Contrato de Casamento escrita por Emmy Alden


Capítulo 54
Cinquenta e Dois


Notas iniciais do capítulo

OLÁAAA, COMO VCS ESTÃO??



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"All these people think love's for show

But i would die for you in secret"

(peace)

 

SEBASTIAN

Olivia não me deu o beijinho, mas eu entendia o lado dela de certa forma — embora ainda achasse surpreendente que ela pudesse pensar que haveria algo no mundo que me faria esquecê-la.

Simplesmente era uma coisa que não dava para imaginar.

Quando Olivia saiu, foi a vez da minha mãe aparecer e chorar no meu ombro como se eu tivesse ficado em coma por cinco anos em vez de desacordado por no máximo quatro horas.

Meu pai me deu o sermão que eu já esperava sobre o que eu estava pensando ao subir em um cavalo. Argumentei que minha queda foi um acidente que poderia acontecer com qualquer pessoa ali.

Ele não parecia convencido.

Caleb Ferrante expressava as lágrimas de preocupação em forma de sermões e estava tudo bem.

Julie veio logo depois, ela não falou muito, apenas me contou como foi a minha queda e como ela havia entrado em pânico enquanto eu desfalecia no seu colo.

— Está tudo bem, Ju? — perguntei, quando ela terminou o relato como se estivesse narrando os fatos de um jornal, sem a menor emoção.

Vi seus olhos marejarem.

— Está tudo ótimo, Seb. — ela disse, com a voz embargada. — Eu só fiquei com tanto medo. Nem lembro de como saí da arquibancada para socorrer você. Foi como se o mundo tivesse se aberto aos meus pés e fosse me engolir. Não sei o que eu faria se algo acontecesse. — Ela fungou. — Não que isso faça diferença para você agora.

Soltei o ar pelo nariz, triste, e segurei sua mão na minha:

— Sabe que não precisa ser assim. Não é uma disputa entre você e Olivia, o seu lugar no meu coração é irrevogável, Ju. Você é minha melhor amiga.

Julie forçou um sorriso.

— É, eu sei. Estou tentando convencer a mim mesma que ela te faz feliz. E isso é tudo que importa.

— Sei que vocês tiveram pouco tempo para interagir e a situação, por minha causa, não foi das melhores. Fui desleal com você e com os meus sentimentos, mas Olivia não tem nada a ver com isso, ela é incrível assim como você e quero que vocês se dêem bem. — Coloquei sua mão no meu rosto. — Sei que é tudo recente, mas prometa que vai tentar ser legal com ela. Por mim.

Julie assentiu suavemente com a cabeça e puxou a mão para si:

— Tudo o que eu faço é por você, Seb. Você me prometeu que iria tentar fazer com que déssemos certo. Também vou tentar ser melhor.

Quando foi a vez de Hunter, e eu tentei fazer a piadinha da perda de memória, ele apenas a dispensou com um gesto displicente de mão.

— Se não funcionou com Olivia, não vai funcionar comigo.

Suprimi um sorriso.

— Ela te contou?

—Ela saiu daqui brava, embora aliviada, e me disse que você é um idiota. Só juntei dois mais dois. — Hunter sentou na ponta da cama. — Além disso, conheço o brilho nos seus olhos ao me ver. Sei que me reconhece.

Com muito esforço, consegui dar um chute de leve nas costas dele.

— Isso foi patético. — Hunter comentou enquanto eu arfava.

— Tudo dói. — choraminguei.

Meu amigo fez um biquinho:

— Quer que eu chame sua noivinha para dar uns beijinhos?

Rolei os olhos, mas indaguei;

— Como ela está? De verdade?

— Olivia? — assenti com a cabeça. — Bem, eu estava do lado dela e posso dizer que ela entrou em choque total. Sério, todo mundo se assustou com sua queda, mas então começou a se mobilizar. Ela simplesmente ficou lá, paralisada, se duvidar acho que ficou pelo menos um minuto sem respirar. Patrícia pareceu entender o que estava acontecendo e amparou Olivia exatamente um minuto antes de ela desfalecer.

