Ela explicou cada palavra que saíra da boca daquele médico. Enquanto isso, Mac analisava cada exame cautelosamente, esperando ler em algum lugar, por mais improvável que fosse, que tudo não passava de uma brincadeira de mau gosto. 

—.. Se eu não operar, há chances que ele evolua e torne-se inoperável. 

Como um disco velho, aquelas palavras repetiram-se várias e várias vezes na cabeça de Mac, assim como as que se seguiram... 

— Meus enjoos e minhas dores estão cada vez piores. Preciso operar o quanto antes para que minhas chances sejam boas.. 

Mac sentiu uma lágrima rolar, como aquela de alguns minutos atrás. Ele nem se importou de escondê-la ou seca-la, só continuou ali, encarando o exame em suas mãos. 

— Você está sentindo dor agora? - perguntou receoso com a voz baixa. 

— É, um pouco.. - Mac sentiu uma pontada em seu peito e a garganta começar a embargar. - Ei, olha pra mim. - pediu com a cabeça inclinada enquanto o encarava. 

Ele negou. 

Olhá-la naquele momento só faria com que uma enxurrada de lágrimas descessem pelo seu rosto. Ele queria ser forte, demonstrar que ficaria tudo bem. Era disso que ela precisava.. 

— Sei que está tentando ser forte, eu também estou.. Mas, sabe o que ajuda a me deixar forte? Saber que está comigo. - sorriu de canto. 

Mac respirou fundo e levou uma mão ao olho, impedindo que mais uma lágrima rolasse. Em seguida, ele a olhou. 

— Eu não vou sair do seu lado nunca. Sabe disso, não sabe? - Stella consentiu, sentindo seus olhos encherem-se d'água. 

— Eu sei.. - sussurrou. - Eu tô com medo, Mac. 

Mac pôs sua mão sobre a dela e a apertou carinhosamente. Em anos de amizade, aquele fora o primeiro ato íntimo de carinho que partiu de Mac, claro que nenhum dos dois se importou com isso naquele momento. Talvez, por mais simples que fosse aquele ato para outras pessoas, era exatamente o que ambos precisavam. 

— Eu também. - confessou. - Mas vai ficar tudo bem, e no final, quando tudo isso passar, podemos fazer uma daquelas festas enormes e exageradas pra comemorar. - disse, fazendo-a rir. 

— Você odeia festas, Taylor. 

— Por você eu posso fazer um esforcinho. - sorriu levemente. Stella aproximou-se e o puxou para um breve, porém forte, abraço. 

— Obrigada.. 

— tudo bem.. Acho que alguém precisa avisar a Melissa. Ela deve estar preocupada. 

— Vou ligar pra ela. - disse ao se afastar, enquanto pegava seu celular. - E você, detetive, tem um compromisso com a equipe, certo? 

Mac respirou fundo, levantando-se. 

— Não, não que eu saiba. - mentiu, arrancando uma risada desacreditada de Stella. 

— Mac.. Vá se divertir. Aproveite e apresente Christine a eles, você havia dito que queria. 

— Acho que ainda não é o momento.. - admitiu. - E eu vi que vai passar um filme que eu adoro hoje, pensei que você ia querer assisti-lo comigo. Posso até fazer pipoca doce, que eu sei que você gosta. 

Antes de discar o número, Stella pôs seu celular momentaneamente de lado e passou a encarar Mac. 

— Você sabe que eu adoraria, mas não quero que mude seus planos por causa de mim. 

— Stella.. - Mac começou, mas Stella logo o interrompeu levantando-se também. 

— Não estou falando só de hoje, Mac. Sei que as coisas vão mudar um pouco agora, e apesar de amar tê-lo ao meu lado, há outra pessoa que precisa da sua atenção agora. - Mac desviou seu olhar do dela por um instante. - Sem contar que você ama essas bebedeiras com a equipe. - sorriu. - E ganhar Danny e Don na sinuca, é claro. 

Mac sorriu de canto, voltando a olha-la. 

— Você normalmente tem razão.. Mas dessa vez não. - ao tentar se pronunciar, Mac novamente a interrompeu. - Não há outro lugar que eu gostaria de estar a não ser aqui, agora, com você. Prometo que na próxima eu estarei lá. Aliás, Nós estaremos. 

