Escapism escrita por Arin Derano


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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É assim que sempre começa.

POV LAPIS

— Dá para você me escutar pelo menos uma vez? — eu vociferei. Estava cansada daquela cena.

— Não Lapis. Não dá. — ela me disse, de costas para mim, focada em sabe-se lá o que essa pesquisa tinha de mais importante do que nosso aniversário da um ano juntas.

Havíamos marcado uma viagem para o litoral do estado no começo do mês. Estava tudo certo. Ela havia me garantido – e prometido – que iríamos não importava o que acontecesse.

Mas algo aconteceu, e ela se importou. Agora, mal olhava para mim e se concentrava em toneladas de papéis encima da escrivaninha.

Suprimi a vontade de chorar. Não iria chorar ali, não na frente dela. Disparei para a porta do nosso cubículo de apartamento, pegando e vestindo meu moletom no caminho e fechando a porta com força, a ponto de eu sentir as paredes tremerem.

— Lapis, espera! — pude ouvir ela chamar, mas nem escutei. Desci os dois lances de escadas do prédio baixo que vivíamos e continuei a correr sem rumo.

Mesmo com o agasalho, era difícil não sentir o frio que estava. Era começo do inverno, afinal. Coloquei as mãos no bolso da frente para que não congelassem.

Estava me aproximando do trilho de trem que havia próximo de nossa casa quando ouvi ela chamar mais uma vez.

Virei para trás. Ela parou alguns metros de distância. Seu cabelo loiro estava bagunçado, o óculos circular torto em seu rosto e ela ainda não havia terminado de vestir o casaco.

— Lapis. — ela repetiu, recuperando o fôlego e me olhando nos olhos pela primeira vez naquele dia. — Vamos conversar.

Antes que ela dissesse mais alguma coisa, ouvi a buzina do trem tocar, a ponto de quase estourar meus tímpanos. Coloquei as mãos nos ouvidos e pude ver de relance ela fazer o mesmo. Voltei meu olhar para o veículo em alto movimento, mas que parecia desacelerar a cada segundo. Quando desacelerou por completo, uma porta com uma luz ofuscante em seu centro parou diante de mim.

Ela possuía uma força invisível que parecia me puxar. A luz era convidativa, até, parecendo amornar o ambiente ao redor.

— O que é isso? — pude ouvir ela questionar.

Como se eu pudesse responder.

Avancei e atravessei a porta. A última coisa que ouvi foi ela gritando meu nome.

POV PEARL

Estava sendo difícil fingir que nada aconteceu. Amethyst estava certa.

Eu havia me apegado demais.

E agora estava sofrendo pelas expectativas que eu mesma criei de relacionamento destinado ao fracasso.

— Está sendo dura demais consigo mesma. — Garnet comentou ao meu lado.

Estávamos no meu quarto da faculdade. O quarto que eu costumava dividir com Rose.

O que havia restado dela agora eram lembranças.

— O que? — perguntei, confusa. Enxugando as lágrimas tímidas que ousavam escorrer dos olhos.

— Você. Dá para notar quando está pensando demais. — ela completou.

Eu nada disse. Elas estavam certas esse tempo todo, e eu não as ouvi. Segui num relacionamento que eu já sabia que quem sairia machucada era por medo de perder a companhia dela. E no fim, não só acabei a perdendo como quase a de minhas amigas também.

— Vou tomar um ar. — falei baixinho e me retirei. Estar naquele quarto estava me sufocando.

Ao sair para o campus, me lembrei da jaqueta que havia esquecido lá dentro. Não queria buscá-lo agora. Abracei a mim mesma na falha tentativa de tentar me aquecer e comecei a caminhar.

Eu só precisava de um ar para clarear a mente. Só isso.

Estranhei que não havia ninguém no meu campo de visão. Tudo bem que era uma tarde nublada de inverno, mas ainda era sexta-feira. Onde estavam todos?