— E o que você conclui disso? — questionei e Hunter deu de ombros.

— O médico disse que foi natural, que ela entrou em choque, mas sei lá, pelo jeito que a amiga dela agiu, não foi a primeira vez que isso aconteceu. Olivia nunca deu sinais de...alguma coisa emocional?

Respirei fundo, tentando analisar os detalhes.

Olivia sempre foi muito comedida e controlada. Às vezes, até demais, o que eu imaginava que era o que lhe rendia os boatos de que ela era insensível.

Porém, eu havia presenciado alguns momentos em que ela simplesmente parecia dar curto.

Como no dia em que estávamos nos arrumando para jantar com a família de Max.

O jeito em que ela parecia engolir um bolo na garganta toda vez que contava uma parte de sua história com ele.

Como quando ela me disse que ao encontrar Rebecca e Max na sua cama, ela apenas tinha ficado lá, paralisada, observando a cena.

A voz de Hunter me tirou dos pensamentos:

— Acho uma boa você conversar com ela. De verdade. Apesar das nossas intervenções, Olivia parecia bem convencida que você está aqui por culpa exclusivamente dela.

Eu conseguia imaginar aquilo. Olivia assumindo responsabilidades que não eram e nunca foram dela, se martirizando por algo que estava fora do seu controle.

Abri a boca para dizer que daria um jeito, mas Hunter falou primeiro:

— Sei que já me disse que resolveu toda a situação, e que parte desse drama todo é por minha culpa, mas acho que não vai tirar pedaço ter mais um papo com Julie. — É, eu percebi isso, pensei. — Enquanto todo mundo estava tentando manter Olivia estável, Julie continuou reforçando a ideia de que a culpa era dela. Eu entendo que não deve estar sendo fácil para a Ju, mas todo mundo conseguia ver o estado que Olivia estava, foi bem cruel e nada a ver com a personalidade dela.

Suspirei.

— Eu não tenho a mínima ideia do que fazer. — Cobri meus olhos com uma mão. — Julie cismou que Olivia está fazendo algum tipo de manipulação comigo para o acordo continuar de pé.

Meu amigo soltou uma risada incrédula.

— Ela já viu vocês dois juntos? Por tudo o que é mais sagrado... Bem, você que está com Olivia, sabe melhor do que ninguém o que ela sente com você. — Tirei a mão do rosto. Hunter insistiu:— Não é, Sebastian?

Fiquei alguns segundos em silêncio, antes de me ajeitar melhor sobre o travesseiro do hospital.

— É só que às vezes não parece que é real. Soou como um idiota, eu sei, só que fico esperando acordar um dia e perceber que foi um sonho bem vívido.

Hunter colocou a mão na minha canela por cima do lençol.

— Olivia não é Eloise, Sebs. E ela está bem aqui. Uma hora você vai ter que superar seu receio de que qualquer mulher vai acabar fazendo a mesma coisa que ela.

— Eu sei. — repeti. — Só que às vezes Olivia me pega olhando para ela ou dizendo algo...emocionado demais e eu simplesmente não consigo lê-la. Seus olhos não me dizem nada, nem sua expressão. Não sei se estou indo rápido demais, parecendo um desesperado ou é só questão de tempo para ela se sentir confortável o suficiente para se abrir para mim. — Encarei o teto. — Sinto que cada vez conheço mais um pouco sobre ela, mais parece que tem uma parte que ela mantém longe de mim a todo custo.

— E isso te faz pensar que talvez tudo isso só seja por causa do acordo?

Voltei a encarar Hunter:

— Não tudo. Quer dizer, eu não sou tão cego assim. Sei que ela sente algo por mim, mas talvez Olivia só esteja seguindo o fluxo da maneira que for mais fácil para ela cumprir nosso contrato.

— Sabe que é injusto pensar assim, não é? E que não vai te levar a lugar nenhum?— Assenti com a cabeça. — Eu entendo de onde vem a sua insegurança, de verdade, mas agir de acordo com uma hipótese da sua cabeça, não é o caminho. E você pode perder algo incrível por causa disso.

