Escapism escrita por Arin Derano


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

E agora eles estão definitivamente no trem! Além disso, as duas personagens faltantes aparecem aqui! Espero que gostem e boa leitura.



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POV PERIDOT

Era isso que tinha acontecido. Lapis havia acabado de entrar em uma porta estranha e cintilante que nem ao menos era do trem que costumava passar por ali, e eu ainda fui atrás dela.

Estávamos nos desentendendo, mas nem por isso a deixaria ir sozinha sabe-se lá onde. Eu me importo com ela. Muito.

Eu acordei com a visão ainda turva. Minha cabeça latejava, parecia que meu cérebro estava derretendo. Era bem pior do que passar horas estudando para minha pesquisa.

Minha pesquisa. Eu devia voltar o mais rápido possível. O prazo final estava chegando e eu não estava nem na metade dela.

Me sentei e olhei ao redor, só então notando que eu estava sem meus óculos. Tateei pelo chão próximo até encontrá-lo, e os coloquei de volta.

Lazuli estava ao meu lado e começando a acordar. Ela esfregou os olhos antes de abri-los, e foi quando notei algo incomum na palma da sua mão.

— Peri? — ela despertou minha atenção. — O que... Onde estamos? — Ela desviou o olhar para o ambiente, e eu fiz o mesmo.

Parecia que estávamos em um campo aberto. Havia montanhas ao longe e um riacho próximo emitindo o som característico de água batendo nas pedras. O céu possuía poucas nuvens e podíamos até ouvir alguns cantos de pássaros mais distantes. A grama em que estávamos deitadas até agora a pouco era fofa e se espalhava para além de nosso campo de visão.

— Estávamos em casa. Como viemos parar aqui? — indaguei mais para mim do que para ela.

— Eu não sei. Você é a gênia aqui, lembra? — ela se levantou e limpou a grama da sua roupa.

Ok. Ainda estávamos nessa. Eu já estava me cansando disso.

Foi quando me lembrei.

— Lapis, sua mão! — avisei e apontei para sua mão direita. Ela a virou e arregalou os olhos refletindo a luz esverdeada assustada.

— O que é isso?! — exclamou. — Por que tenho isso? — ela coçou a palma da mão tentando tirar o número 298 verde e brilhante sem sucesso. – TIRA!

— Eu não tenho certeza... — Estendi as mãos para analisar a dela, e só então notei que eu também tinha um igual. — Ah minhas estrelas eu tenho um também. — Observei minha mão direita com cuidado. Não era uma tatuagem. Então... O que era?

— Quer saber? Vou dar um jeito de sair daqui. — Ela disparou e começou a caminhar pelo campo.

— Espera! Vou com você. — Apressei o passo para acompanhá-la.

— Pra continuar me irritando? Ótimo. — resmungou.

— Lapis, eu...

— Não quero falar sobre isso. Vamos só encontrar a saída então, tá? — propôs.

— Tá bem.

Eu queria conversar com ela, mas pelo jeito, isso demoraria um bocado.

POV PEARL

Acordei com um susto. A última coisa da qual me lembrava era da porta. E pelo jeito, ela não me levou para dentro de um trem qualquer.

Estava em um campo de flores, tulipas, para ser mais exata. A visão chegava a ser linda. Tulipas de todas as cores possíveis espalhadas para além de onde meus olhos enxergavam. No final do caminho ladrilhado em que eu estava, havia uma porta vermelha com semicírculos amarelos dispostos um acima do outro e do lado inverso, assemelhando a um símbolo do infinito.

O que aquilo queria dizer?

Talvez pudesse ser minha saída desse sonho sem pé nem cabeça.

Me levantei e limpei minha roupa. Foi quando notei algo brilhando na palma da minha mão.

Confesso que me assustei. Não é todo dia que se vê o número 59 verde neon na sua mão. Entretanto, eu estava sozinha ali. Não seria de muito utilidade entrar em pânico agora.

Aliás, isso era só um sonho. Um sonho muito realista.

POV STEVEN

Onde diabos eu estava?

Era uma terra seca, com algumas árvores retorcidas e arbustos secos decorando a paisagem plana alaranjada. Animais das mais diversas espécies passeavam por aí pacificamente: leões, zebras, girafas.

Não havia nenhuma possibilidade de um trem me levar para outro continente, havia?

Me pus de pé e comecei a caminhar. Devia ter algo que me tirasse dali, fosse ou não fosse imaginação minha.

Peguei meu celular do bolso da calça e como esperado, estava sem sinal e com a bateria já alcançando a metade.

Como eu faria para sair dali?

Um grupo de gazelas passou por mim calmamente. Elas não pareciam me ver como uma ameaça. Uma delas, inclusive, tomou a iniciativa de empurrar o focinho no meu braço. Não pude deixar de sorrir. Podia não ser um cão, mas era fofo da mesma forma.

Quando ergui a mão para fazer carinho, percebi o brilho na palma. Observei com cautela.