Stella o analisou por alguns segundos, se dando por convencida no final. 

— E a Christine? Não quero que estrague as coisas com ela por causa de mim. 

— Stell, Christine e eu só estamos nos conhecendo. Não há absolutamente nada à ser estragado. 

Por fim, ela desistiu. 

— É, um filme parece bom. - Mac sorriu convencido, arrancando uma risada de Stella. - Vou tomar um banho e já te encontro. 

Mac a viu entrar no banheiro e sentiu o peso da última conversa cair sobre seus ombros. Ele sentou novamente na cama e apoiou os cotovelos nas pernas, entrelaçando sua mão uma na outra. 

Enquanto seus pensamento vagavam por tudo que estava acontecendo, a voz de Stella cantarolando ecoou em um volume baixo pelo quarto, fazendo-o sorrir. 

Ao seu lado, o celular de Stella começou a vibrar. No visor, a fato de Melissa. Mac então resolveu atender. 

— Oi Melissa, é o Mac. 

— Mac! Graças a Deus. Como Stella está? 

— Ela ficou zonza e acabou desmaiando, mas agora está bem. - Melissa suspirou aliviada. 

— Ela te contou? 

— É.. Contou. - respondeu tristemente. 

— Agora que você sabe, eu preciso da sua ajuda. Eu não sei se ela te contou, mas as dores dela estão piorando. Temo que esse desmaio seja o primeiro de muitos. Até marcarmos a cirurgia, precisa ficar de olho nela, Mac. 

— Eu vou, não se preocupe. Não vou sair do lado dela. 

— Sei que não vai. - Melissa sorriu levemente. - Vou marcar uma consulta para amanhã a tarde com o doutor Fields, chefe da neuro. O quanto antes marcarmos a cirurgia, melhor. 

— Ok.. - sussurrou em resposta. - Melissa.. 

— Oi?! 

— Ela vai ficar bem, não vai? Digo, as chances dela nessa cirurgia... 

— Como toda cirurgia, ainda mais nessas proporções, há riscos. Mas temos que acreditar que no final vai dar tudo certo. 

— Tá bem.. Nos falamos amanhã. 

Aquelas não eram exatamente as palavras que Mac gostaria de ouvir. Só de pensar que algo poderia dar errado, fazia com que todo aquele medo voltasse. Ela era a Stella, a pessoa mais forte que ele conhecia. Ela ia ficar bem. Ela tinha que ficar bem! 

*** 

— Então esse é o filme que você tanto ama? - ela estava encarando a TV com sua sobrancelha levemente arqueada e um tom de voz um tanto debochado. 

— Ele mesmo. - respondeu Mac pondo mais um bucado de pipoca na boca. 

— Então deixou de sair com a equipe pra ficar assistindo um filme romântico? Não pode estar falando sério. - implicou. 

Mac riu levemente. 

— Já considerou por pelo menos um segundo sequer que talvez, só talvez, - ressaltou. - eu tenha ficado porque a minha companhia preferida não estaria lá? 

— Sério? Eu jurava que era por causa do tumor. - insinuou pegando o balde de pipoca de suas mãos. Mac deu de ombros. 

— Não, ele não é tão especial. - seu tom indiferente arrancou uma risada de Stella. 

O toque baixo do celular irrompeu o ambiente. 

— É o seu ou o meu? - indagou Stella olhando à sua volta. Mac estendeu sua mão até a mesa de centro e pegou seu próprio celular. 

— É o meu. - Stella passou a olhar Mac, estranhando seu silêncio e seu rosto inexpressivo. 

— Está tudo bem? - perguntou. Mac ergueu os olhos do celular e, ao encontrar os de Stella, sorriu levemente. 

— Sim. A Christine me chamou para almoçar amanhã. 

— E então? - perguntou com expectativa. Mac divagou por um momento, suspirando antes de responder. 

— É, acho que pode ser uma boa... - Stella sorriu. 

— Mac Taylor finalmente dando uma oportunidade ao amor. Estou gostando de ver! - Mac riu. 

— Não vamos por esse caminho ainda, ok? Só vamos almoçar, nada mais. - Mac ajeitou-se no sofá, tentando disfarçar o fato de ter ficado levemente envergonhado com o rumo daquela conversa. - Ah, a Melissa ligou. Ela disse que vai marcar uma consulta pra você amanhã a tarde. 

