O dia finalmente chegou, Estrela de Fogo iria nomear alguns aprendizes como guerreiros, mas também era o dia em que Poça de Folhas daria a luz, Fênix não sabia se saia do acampamento com a curandeira e a irmã ou se ficava para a nomeação como prometera para Pata de Cinzas alguns dias atrás, claro que se ficasse haveriam menos suspeitas sob as irmãs, mas também queria ter certeza de que ambas ficariam bem.

      Todos já estavam no centro da clareira, esperando Estrela de Fogo começar a cerimônia, os aprendizes estavam à frente da Pedra Grande, ansiosos para receberem seus novos nomes.

—Estrela de Fogo: Atenção, hoje esses jovens serão nomeados guerreiros, eles e seus mentores deram duro para chegarem até aqui, treinaram muito e se esforçaram para entender o código dos guerreiros, e agora vocês serão vistos como guerreiros adultos.

       Estrela de Fogo continuou com a nomeação, totalmente alheio ao que estava acontecendo do lado de fora do acampamento, um pouco além de suas proximidades, Fênix estava nervosa e preocupada com Poça de Folhas, a essa altura, com certeza já estaria tendo os filhotes com Voo de Esquilo ao seu lado.

        A aprendiz negra estava tão concentrada em seus pensamentos, que se assustou quando a nomeação foi encerrada com um grito do líder:

—Estrela de Fogo: Acampamento liberado.

       Fênix foi em direção a toca dos guerreiros, a fim de encontrar sua amiga, agora Coração de Cinzas, mas antes de entrar, ouviu dois gatos conversando, logo pôde identificar pelas vozes que eram Pelo Gris e Asa Branca:

—Asa Branca: Pelo Gris, por favor! Eu te amo! (Gritou).

—Pelo Gris: Eu sei que sim, Asa Branca! Mas preciso de tempo pra pensar, não estou pronto pra isso! Além disso, você não é a única que eu amo! (Gritou de volta).

—Asa Branca: E quem mais você ama, Pelo Gris? Me diga! (Falou chorando).

        Pelo Gris correu para fora sem dar resposta, deixando Asa Branca chorando enrolada em sua cauda. No caminho, trombou com Fênix, parando para fitá-la por um minuto, para então voltar a correr, a mais nova entrou na toca e foi em direção a gata branca, colocando sua cauda sob as costas dela, como consolo.

—Fênix: Eu sinto muito, Asa Branca, não pude deixar de ouvir. (Falou em um lamento).

—Asa Branca: Tudo bem, eu sei que fui usada, mas seja lá qual for a gata que ele realmente ama, eu só espero que ela possa fazê-lo feliz, eu tentei, de verdade, alegrá-lo, mas acho que Pelo Gris tem razão. (Falou entre soluços).

—Fênix: Não diga isso, você é uma ótima gata, eu sei que não somos muito próximas, mas eu posso ver que você daria uma parceira e tanto para Pelo Gris, ele é que não enxerga isso. Além disso, existem outros gatos nesse clã, não desista, Asa Branca, sei que vai arrumar um parceiro que te ame de verdade. (Disse otimista).

—Asa Branca: Não é só por isso, Fênix, é que eu... (Pausou para não engasgar com os soluços do seu choro). Eu quero muito vê-lo feliz, eu o amo de verdade, quero ser parceira dele e ter filhotes com ele. (Falou meio cansada).

       Fênix compreendia sua colega de clã, porém não pôde deixar de sentir uma ponta de ciúmes, mas por que se sentia assim afinal? Não era possível que desaprovasse que Asa Branca quisesse ajudar Pelo Gris, depois de ele ter sido trocado pela gata que amava, merecia ter alguém que o amasse de volta. Era o melhor para ele no momento, e para a gata branca também.

—Asa Branca: Fênix, por favor, me deixe sozinha. (Pediu com a voz fraca e rouca).

     A gata negra deu uma rápida lambida na orelha de sua companheira de clã, como forma de despedida, e saiu da toca dos guerreiros para ver se as filhas do líder já tinham voltado, no entanto, ainda estavam fora do acampamento, ou seja, algo de ruim deveria ter acontecido. Preocupada, Fênix saiu discretamente para procurá-las.

      A aprendiz saiu sem rumo para a floresta, na esperança de tropeçar nas irmãs com os filhotes já nascidos. Logo, pôde ouvir alguns fracos miados vindos de algum lugar, inclinou seu nariz para farejar alguma coisa e encontrou um leve cheiro de sangue no ar, Fênix logo pensou no pior, porém, logo as viu passando por dentre os troncos das árvores e as moitas já sem folhas, carregando três pequenos gatinhos:

—Fênix: Que alívio, estava preocupada com vocês.

