A Jornada da Fênix: O Ressurgir das Cinzas escrita por FoxFlameWarrior


Capítulo 4
Nightmare


Notas iniciais do capítulo

Eu pretendia postar só nas quintas, mas andei tendo algumas crises de insônia desde que comecei a postar essa história, com certeza é a ansiedade, então decidi que a partir de agora vou postar nas terças e nas quintas.
Bom, vamos ao capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804949/chapter/4

       A filhote acordou deitada sobre um ninho da toca da curandeira, Fênix percebeu que havia dormido ao lado de seu mentor, mas este não estava mais lá, olhou ao redor e reconheceu que já estava de noite, então saiu para o acampamento, mas assim que o fez, percebeu os olhares dos seus colegas ainda acordados, e logo reconheceu suas expressões de raiva.

       Claro que não gostariam dela assim logo de cara, afinal ainda tinha a sua coleira no pescoço e isso já era o bastante para lembrá-los de que Fênix era filha de Flagelo. No entanto, reconheceu Pata de Cinzas sentada ao lado de Pelo de Samambaia com olhos afiados voltados para si, a princípio não entendeu a razão dela de estar com a cara fechada, porém suas dúvidas foram esclarecidas quando Garra da Amora Doce se aproximou e disse:

—Fênix... acho que você devia ir se encontrar com Estrela de Fogo e que deve explicações a ele. (Falou em um tom desapontado).

        A jovem soube então que estava com problemas, por mais que não se lembrasse de ter feito algo de errado, mas só o que podia fazer era seguir o representante e responder a Estrela de Fogo. Enquanto passava por seu colegas para chegar a toca do líder, Fênix sentia os olhares queimando sobre si, tanto é que se estes fossem mesmo feitos de fogo já estariam devorando cada mínimo fio de seus pelos.

       Já em frente a toca de Estrela de Fogo, a gata negra se sentou na grama, o representante se dirigiu até o lado da entrada da toca do líder e sentou-se também, enquanto o gato rubro surgia para o lado de fora, mantendo sua postura séria, logo ficando cara a cara com a mais nova, no entanto sua expressão não era de raiva, mas sim de decepção.

—Estrela de Fogo: Fênix, eu vou ser bem direto, por mais difícil que seja. (Falou como num lamento). Você teve alguma relação com a armadilha feita contra mim? (Perguntou em alto e bom tom, mas seus olhos expressavam uma decepção tão perceptível que era possível quase sentir a dor dele).

—Fênix: Estrela de Fogo, eu não... eu nunca... faria isso. (Gaguejou). Eu nunca tentaria algo assim, vocês são os primeiros que realmente me aceitaram, por que eu tentaria te matar? (Disse alterada e com os olhos marejando).

—Garra de Amora Doce: Você ainda é uma estranha por aqui. (Falou chamando a atenção da gata, fazendo-a olhar para ele). Te conhecemos faz só dois dias, não tem como sabermos se você é realmente confiável. (Disse com a cabeça e o olhar voltados para baixo).

       A aprendiz voltou a olhar para Estrela de Fogo, sentiu os olhos lacrimejarem e algumas lágrimas escorrerem, enquanto seu líder parecia evitar contado visual direto, como se não tivesse mais forçar nem para olhá-la nos olhos de tamanha vergonha e decepção. Não era possível, logo quando todo o seu mundo parecia estar finalmente entrando nos eixos, ela é julgada por algo que não fez, mas que eles também não tinham como provar.

—Fênix: Eu não sou como Flagelo. Ele era um assassino, eu nunca atentaria alguém que está tentando me ajudar. (Falou aumentado o tom de voz).

—Estrela de Fogo: Lamento, Fênix. Mas vou suspender seu treinamento até que eu tenha uma prova de que você é mesmo inocente. Até lá, ficará na toca dos anciões. (Falou antes de se levantar rapidamente e voltar para dentro de sua toca sem esperar resposta).

—Fênix: Mas... Estrela de Fogo... (Interrompida).

—Garra de Amora Doce: Você ouviu ele. Deve ir para a toca dos anciões agora. (Falou barrando o caminho da jovem para empurrá-la até a toca que Estrela de Fogo lhe indicou).

        Fênix perdeu a voz, o representante a puxou pelo cangote boa parte do caminho até a toca dos anciões para que a filhote não tentasse voltar para a toca do líder. Assim que chegaram, a jovem foi recebida pelos gatos mais velhos com olhares de reprovação e alguns cochichos grosseiros feitos entre eles.

      Fênix quis voltar a chorar, mas sabia que isso de nada adiantaria, além disso, não podia demonstrar fraqueza em um momento no qual precisava ser forte. Foi uma das primeiras lições que Estrela de Fogo lhe deu.

—Garra de Amora Doce: Eu sinto muito, Fênix. Não fique com raiva de mim, mas meu dever de representante é garantir a segurança do meu clã e seguir as ordens do meu líder... (Interrompido).