— Como você pode ser tão irritante e tão voz da consciência às vezes?

Hunter sorriu e deu de ombros mais uma vez.

— Tem que haver um equilíbrio. Você é um gatão e um idiota, percebe o equilíbrio?

— Você tem sorte que meu corpo parece que foi moído, se não eu iria jogar essa cama na sua cabeça.

Hunter deu um tapa na minha perna que me levou ao inferno e de volta para a Terra ao mesmo tempo — se é que isso era possível.

Eu estava prestes a xingá-lo e amaldiçoar até sua sétima geração quando ele saiu correndo para a porta.

Antes de desaparecer, ele disse:

— Agradeço todos os dias a Deus pelos livramentos.

Depois disso eu não lembro de muita coisa além de que caí no sono novamente e sonhei com Eloise me dizendo que me amava, mas não da maneira como eu gostaria. Só que quando olhei melhor, não era Eloise e sim Olivia.

Ao acordar novamente, o quarto todo estava apenas com uma iluminação suave e mesmo com as cortinas quase totalmente fechadas, eu conseguia ver que já era noite.

Pisquei os olhos para me adaptar a estar acordado. As dores no corpo não estavam tão absurdas — a dor pior era a do braço que eu havia caído em cima, segundo o médico.

Fiz um esforço para encontrar o botão de ajuste da cama e foi aí que a vi.

Olivia estava meio sentada meio deitada desconfortavelmente num mini sofá que tinha no quarto, com o notebook no colo e os olhos fechados.

Ao ouvir o barulho da cama se movendo, ela acordou com um sobressalto, surpreendentemente segurando o aparelho antes que ele se espatifasse no chão.

— Sebastian! Está tudo bem? Precisa de algo? Quer que eu chame alguém? — Olivia se levantou e veio para o meu lado.

Eu quis rir do modo como seu rosto ainda estava inchado de sono, e sua mente estava completamente alerta.

Toquei o seu braço.

— Não, linda. Minhas costas estavam doendo de ficar deitado e, pelo visto, tudo o que eu preciso está aqui no quarto.

Observei a expressão de Olivia, esperando que ela fosse para aquele lugar neutro e impassível que costumava ir quando eu falava algo do tipo, no entanto, ela apenas me lançou um sorriso aberto.

— Você nunca para de paquerar, não é?

Ela ergueu a mão em direção ao meu rosto como se fosse tocá-lo, mas pareceu desistir no meio do caminho. Porém, quando estava prestes a recolhê-la, eu a segurei.

— Não quando se trata de você.

Coloquei sua mão na minha pele e Olivia respirou fundo.

Então empurrou de leve minha cabeça.

— O que está fazendo aqui, Lili? — questionei, dando espaço para que ela sentasse.

— Não tinha ninguém para eu incomodar dormindo como uma estrela-do-mar, não consegui pegar no sono. — Quando não retribui seu sorriso, ela suspirou e sentou-se de costas para mim. — Fiquei preocupada... Fiquei com... com medo.

Acariciei suas costas.

— Eu estou bem, Olivia. O doutor garantiu a você que...

— Não é apenas isso. — Ela me cortou. — Indiretamente, eu te coloquei nessa situação, Ferrante. Sinto muito.

— Pensei que já tivéssemos esclarecido isso, Sartori. Estou aqui de livre e espontânea vontade e você não tem nada a ver com isso.

Ela se virou para mim.

— Minha vida é uma bagunça e eu te arrastei para isso. Gosto de você, Sebastian, e não quero te machucar, por isso...

Coloquei uma mão no rosto e respirei fundo:

— Se você falar que acha melhor nos afastarmos, eu vou me jogar da janela.

— Estamos no térreo. — Ela rebateu e eu olhei para o seu rosto por entre os dedos. Olivia me lançou um sorrisinho triste. — É extremamente tóxico ameaçar se machucar quando a outra pessoa sugere dar um tempo.