— Oh.. Acabei me esquecendo de ligar pra ela. - suspirou. - Ela devia estar preocupada.. 

— É, estava. Mas eu expliquei tudo e ela ficou mais tranquila. Disse pra eu cuidar de você. - sorriu de canto. 

— Bom, com isso ela pode ficar despreocupada. - disse com uma risada, sendo acompanhada por Mac. 

Aquela risada foi sucedida por um silêncio confortável, silêncio esse que deu a brecha perfeita para a pergunta que Mac tanto ansiara por fazer. 

— Eu queria te acompanhar nessa consulta, se você não se importar, é claro. - disse receoso. No fundo ele tinha medo de que Stella o afastasse alegando estar atrapalhando ele de alguma forma, quando tudo que ele queria era estar ao lado dela. 

Mas então ela o surpreendeu, como sempre. 

— Eu ficaria muito feliz, Mac. - ele esboçou um singelo sorriso, disfarçando a alegria em que seu coração estava. - Aliás, falando nisso... - Stella pegou o controle sobre a mesinha e pausou o filme, pondo o balde de pipoca de lado. 

— O que foi? - perguntou a olhando. 

— Eu queria te pedir uma coisa. - disse virando-se para ele, mas sem conseguir encará-lo. - É que com tudo que está acontecendo.. Eu.. 

— Eu não vou contar pra ninguém. Não se preocupe. - Stella ergueu seus olhos, fixando-os nos dele. Mac já sabia. Ele sempre sabia. 

— Obrigada.. - sussurrou. Mac sorriu de canto. 

— Eu entendo o porquê de você não querer contar, e você sabe que sempre terá o meu apoio. Mas... 

— Mas..? - Mac suspirou. 

— Você sempre diz que somos uma família. Que não importa o que aconteça, sempre teremos um ao outro. - disse. - Graças a você Adam conseguiu manter o emprego, lembra? O Don se afastou quando a Jess morreu, e graças a você e todo seu cuidado, ele se reaproximou. O Hawkes estava sendo acusado injustamente e você o defendeu. 

Stella ouvia em silêncio, sabendo exatamente onde ele queria chegar. 

— E eu.. Se eu for listar tudo que você já fez por mim provavelmente só terminaríamos essa conversa amanhã. - ela não conseguiu manter o pequeno sorriso longe de seus lábios depois daquelas palavras. - Eles se preocupam com você, Stell. E uma hora ou outra tudo que está acontecendo com você virá a tona. Querer que eles descubram eventualmente é um direito seu. Mas não seria melhor ter o apoio dos seus amigos desde o começo? 

— Você está certo. - ela não precisou pensar muito para dizer aquelas palavras. Mas sua rápida concordância fez Mac arquear as sobrancelhas em sinal de surpresa. 

— Espera! Disse que eu estou certo? Eu deveria registrar esse momento. - debochou, fazendo-a rir. 

— Você tem essa mania de estar sempre certo quando o assunto é sobre como eu me sinto. 

— Isso não é verdade.. - rebateu rapidamente. - Nem sempre eu consigo decifrar seus olhares misteriosos. - Stella permaneceu com seus olhos nos dele, fazendo-o analisá-la cautelosamente. - Tipo agora.. Essas duas esmeraldas não estão me dizendo muita coisa no momento. - brincou. - Por que não me conta o que está por trás desse olhar? 

— Acho que dessa vez nem eu mesma sei a resposta. - sorriu levemente envergonhada. - Eu estou com medo, preocupada e ao mesmo tempo feliz.. E essa última parte é culpa sua. 

Mac apoiou seu braço sobre o encosto do sofá, levando sua mão ao rosto de Stella. Com o toque, seus olhos fecharam-se brevemente. 

Novamente o celular de Mac tocou. Stella reabriu seus olhos, e outra vez eles se conectaram. 

— Não vai atender? Pode ser o convite pra um jantar dessa vez. - provocou-o, arrancando um sorriso dele. 

Mac retirou sua mão do rosto dela e pôs uma almofada sobre seu colo. 

— Seja lá o que for, pode esperar. Temos um filme pra ver e um balde cheinho de pipoca. O que me diz? - juntamente à pergunta, Mac deu dois tapinhas convidativos na almofada. 

