Contrato de Casamento escrita por Emmy Alden


Capítulo 30
Trinta


Notas iniciais do capítulo

O ÚLTIMO DE HOJE!!



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"And for the first time,

What's past is past."

(Begin Again)

 

SEBASTIAN

A voz de Olivia era baixa, cansada e hesitante. Como se fosse a primeira vez que ela estava organizando os acontecimentos cronologicamente e em voz alta.

Como se fosse uma das poucas vezes que contava aquela história e não soubesse muito bem quais pontos destacar.

Eu não duvidava que esse fosse mesmo o caso, considerando que a família dela não sabia de nada.

— Eu achei que Max seria o cara que ficaria comigo a vida toda. Tomei o cuidado de saber todas as coisas que ele gostava e não gostava. Suas manias, seus trejeitos... porque eu sabia, ou pelo menos achava, que teria que conviver com todos eles pelo resto da minha vida. E, de repente...

— ...ele se foi. — completei num sussurro, não querendo interromper seu fluxo de pensamento.

Sabia que Max não tinha ido embora literalmente, mas a sensação deveria ser similar a quando você acha que tem alguém e percebe que aquela pessoa não existe mais. Ou nunca existiu. Como se tivesse ido embora.

Um riso amargo saiu da boca de Sartori.

— Parando para pensar teria sido muito mais fácil se ele tivesse simplesmente ido embora. — A respiração dela oscilou e eu soube que o que estava por vir não era nada leve para ela.

Mas Olivia estava errada, não é mais fácil quando a pessoa simplesmente vai embora.

 

OLIVIA

Em um momento eu estava no quarto sentada na cama com Sebastian e no outro era como se estivesse entrando na porta do meu apartamento meses atrás.

Eu havia saído mais cedo do trabalho porque não estava bem.

Aquela semana tinha sido horrível e eu precisava da minha cama. Precisava que Max apenas deitasse ao meu lado sem dizer nada e me abraçasse.

Provavelmente a realidade seria ele inventando uma desculpa para sair de casa enquanto eu me recompunha, e não o culpava por aquilo.

Na época, eu não o culpava por muitas coisas.

Contudo, entendia que ultimamente eu não era a melhor pessoa para se estar perto.

E não era como se eu mesma não tivesse me afastado dele nos últimos meses.

Ainda assim, Max era atencioso o suficiente para me deixar apenas se eu tivesse alguém para me fazer companhia. Ele sabia o quão ruim poderia ficar minha situação se eu ficasse sozinha.

Becca, na época, era minha melhor amiga de infância e sempre que podia vinha passar um tempo comigo. Max respeitava nosso espaço, e eu ficava bem contente em deixar que ela me apoiasse.

Ter de enfrentar tudo e ainda olhar na cara de Max enquanto ele assegurava que ia ficar tudo bem — quando eu sabia que não iria — seria demais para mim.

Além disso, tinha quase certeza que ele não era capaz disso. Max poderia ser muitas coisas, mas reconfortar não era seu ponto forte.

Não me surpreendi quando ouvi a voz de Becca do outro lado da porta do meu apartamento, ela estava mesmo para chegar naquela tarde.

A surpresa foi ouvir a voz de Max porque ele deveria estar em um dos bicos que sempre arranjava quando estava passando um tempo na cidade comigo.

Nós ainda não havíamos entrado em consenso sobre onde ficaríamos depois de casados. Max queria administrar as coisas do pai, mas eu também tinha meu emprego.

Nós costumávamos discutir bastante sobre aquilo, mas toda aquela preocupação tinha sido posta de lado naqueles últimos tempos. E eu não queria ter que me desgastar pensando no que aquilo significaria para o nosso relacionamento se nenhum dos dois cedesse.

A ironia era que, ao enfiar a chave na fechadura, eu estava a minutos de não ter que me preocupar com nada daquilo.

Passei uma mão pelo meu cabelo e esfreguei meus olhos. Se Max estava em casa, me ver naquele estado deplorável apenas o deixaria mais preocupado e irritado do que de costume.

Meus pensamentos estavam altos fazendo minha cabeça doer e só foram interrompidos novamente quando, além de notar a sala vazia, as vozes de Max e Becca ficaram mais definidas. Em sincronia, de certo modo.

Meu peito começou a subir e descer rapidamente antes que eu pudesse perceber que minha respiração estava irregular.

As crises agora eram parte do meu cotidiano. O sentimento de que o chão se abriria, me engoliria. Me enterraria viva.

