A Jornada da Fênix: O Ressurgir das Cinzas escrita por FoxFlameWarrior


Capítulo 11
River'Clan


Notas iniciais do capítulo

Hoje teremos muita treta e possivelmente muitos vão começar a duvidar da Fênix por causa de uma escolha surpreendente que ela vai fazer.
É só isso. Boa leitura.



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      Fênix acordou com vários miados vindos do lado de fora da toca, caminhou até lá com passos largos e viu uma batalha se seguindo no acampamento, eram guerreiros desconhecidos para Fênix, mas pôde reconhecer que era o Clã do Rio por causa do cheiro familiar que sentira mais cedo em sua patrulha e que agora se repetia.

       Ignorando aos protestos de Poça de Folhas, a aprendiz correu para a clareira para ajudar seus colegas de clã. Viu Tempestade de Areia lidando com um enorme guerreiro de pelagem branca e prata com Voo de Esquilo ao seu lado, ambas protegiam o berçário, Fênix ia ajudar, mas sentiu algo atingir sua perna e a derrubar.

       Sentiu um peso a prendendo no chão e viu uma guerreira dourada com os dentes quase se prendendo a sua garganta, meteu-lhe uma patada no rosto e a derrubou, se colocou de pé e avançou contra ela, mordendo-a no pescoço e arranhando suas costas, o bastante para afugentá-la.

       A jovem então viu a toca dos anciões sendo invadida por três guerreiros inimigos, correu até lá antes que algum ancião se ferisse, derrubou um gato de pelo cinza claro e o prendeu no chão, já estava pronta para morder sua jugular, mas foi empurrada com força contra a parede da toca e se viu encurralada pelos três invasores.

       Um deles a atacou, prendendo-a contra a parede, queria matá-la, mas um gato cinzento o empurrou e logo saltou para o lado de Fênix, que reconheceu que era Listra Cinzenta, ambos os guerreiros atacaram os três inimigos, a luta foi para o lado de fora da toca dos anciões, Fênix conseguiu matar um deles e Listra Cinzenta afugentou os outros dois.

        A batalha se seguiu por um bom tempo, os guerreiros do Clã do Trovão e do Clã do Rio sangravam enquanto lutavam brutalmente, com níveis cada vez maiores de adrenalina queimando em seus olhos, a grama da clareira estava enxarcada de sangue, cheia de poças vermelhas e corpos sem vida caídos ao chão cheios de ferimentos assustadores.

        Fênix já não aguentava mais lutar, sentia suas pernas bambas, só o que queria era voltar ao seu ninho e dormir por uma lua, onde estava com a cabeça quando decidiu ajudar na luta? Seu trabalho era curar gatos e não feri-los, não estava sendo treinada para entrar em um campo de batalha, por mais que Coração de Cinzas tivesse lhe ensinado alguns movimentos, Fênix não tinha capacidade física o bastante para permanecer em um cenário tão violento quanto aquele, pelo menos ainda não, tinha só nove luas, se estava viva até aquele momento era só por pura sorte.

       Sentiu-se sendo empurrada e prensada no chão, e viu um gato prateado em cima de seu corpo, com as garras já erguidas e prontas para tirar-lhe a vida, a jovem queria resistir, mas estava sem forças para empurrá-lo, já tinha aceitado que iria morrer, mas não estava com medo e sim satisfeita de ter lutado em nome do Clã do Trovão.

       Mas um miado alto e agudo foi emitido pelo acampamento, era Pé de Bruma, a representante do Clã do Rio, que ordenava que seus guerreiros recuassem da batalha, então Fênix sentiu o gato prateado sair de cima dela e fugir com seu clã.

        Agora que o Clã do Trovão estava a salvo de novo, os guerreiros se enfileiraram na frente da toca da curandeira, Poça de Folhas e se apressou para socorrer os mais feridos primeiro, dentre eles estava Fênix, carregando um enorme corte no pescoço, que sangrava continuamente, uma mordida no ombro e três fileiras de corte na barriga, seu nariz e sua boca expeliam sangue sem parar.

       A gata negra não conseguia ficar de pé sozinha, Coração de Cinzas  estava dando-a apoio, mesmo que estivesse com dificuldades para andar também. Filhote de Azevinho, que parecia determinada em ajudar Poça de Folhas no lugar de Fênix, se aproximou da aprendiz e colocou algumas folhas sobre os ferimentos e deu-lhe algumas sementes.

—Filhote de Azevinho: Isso vai te ajudar com a dor. (Falou rolando-as para perto das patas da gata negra).