Stella não disse uma palavra, apenas sorriu e deitou sua cabeça no colo de Mac, erguendo as pernas no sofá. 

Em pouquíssimo tempo depois, o filme já estava novamente rolando. O balde de pipoca sobre a barriga de Stella já estava pela metade. Já Mac mantinha seu braço despojado sobre o encosto do sofá, assim como antes. Enquanto isso, sua outra mão estava caída sobre o braço do sofá, onde um único cachinho era enrolado em seus dedos de modo espontâneo. 

— Até que o filme não é tão ruim. - comentou Stella após um tempo em silêncio. Com a ausência de resposta, ela olhou para cima. - Parece que você pensa diferente. - sorriu ao observar Mac dormindo serenamente. 

Com cuidado, Stella desligou a TV e levantou-se do sofá, levando o balde vazio até a cozinha. Com suas mãos sobre o balcão e seu olhar em Mac, Stella passou a pensar em tudo que havia acontecido naquele dia. 

Era verdade que ela estava com medo, mais até do que gostaria de admitir. Contudo, depois que as circunstâncias a obrigaram a contar para Mac, mais um sentimento surgiu em seu coração: a certeza de que tudo ficaria bem. 

Com esse pensamento, ela sorriu. 

— Só você pra me fazer sorrir num momento como esse. - confessou baixinho. 

Ao virar-se para abrir a geladeira, Stella imediatamente levou sua mão a cabeça, sentindo uma forte dor tomá-la. Ela fechou seus olhos e apoiou-se na geladeira, esperando a tontura que estava sentindo por causa da dor, passar. 

Enquanto isso, um pesadelo invadia os sonhos de Mac, que desfrutava de um sono profundo no sofá.. 

*** 

Mac dirigia seu carro pelas ruas completamente vazias de Nova York, em alta velocidade. O suor frio escorria pelo seu rosto, enquanto em seus pensamentos as palavras que Hawkes dissera pelo telefone, repetiam-se constantemente. 

"Mac, é sobre a Stella.. Algo deu errado na cirurgia. Você precisa vir pra cá o mais rápido que puder. Temo que possa ser a última vez que a verá com vida.." 

Ele levou em média 5 minutos para chegar no hospital, em um percurso que normalmente levaria, no mínimo, meia hora. Ao chegar, Mac correu até a recepção. Ofegante, perguntou por Stella. 

— Mac?! - ao ouvir sua voz, Mac virou-se. Seus olhos foram de encontro aos de Hawkes, que tinha em seu rosto uma expressão de angústia. 

— Onde ela está? 

— Mac.. 

— Onde ela está? - indagou novamente em um tom mais alto e firme. Hawkes desviou seu olhar, encarando o chão. Uma solitária lágrima rolou pelo seu rosto, fazendo Mac gelar. 

— Eu sinto muito, Mac. Stella.. - suspirou, voltando a olhá-lo. - Stella não resistiu. 

Mac permaneceu em silêncio por alguns breves segundos, tentando digerir o que Hawkes dissera. Mas havia uma pequena esperança dentro dele, de que tudo aquilo não passava de um terrível engano. 

Poucos instantes depois, Mac já estava correndo pelos longos e também vazios corredores do hospital, gritando repetidas vezes o nome de Stella. Aos poucos, a escuridão ia tomando sua visão, enquanto seu coração desacelerava demasiadamente rápido. 

Ele estava perdendo a consciência e, consequentemente, a oportunidade de ver Stella, a sua Stella, por uma última vez. 

*** 

Mac abriu seus olhos rapidamente, observando tudo à sua volta. O alívio então percorreu seu corpo ao perceber que tudo aquilo não passava de um pesadelo. 

Ele passou a mão pelos seus cabelos e respirou fundo, levantando-se logo em seguida. Seus passos o levaram até onde um delicioso cheiro de comida exalava pelo ar. Ao vê-la na cozinha em segurança, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. 

— Que cheiro maravilhoso! - disse aproximando-se de Stella, que virou-se sorridente para olhá-lo. 

— Eii! Parece que alguém estava mais cansado do que queria admitir. - provocou-o em meio à uma risada. - Teve bons sonhos? 

Mac sentiu um aperto em seu peito, e o sorriso que antes havia em seus lábios logo foi sumindo. Por sorte, a panela roubou a atenção de Stella por um instante e ela não percebeu. 