O pior é que, na maioria das vezes, eu me regozijava com a ideia de isso realmente acontecer.

Havia dias que eu só me levantava da cama — enquanto meu corpo dizia para ficar ali para sempre — porque eu sabia que o trabalho me acalmava. Me distraía.

Respirei fundo apoiando minhas costas na porta. Fechando os olhos apertado.

Meus sensos já haviam captado algo que meu cérebro não podia — ou não queria — processar.

Então a voz abafada de Becca ficou clara por um instante e foi como se todo o meu corpo parasse por cinco segundos.

Abaixei a cabeça para encarar minhas mãos e elas estavam tremendo. Uma leve sensação de vertigem passou pelo meu corpo, mas não, eu não iria desmaiar.

A ideia, a sugestão, a possibilidade não era o suficiente, precisava ver o que meus ouvidos não queriam acreditar.

Enquanto tentava fazer o mínimo de barulho possível ao me afastar da porta e caminhar pela sala, as duas pessoas, que provavelmente estavam no meu quarto, ficavam ainda mais barulhentas.

Era ingênuo e idiota pensar que eles estavam fazendo algo que não fosse...

Algo que não fosse...

Parei no meio do corredor, respirando fundo.

Eu poderia dar meia volta.

Ou poderia anunciar "Meus amores, cheguei!". Dar-lhes tempo suficiente para parar o que quer que estivessem fazendo e inventar uma desculpa.

Por favor, Deus, não. É um mal entendido. Eu não tenho mais lágrimas para chorar. Eu não tenho mais coração para ser quebrado. Eu não tenho mais nada para ser arrancado de mim. Por favor, por favor.

Mas ainda assim minhas pernas continuaram me levando em direção ao quarto.

A porta nem mesmo estava totalmente fechada e eu...

A mão de Sebastian fazia círculos nas minhas costas

Eu não tinha percebido que tinha me afastado dele, meu coração estava praticamente saindo pela boca. Não tinha percebido que uma das minhas mãos tinha segurado a sua que estava livre, e apertado como se minha vida estivesse dependesse disso.

— Desculpa. — minha voz falhou e eu limpei a garganta, ajeitando a postura e soltando seus dedos. Sebastian apenas suspirou, sua palma parou de se movimentar nas minhas costas, mas não fez menção de se afastar. Repeti com a voz mais firme, tentando me recompor: — Desculpa.

— Pare de pedir desculpas como se fosse culpa sua que o canalha do seu noivo estava te traindo. — Ferrante falou com assertividade. Parecia ter uma raiva extremamente contida no fundo da sua garganta e aquilo me deu uma sensação que eu não sabia identificar ou nomear. — Você não precisa continuar se não quiser, deu para ter uma noção bem detalhada do que ele fez.

Eu deveria aproveitar a deixa.

Era humilhante o suficiente contar que eu havia sido traída pelo meu noivo e adicionar que a pessoa que eu considerava uma irmã também havia participado de tudo era muito doloroso.

Mas parecia ainda mais difícil voltar atrás, não quando havia ido tão longe.

Tentei controlar minha respiração, mas meu corpo inteiro queria começar a tremer e meus olhos estavam ardendo com lágrimas que eu me recusava deixar cair.

— Você é a primeira pessoa para quem eu conto essa história com detalhes. — disse baixinho. — Patricia sabe, claro. Foi ela que me ajudou a juntar o que restava de mim. Mas eu nunca... nunca consegui descrever o dia em que tudo aconteceu. É como se ainda fosse muito surreal mesmo um ano e meio depois. Como se eu fosse acordar um dia e ele ainda fosse estar do meu lado.

Sebastian ficou em silêncio por alguns instantes e então comentou:.

— Confie em mim, eu conheço a sensação. — Eu me virei, querendo perguntar mais sobre aquilo, mas Ferrante apenas levantou uma mão e continuou, lendo minha mente e dizendo: — Outro dia. Hoje a palavra está com você.

Hesitei, sem querer continuar a contar, porém percebendo que quanto mais eu falava, mais eu sentia como se pelo menos uma parcela do peso em meu coração fosse levantada.

Eu lembro que fiquei parada na soleira, observando sem ver de verdade a cena na minha frente. Não disse nada, e eles estavam imersos demais no momento para me notar logo ali.

Minha presença não passou despercebida por muito tempo, mas foi como se eu tivesse ficado ali por horas. Dias. Semanas. Meses.

Só fui notada quando eles mudaram de posição e Becca soltou um grito ao me ver.

