A Jornada da Fênix: O Ressurgir das Cinzas escrita por FoxFlameWarrior


Capítulo 13
Goodbye




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      O dia estava quase amanhecendo, Pelo Gris acordou cedo, antes de todos os guerreiros, saiu da toca dos guerreiros e sentou-se próximo da toca dos aprendizes, seus olhos azuis se voltavam para o céu que ainda tinha alguns sinais da escuridão da noite passada, pensando sobre onde sua amiga poderia estar, já faziam alguns dias que ela havia desaparecido, mais de uma semana.

        Ele sabia onde a tal trilha de sangue terminava, mas seria perigoso para um único guerreiro fazer uma investigação em um território alheio, mesmo assim, já planejava sair do acampamento e ir ver se encontrava alguma coisa no território do Clã do Rio.        

       O gato azul cinzento trotou até o lugar onde Coração de Cinzas descreveu, logo tentou encontrar alguma forma de atravessar o rio sem que a correnteza o levasse. Até que notou blocos de gelo meio soltos na beirada do rio, estavam meio separados, mas poderia travessar por ali se conseguisse saltar de bloco em bloco sem cair nas água gelada, do contrário, se afogaria rapidamente. Se aproximou e saltou o mais longe que pôde para alcançá-los.

      Mas por que precisava tanto assim encontrar algo sobre Fênix? Por que ela importava tanto? Não passava de uma gatinha de gente fraca, por que precisava ter tanta certeza de que ela estava bem? Sua cabeça não era mais a mesma, tantas coisas acontecendo de uma vez só fizeram Pelo Gris perder um pouco do juízo, só o fato de estar, literalmente, pulando a fronteira sozinho já era uma prova de que sua mente e coração estavam influenciando seus instintos de proteção de uma forma preocupante e perigosa, já que poderia muito bem trombar com uma patrulha do Clã do Rio e ser assassinado por invasão. Mas lá estava ele, correndo o risco.

[...]

      No acampamento do Clã do Rio, Pata de Cravão saiu da toca dos aprendizes, deixando os raios quentes e confortáveis de luz de sol atingirem seu pelo, já fazia mais de uma semana que fora aceita no Clã do Rio, e alguns dias que a estação fria havia acabado definitivamente.

     Sentiu alguma coisa a atingir por trás, quase pensou que fosse Coração de Cinzas com suas típicas brincadeiras de sempre, mas ao se virar percebeu que era Pata da Noite.

—Pata da Noite: Bom dia, Pata de Carvão. (Falou passando para fora).

—Pata de Carvão: Bom dia, Pata da Noite. Desculpe, ainda não me acostumei com meu novo nome, fui chamada de Fênix por toda a minha vida. (Falou tentando encontrar assunto).

—Pata da Noite: Tenho certeza de que vai se acostumar. (Ela se senta e começa a alisar seu longo pelo negro). Você quer ir caçar?

—Pata de Carvão: Sim, eu adoraria. (Fala meio sem jeito). Qual guerreiro vai com a gente?

—Pata da Noite: Nenhum. (Sussurrou).

—Pata de Carvão: Mas não vamos ter problemas? (Cochichou).

—Pata da Noite: Ninguém vai saber. Me siga. (Sussurrou).

       Ambas saíram discretamente do acampamento, Pata de Carvão ficou surpresa ao ver como Pata da Noite era gentil, por mais que só tivessem se conhecido há uma semana, já podia sentir que a aprendiz negra era como Coração de Cinzas, uma amiga na qual podia confiar.

       Por mais que fosse difícil acreditar, Pata de Carvão gostava da companhia de Pata da Noite, afinal ela sempre havia sido gentil e dócil desde que a aprendiz negra chegara no Clã do Rio, mas seus sentimentos estavam confusos, talvez só estivesse carente, com saudade das palavras gentis de Poça de Folhas, dos conselhos sábios de Estrela de Fogo, da companhia de Coração de Cinzas ou da segurança que o acampamento do Clã do Trovão lhe passava.

[...]

         Pelo Gris caminhava cuidadosamente pela floresta do Clã do Rio, sabendo que se fosse descoberto poderia sofrer sérias consequências, as almofadinhas de suas patas tocavam delicadamente a grama dura e fria do final da estação sem folhas, seus instintos em alerta máximo, com as orelhas empinadas e o nariz puxando cada odor que o vento trazia.