— Sabe que eu nem me lembro?! - respondeu forçando uma risada. - Mas foi bom tirar um cochilo. Acho que eu estava precisando. - admitiu. 

— Fico feliz que consiga descansar quando vem aqui. - Stella enrolou no garfo um pouco do macarrão que preparava e levou à boca de Mac, olhando-no com expectativa. 

Mac mastigou calmamente, mantendo uma expressão serena e até mesmo indiferente no rosto. 

— E então? - perguntou Stella com entusiasmo. Depois de tanto mistério, Mac sorriu. 

— Esse é o melhor macarrão que eu já comi. 

— Exagerado! - brincou Stella dando um leve tapa em seu peito. 

Mac já tinha uma resposta na ponta da língua. Claro que ele não perderia a oportunidade de implicar com ela. Mas algo mais importante naquele momento chamou sua atenção. 

— Você está um pouco pálida. Está se sentindo bem? - indagou preocupado. 

— Sim. - respondeu simplesmente, voltando sua atenção à panela. Desconfiado, Mac levou sua mão ao rosto de Stella. 

— Olhe pra mim. - pediu com a voz baixa. Stella respirou fundo e o olhou. 

— Mac, eu estou bem. - afirmou na tentativa de convencê-lo, porém falhando novamente. 

— Você é uma péssima mentirosa. - provocou-a retirando sua mão do rosto dela. - Eu sei que você não quer me preocupar, e acha que o que está sentindo não merece atenção. Eu conheço você, lembra? 

Stella sorriu levemente, desviando o olhar brevemente. 

— As vezes essa dor que eu sinto volta mais forte e eu me sinto zonza. - admitiu. Mac a olhou ainda mais preocupado, fazendo-a responder as perguntas que provavelmente formavam-se em sua cabeça. - Costuma passar rápido, como agora. Eu já estou bem. Pode confiar! - pediu com um sorriso de canto. 

— Eu confio. - sussurrou. 

— Certeza? 

Ele estava prestes a se dar por convencido. Ela parecia bem. O sorriso em seu rosto parecia ser genuíno, e isso fez com que Mac relaxasse um pouco. 

— Você é teimosa, sabe disso né? - Stella riu. 

Antes que Stella respondesse, o celular de Mac começou a tocar. 

— Acho que notaram meu sumiço. - brincou ao ler o nome de Danny no visor. 

Stella afastou-se para pegar os pratos. 

— O que vai dizer? 

— Boa pergunta. - respondeu sorrindo. 

— Oi Danny. 

— Ei chefe, onde você está? Estamos todos aqui te esperando. Don não aguenta mais perder na sinuca pra mim. - enquanto conversava, Mac observou Stella experimentar um pouco do seu macarrão. Pela cara que ela fez, parecia que havia gostado. 

— Desculpa Danny, eu acabei pegando no sono. Hoje o dia foi puxado. - mentiu. - Mas fico feliz que esteja dando um banho no Don. Lembre-o que está me devendo 10 dólares. 

— Ele disse que quer uma revanche com você, Mac. Sabe como ele é, não é do tipo que gosta de perder. - implicou. 

Mac reparou o semblante de Stella mudar. Ela estava novamente pálida, mas um pouco pior que da última vez. 

— Stell? - chamou-a com o celular afastado. 

Sem dizer uma única palavra, Stella saiu correndo da cozinha, seguindo para o seu quarto. Preocupado, Mac tratou de encerrar a ligação. 

— Danny, eu preciso ir agora. Diga ao Don que o vencerei da próxima vez. Dê um Oi à todos. Até amanhã. 

Mac desligou o telefone e foi correndo atrás de Stella, encontrando-a agachada em frente ao vaso. 

— Eu tô bem. - disse vendo-o se aproximar. Um segundo depois, Stella vomitou novamente. 

Mac simplesmente abaixou ao seu lado e segurou seus cachos. 

— Não quero que me veja assim. - resmungou Stella um pouco ofegante. 

— Isso é uma pena, porque não vou sair do seu lado. - respondeu com seriedade, ainda segurando seus cachos. - Está se sentindo melhor? 

Stella respirou fundo, afastando-se um pouco do vaso. 