—Fênix: Obrigada, Filhote de Azevinho. (Falou enquanto se ajeita para abocanhá-las).

      Na boca da toca de Poça de Folhas estavam todos os guerreiros esperando para receberem os cuidados, o cheiro de sangue penetrava profundamente no nariz de Fênix, que olhava para seus companheiros já sabendo que essa não seria a última briga entre eles e o Clã do Rio, mas a questão era: por que Estrela de Leopardo enviaria todos os seus guerreiros em um ataque contra o Clã do Trovão mesmo sabendo que os outros clãs poderiam estar espreitando seu acampamento?

       Coração de Cinzas, que agora tinha acabado de sair da toca da curandeira, caminhou se arrastando para o lado da amiga, com a perna ferida sangrando um pouco, se sentou na grama e começou a lamber um arranhão que tinha no peito.

—Coração de Cinzas: Por que será que eu acho que não acabou?

—Fênix: Estrela de Leopardo quer começar uma guerra, e eu sei que não é só por causa do que aconteceu naquela assembleia.

—Coração de Cinzas: Por falar em assembleia, em breve será lua cheia e haverá uma de novo, mas Estrela de Fogo não vai escolher os mais feridos para irem com ele.

—Fênix: Eu preciso ir a essa assembleia e ver o que Estrela de Leopardo tem a dizer. (Falou chicoteando a cauda).

—Coração de Cinzas: Mas olha pra você, seu sangramento não vai parar tão cedo e Poça de Folhas nunca deixaria Estrela de Fogo te levar.

—Fênix: Eu sei, e por isso eu preciso ir sem que ninguém saiba.

—Coração de Cinzas: Sei que quer muito ajudar nosso clã, mas não pode fazer nada nesse estado, nenhum de nós pode, por favor, Fênix, tente entender que você não pode resolver tudo! E se trombar com alguma coisa perigosa? Não conseguiria durar nem meio minuto em uma luta com tantos ferimentos e não conseguiria fugir também! Você entende? (Falou com medo e preocupação).

—Fênix: Eu entendo você, mas desde que o Clã do Trovão me aceitou, eu sinto que é mais do que meu dever o manter seguro das garras dos nossos inimigos. Por favor, Coração de Cinzas, eu juro que não vou envolver seu nome nessa história, você só precisa me acobertar dos outros guerreiros.

—Coração de Cinzas: (Suspira). Certo, mas prometa que não vai se meter em problemas e que essa será a última vez que eu vou ter que mentir por você. (Falou com uma voz seca).

—Fênix: Eu prometo. (Falou aliviada por sua amiga ter concordado).

      Coração de Cinzas se afastou com dificuldade para a toca dos guerreiros, Fênix notou o desgosto na voz da guerreira cinza quando esta respondeu, sabia que ela não gostava de mentir, até porque ia completamente contra as regras esconder algo de seu clã e líder.

      Muitas coisas estavam acontecendo, Fênix se sentia como Estrela de Fogo quando ele era mais jovem, antes de ser líder, sempre querendo ajudar seu clã e aos outros três ao mesmo tempo, haviam muitos segredos e mentiras circulando pela floresta, quando Estrela Tigrada ainda tentava unir todos os clãs sob suas patas e formar o Clã do Tigre. Estrela de Fogo havia contado essas histórias a Fênix algumas vezes, e também ouvira dos anciões.

        A aprendiz negra se sentou, percebeu que Filhote de Azevinho ainda estava colocando as ervas sobre suas feridas, se perguntava se a filhote ouvira o que falara com Coração de Cinzas, por mais que quisesse perguntá-la sobre o que ouviu, também sabia que a jovem poderia estar distraída com seus deveres e não ter escutado nem uma ponta da conversa.

—Filhote de Azevinho: Está pronto, agora descanse. Poça de Folhas quer que você durma na toca dos guerreiros hoje. (Falou se levantando).

—Fênix: Obrigada. (Se levantou, mas antes de ir até a toca, retomou a fala). Filhote de Azevinho, você ouviu alguma coisa que eu e Coração de Cinzas conversamos?

       A filhote estremeceu, os olhos roxos de Fênix a encaravam com uma expressão um tanto indefinível, não sabia se a mais velha estava brava ou apenas tendo uma curiosidade, Filhote de Azevinho encheu o peito de ar e começou a falar:

—Ouvi algo sobre a assembleia, que você quer ir mesmo sem Estrela de Fogo deixar, e sobre Estrela de Leopardo estar tramando uma guerra contra nós. (Falou firmemente com os olhos fixos em algumas sementes que tinham sobrado, tentando evitar o olhar da aprendiz).