O que era aquilo?

Não estava doendo, então não havia por que se incomodar com a presença dele. Mesmo assim, era bizarro. E por que 303? Isso era um bom ou mal sinal?

Ouvi um rugido não muito longe de onde estava, assustando as gazelas que correram juntas para longe. Um leão se aproximava a passos lentos. Olhei ao redor, com a respiração entrando em descompasso. Por mais que os animais não parecessem hostis por ali, um leão vindo em sua direção é o suficiente para te deixar assustado.

Recuei um passo e não notei antes que havia uma pedra logo onde pisei. Escorreguei e caí de costas, já imaginando que aqueles seriam meus últimos momentos. Ele abriu a boca recheada de dentes afiados e protegi meu rosto com um dos meus braços, me preparando para virar almoço do felino.

Mas ele não me atacou. Pelo contrário, encostou o focinho no meu braço. Quando o retirei da face, ele a lambeu. Fiquei uns segundos sem compreender o que acabara de acontecer. Com um ato de coragem, estendi minha mão para acariciá-lo na cabeça. Ele não recuou.

Enquanto eu fazia o cafuné, ele até pareceu ronronar. Não pude evitar de rir.

— Você é só um gatinho que cresceu demais, não é amigão? — perguntei, mesmo sabendo que ele não responderia com fala. Em vez disso, me lambeu no rosto de novo.

— Você não saberia a saída daqui, ou saberia? — Questionei mais uma vez e ele pareceu entender, apontando com o focinho para o lado oposto em que estávamos. Só assim percebi a porta avermelhada contrastando com o ambiente desértico.

— Ah... — Senti uma pontava de alívio. Mas isso queria dizer que eu teria de me despedir dele, não é? — Bem, obrigado pela ajuda. E por não me matar, eu agradeço por isso também.

Ele me olhou nos olhos. Não parecia ter entendido.

— Bem... Tchau. — Comecei a caminhar na direção da porta, porém, ainda sentia uma companhia logo atrás de mim. Me virei para trás e ele andava com cautela, como se não soubesse se deveria estar me seguindo.

— Você quer me acompanhar? — Ele parou. — Bom... Não vejo problema. — Ele me analisou por um momento e então se juntou ao meu lado.

Algo me dizia que seria bom ter uma companhia nesse lugar.

POV SPINEL

— Olha só! — chamei sua atenção e quebrei o quadrado dourado flutuante em pedaços.

— Aposto que consigo fazer melhor. — Bismuth contou não muito distante, fazendo o mesmo com suas luvas gigantes de metal que a fazia parecer uma personagem de jogo de batalha multijogador barato.

— Duvido! — eu arrisquei. Ela era mais forte que eu, mas claro que não admitiria isso em voz alta.

Ela nem precisou dizer nada. Reuniu todos as formas ao seu redor e as estraçalhou sem dó com socos consecutivos. Pude ver o terror nos olhos do nulo em forma de fantasma esverdeado. Não que isso importasse, eu só gostava de observar suas reações.

Quando terminou, com milhares de fragmentos dourados sob seus pés, ela me olhou com um olhar convencido. As crianças que nos acompanhavam bateram palmas, admiradas.

— É. Dá pro gasto. — comentei, fingindo indiferença. Coloquei a haste da foice que segurava atrás da cabeça, segurando e a apoiando com os pulsos.

— Agora tá me devendo um vagão novinho só pra mim. — brincou e bagunçou meu cabelo. Ainda bem que ele estava solto, se eu estivesse com as chiquinhas, as luvas iriam estragar todo o penteado.

— Ah qual é! Eu nem tava apostando. — Fiz bico e ela riu.

— Mas eu tava. — Bis assumiu.

— Tá bem! Você ganhou — admiti por fim. — Vamos voltar, já fizemos tudo que deveríamos por aqui.

Ela assentiu e foi na frente, chamando as crianças de volta para nosso vagão. Voltei a segurar a foice com uma das mãos e olhei para meu braço direito, com os números até meu cotovelo. Ele havia aumentado. Ótimo.

Dei um sorriso satisfeito e observei o nulo, agora chorando que não havia nada restante em seu vagão além dele. Não havia por que não poupá-lo. Nosso objetivo estava completado. Ele levantou o olhar para mim e fiz uma careta, puxando a parte de baixo de um dos olhos para baixo com o indicador e mostrando a língua, e me retirei.

Quanto retornei ao nosso vagão, um shopping abandonado, cheio de crianças adeptas ao nosso movimento, uma delas me alertou que meu símbolo estava meio apagado. Agradeci e peguei o espelho de bolso para retocar.

Além do delineado simples e dos espinhos abaixo dos olhos feito com delineador, eu ainda tinha o símbolo dos Apex adornando meu rosto, um símbolo de onda que atravessava o rosto na altura da ponta do nariz. O retoquei com batom vermelho e olhei satisfeita para meu reflexo.

Eu estava orgulhosa de quem tinha me tornado.


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