—Voo de Esquilo: Fênix, nos ajude a carregá-los, eles precisam se aquecer.

        As três gatas levaram os recém-nascidos ao acampamento, todos voltaram os olhares para elas, cada uma com um filhote na boca.

—Voo de Esquilo: Estes são Filhote de Azevinho, Filhote de Leão e Filhote de Gaio, meus primeiros filhos com Garra de Amora Doce. (Disse com orgulho).

        Pelo Gris, que estava sentado ao lado de sua irmã, Nuvem de Avenca, ao ouvir o que Voo de Esquilo disse, não conteve sua expressão de raiva, pois poderia muito bem ter tido filhotes com a gata avermelhada ao invés de Garra de Amora Doce.

        O guerreiro marrom se aproximou das três gatas, que já tinham colocado os filhotes no chão, e deu a sua parceira uma leve lambida na testa, logo abaixou para ver seus pequenos: Filhote de Azevinho, uma gata negra de olhos verdes e um nariz rosado, Filhote de Leão, um gatinho de pelagem dourada como gengibre e olhos âmbar, e Filhote de Gaio, um gatinho de pelo listrado e cinzento, com olhos azuis, no entanto, cegos.

       Garra de Amora Doce parecia orgulhoso de sua prole, virou a cabeça para Fênix e Poça de Folhas e as cumprimentou com um aceno de cabeça, ambas se retiraram para que seus demais companheiros de clã pudessem apreciar os novos filhotes.

       Fênix podia ver pela expressão de Poça de Folhas que esta estava abalada por ter que assistir seus preciosos bebês serem criados por outro casal de gatos, mas essa foi a solução que as irmãs encontraram para ninguém descobrisse a verdade.

—Fênix: Tudo vai ficar bem agora, Poça de Folhas. (Falou colocando sua cauda sob as costas da mentora).

—Poça de Folhas: Eu sei, é que... (Suspirou) ...vai ser difícil vê-los crescer longe de mim. (Choramingou). Eu não quero falar sobre isso agora. (Falou com um ar de exaustão e tristeza). E então, como foi a nomeação de hoje?

—Fênix: Foi ótima. Foi a minha primeira vez assistindo a uma nomeação. Acho que eu estava mais empolgada do que os próprios que seriam nomeados. (Brincou).

—Poça de Folhas: Te entendo. (Falou com um sorriso leve, mas sua expressão voltou a ficar fechada). Pode me deixar sozinha por um minuto, por favor? Quero pensar um pouco.

—Fênix: Tudo bem, eu já estava indo falar com Asa Branca mesmo.

        Fênix saiu da toca da curandeira e trotou até a toca em que Asa Branca estava.

—Fênix: Asa Branca, está acordada? (Falou cutucando-a).

      Asa Branca demorou alguns segundos para responder, estava deitada em seu ninho, com a cabeça virada para a parede, e continuou imóvel quando abriu a boca para falar.

—Asa Branca: Fico feliz por Voo de Esquilo e Garra de Amora Doce, sei que serão ótimos pais. (Falou com uma voz rouca, claramente ainda estava chorando pelo que aconteceu com ela e Pelo Gris mais cedo).

—Fênix: Não se preocupe, sei que Pelo Gris vai se encontrar em algum momento, e quando isso acontecer, ele virá falar com você.

—Asa Branca: Quem você acha que deve ser a outra gata? (Falou se ajeitando em direção a companheira de pelagem negra).

—Fênix: Talvez seja Voo de Esquilo, eles se amaram por um tempo, e sei que Pelo Gris tem dificuldade em superar certas coisas.

—Asa Branca: Mas Voo de Esquilo já tem filhotes com Garra de Amora Doce. (Falou confusa).

—Fênix: Exatamente. Talvez ver que sua antiga amada cresceu em um relacionamento com outro gato tenha feito Pelo Gris reascender seu amor, ou ódio, por Voo de Esquilo e sua ambição de tê-la de volta. Mas sei que ela não vai deixar isso acontecer, foi ela quem encerrou tudo com Pelo Gris, e com certeza não vai mudar de ideia agora.

       Asa Branca abaixou a cabeça novamente, com uma expressão fechada, Fênix não sabia o que fazer para ajudar sua companheira de clã, mas sabia que tudo se consertaria com o tempo.