Ouvi um som estridente semelhante a uma buzina de trem ressoar a poucos metros a minha frente. O veículo passou rapidamente e logo parou, mostrando uma porta brilhante no meio do um de seus vagões.

Aquilo não fazia muito sentido. Nem havia nenhum trilho de trem próximo da faculdade, e mesmo assim, senti vontade de explorar o que aquela porta escondia.

Com um impulso de coragem, a atravessei.

POV STEVEN

Não é fácil viver em uma van e hotéis a beira da estrada a sua vida toda, viajando pelo país sem destino final. Ainda mais quando, tudo que você almejava, era uma vida comum. De viver em uma casa mesmo, dirigir um sedan ou picape velha para a mesma escola que você estudou a vida toda.

Mas quando seu pai é um aspirante a estrela do rock, isso se torna meio que impossível.

É a quinta escola pra qual me mudo esse ano. Entretanto, dessa vez, eu me importo se a gente se mudar mais uma vez.

Porque conheci Connie. Ela vem sendo minha âncora para essa pequena cidadezinha no interior de Nevada. Se eu pudesse, não sairia daqui nunca.

Todavia, é claro que não depende só de mim.

Estava vendo o show do meu pai como todas as outras vezes. Era um público pequeno, não que a gente já não tenha tentado aumentá-lo, mas o suficiente para meu pai se divertir tocando.

Não me leve a mal, é claro que eu gostava de vê-lo feliz.

Eu só as vezes sentia que merecia isso também. Mesmo que nossas definições de felicidade e realização fossem arbitrárias.

Quando a apresentação se encerrou e começamos a devolver os equipamentos para a van, Greg Universe veio com uma notícia.

— Um cara de uma produtora na Califórnia me chamou para gravarmos um som lá! Isso não é incrível? — podia ver o brilho nos seus olhos.

— Claro. É sim, pai. Parabéns. — parabenizei, anestesiado. Estava acontecendo.

Eu teria que me despedir de Connie.

Suspirei. Eu ainda teria amanhã para pensar nisso e já estava cansado. As vezes seus shows duravam até tarde da noite, e muitas vezes eu dormia até que acabasse.

Não fiz isso dessa vez.

— Obrigado por ajudar seu velho aqui, filho. — Ele colocou a mão no meu ombro. — Pode dirigir dessa vez? Estou exausto.

— Posso. — ele me jogou as chaves do veículo e entrou no lado do passageiro. Fechei as portas de trás da van e entrei no banco do motorista.

Havia alguns meses do meu aniversário de 16 anos, e dirigir era bem menos complicado do que pensava.

Coloquei o cinto e notei que meu pai já capotara no outro banco. Liguei o carro e comecei a dirigir.

Tudo parecia nos eixos. O rádio tocava baixinho e meu pai roncava ao lado. O que poderia dar errado?

Só notei que dormi ao volante quando era tarde.

Ouvi as sirenes da ambulância ao fundo. Não conseguia processar o que estava acontecendo. Meus sentidos não estavam sincronizados.

Eu estava com alguns arranhões e machucados pelos braços e rosto e meu pai desmaiara com o impacto. Ele ainda não havia acordado e parecia em uma situação pior do que a minha. O colocaram na ambulância e pude notar que os socorristas tentavam me dizer algo que não conseguia me concentrar para escutar.

— Posso ir até a van? Preciso pegar algumas coisas lá. — Eles pareceram assentir, então foi isso que fiz.

Ao chegar no veículo amassado na frente pelo impacto com algumas árvores, notei uma buzina característica de trem tocar por perto. Olhei para o lado da mata, e lá estava o veículo de vagões com uma porta convidativa em um deles. Desviei o olhar para os socorristas, que não notaram nada daquilo.

Estranhei.

Eu não deveria entrar, deveria ficar com meu pai, me despedir de Connie e viajar com ele até o oeste...

Mas entrei mesmo assim.


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