        Suas orelhas estremeceram ao captarem sons de passos pesados quebrando as tiras de grama ainda congeladas, logo procurou algum refúgio onde pudesse passar despercebido e se escondeu atrás de uma árvore. Olhou por de trás do tronco e viu dois jovens gatos pretos brincado, logo reconheceu que um deles era a gata que procurava, pois usava uma coleira inconfundível.

—Pelo Gris: Fênix! (Falou saltando de trás da árvore).

—Pata da Noite: Quem é você? O que faz no território do Clã do Rio? (Falou exibindo as garras).

—Pelo Gris: Eu estou aqui por ela! (Falou se posicionando para a luta).

—Pata de Carvão: Pelo Gris, está tudo bem, eu estou com eles. (Falou se colocando entre os dois).

—Pelo Gris: Fênix, o que significa isso? Estrela de Fogo está louco atrás de você! Como pode estar dizendo isso?

—Pata da Noite: Pata de Carvão, o que está acontecendo?

—Pata de Carvão: Está tudo bem, Pata da Noite. (Se volta ao gato cinzento). Eu não vou voltar ao Clã do Trovão.

—Pelo Gris: Por que não? Somos sua família, você tem que voltar, Fênix!

—Pata da Noite: Esse não é mais o nome dela, ela tem um nome de aprendiz agora, é Pata de Carvão. (Falou indo ao lado da gata de coleira).

—Pelo Gris: Então é isso? Ótimo! Nós te aceitamos no nosso clã, te tornamos em alguém de verdade, e é assim que você nos agradece?

—Pata da Noite: Vocês a fizeram prisioneira e você ainda estranha que ela tenha vindo pro nosso lado? (Perguntou inconformada).

—Pelo Gris: Prisioneira? De onde você tirou isso?

—Pata de Carvão: Eu posso explicar!

—Pelo Gris: Fênix nunca foi uma prisioneira, nós a acolhemos como aprendiz de curandeira e nunca a fizemos mal algum!

—Pata da Noite: (Se vira para a colega). Isso é verdade?

—Pata de Carvão: Me sentia como prisioneira porque nunca fui aceita como igual por causa das minhas raízes de gata de gente, além disso, nunca me senti amada de verdade! (Falou com peso na consciência por nunca ter se sentido assim de verdade).

        Pelo Gris a fitou com os olhos arregalados, o que seus ouvidos ouviram realmente partiram seu coração, ficou sem palavras por um segundo, mas logo retomou a fala:

—Fênix, por favor, você tem que voltar! (Falou com uma voz rouca e fraca, segurando suas lágrimas).

—Pata de Carvão: Posso ficar a sós com ele um segundo? (Falou se voltando a Pata da Noite).

       A aprendiz de olhos azuis se afastou, passando por Pelo Gris e o olhando pelo canto do olho com o olhar queimando sobre o guerreiro azulado. Ela afastou-se o bastante para não ouvir a conversa, mas ficaria atenta a cada movimento brusco que o mais velho fizesse.

—Pata de Carvão: Pelo Gris, eu não posso voltar. Estrela de Fogo nunca vai me perdoar pela nossa última conversa, além disso, ninguém mais vai me querer por perto. (Falou calmamente com tristeza).

—Pelo Gris: Eu quero, senão eu não estaria aqui.

—Pata de Carvão: Não se preocupe, Pelo Gris, eu vou ficar bem, além disso, se eu ficar vou poder avisar vocês caso Estrela de Leopardo planeje outro ataque. Mesmo não estando lá com você, eu quero que sempre me considere como uma amiga. (Falou se aproximando dele).

—Pelo Gris: Mas e se tivermos que lutar um contra o outro? Você até pode nos avisar sobre um ataque, mas não vai conseguir impedi-lo. Eu não quero que você morra por causa do Clã do Trovão.

—Pata de Carvão: Por que você se importa tanto comigo?

—Pelo Gris: Porque eu te amo! (Gritou).

        A jovem de olhos roxos ficou estática, seus olhos se encheram de lágrimas, ela aconchegou a cabeça contra o peito do gato cinzento, que retribuiu o abraço com uma lambida no flanco da jovem.

—Pelo Gris: Preciso de você comigo no acampamento. (Falou sussurrando).

—Pata de Carvão: Ah, Pelo Gris. (Suspira e se afasta). Eu sempre te amei, mas quando você e Asa Branca se aproximaram, eu achei melhor ignorar esse sentimento.