—Fênix: Eu sei, Garra de Amora Doce. (Falou se aconchegando em um canto). Você só está fazendo seu trabalho, mas eu não fiz o que todos acham que fiz. Eu não sou e nem quero ser como Flagelo. (Falou lhe olhando nos olhos, passando o máximo de firmeza que podia em sua voz).

—Garra de Amora Doce: Boa noite, Fênix. (Suspirou em um lamento triste e se retirou).

      A gatinha negra foi deixada ali com os pensamentos a mil, não queria acreditar que aquilo estava acontecendo de verdade, não era possível, sua vida podia finalmente ter uma melhora, mas é claro que tudo estava bom demais para se manter estável por muito mais tempo. Ela tinha vontade de gritar e chorar até que acordasse daquele pesadelo ou que morresse tentando. Mas provaria sua inocência, nem que esse fosse o último ato de sua vida.

       Foi tirada de seus pensamentos quando uma voz conhecida lhe chamou a atenção:

—Fênix, está me ouvindo? (Disse em um meio sussurro meio grito).

—Fênix: Pata de Cinzas? (Falou olhando ao redor, procurando pela amiga).

—Pata de Cinzas: Não pareça tão surpresa. Disfarça! E fala mais baixo! (Afirmou no mesmo tom).

—Fênix: Onde você está? (Disse após deitar a cabeça sob as patas e virar-se para a parede da toca, para que nenhum ancião a ouvisse).

—Pata de Cinzas: Atrás da toca dos anciões. Saia e me encontre aqui.

—Fênix: Mas e se alguém me vir? (Perguntou, não recebendo mais resposta). Pata de Cinzas, você me ouviu?

      Quando não foi mais respondida, Fênix percebeu que teria de dar seu jeito de encontrar sua amiga. Então, cuidadosamente, levantou-se e saiu da toca sem ser vista pelos anciões, que por sorte já estavam dormindo, e se dirigiu para atrás do local, assim como Pata de Cinzas disse para fazer.

      Mal havia chegado no lugar e foi acertada por trás, sendo derrubada e pressionada contra a grama, para então ser virada de barriga para cima e encontrar os olhos azuis e brilhantes de Pata de Cinzas. Fênix sorriu e a empurrou com suas patas trazeiras, fazendo-a colidir com o chão.

—Fênix: Você é maluca? (Falou entre risos enquanto se levantava).

—Pata de Cinzas: Aprendi com a melhor. (Disse irônica).

—Fênix: O que faz aqui? Podem nos ouvir. (Falou ao espremer a cabeça contra o pescoço da amiga).

—Pata de Cinzas: Eu sei que não foi você. (Disse retribuindo o carinho colocando sua cauda nas costas da outra). Te conheço há pouco tempo, mas só nesse meio tempo já te conheci o bastante para saber que você não é como Flagelo. (Disse antes de dar uma lambida na testa da amiga como uma forma de conforto).

—Fênix: Como pode confiar tanto assim em mim? (Falou com uma voz fraca  e chorosa). É como Garra de Amora Doce disse, só estou aqui há dois dias, nem sei porquê Estrela de Fogo me aceitou, eles estão certos em desconfiar de mim. (Afasta a cabeça o bastante para fitar a colega nos olhos). Você deveria estar desconfiando de mim também, e não aqui me dando apoio. (Falou deixando suas lágrimas teimosas rolarem pelo seu rosto).

—Pata de Cinzas: Você está certa, mas não diga essas coisas, por favor. (Disse deixando seus olhos marejarem). Eu sei que dois dias não é o bastante para se confiar em alguém, mas eu sinto em meu coração que você não é perigosa. (Deixou uma lágrima solitária correr de um de seus olhos). É difícil de explicar, mas é como se o próprio Clã das Estrelas estivesse me dizendo que confiar em você é o certo a se fazer.

—Fênix: O Clã das Estrelas está falando com você? Sobre mim? (Deixou que uma risada sem humor escapasse de sua garganta). Sendo filha de Flagelo, acho difícil que ele realmente esteja dizendo que confiar em mim é a coisa certa.

—Pata de Cinzas: O Clã das Estrelas é complicado de entender, mas eles sempre sabem o que estão fazendo. Confie em mim. Em algum momento, todos vão reconhecer que você não teve nada a ver com a armadilha. (Disse otimista).

—Fênix: Espero que esteja certa. (Disse antes de se encostar no flanco da amiga). Obrigada, Pata de Cinzas. (Agradeceu sorrindo tristemente).

      Ambas se despediram trocando lambidas e se afastaram, então Fênix se viu novamente deitada ao lado dos anciões, deitada de lado no canto da parede da toca, largada de qualquer jeito no chão, apenas refletindo sobre tudo que acontecera, parecia até um sonho, ou melhor, um pesadelo.