—Fênix: Certo, eu preciso de um favor. Você pode manter isso só entre nós? Eu preciso que isso fique em segredo, mas entenda que eu só quero proteger nosso clã de ameaças futuras.

—Filhote de Azevinho: Tá bom. (Falou relutante).

—Fênix: Eu agradeço. Pode ir agora. (Falou calma para não assustar a filhote).

        A mais nova se afastou e voltou a toca de Poça de Folhas, Fênix ainda sentia dor por causa de suas feridas, tentou caminhar até a toca dos guerreiros sem mancar, mas sua barriga estava dolorida e quase não conseguia mover seu pescoço, seus cortes estavam a comprometendo.

       Chegando na toca, percebera que Pelo Gris estava deitado em um ninho e Asa Branca estava ao seu lado lambendo as feridas dele, a aprendiz negra mancou até o um ninho, deitou-se e lambeu sua ferida no ombro, dando algumas rápidas olhadas para o casal, encostou a cabeça no musgo e fechou os olhos. Seu pescoço ainda sangrava, deixando seu ninho um tanto úmido e desconfortável, já que a estação fria ainda tinha alguns traços no clima e a última coisa que a guerreira precisava era de uma cama molhada de sangue.

        No dia seguinte, foi acordada por Cauda de Castanha, que a cutucava com a cauda com cuidado para não a fazer sentir mais dor.

—Fênix: Cauda de Castanha? O que foi? (Falou sonolenta e se espreguiçando).

—Cauda de Castanha: Poça de Folhas me pediu pra te dar isso. (Falou entregando sementes de papoula a ela). Pro caso de ainda estar com dor.

—Fênix: Você me acordou só pra me sementes de papoula? (Falou enquanto abaixava a cabeça para comer as sementes).

—Cauda de Castanha: E pra ter certeza de que você não morreu, você estava sangrando muito ontem à noite e continuou apagada até o sol a pino.

—Fênix: O que? Já é sol a pino? (Falou gritando).

—Cauda de Castanha: Sim. Por isso eu estava preocupada.

—Fênix: Obrigada por me acordar, Cauda de Castanha. (Falou se levantando).

        Fênix saiu da toca dos guerreiros e foi procurar o líder, as vezes mordia o lábio inferior tentando suportar a tamanha dor que seu ferimentos estavam lhe causando, tropeçando sobre as próprias patas, se esforçando para não cair. Entrando na toca, viu Estrela de Fogo sentado sobre seu ninho, já havia notado que a aprendiz entrara, também vendo a dificuldade para a andar na qual se encontrava.

—Fênix: Estrela de Fogo, precisamos conversar. (Falou se sentando a frente dele e enrolando sua cauda sobre as patas).

—Estrela de Fogo: Deveria ir ver Poça de Folhas, você continua sangrando.

—Fênix: Eu sei, mas, com todo o respeito, você não está muito atrás.

—Estrela de Fogo: Bem, diga o que quer conversar. (Falou erguendo sua pata ferida e lambendo o feixe de sangue que ainda escorria).

—Fênix: Por que Estrela de Leopardo nos atacou? (Falou com um pouco de dificuldade, tentando esconder a dor que sentia).

—Estrela de Fogo: Ela é arrogante e deixa que isso lhe suba a cabeça as vezes, mas é uma líder sábia, com certeza não vai planejar outro ataque tão cedo já que seu clã também ficou ferido e muitos de seus guerreiros morreram, felizmente nós não sofremos a mesma perda.

—Fênix: Acha que haverá conflito na próxima assembleia?

—Estrela de Fogo: Não acho que ela quebre o código dos guerreiros e desrespeite o Clã das Estrelas assim.

—Fênix: Acha que podem acontecer outras batalhas entre nós e o Clã do Rio? Ou com outro clã?

—Estrela de Fogo: As batalhas entre clãs sempre existiram, eles pensam coisas sobre nós assim como nós pensamos coisas sobre eles. Mas eu sei que não acontecerá outro ataque até que o Clã das Estrelas permita.

—Fênix: (Observava seus ferimentos com algumas dúvidas lhe subindo a cabeça). Se tudo acontece conforme o Clã das Estrelas quer, então eu me machuquei desse jeito por que essa foi a vontade deles?