—Pelo Gris: Mas e agora que você sabe a verdade? O que seu coração diz?

—Pata de Carvão: Meu coração me diz pra manter todos vocês seguros mesmo que eu não esteja lá pra ver.

—Pelo Gris: Eu sei que você nunca foi de ouvir o seu coração, então eu sei que isso é o que a sua cabeça está dizendo.

—Pata de Carvão: Você está enganado, eu sempre ouvi meu coração, e se você nunca reconheceu isso, então você não me conhece o bastante para ter algum sentimento amoroso por mim. (Levanta a cabeça e fecha a cara). Saia do território do Clã do Rio antes que eu e Pata da Noite chamemos os guerreiros. (Falou com uma voz autoritária).

—Pelo Gris: Quando eu disser a Estrela de Fogo... (Interrompido).

—Pata de Carvão: Eu sei que você não vai contar sobre isso pra ninguém, se você realmente me ama, então vai voltar ao acampamento e não vai dizer uma palavra sobre o que aconteceu aqui! Além disso, eles já vão saber na assembleia amanhã, e eu estarei lá! (Se vira para Pata da Noite e a convida a se juntar a eles com um sinal de cauda).

—Pata da Noite: Volte ao seu território, gato do Clã do Trovão! Podemos ser só aprendizes, mas também podemos causar um estrago grande.

—Pelo Gris: Eu já vou. (Falou abaixando a cabeça).

—Pata da Noite: Vamos, Pata de Carvão. (Falou se virando e se afastando).

—Pelo Gris: Por favor... (Falou com a voz fraca). Você não vai mesmo voltar, Fênix? (Falou com lágrimas).

—Pata de Carvão: (Volta o olhar para ele). Esse não é mais o meu nome. Te vejo amanhã na assembleia. (Falou antes de voltar a caminhar).

       O guerreiro azul acinzentado abaixou as orelhas e deixou suas lágrimas de tristeza e fracasso encherem seus olhos, realmente esperava ter sua amiga de volta, mas percebera que a própria já tinha feito sua escolha e não tinha nada que Pelo Gris pudesse fazer.

—Pata da Noite: O que ele queria?

—Pata de Carvão: Ele queria me levar de volta ao Clã do Trovão. Disse que Estrela de Fogo me quer de volta.

—Pata da Noite: Mas você não era exatamente uma prisioneira, não é? (Falou com uma ponta de desapontamento na voz).

—Pata de Carvão: Estrela de Fogo não me deixava sair do acampamento, sempre me mantendo sob a supervisão de alguém, e sempre que algo dava errado eu acabava sendo suspeita, era sempre eu que tinha a culpa de tudo. (Falou com agonia).

—Pata da Noite: Mas se você era suspeita de tudo que dava errado, por que Estrela de Fogo te manteria no território dele?

—Pata de Carvão: Eu não sei. Talvez ele achasse que eu assustasse os outros clãs e mantivesse o perigo longe. Não dá pra saber ao certo.

—Pata da Noite: Por que você assustaria alguém?

—Pata de Carvão: Porque eu sou... (Hesitou). Sou filha de Flagelo. (Falou quebrando o contato visual).

—Pata da Noite: Flagelo? Você quer dizer o Flagelo das histórias que os anciões contam? (Falou meio aterrorizada).

—Pata de Carvão: Exatamente. (Falou suspirando cansada).

       Ambas continuaram caminhado lado a lado sem pronunciar mais nenhuma palavra, Pata da noite estava meio em choque e Pata de Carvão estava com medo de dizer qualquer outra coisa e assustar ainda mais sua companheira, que até agora tinha sido tão gentil e amigável que a gata de coleira ficaria arrasada se acabasse afastando-a.

—Pata da Noite: Você não vai nos matar, certo? (Falou com a voz meio presa na garganta).

—Pata de Carvão: Eu nunca faria isso! (Afirmou com mais firmeza do que achou teria).

—Pata da Noite: Então não se preocupe, não vou contar a ninguém sobre isso, ou sobre o que aconteceu lá atrás com o gato do Clã do Trovão. (Disse mais calma).

—Pata de Carvão: Obrigada, Pata da Noite. Isso significa muito pra mim. (Respondeu aliviada).

[...]

