porta e eu estava lá, de pijama. — Ela riu. — Achei que a mulher ia ter um treco, mas é claro que ela manteve a pose e entrou no apartamento como se fosse dela. Creio que ela por um momento pensou que eu tinha concordado em ser amante do filho dela ou algo do tipo, mas quando viu que cada parte da casa tinha um toque meu, meus pertences, minhas fotos, minhas roupas, ela entendeu o que estava acontecendo. Cal saiu do quarto poucos minutos depois e foi basicamente assim que oficializamos, de novo, nosso relacionamento. Percebi que não podia negar me amar do jeito que eu era, se o cara do meu lado me amava incondicionalmente. Não podia me privar de viver meu amor por causa de algo que eu não controlava. Caleb sabia que eu daria cada parte de mim que fosse capaz para ele. E era o suficiente. Mesmo que sua mãe insistisse que não.

Mal percebi que estava chorando até sentir as lágrimas caírem em meu colo.

Cecília olhou para mim.

— Estou contando toda essa história para você, querida, porque sei o que você está passando por todos esses anos. Ainda que Sebastian não tivesse confirmado para mim, eu tenho te observado. Você sente como se tivesse que lidar com o mundo sozinha e como se não fosse digna de ser feliz. E eu já estive nesse lugar. — Ela estendeu a mão para segurar a minha. — O discurso sem noção do seu ex só me fez perceber o quanto somos parecidas, mas tive Caleb ao meu lado desde o princípio, me assegurando que não era culpa minha. Acredito que você não teve o mesmo suporte. Mas se eu criei o meu filho direito, e modéstia parte eu acho que sim, sei que ele está do seu lado agora, quero tenha certeza que eu também estou. E pelo que conheci da sua família, eles estarão mais ainda. Te dando todo o apoio e suporte que você precisa.

"Sei que tem dias que você se sentiu como se fosse incompleta. Como se não fosse o suficiente. Como se tivesse algo errado com você. Mas você é incrível. Tenho orgulho de ter uma nora como você e estou certa que Sebastian terá orgulho de ter uma mulher tão forte para dividir a vida com ele."

Tirei o pé do seu colo e abracei, chorando sem reservas. Suas mãos acariciando minhas costas por cima do roupão.

Depois de um tempo, eu me afastei — Cecília me disse para não chorar por muito tempo para o rosto não ficar inchado — e ela continuou o trabalho em meus pés, enquanto terminava a história.

Depois de alguns meses, Caleb e ela acabaram se casando numa cerimônia onde só tinha os dois, o celebrante de casamento, a irmã de Cecília e alguns amigos do casal.

Os dois passaram a lua-de-mel viajando e quando voltaram descobriram que, enquanto estavam fora, o pai da criança havia entrado em contato com Fabi, o que gerou uma crise e a menina acabou dispensando todos que estavam ajudando a cuidar da casa e da criança.

Cecília recebeu uma ligação de uma vizinha dizendo que a criança no apartamento de Fabi não parava de chorar fazia horas e que mesmo batendo na porta não obteve resposta.

Com o coração apertado, ela e Caleb foram até lá correndo, antes mesmo de passarem em casa. Eles encontraram o bebê seguro no andador. Enquanto o marido de Cecília cuidava do neném, ela foi quase sem fôlego até o quarto, que estava vazio, e então ao banheiro, fazendo diversas orações para sua intuição estar errada.

Mas não estava.

— Encontrei Fabi estirada no chão com uma seringa ao lado do corpo. Tão frágil, tão...jovem. Eu gritei o máximo que minha garganta podia, Caleb chamou a emergência, mas no fundo, eu sabia que não tinha jeito. Pela aparência, a overdose não tinha acontecido há muito tempo e eu me culpei novamente por não estar ali para ela. — Cecília fungou. — Na maioria das vezes, Fabi parecia tão bem, mas...havia sinais. E bastou uma ligação daquele desgraçado para ela sucumbir.

O bebê, que na época já estava com quase dois anos, ficou com ela e com Caleb. Ele não tinha mais ninguém, então eles decidiram criar o menino.

— Eu fiquei arrasada porque ele nunca conheceria a mãe incrível que ela poderia ter sido para ele. — Cecília piscou, espantando as lágrimas. — Mas então enquanto limpávamos o apartamento de Fabi para entregar ao dono, encontrei algo que ela estava escrevendo e lembro de cada palavra. Ela disse que sentia muito porque sabia que chegaria o momento em que não daria mais para ela continuar. Que sentia muito porque certamente me causaria mais dor. Sentia muito porque apesar de querer ser a pessoa, a mãe, que o filho precisava, ela sabia que nunca seria. Nunca seria capaz porque ela não conseguia mais ser ela mesma. Por mais que tentasse, não se sentia forte o suficiente e talvez nunca voltasse a ficar, por isso já estava me pedindo desculpas.

"Fabi escreveu que, se algo acontecesse, ela estaria em paz porque sabia que as únicas pessoas que amavam Sebastian mais do que ela eram Caleb e eu. E que ele merecia uma família como a nossa. Ele merecia uma mãe como eu."

Cecília fez uma pausa e enxugou os olhos com as costas da mão.