Então eu despertei.

 

SEBASTIAN

—Lembro de ter dito: Por favor, não parem por minha causa. — Olivia contava, encarando um ponto na parede como se a cena estivesse sendo projetada ali. — Já que ela teve a coragem de dar para meu noivo em cima da minha própria cama, ela merecia pelo menos um orgasmo, coisa que Max não era muito experiente em oferecer.

Um sorriso esticou sua boca, mas não tinha um pingo de humor em sua expressão.

Dei as costas indo em direção a sala e pude ouvir os barulhos dos dois se apressando em sair da cama. Eu estava definhando. Estive assim por meses, enquanto isso os dois estavam trepando na minha casa, na minha cama.

— Não é o que você está pensando, Livia. — Max declarou saindo do quarto.

— Por que as pessoas insistem em falar isso ao serem pegas traindo. Quer dizer, eu vi com meus próprios olhos ele em cima dela e ela em cima dele, o que aquilo poderia significar? O que eu poderia estar pensando além do óbvio? — ela suspirou, as palavras saindo com mais facilidade, embora não parecessem doer menos. — Rebecca estava enrolada no meu lençol, chorando. Ele estava implorando para que eu o deixasse se explicar, mas veja bem, eu não estava contestando. Não estava gritando ou falando por cima ou quebrando coisas na cabeça dele. Estava calada e Max definitivamente não estava tentando se explicar. Naquele momento, senti uma onda tão grande de indiferença: eu não me importava com o que ele era para mim ou com o que ele tinha acabado de fazer com nosso relacionamento. Eu só queria deitar e dormir. Queria que os dois sumissem da minha frente. E foi o que falei a eles.

Eu me virei e caminhei em direção a Becca, ignorando Max no meio do caminho.

Ele não fez menção de tentar me segurar.

Eu poderia muito bem ter dado um tapa na cara dela e tinha certeza que ele não faria nada.

Porém, eu não bati em Becca.

— Pare de chorar. Eu deveria estar chorando, Rebecca.

— Olivia, por favor...— ela choramingou.

— Quero que você vista suas roupas com calma, mas o mais rápido que conseguir. Quero que limpe suas lágrimas e saia por aquela porta. Quero que no momento que passar por ela, esqueça que eu existo. Eu não quero lembrar do seu nome, eu não quero e não vou lembrar que você existe.

Ela soluçou e todo seu corpo se chacoalhou, continuei:

— Se você me ver na rua quero que finja que não me conhece, pois pode ter certeza que é o que eu irei fazer se te ver. Agora vá embora.

Mesmo desnorteada, Becca não precisou que eu falasse duas vezes e foi para o quarto pegar suas roupas.

— Olivia, meu amor, me escuta...— Max veio por trás e pôs as mãos no meu ombro.

— Não encoste em mim nunca mais.— Me desvencilhei do seu toque.

Eu estava achando surpreendente que não estava gritando, que minha voz parecia tão entorpecida como eu me sentia.

— Não estou com cabeça para essa merda agora, então me poupe de suas desculpas e mentiras. Quero que pegue suas coisas e saia daqui, por favor.

O queixo de Max caiu e então uma risada incrédula saiu de sua boca.

— Você está me expulsando?

— Estou pedindo com educação para que você saia daqui, mas se quiser eu posso te expulsar apropriadamente.

— Eu não tenho onde ficar aqui na cidade, Olivia, é fim de ano, tudo está lotado.

Dei de ombros.

— Eu não ligo. Vou te dar meia hora para sair ou eu chamo a polícia. — declarei. — E, não, não estou me importando que me achem louca ou neurótica, é o meu nome que está no contrato e eu não te quero mais aqui.

Antes que ele pudesse responder, eu me virei indo em direção ao banheiro.

— E ele foi embora? — perguntei baixinho.

Em algum momento no meio da história, Olivia havia voltado a apoiar as costas no meu peito, ou eu havia lhe puxado. Não tinha certeza.

Ela parecia tão cansada. Cansada de ter guardado tudo aquilo dentro de si por meses.

— Foi. Logo depois de Rebecca, mas não sem antes fazer a patética declaração de que ia acertar as coisas. Que ia se redimir. No final das contas, ele quase conseguiu isso.

Senti todo meu corpo paralisar de incredulidade.

— O quê?!

Olivia tinha pensado em voltar para aquele canalha? Mesmo após aquela traição?