       Pelo Gris voltou ao seu território, não conseguia compreender o porquê de sua ex-colega de clã o ter tratado daquela forma, mesmo sabendo que um correspondia os sentimentos do outro, mas Asa Branca era a sua parceira e em breve ambos teriam filhotes, só o que tinha que fazer era esperar até a próxima assembleia e deixar que seu clã descobrisse por si mesmo o que acontecera com Fênix.

       O guerreiro chegou no acampamento e trotou em direção ao berçário, ao chegar na boca da toca, foi parado por Coração de Cinzas.

— Coração de Cinzas: Pelo Gris, onde esteve?

—Pelo Gris: Fui ver se tinha alguma sorte em encontrar Fênix.

—Coração de Cinzas: E encontrou?

—Pelo Gris: Se tivesse encontrado, ela estaria aqui.

—Coração de Cinzas: Pelo Gris, sei que quer muito achá-la, mas Estrela de Fogo cessou as patrulhas de busca.

—Pelo Gris: O que? Como assim?

—Coração de Cinzas: Ele anunciou hoje de manhã, achou melhor parar com as buscas porque temos outras questões pra resolver, nosso acampamento precisa de presas frescas e não podemos resumir nossas patrulhas somente em buscas.

—Pelo Gris: Mas e quanto a Pata de Carvão?

—Coração de Cinzas: Quem? (Perguntou confusa).

—Pelo Gris: Fênix! Eu quis dizer Fênix. (Falou nervoso).

—Coração de Cinzas: Pelo Gris, tem certeza de que não encontrou nada?

—Pelo Gris: (Olha ao redor). Venha comigo, Coração de Cinzas.

       Pelo Gris e Coração de Cinzas foram para trás do berçário, onde nenhum outro gato poderia ouvi-los.

—Pelo Gris: Fênix, ou melhor, Pata de Carvão se juntou ao Clã do Rio.

—Coração de Cinzas: O que? Você esteve lá? Ela está bem? (Falou desesperada).

—Pelo Gris: Estrela de Leopardo a aceitou como aprendiz, agora seu nome é Pata de Carvão, e ainda inventou uma história em que o Clã do Trovão a fez prisioneira e por isso foi se juntar ao Clã do Rio.

—Coração de Cinzas: Como Fênix pôde nos abandonar desse jeito?

—Pelo Gris: Ela disse que vai espionar o Clã do Rio e nos avisar caso planejem outros ataques. Acho que ela só quer nos proteger.

—Coração de Cinzas: Mas existem outras formas de fazer isso! (Falou com lágrimas escorrendo de seus olhos).

—Pelo Gris: Ela disse que vai estar na assembleia amanhã e que nós não devemos contar a verdade a ninguém, Estrela de Leopardo é a líder dela agora, então, se descobrir que Fênix está mentindo, pode puni-la ou até matá-la.

—Coração de Cinzas: Espero que ela saiba o que está fazendo. (Falou ao se retirar do local).

[...]

         No território do Clã do Rio, Pata da Noite e Pata de Carvão chegaram ao acampamento, onde Pele Cintilante e Pé de Seixo as esperavam para começar o treinamento do dia.

—Pele Cintilante: Onde as duas estavam?

—Pata da Noite: Só estávamos nos conhecendo melhor.

—Pé de Seixo: Você não deve deixar Pata da Noite te enganar por esses olhos azuis inofensivos, Pata de Carvão. Ela pode parecer um anjinho, mas pode ser bem imprevisível as vezes. (Falou dando uma piscadela para a aprendiz de olhos roxos).

—Pata de Carvão: Vou ficar atenta a isso a partir de agora.

—Pele Cintilante: Bom, brincadeiras à parte, temos que começar o treino antes do sol a pino. (Falou se dirigindo a saída do acampamento).

        Os quatro saem do acampamento, a mentora cinza prateada liderava, o guerreiro cinza caminhava logo atrás enquanto as aprendizes trotavam ombro a ombro.

       Pata de Carvão estava feliz por estar conseguindo a confiança dos gatos do Clã do Rio, mas também a preocupava, já que o que queria não era se juntar realmente a eles e sim espionar, no entanto, nem sabia mais se o Clã do Trovão aceitaria a sua ajuda ou se a queriam de volta, já que pretendia voltar um dia, mas os gatos do Clã do Rio foram extremamente receptivos com ela, mais ainda do que os gatos do Clã do Trovão. Será que o Clã do Rio seria a sua verdadeira casa?