—Estrela de Fogo: Deve ter tido um motivo pra isso também, talvez queiram te proteger de alguma coisa.

—Fênix: Ou talvez queiram me mostrar que não sou forte o bastante pra ser uma gata do Clã do Trovão. (Falou se levantando rapidamente e indo até a saída da toca).

—Estrela de Fogo: O Clã das Estrelas não repreende guerreiros que respeitam as regras. (Falou saltando na frente dela e impedindo que saísse). Além disso, você está treinando para ser curandeira e não uma guerreira, não devia ter se envolvido na batalha desse jeito. (Repreendeu).

—Fênix: Mas, mesmo assim, continuo sendo filha de Flagelo, eu sou a prole de um assassino que não acreditava no Clã das Estrelas, além disso, enquanto eu tiver isso (Falou se referindo a sua coleira) serei vista como uma gatinha de gente.

       Passou pelo líder esbarrando com força em seu ombro e saiu de sua toca, suas feridas a faziam mancar, mas ela não sedia e continuava a andar como se seus cortes não fossem nada, começou a correr então, fazendo com que seu sangue escorresse mais rápido, fazendo várias tiras de sangue escorrerem pelas suas pernas, deixando uma trilha na grama dura e com neve do final da estação fria.

        Depois de tanto correr sem rumo, a jovem virou sua cabeça para trás e viu as marcas de sangue que deixara por todo o caminho que percorrera, abaixou as orelhas e a cabeça, se manteve um pouco parada fitando a neve no chão, fechou os olhos por um momento para ver se conseguia colocar seus pensamentos nos eixos de novo.

        Reabriu os olhos com um ar de culpa indescritível, pois percebera que tinha acabado de insultar o Clã das Estrelas na frente do seu líder, seus olhos ficaram nublados de tristeza, já não tinha mais certeza se deveria voltar ao acampamento e tentar consertar o que havia feito, mas deu uma olhada para a sua coleira, vendo que o que a estava prendendo era a sua marca de gata de gente.

      Suas patas começaram a tremer e expos suas garras, arranhando a neve com as tiras de sangue ainda percorrendo suas pernas, logo sentiu seus olhos se umedecerem pelas suas lágrimas de angústia, que passaram a correr pelo seu rosto e pingarem sob a grama endurecida pela neve.

      Respirou fundo, ergueu sua cabeça e olhou para o céu, tentando parar de chorar e encontrar as palavras certas pra se desculpar com Estrela de Fogo, no entanto, começou a dar algumas fungadas mais profundas porque captou um cheiro estranho no ar.

—Fênix: Guerreiros do Clã do Rio! (Falou se preparando para lutar).

      Suas orelhas estremeceram ao captarem um som vindo a sua frente, logo se viu cercada por cinco guerreiros do Clã do Rio, todos ainda meio machucados e com aparências cansadas. Dentre eles estava Pé de Bruma, que começou:

—Você é uma gatinha de gente, o que faz na floresta? (Perguntou surpresa). E o que ou quem fez isso com você? (Falou se referindo as feridas).

—Fênix: Eu tive algumas brigas sérias com gatos como vocês. (Respondeu firme).

—Pé de Bruma: Acho que te vi no acampamento do Clã do Trovão ontem. O que fazia lá? (Falou calmamente tentando não ser ameaçadora).

—Fênix: Eu era uma prisioneira, mas Estrela de Fogo me disse para ajudar na luta e então ele me libertaria. E assim ele fez, mas ainda estou ferida por causa dos seus guerreiros. Nunca tinha entrado em uma batalha daquela natureza. (Falou mentindo).

—Pé de Bruma: Então, você não pertence ao Clã do Trovão?

—Fênix: Não, mas talvez Estrela de Fogo tenha me mencionado como aprendiz em um dos encontros que vocês fazem as vezes.

—Pé de Bruma: Me lembro de ele ter mencionado uma nova aprendiz que encontraram perto da nossa fronteira, e nascida como gata de gente.

—Fênix: Ele sempre se refere a mim dessa forma quando está falando com gatos alheios, Estrela de Fogo não quer que os outros clãs pensem que ele gosta de fazer prisioneiros, mas eu não passava de um brinquedo nas garras dos guerreiros dele. É como uma gata de gente é tratada nas patas de Estrela de Fogo.

—Pé de Bruma: Mas isso é muita hipocrisia, ele mesmo já foi um gato de gente, nunca o imaginei fazendo isso a um gato inocente.