— Pois eu sou extremamente tóxico e ciumento e possessivo e chantagista. O maior manipulador que vai passar pela sua vida quando o quesito for me separar de você.

— Então eu meio que fiz um pacto com o diabo? — ela inclinou a cabeça.

— Pior.

Olivia não parecia totalmente convencida a descartar aquele assunto, mas suspirou indicando que o deixaria de lado pelo menos por enquanto.

— Como está se sentindo?

— Péssimo, mas surpreendentemente melhor do que achei que estaria. Quando atingi o chão pensei que tinha quebrado todos os ossos do meu corpo, mas o médico falou que foi só uma luxação no braço e algumas contusões na lateral do corpo. Ah, e parte da minha cabeça também está doendo um pouco por causa do impacto com capacete, mas não conte isso a minha mãe. Ela vai insistir que eu faça mais 300 exames.

— Eu estou quase insistindo que você faça 300 exames. Você não pode ficar com dor.

— De todos os meus sonhos nunca tive um em que você ficava preocupada comigo assim, estou surpreso.

Olivia rolou os olhos.

— E o que acontecia nesse seus sonhos? — Ao vislumbrar minha expressão, ela acrescentou rapidamente: — Esquece, não quero saber.

— Tem certeza, amorzinho? — Mesmo na pouca luz, percebi suas bochechas ficarem vermelhas.

— Tenho, Ferrante. — Ela fez que ia se levantar da cama, mas eu segurei sua cintura. Um gemido escapou da minha boca devido ao esforço e Olivia me olhou alarmada. — O que está fazendo? Vai se machucar ainda mais!

— Fique aqui comigo.

— Eu estou aqui.

— Aqui. Deite comigo.

 

OLIVIA

Uma risada nervosa escapou da minha boca.

Sebastian estalou a língua.

— Estou inválido temporariamente, não vou conseguir te atacar. Eu acho. — Ele fez uma cara pensativa. — Se você tirar esse casaco, talvez eu achei mais um pouco de força de vontade.

Sebastian apontou para a parte de cima do meu moletom.

No hospital da cidade, não eram permitidas visitas à noite a menos que a pessoa estivesse à beira da morte, então teoricamente eu estava ali quebrando as regras, usando aquele moletom quase como um disfarce.

Eu expliquei aquilo para Sebastian, porém, ele apenas foi irritante como sempre:

— Vamos lá, essa pode ser nossa última noite juntos. Eu posso dormir e não acordar mais pela manhã. Como você vai se sentir sabendo que ignorou meu último pedido que é extremamente inofensivo?

— Você precisa virar gente um dia, sabia disso? — Falei séria, mas analisando o espaço que ele havia liberado para mim na cama.

— Tenho certeza que você vai me ensinar, não é?

Suspirei, sem querer colocar mais lenha nas insinuações de duplo sentido de Sebastian.

— Trouxe algumas coisas para nós.

— Ahá, então você estava planejando o mesmo que eu.

— Dizem as más línguas que você tinha planejado algo para essa noite, não queria te deixar frustrado.

— Você fala como se eu fosse um bebezinho mimado. — Sebastian comentou, acredite se quiser, com um biquinho.

— E você não é? — rebati, indo até a bolsa que eu havia trazido com guloseimas.

Sebastian apertou os botões da cama para ficar mais reto:

— Desde quando você é tão espertinha, hein?

— Anos convivendo com você. — Peguei os pacotes e uma vasilha e, com cuidado, me acomodei do lado de Sebastian.

— Sabia que vamos nos casar no aniversário do dia em que nos conhecemos?

Olhei para ele chocada.

— Sério? Eu não lembrava que havíamos nos conhecido em julho...

— Era piada, — Ferrante me interrompeu e eu fechei a cara. — Mas seria bem legal se fosse verdade, né?

— Você me irrita, porém isso foi culpa minha. Eu deveria lembrar que o início dos estágios acontecem em março.

Ele me olhou como se eu fosse doida.

— Não, você não deveria se lembrar disso. Definitivamente. Não muda nada em sua vida.