— Bem melhor, na verdade. - Mac suspirou aliviado, soltando o cabelo dela. - Não me olhe assim! - exclamou finalmente o encarando. 

— Assim como? - indagou confuso. 

— Como se estivesse pensando em uma maneira de me convencer a ir para o hospital. 

Mac permaneceu em silêncio, somente a olhando. 

— Eu não vou. - ressaltou enquanto se levantava, indo até a pia lavar seu rosto. Mac suspirou, também levantando-se. 

— Tudo bem, eu não vou insistir. - Stella lançou-lhe um olhar surpreso, que logo sumiu ao ouvir as palavras seguintes ditas por Mac. - Com uma condição. 

— Qual? - perguntou. 

— Você vai ficar comigo no meu apartamento até a sua cirurgia. 

— Não, não mesmo. - negou com seriedade. 

— Ótimo! Então eu fico aqui com você. - Mac saiu do banheiro, fazendo com que uma Stella furiosa o seguisse. 

— Você precisa parar de agir como se eu não soubesse cuidar de mim mesma. 

— Eu sei que você sabe. Jamais duvidei disso. Mas não significa que eu vou parar de me preocupar com você, Stella. - afirmou. - Você não está bem, e nem adianta dizer que está. - disse ao vê-la querer protestar. 

— Eu não preciso de você cuidando de mim o tempo todo. - disse em voz baixa, desviando seu olhar do dele. 

— Eu sei.. - respondeu Mac aproximando-se de Stella. - Mas eu não vou parar, mesmo sabendo que você pode ficar furiosa comigo pelos próximos dias. E apesar de doer te ver com raiva de mim, eu não me importo, contanto que você esteja bem e segura. 

Stella permaneceu quieta, encarando-o nos olhos. Ela estava irritada, mais com a situação do que com o próprio Mac. Ela odiava se sentir dependente, mas sabia no fundo que estar sozinha naquelas condições não era a melhor opção. 

— Tudo bem, eu vou com você. - respondeu com a voz baixa. Apesar de não deixar transparecer, Mac estava aliviado. - Me da 5 minutos? 

— Claro. - antes de sair do quarto, Mac aproximou-se mais de Stella, beijando-a carinhosamente na testa. 

Após vê-lo se afastar, Stella permitiu que uma lágrima solitária escorresse pelo seu rosto. Todas aquelas mudanças repentinas a assustavam. Por mais que ter Mac ao seu lado era algo que ela amasse, nessas circunstâncias a incomodava. Ela não queria se sentir um peso, e no fundo até sabia que não era. Mas com tudo que estava acontecendo, pensar de maneira racional nem sempre era fácil. 

Ao chegar na sala, Mac sentou-se no sofá e imediatamente lembrou-se do sonho que tivera há pouco. Ele também estava com medo, mais do que já sentiu em toda sua vida. Se ele pudesse, tomaria todas as dores de Stella para si. Vê-la sofrer era a coisa que mais o machucava na vida. 

Respirando fundo, Mac se levantou e começou a caminhar pela sala. Ele pôs suas mãos no bolso e passou a observar cuidadosamente os porta retratos que ali estavam. Um deles em especial, chamou sua atenção. Ele então pegou o retrato em suas mãos e o analisou. 

— Estou pronta. - disse Stella aparecendo na sala com uma bolsa pequena. 

— Eu amo essa foto. - disse Mac a olhando. Stella se aproximou e sorriu ao ver a foto. 

— É, eu também.. - aquela fora uma foto tirada em um momento aleatório no laboratório. Danny testava a câmera de seu celular novo e resolveu que seus chefes seriam suas cobaias. Mac e Stella conversavam animados sobre algum assunto, e seus sorrisos contagiantes foram pegos pela câmera de Danny. 

— Eu prometo que farei de tudo pra ver esse sorriso novamente. - disse Mac devolvendo o porta retratos ao seu lugar. - É o meu maior objetivo. 

Ele a olhou uma última vez e caminhou até a porta, saindo do apartamento. Stella suspirou, segurando as lágrimas que novamente formavam-se em seus olhos. Mac estava magoado, ela sabia disso. Ele também estava sofrendo com toda aquela história. 

Mal sabia Mac que aquele sorriso espontâneo e genuíno, ele conseguia colocar nos lábios dela sem qualquer esforço, simplesmente por estar ao lado dela. 

Continue...