—Pata da Noite: Será que devemos contar sobre o guerreiro do Clã do Trovão que vimos hoje de manhã? (Falou à Pata de Carvão).

—Pele Cintilante: Guerreiro do Clã do Trovão?

—Pata da Noite: Encontramos um hoje quando... (Pausou ao perceber que contaria que quebrara uma regra).

—Pé de Seixo: Pata da Noite, continue.

—Pata de Carvão: Nós farejamos um hoje de manhã, achamos que Estrela de Fogo está tentando vir atrás de mim. (Falou mentindo).

—Pé de Seixo: Temos que avisar Estrela de Leopardo.

—Pata de Carvão: Nós não temos certeza se era mesmo cheiro de um guerreiro do Clã do Trovão, nós só sentimos um cheiro estranho no ar e foi isso que deduzimos. Mas ainda acho prudente avisar Estrela de Leopardo pro caso de estarmos certas.

—Pele Cintilante: Vamos continuar com a patrulha e ver se encontramos alguma coisa, avisaremos a ela sobre isso quando voltarmos.

       Os quatro voltaram a andar, Pata de Carvão estava aliviada por ter conseguido esconder sobre a invasão de Pelo Gris e sobre o passeio que ela e Pata da Noite fizeram escondidas. Estava com medo de que acabasse estragando tudo e sendo expulsa mais uma vez, obrigada a deixar mais um lar que já estava a se apegar.

—Pé de Seixo: Pata de Carvão, veja o que consegue farejar.

—Pata de Carvão: (Começa dar fungadas no ar). Eu sinto cheiro de esquilos, pássaros e alguns coelhos. Além de ervas medicinais.

—Pé de Seixo: Parabéns, o seu olfato é surpreendente.

—Pele Cintilante: Vamos ver se as duas conseguem apanhar alguma coisa.        

       Pata da Noite estremeceu as orelhas captando alguma coisa dentre as moitas, agachou-se e rastejou na grama seguindo o som, Pata de Carvão se juntou a ela. Ambas avistaram um coelho cavando no chão frio atrás de alimento, Pata da Noite expos as garras e se preparou para saltar sobre a presa, mas Pata de Carvão avançou na frente e agarrou o coelho, o mordeu com força e segurou seu pescoço contra o chão para tirar-lhe a respiração, conseguindo abatê-lo.

—Pé de Seixo: Muito bem, Pata de Carvão. (Falou saltando da moita).

—Pata de Carvão: Até que foi fácil. (Falou abocanhando o coelho). Além disso, foi Pata da Noite que o farejou.

—Pele Cintilante: Acho que isso foi como um trabalho em equipe. É bom que já estejam trabalhando assim, vão precisar em caso de uma batalha.

        As aprendizes se entreolharam, ambas pareciam satisfeitas com os elogios, mas Pata da Noite pareceu um tanto preocupada quando sua mentora mencionou sobre batalhas, e era compreensível já que a jovem nunca participara de uma luta de verdade antes.

       Os quatro voltaram ao acampamento, Pata de Carvão carregando o coelho e sua colega a acompanhando ao seu lado de cabeça baixa. A jovem de olhos roxos percebeu a expressão desanimada da amiga, então, depois de colocar o coelho na pilha de presas, as duas foram a toca dos aprendizes, Pata de Carvão pretendia conversar sobre o que estava acontecendo com a outra aprendiz.

—Pata de Carvão: Pata da Noite, você está bem? (Falou se sentando em um dos ninhos da toca).

—Pata da Noite: Estou pensando sobre o que Pele Cintilante disse, eu nunca estive em uma batalha antes. E se eu falhar e desapontar o Clã do Rio? Desapontar Estrela de Leopardo e Pele Cintilante? Elas contam comigo, todo mundo conta. (Falou se aconchegando no mesmo ninho).

—Pata de Carvão: É pra isso que temos treinamento, pra darmos o nosso melhor em uma batalha. (Lhe dá um lambida na testa). Além disso, todos os clãs colocam sua esperança nos aprendizes, isso é normal já que somos o futuro deles. (Falou calmamente). E você sempre terá a força do Clã do Rio com você mesmo quando estiver lutando sozinha, mas eu vou estar lá pra lutar ao seu lado, e se for pra falharmos e desapontarmos todo mundo, então faremos isso juntas também.