— É uma informação da empresa em que eu trabalho, Sebastian.

— E que não muda nada para você.

— Quer dizer que não se lembra qual foi o mês que nós nos conhecemos? — Sebastian levantou o lençol do hospital para que eu me acomodasse ao seu lado. Tinha quase certeza que estávamos quebrando regras cruciais naquela noite e levaríamos uma multa.

Surpreendentemente, eu não estava ligando.

— Claro que me lembro. Dia, mês e ano. Com um pouco de vergonha, até admito que lembro o horário exato, mas não porque era o dia de começo de estágio e sim por sua causa.

Senti minha bochecha esquentar um pouco. Sebastian falava aquelas coisas com tanta naturalidade que realmente me fazia acreditar que ele falava sério.

Quer dizer, ele só poderia estar brincando, não é?

— Calma, Sebastian. — falei me abrindo um pacote de balas de gelatina e sentindo minha perna enroscar na de Sebastian. — Falando assim você parece muito obcecado por mim.

Sebastian me encarou e pôs a mão sobre o peito, fazendo uma expressão de pena.

— Ô meu Deus, você não tinha reparado ainda, gatinha? Sinto muito em te dizer que sou obcecado mesmo por você. Pensei que meu comportamento tóxico minutos atrás e meus cadernos cheios de desenho seus tinham deixado isso bem claro.

Comecei a rir.

— Como pode você ser assim?

— Obcecado?

— Besta desse jeito. — corrigi.

— É a coisa que você mais gosta sobre mim. Por enquanto.

— E qual vai ser a primeira?

— Não quero ser presunçoso. — ele disse e pigarreou.

Tive um delay de cinco segundos para entender a que ele se referia e dei um tapa no seu braço quando aconteceu.

— Ai, ai, ai. Estou inválido, lembra? Você está agredindo um homem em uma situação vulnerável. — Dei outro tapa nele. — Mas é verdade, só disse a verdade. Acho que você vai gostar bastante, ninguém nunca reclamou. Ele tem um tamanho bastante satisfatório, é limpinho, cheiroso...

— Você pode simplesmente parar, por favor? — disse, escondendo meu rosto entre as mãos.

— Já consigo ver você aproveitando bastante o tempo que vai passar nele.

— Sebastian!

— Você viu meu celular? Acho que eu tenho algumas fotos, só para você ter mais ou menos uma ideia. É um apartamento bem bacana.

— Tem como você parar com isso, por favor e... — Algo deu um clique na minha mente. — Apartamento?

Sebastian me olhou com as sobrancelhas arqueadas.

— Sim, é um apartamento que tenho no litoral. — Ele estreitou os olhos. — Do que pensou que eu estava falando, Olivia Sartori?

— Você. É. Um. Inferno.

 

SEBASTIAN

— ...do meu...? — apontei para um lugar bem específico da parte inferior do meu corpo. Olivia estava mortificada— Achou que eu estava falando do meu pau? — Comecei a rir e então fiz uma cara pensativa. — Tem razão, realmente consigo ver você aproveitando bastante o tempo que vai ficar nele.

Pude captar a micro expressão em seu rosto, antes que ela sumisse.

Havia um embaraço ali, um embaraço que não tinha a ver comigo fazendo piadas sujas e sim com a imagem mental que eu tinha acabado de criar em sua cabeça.

— Eu juro que vou embora.

A voz dela estava mais rouca?

Por Deus, eu não conseguia nem me mexer direito sem sentir como se tivessem enfiando trezentas agulhas nas minhas costas. Que oportunidade desperdiçada.

— Está bem, está bem. Juro que não farei mais piadinhas de duplo sentido.

Afinal aquilo estava tendo uma consequência um tanto poderosa. Ver o desejo inegável por dois segundos no rosto de Olivia tinha aumentado exponencialmente o meu e seria patético ter uma ereção usando roupas hospitalares.

Limpei a garganta:

— E então? O que trouxe para mim?

— Várias porcarias e um pão doce.