—Fênix: O que me surpreende é que, mesmo depois de uma luta feroz daquelas, você ainda tenham forças e coragem e voltar aqui. (Falou inocentemente, como se realmente se impressionasse).

—Pé de Bruma: Nosso território está com poucas presas, nossa intenção não era brigar hoje e sim procurar alguns dos nossos que não voltaram ontem a noite. (Disse com um suspiro triste). Mas não podemos te deixar aqui, por isso vamos te levar para o território do Clã do Rio, tudo bem? (Disse calma).  

—Fênix: Sim, eu não quero acabar nas garras de Estrela de Fogo outra vez, por favor, eu preciso de ajuda, não vou sobreviver com esses cortes e não vou conseguir chegar no território dos Duas Pernas, eu nem sei andar direito por essa floresta.

—Pé de Bruma: Certo, vou te levar até lá. Verei com Estrela de Leopardo se nossa curandeira pode cuidar de você. (Voltou-se aos seus companheiros da patrulha). Vocês continuam a busca. 

       Pé de Bruma levou Fênix até o acampamento, a gata negra sabia que estava traindo seu clã, mas se conseguisse ficar no território do Clã do Rio com a permissão de Estrela de Leopardo, poderia descobrir o que planejavam e salvar o Clã do Trovão. Pé de Bruma entrou na toca de sua líder, dando a Fênix um sinal com a cauda para que esperasse um pouco na boca da toca. Durante a espera, a aprendiz negra se sentia observada por cada gato que estava no acampamento, alguns cochichavam entre si enquanto outros só a encaravam com um olhar de desgosto. Mas o que a mais surpreendeu foi o estrago que o Clã do Trovão havia feito com aqueles gatos, até pôde sentir uma ponta de pena por eles.

        Até que a representante e a líder saíram da toca, Estrela de Leopardo a fitou por um minuto, seu olhos ambares queimavam sob a jovem, logo sentiu que essa era uma memória de um dia antes de ter trombado com Pelo Gris no dia em que foi aceita como aprendiz por Estrela de Fogo, lembrava-se desse olhar desaprovador de quando tinha ido pedir a gata sarapintada para entrar em seu clã, mas se daquela vez já tinha sido rejeitada, o que a faria ser aceita agora?

—Estrela de Leopardo: Eu lembro de você, até que cresceu um pouco... Fênix, não é?

—Fênix: E você deve ser Estrela de Leopardo, sei que nunca me disse seu nome, mas ouvi muito falar de você e seu clã. (Falou com a voz firme, mostrando que não era mais uma gatinha assustada).

—Estrela de Leopardo: Pé de Bruma me disse sobre a sua história, por mais que eu ache difícil de acreditar que o lendário e respeitoso Estrela de Fogo faria uma coisa como essa.

—Fênix: Até mesmo os lendários e respeitosos podem ser imprevisíveis.

—Estrela de Leopardo: O que aconteceu com aquela gatinha de gente que veio até mim algumas luas atrás? (Perguntou surpresa).

—Fênix: Depois de tanto tempo como prisioneira no Clã do Trovão, aprendi a ser mais forte e a encarar meus inimigos com firmeza. (Fala se segurando para não meter com força as suas garras no focinho de Estrela de Leopardo).

—Estrela de Leopardo: Gosto disso. Asa de Mariposa, quero que trate das feridas dessa gata. (Falou erguendo a voz).

       Uma gata dourada e grande chegou ao lado de Fênix, seus olhos ambares voltados a jovem com uma expressão calma e pacífica, ela parecia não se importar em cuidar de uma gata nascida em um ninho de Duas Pernas.

—Asa de Mariposa: Venha comigo, minha jovem. (Falou gentilmente).

       Fênix a seguiu em direção a toca da curandeira dourada, no momento em que entrou já sentiu o cheiro das ervas penetrar seu nariz, logo se lembrou de Poça de Folhas, por um momento se imaginou sendo recebida por ela em sua toca, esta sempre a recebia com um sorriso no rosto, ambas haviam se tornado amigas, e essa seria uma das coisas que mais sentiria falta caso nunca mais voltasse ao Clã do Trovão.

       Asa de Mariposa lhe deu algumas sementes para ajudar com a dor, enquanto colocava musgo úmido nos cortes. Fênix sentiu o estômago se revirar de fome, não comia nada desde a última noite, mas não sabia ao certo se deveria dizer que estava faminta, já que poderia ser um pouco grosseiro acabar de chegar e exigir alimento de um clã o qual nem sabia das condições, talvez estivessem em escassez de presas, o que explicaria o porquê de estarem caçando no território do Clã do Trovão um dia atrás.