         Pata da Noite olha para a amiga, abrindo um leve sorriso, apreciando os brilhantes olhos roxos da companheira, que também abrira um sorriso, ambas se entreolhavam com uma empatia de colegas de clã, passando segurança uma para a outra.

—Pata da Noite: Obrigada, Pata de Carvão. (Aconchega a cabeça abaixo do pescoço de Pata de Carvão). Você é a melhor coisa que já aconteceu comigo. (Falou com uma voz doce e calma).

—Pata de Carvão: Você também, Pata da Noite. (Se aconchega nela de volta). É bom ter você ao meu lado.

          As aprendizes fecham os olhos, aproveitando a companhia uma da outra, suas caudas se entrelaçam e ambas caem no sono. Pata de Carvão com a cabeça sob as costas da amiga, Pata da Noite com a cabeça colada ao peito da amiga, seus corpos estavam colados um ao outro, o que as aquecia do vento frio que penetrava a toca dos aprendizes.

         Asa de Mariposa entrou na toca, logo viu as duas jovens deitadas juntas em um ninho, já pôde sentir uma certa satisfação por vê-las dessa forma, isso significava que ambas já criavam uma amizade, no entanto, havia entrado na toca para procurar Pata de Carvão sob as ordens de Estrela de Leopardo.

—Asa de Mariposa: Pata de Carvão. (Falou a cutucando). Acorde. Estrela de Leopardo quer te ver na toca dela.

—Pata de Carvão: O que? (Falou com uma voz de sono). Agora?

—Asa de Mariposa: Sim. E acorde Pata da Noite também, Pele Cintilante está procurando por ela. (Falou entes de sair da toca).

—Pata de Carvão: Certo, eu já vou. (Falou se espreguiçando).

        Pata da Noite, que acabara de acordar, deu uma lambida na bochecha de Pata de Carvão como forma de despedida antes de sair da toca. A gata de coleira logo saiu também e foi encontrar Estrela de Leopardo. Pata de Carvão entrou na toca da líder, que estava sentada ao fundo da toca, logo virou a cabeça ao perceber que a aprendiz havia entrado.

—Estrela de Leopardo: Pata de Carvão, Pé de Seixo me disse que você farejou gatos do Clã do Trovão hoje de manhã.

—Pata de Carvão: Bom, na verdade eu não tenho certeza se era mesmo um gato do Clã do Trovão, era só um cheiro estranho, mas era parecido com o deles. (Falou com medo de dar para a gata sarapintada uma razão para ficar desconfiada).

—Estrela de Leopardo: O que te faz pensar que era só um gato? (Falou se levantando).

—Pata de Carvão: O cheiro era fraco, dificilmente vários gatos conseguem esconder seu cheiro ao mesmo tempo.

—Estrela de Leopardo: Como sabe tanto sobre diferenciar cheiros? Não é como se tivesse tido um treinamento anteriormente. (Falou se aproximando).

—Pata de Carvão: Eu só estou falando o que é lógico pra mim. Ninguém precisa de treinamento pra aprender a farejar bem.

—Estrela de Leopardo: (Ficou nariz a nariz com a jovem). Isso é surpreendente. Acho que Estrela de Fogo não sabe mesmo ver potencial. (Se dirige a boca da toca). Quero você na assembleia amanhã, é a sua primeira, eu suponho.

—Pata de Carvão: Correto, Estrela de Leopardo. (Respondeu firme).

       Estrela de Leopardo saiu da toca, deixando Pata de Carvão pra trás. O coração da jovem palpitava como o de um coelho em perseguição, quase fora descoberta por Estrela de Leopardo, sentia que deveria tomar mais cuidado com as respostas que dava, no entanto, o Clã do Rio não parecia tão desconfiado quanto a própria líder, parecia que ela queria provar algo contra Pata de Carvão, ou talvez fosse apenas a sua intuição lhe dizendo para ter cuidado com a forma a qual guiava seu clã.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que eu disse que Fênix e Pelo Gris não seriam o casal, mas a minha ideia inicial era fazer um romance entre os dois, de modo de acabaria quando ele morresse, só que eu acabei mudando isso porque é o que eu falei, seria um casal pedófilo. Além disso, a protagonista tem um passado cheio de segredos que eu queria explorar, então o resultado final ficou assim.
Enfim, esse capítulo foi só pra confirmar os motivos das interações estranhas entre eles. E espero que tenham gostado porque não sou boa com declarações de amor.
Obrigada por terem lido. Bjs.



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