— De goiabada? — perguntei, praticamente já conseguindo sentir o gosto na ponta da minha língua. Olivia confirmou com a cabeça. — É o meu favorito.

Ela sorriu:

— Eu sei. Pedi para minha mãe fazer para você. — Apenas a encarei. — O quê?

— Pediu para sua mãe fazer para mim?

— Eu pedia sempre, quer dizer, não dizia para quem era. Porém, você gostava tanto quando eu levava para a empresa. Pelo menos na época em que a gente falava como duas pessoas normais, em vez de berrar na cara um do outro. Depois você passou a ignorar e, como muita pouca gente comia, eu parei de levar.

— Como assim eu passei a ignorar?

— Depois que a gente discutia, eu sempre levava como uma oferta de paz, quer dizer, eu nem gosto de goiabada... — Ela riu encarando o pote como se fosse a coisa mais fascinante do mundo. —Mas você nunca pegou, então concluí que eu apenas te irritava para caramba e acabei deixando para lá depois de um tempo. Olhando agora, o problema foi que talvez eu devesse ter sido mais clara, colado um pedido de desculpas no pote e deixado na sua sala.

Olhei para ela, de boca aberta.

— Eu achava que tinha veneno ou laxante. Juro por Deus.

Olivia gargalhou:

— Você é tão dramático, Sebastian.

Eu mal estava ouvindo-a.

— Deveria mesmo ter colado uma porra de pedido de desculpas, Olivia. Uma vez eu fiquei tão puto com você que comi um pedaço só de raiva e passei o resto do resto dia tendo falso sintomas de um envenenamento psicológico.

— Sinto muito. Provavelmente eu joguei fora sem nem perceber que alguém comeu. — Ela abriu o pote e me entregou. — Agora pode comer sem culpa ou dúvidas se vai morrer ou passar o resto da vida em um vaso sanitário.

Sartori nem tinha terminado de falar quando eu enfiei o primeiro pedaço na boca.

Suspirei, apreciando o sabor.

— Seu pai ficaria muito bravo fizesse sua mãe se divorciar dele e se casar comigo?

— Certamente você perderia o posto de queridinho.

— Aff, não sei se vale a pena. Nem mesmo por esse pão doce extraordinário. Terei que me contentar com você.

Ela me cutucou com o cotovelo.

— Ei, eu sei cozinhar muito bem, para sua informação, só não peguei a técnica do pão doce ainda. — ela disse e limpou o canto da minha boca com o dedo.

— Pois melhore. — Segurei seu pulso e capturei o pingo de doce na ponta do seu dedo com a minha língua.

Foi algo natural e rápido, mas senti todo o seu corpo se tencionar. Era incrível como meu corpo reagia imediatamente só observando as suas reações.

Ela tentou puxar a mão, mas eu segurei com firmeza, passei o seu dedo na cobertura do último pedaço e o levei à boca novamente.

— Sebastian. — ela disse quando eu demorei mais do que o necessário. Sua voz estava um pouco ofegante.

Desci os lábios até a palma da sua mão, depositando um beijo no centro. Continuei o caminho até o seu pulso, sem tirar os olhos dos seus, deixando mais beijos.

— Seb...

Fiz o caminho inverso, parando novamente na ponta de seu dedo.

— Eu sei...— sussurrei, ainda tocando-o com meus lábios. — É injusto com você e comigo fazer isso enquanto estamos aqui.

Não esperava que ela respondesse de qualquer forma, mas Olivia assentiu com a cabeça e falou:

— Não consigo parar de pensar em você.

E eu sabia que ela não queria dizer que estava apenas preocupada comigo.

Não mesmo, pois passou a desenhar o formato da minha boca lentamente com o dedo.

— Não acho que algum dia consegui, de fato. Por mais que tentasse. — Ela abaixou ainda mais a voz. — Então você diz certas coisas para mim e faz coisas desse tipo...— Olivia acariciou meu lábio inferior. — E eu fico completamente indefesa. Sem nenhum senso de autopreservação ou controle. Eu fico imaginando e querendo coisas que nunca achei que seria capaz de querer.