      Só queria abrir os olhos e descobrir que era tudo mentira, queria voltar no dia em que se encontrou com Pelo Gris e fazer com que nunca tivessem se conhecido, fazer com que as coisas fossem mais fáceis, mas por que pensou que tudo melhoraria afinal? Não passava de uma simples exilada procurando um lar no qual fosse aceita e amada como nunca foi antes.

     Mas seus desejos não significavam nada, não é mesmo? O mundo continuaria vendo-a como a filha de um assassino de sangue frio e nada mais. Sempre seria uma condenada, um desperdício de espaço, alguém sem lugar no mundo.

     Mas por que Flagelo teve uma filha afinal? Já que ele era tão insensível assim, então não teria filhotes porque amava alguém, era mais provável que quisesse ter herdeiros, ou melhor, mais assassinos sem coração para fazer o trabalho sujo do Clã do Sangue.

     Não queria pensar nisso, Fênix apenas fechou os olhos e, por pelo menos um segundo, tentou imaginar, acreditar, que estava na toca dos aprendizes, descansando ao lado de Pata de Cinzas, ansiosa para mais um dia de treinamento com Estrela de Fogo, para mais um dia no paraíso que ela sempre sonhou em chamar de lar.

      Seu mentor lhe dissera uma vez que pensamentos positivos ou lembranças boas ajudam a descansar a mente após um longo dia de esforço. É claro que Fênix estava com um pouco de raiva dele, mas já que não tinha mais certeza se continuaria no Clã do Trovão, então queria se lembrar de cada lição que o líder rubro lhe deu, já que aqueles haviam sido conselhos que um pai de verdade lhe daria, e ela pretendia guardá-los em seu coração e lembrar-se de cada palavra como se seu pai as tivesse dito.

[...]

—Flagelo: De novo! (Gritou).

      E Osso mais uma vez meteu uma patada no rosto frágil e já ferido da filhote, derrubando-a no chão duro e áspero do beco, fazendo a pequena grunhir de dor e deixar que mais lágrimas rolassem pelas suas bochechas cortadas. A pequena ergueu a cabeça com o máximo de força que pôde, com a visão turva, a cabeça girando de tontura e sua respiração pesada.

      Flagelo saltou de cima da lata de lixo onde estava e se dirigiu até a pequena, abaixou a cabeça e fitou-a bem de perto, suas pupilas em fenda alteravam de foco de segundo em segundo, ora paravam nos arranhões no rosto da filhote, ora voltavam a encontrar o olhar dela.

       A mais nova se encontrava em um estado deplorável, tinha várias feridas pelo corpo, o pelo espetado e sujo de terra, um dos olhos estava só meio aberto por ter sido alvo certeiro de um dos golpes de Osso e apresentava um corte que sangrava sem parar, fazendo com que várias trilhas de sangue fossem deslizando rosto e se encontrassem enquanto escorriam pelo pescoço dela.

       O mais velho sorriu satisfeito, abocanhou a filhote pela coleira e a colocou sentada de forma brusca, fazendo-a tossir engasgada e cuspir  sangue, sendo o bastante para aumentar a poça vermelha já formada sob suas patas, então ela olhou para ele, o qual revirou os olhos de forma exagerada e voltou a fitá-la.

       Observou por alguns segundos as gotas avermelhadas que escorriam entre os pelos da filhote, ainda mantendo o sorriso de satisfação, e disse:

—Muito bem, minha pequena Fênix. (Pronunciou antes de “limpar” com a língua uma das trilhas de sangue do rosto da pequena). Mas ainda dá para melhorar. (Falou após voltar a sua pose inicial). Osso! Limpe-a e leve-a para seu ninho! Continuaremos no sol alto! (Gritou para seu representante).

       Osso então abocanhou a filhote um pouco abaixo da coleira e a carregou para dentro da caixa onde ela dormia. Assim que a colocou no chão, a pequena tombou para o lado, suas pernas estavam bambas e ela tremia inteira. O representante começou a limpar o sangue do corpo da mais nova, lambia cada fio de pelo úmido pelo sangramento.

       A pequena se arrepiava de dor cada vez que o mais velho passava a língua por suas feridas, as quais ainda ardiam e a mantinham enfraquecida, além disso, não comia há dias, então claramente apanhar tantas vezes em um só dia a haviam esgotado.

—Fênix: Por que estão fazendo isso? (Perguntou com a voz fraca e baixa).

       Osso parou o que fazia, seu rosto se tornou inexpressivo e seus dentes começaram a ranger, então expos as garras enormes e afiadas, usando-as para forçar a cabeça da pequena contra o chão. A última coisa que Fênix viu foi a boca aberta e cheia de presas afiadas de Osso se movendo a toda velocidade na direção do seu rosto. Então tudo escureceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A vida da nossa Fênix está ficando cada vez mais complicada, tadinha né? Enfim, espero que estejam gostando.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Jornada da Fênix: O Ressurgir das Cinzas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.