— Nós conversamos depois de tudo. Ele me encheu com diversas mentiras e manipulações. De que havia sido um erro isolado. De que eu sabia que as coisas não estavam bem entre a gente e que poderia ter sido eu a fazer o que ele fez. — Soltei uma risada sarcástica, mas Olivia nem se abalou.

Esse otário só poderia estar de brincadeira.

Olivia continuou:

— Disse que nossa relação estava desgastada nos últimos meses e que eu havia me afastado dele. O que não era mentira, de certo modo. Eu estava passando por uma situação complicada emocionalmente e de fato havia dias que eu não suportava olhar para ele. Não suportava nem olhar para mim mesma.

— E assim ele transformou toda a narrativa em uma como se você fosse a culpada por ele te trair. — Não tinha certeza se minha voz conseguia carregar todo o ódio que eu estava sentindo. — Não é possível que você tenha caído nessa, Sartori.

 

OLIVIA

Mas era possível.

E foi possível.

— Eu estava fragilizada e tinha medo de ter que enfrentar tudo aquilo sozinha. Max era segurança. Max era o que eu conhecia. Era um futuro muito previamente planejado e garantido. É muito mais fácil seguir um caminho já trilhado do que se arriscar no desconhecido, mas eu não espero que você entenda isso. Que ninguém entenda.

— Eu entendo. — Sebastian disse de pronto. — Consigo ver exatamente como ele sabia trabalhar em cima de todos os seus pontos vulneráveis. Posso ser um cafajeste, Sartori, mas eu não manipularia uma mulher, ou qualquer pessoa, dessa forma.

Não queria que tivesse soado como se eu achasse que ele não compreenderia por ser moralmente inferior a mim ou algo do tipo, mas era tarde demais para reformular. Então apenas soltei o ar pesadamente:

— Ele me infernizou por dois meses, eu estava cedendo e sabia disso. Porém, numa tarde, Rebecca me encontrou no horário de almoço do trabalho e implorou para falar comigo por cinco segundos e, bem, se eu tinha ouvido o desgraçado do meu noivo traidor, por que não deveria ouvi-la?

— Eu poderia dizer que porque provavelmente sua saúde mental estava uma merda e você não precisava passar por esse martírio todo, não é? Mas quem sou eu? — Sebastian comentou baixinho, se ajeitando para que seu queixo ficasse praticamente apoiado no topo de minha cabeça.

Era uma sensação nova estar perto de alguém assim. Sentir os braços de alguém ao meu redor. Me sentir ouvida.

Apesar de suas palavras, eu sabia que Sebastian não estava me julgando.

— É claro que ela me contou tudo diferente de Max. — continuei — Enquanto ele disse que havia sido um caso isolado, ela me disse que eles estavam ficando há meses, bastava eu estar ocupada com qualquer outra coisa. Ela me disse que sentia muito e que nunca quis me magoar, mas que foi egoísta. Aparentemente, ela gostava dele há um tempo e nunca ficou conformada que ele estava com alguém que não era ela, porém não era nada pessoal. Quando ficamos juntos, Rebecca disse que reprimiu ao máximo aquele sentimento. Ou pelo menos, tentou.

Não o suficiente.

— E ela foi te contar tudo isso com que propósito?

Fechei os olhos por apenas um instante.

Responder aquela pergunta era entrar em um assunto muito mais profundo do que aquele eu já estava contando.

E eu definitivamente ainda não estava pronta para me aprofundar.

Em vez disso, dei de ombros:

— Ela precisava deixar tudo às claras. Tinha sido minha melhor amiga, afinal.

Rebecca poderia ter tido milhares de outras intenções, mas apesar do gosto agridoce daquela conversa, eu era grata, pois foi ela que me impediu de voltar para Max.

Assim como fazer aquelas revelações para Sebastian permitiam que eu me sentisse leve finalmente para deixar Max — e a Olivia que eu já fui — definitivamente no passado.

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Notas finais do capítulo

Heeyyy, meus amores!

Alguém conhece felicidade depois desse capítulo? eu não faço a mínima ideia do que é isso.

Sei que capítulos como esse não avançam muito na cronologia da história, mas são alguns dos que eu mais gosto de escrever porque com eles posso mostrar para vcs partezinhas dos personagens que muitas vezes só estão claras na minha mente.

espero que tenham gostado!! (sei que a essa altura literalmente benchelly já tava se agarrando, mas coisas boas vêm para aqueles que esperamkkkkkkkk)

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A gente se vê amanhã novamente (ou mto provavelmente na quarta!)!!

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