      Felizmente, uma jovem de pelo negro entrou na toca da curandeira com um pássaro na boca, o colocou aos pés da gata negra e deu a ela um rápido sinal com a cabeça dizendo-lhe que poderia ficar à vontade para se saciar com a presa.

—Fênix: Obrigada... (Interrompida).

—Asa de Mariposa: Pata da Noite, Estrela de Leopardo autorizou que você a alimentasse?

—Pata da Noite: Foi ela mesma que me pediu pra trazer alguma coisa para Fênix.

—Asa de Mariposa: Bom, melhor mesmo. (Falou se virando para voltar ao trabalho).     

      Fênix fitou Pata da Noite por um momento, uma bela gata de pelo escuro e vibrantes olhos azuis, os quais estavam virados a jovem de coleira, os olhares de ambas se encontraram, Fênix a olhava com uma ponta de admiração. A última vez que se sentira assim foi quando se aproximou de Pelo Gris, não podia deixar de sentir uma certa paixão pelo gato azul acinzentado, mas nunca admitira isso para si mesma, e agora era como se sentisse-se mais livre para deixar seus sentimentos falarem mais alto, não estava mais no Clã do Trovão, não precisava levar a vida tão a sério.

      Asa de Mariposa começou a estranhar o olhar totalmente fixado que uma dava a outra, a gata dourada não conseguia diferenciar se ambas estavam apenas distraídas ou se estavam se dando declarações de ódio só pelo olhar.

—Asa de Mariposa: Então... (Tentou quebrar o gelo). Fênix, como veio pra floresta?

       Fênix recobrou a consciência, piscando rapidamente algumas vezes e desviando o olhar de Pata da Noite, então contou toda a sua história meio verdade e meio inventada.

—Pata da Noite: Então, nós salvamos a sua vida indiretamente?

—Fênix: Pode-se dizer que sim. (Falou voltando a encontrar os olhos azul escuro da gata).

—Pata da Noite: Eu preciso ir agora, te vejo por aí, Fênix. (Falou se virando e saindo da toca).

—Asa de Mariposa: Pata da Noite foi nomeada como aprendiz de guerreiro na lua passada, é uma gatinha de bom coração. Sempre tentando agradar a todos ao mesmo tempo. (Comentou casualmente).

—Fênix: Acho melhor eu comer esse pássaro logo e ir ver Estrela de Leopardo. (Falou desajeitada).

—Asa de Mariposa: Tudo bem, vou te deixar descansar. (Falou se levantando e se retirando para fora).

        Depois de comer, a aprendiz de olhos roxos trotou até a toca da líder, não sentia mais tanta dor e já podia se locomover melhor. Ao entrar, Fênix avistou a gata sarapintada sentada em seu ninho, lambendo uma das patas e a passando na orelha.

—Fênix: Estrela de Leopardo? (Falou se sentando calmamente).

—Estrela de Leopardo: É bom ver que já consegue ficar de pé sem problemas, assim poderá ir a assembleia.

—Fênix: Desculpe, acho que não entendi.

—Estrela de Leopardo: Deixe-me explicar, Estrela de Fogo foi um idiota por não ter te aceitado em seu clã, posso ver que você tem potencial para ser guerreira, então, se quiser, pode ficar no nosso clã.

        Fênix a fitou por um momento, nunca a conhecera pessoalmente, mas sabia que qualquer líder que quisesse ver o seu clã prosperar não desperdiçaria um gato com potencial, e a jovem sabia que Estrela de Leopardo só desejava o melhor para o Clã do Rio. Além disso, se aceitasse, poderia descobrir as fraquezas do Clã do Rio e salvar seus verdadeiros colegas de clã de serem atacados brutalmente como da outra vez.

—Fênix: Bem, eu adoraria ser parte de um clã e ter utilidade de verdade.

—Estrela de Leopardo: Isso é ótimo, hoje à noite você receberá um nome de aprendiz.

—Fênix: Obrigada, Estrela de Leopardo. (Falou se voltando a boca da toca).


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Notas finais do capítulo

Uma coisa importante que eu preciso acentuar é que a Fênix havia ido tentar se juntar aos outros clãs e foi rejeitada até chegar no Clã do Trovão. Por isso Estrela de Leopardo menciona sobre uma gatinha assustada que ela conheceu, que no caso era a Fênix medrosa do começo.
Okay, por enquanto é isso. Bjs.



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