— Olivia...— Agora era minha voz que praticamente não saía da garganta.

— Isso me assusta. — Ela continuou em tom de confissão. — Me preocupa. Você brinca dizendo que é obcecado por mim, mas talvez eu esteja obcecada por você. Se isso for aterrorizante demais para você, preciso que me diga porque eu não sei o que fazer.

Havia tanta sinceridade no rosto dela, tanta vulnerabilidade, que não era apenas desejo que subia pelo meu corpo me consumindo de dentro para fora.

Era um sentimento que parecia me queimar e me aquecer ao mesmo tempo. Que me expandia e me sufocava, como se fosse grande demais para caber no meu corpo, mas frágil demais para sobreviver fora dele.

Era como palavras na ponta na minha língua que se recusavam a sair, mas não por inadequação, e sim por medo.

Elas haviam visto o mundo algumas vezes e o resultado foi devastador. Tanto para mim e, eu acreditava que, para Olivia também.

Éramos duas pessoas que já haviam experimentado aquele sentimento antes, sofreram com ele e agora tinham medo de arriscar ver um novo resultado.

— Hoje, quando te vi cair, milhares de coisas passaram pela minha cabeça. E se algo mais tivesse acontecido, você nunca saberia que não há um espaço na minha mente que não esteja preenchido com você. Que, às vezes, quando estou ao seu lado, me sinto mais livre e impetuosa. E não porque está me fazendo ficar assim, mas porque acredito que essa minha versão sempre esteve aqui, mas nunca ousou sair. Até você. — Eu conseguia ouvir as batidas de um coração, mas não era capaz de identificar se era o meu, o dela, ou uma combinação dos dois. —Você não saberia que eu me sinto irremediavelmente quebrada, mas que passei a acreditar que você é como um tipo de bálsamo para mim. Nunca saberia como eu sou grata por isso.

Passei a mão pela lateral do seu rosto, sem conseguir me convencer que Olivia era real e que eu não estava apenas delirando com remédios para dor.

— Há partes de mim que não estão consertadas ainda, Sebastian. Partes que...— Ela respirou fundo. — eu não posso te dar ainda. Mas o todo que tenho remendado, e cercado do caos que é a minha vida, é seu. Se quiser. Se não for demais.

— Amor, eu...

— Eu não preciso que me dê nada em troca disso. Só preciso que você saiba. Que se for para te perder algum dia, que você pelo menos saiba.

Nós nos encaramos do nosso modo característico e eu me inclinei para beijá-la suavemente.

— Você não vai me perder, amor, porque seu todo remendado completa o meu todo remendado e eu não saberia como ser um inteiro de novo sem você. — Beijei o canto da sua boca e sua bochecha. — Seja em qualquer dimensão ou realidade. Em qualquer situação ou cenário.

Beijei seu queixo e sua têmpora.

Senti o gosto salgado de uma lágrima e me afastei para olhá-la.

Havia tanta coisa que ela parecia segurar dentro daquele olhar, tanta insegurança, tanta dor, mas eu estava satisfeito com o pequeno pedaço que ela libertou naquele momento.

— Você é meu bálsamo, Olivia.

Ela riu um pouco, fungando. Seu olhar se transformando, não na parede impessoal e inquebrável que eu conhecia tão bem, mas em algo muito mais bonito.

— Você é meu bálsamo, Sebastian.

✥✥✥


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Notas finais do capítulo

Heeyyy, meus amores! UM CAPÍTULO ENORME

eu to tremendo, suspirando, chorando, morrendo, gritando com esse capítulo, espero que vcs tenham gostado tanto quanto eu PQ EU AMEI (meu deus só ELE sabe como eu amo esses dois)

O QUE ACHARAM??? gostei bastante de trazer um cap mais centrado no sebs

(perdoem qualquer errinho, eu estou completamente fora de mim)

Não se esqueçam de comentar o que estão achando (pf preciso ver vcs por ai kkkkkk), deixar aquele fave básico e compartilhar a história com os amigos ♥

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