— Sebastian foi o maior e melhor presente que eu poderia ter recebido. Mas eu fiquei meio receosa de colocar aquele tipo de responsabilidade em Caleb. Quer dizer, tínhamos acabado de nos casar e devido à minha situação não tínhamos planejado uma criança tão cedo. — Cecília fechou os olhos e balançou a cabeça sorrindo. — Para minha surpresa, Cal já estava por aí, levando o menino para cima e para baixo, apresentando como filho, consegue acreditar? Minha sogra quase teve uma síncope quando soube da notícia, mas, para choque de todos menos o meu, tratou Sebastian como um príncipe intocável até os últimos dias de sua vida. Afinal, no fundo eu sabia que Sebastian poderia se parecer comigo da cabeça aos pés, não tendo a cor da minha pele estava tudo bem para ela. Não me sinto mal por dizer graças a Deus que a outra senhora Ferrante não está mais entre nós. Agora só existe essa senhora Ferrante. E amanhã essa senhora Ferrante, — Ela apontou para si mesma, depois para mim e eu ri. — Quer dizer dependendo de quem vai pegar o sobrenome de quem.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, e eu encontrei minha voz finalmente para dizer:

— Obrigada, Cecília, por me contar sua história. Do fundo do meu coração, obrigada.

 

SEBASTIAN

Entrei no quarto e encontrei Olivia sentada na escrivaninha. Ao me ouvir entrar, ela fechou rápido o notebook e eu a encarei com um sorriso.

— Achei que tivesse deixado claro que você pode ficar à vontade para ver conteúdos adultos, Sartori. Pode até me chamar para fazer companhia, se quiser.

Ela levantou da cadeira com o rosto vermelho:

— Não é nada disso, é só...

— Coisas do trabalho. Conflito de interesses. Blá, blá, blá... Não me importo com nada disso. — Passei a mão por sua cintura, puxando-a para mim. — Finalmente, consegui tocar em você hoje.

Afundei meu rosto em seu pescoço e Olivia suspirou.

— Sebastian, eu...

— Céus, como você conseguiu deixar sua pele ainda mais macia? — Ela se afastou um pouco segurando meu rosto. — O quê?

— Como pode você ter todos os trejeitos e expressões do seu pai? É incrível.

— Ah, minha mãe contou para você. — Beije a palma de cada uma das suas mãos. — Muita convivência. Eu provavelmente infernizei a vida desse homem desde que nasci, não tinha como não pegar os trejeitos dele. — Ela estreitou os olhos, mas então eles se suavizaram.

— Vocês se amam muito, não é?

Respirei fundo:

— Eu não seria capaz de escolher um homem melhor para chamar de pai. Ele moveu céus e montanhas por mim e eu faria o mesmo por ele. Por enquanto, só lhe dou cabelos brancos, mas talvez isso mude um dia. — Eu ri, acariciando o rosto de Olivia. — E minha mãe, bem, é simplesmente a minha mãe. Sou grato por Fabi, já que não estaria aqui sem ela, mas sei que sou da minha mãe e ela é minha. Fabi sabia disso também.

— Sou feliz por vocês. — ela disse, emocionada.

— Não ache que não contei para você porque não queria, é só que minha mãe conta essa história melhor. Ela iria entender você de uma maneira que eu não sou capaz.

— Você me entende bem o suficiente. — Olivia me deu um selinho. — Bem demais.

Sorri contra os seus lábios.

— Sabe o que me faria feliz agora? — perguntei, direcionando-a para a cama. Ela caiu no colchão me puxando para cima do seu corpo. — Que você quebrasse essa sua resolução e me deixasse desfrutar desse seu corpo extremamente macio antes da cerimônia.

— Olha, — ela disse colocando a mão na minha nuca, colocando seu rosto a centímetros do meu. — Eu acho que isso é uma ótima ideia e...

A porta do quarto foi aberta num estrondo.

— Bipe, bipe!! — Um dos malditos irmãos de Olivia anunciou. — Alerta de promiscuidade antes do casamento.

Era Otávio me pegando por um braço e Lucas pelo outro, os dois me tirando de cima de Olivia.

— Não que a promiscuidade já não tenha acontecido. — PJ comentou da porta enquanto observava os irmãos praticamente me carregarem.

Olivia jogou uma almofada no rosto do mais velho, que interceptou sem esforço:

— Argh, eu odeio vocês!

— Iria odiar muito mais se fosse papai aqui no nosso lugar, gracinha, então fique na sua enquanto escoltamos seu novinho para a prisão dele durante uma noite. — PJ me encarou enquanto eu passava pela porta. — Não se preocupe, você vai estar inteiro para amanhã.

— Beijinhos, maninha. — Lucas anunciou. — Durma bem, amanhã acredito que seu dia e sua noite serão bem...movimentados.

Então a porta do quarto foi fechada e eu só voltaria a ver Olivia na tarde do dia seguinte.

Dali para sempre.

Faltavam menos de vinte e quatro horas para o casamento.

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Notas finais do capítulo

Heeyyy, meus amores! kd vcs???

apesar de ter pouco do nosso casal , posso dizer q esse e um dos meu capítulos favoritos"!!

(além de ter chorado escrevendo a conversa de cecília dando todo apoio q ela e a nossa olivia sempre sonhou, também morri com hunter e patricia aiaiaia)

MAS O QUE VCS ACHARAM? ESTÃO PRONTAS PARA O CASÓRIO? OQ VCS ACHAM Q VAI ACONTECER? RSRSRSRSRSRS ME CONTEM

Não se esqueçam de comentar o que estão achando (pf sou escritora independente preciso receber validação a todo momento rs), deixar aquele faves básico e compartilhar a história com os amigos ♥

vocês já podem ouvir a playlist de todas as músicas dos capítulos tanto no Spotify (bit.ly/cdcspotify) quanto no Apple Music (bit.ly/cdcapplemusic)

A gnt se vê em instantes

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