NO GOD: But vampires yés escrita por Diego Farias
Notas iniciais do capítulo
Um pequeno interlúdio ou se preferir, uma pequena introdução para seguirmos explorando o primeiro dia dos protagonistas.
“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. João 8:23
― Dia sinistro, filho! Mais tarde vou fazer ovos mexidos para você.
“Oba!”. Eu poderia ter respondido, mas faziam três dias que eu estava completamente mudo. Ao ouvir a porta da frente sendo fechada, re-liguei o ar condicionado, me cobri com a minha colcha de retalhos e me virei para a parede azul caneta do meu quarto.
A imagem dos olhos do reverendo Maxwell queimando em chamas azuis não saía do meu pensamento. Era fechar os olhos e eu era transportado para aquele dia, aquela sala, aquele horror. Cada sentido meu (infelizmente) parecia ter registrado o momento. Eu podia ouvir os seus gritos, a sensação do medo escapando pelos poros da pele, o cheiro de carne queimada e o gosto amargo da culpa.
O Sr Portman nem conseguiu ser cético ao ver meu estado de nervos e aflição. Eddy tentou me acompanhar, mas os inspetores dispersaram ambos os grupos de estudantes em outras aulas, enquanto o reverendo era encaminhado para a enfermaria e eu para o gabinete do diretor. O lado bom que era só eu assinar a minha expulsão e fugir dali, mas aparentemente, eu só estava aguardando o meu pai perder um dia de trabalho, alguma grana ( as pessoas que trabalham nas indústrias de armamentos, ganham por produção), só para vir pegar o repudiado favorito dele.
Eu já descontava a minha raiva constante o suficiente nele, portanto, quando ele abriu a porta da diretoria abruptamente, eu apenas deixei ele me abraçar e deitei a minha cabeça no seu ombro. Ele tinha aquele perfume natural de pólvora e nitrato de prata, que não me incomodou pela primeira vez na vida ( por mais que tenha acionado a minha rinite alérgica).
O Sr Portman o chamou para sentar e ofereceu um café expresso, mas meu pai apenas sentou e começou a pedir desculpas por qualquer atitude rebelde e insubordinada que eu tivesse cometido. Eu me dirigi a um outro sofá acolchoado, super confortável e encarei a sala que era, no mínimo, exótica.
A sala era toda de madeira e cheirava a lustrador, cedro, salvia e eucalipto. Imagino que na parede deveriam estar quadros ou um papel de parede sério e não cabeças de licantropos e outras criaturas da noite.
― Você não foi castigado! ― disse ele no meio do almoço às 3h da manhã. ― Ele só vai dar um tempo para você se recuperar.
― Pai! Suspensão não é uma licença! ― ele voltou ao seu prato de ovos mexidos e macarrão e parou de tentar me animar. ― E tem algo sobre mim que eu deveria saber?
que a essa altura do campeonato estava claro de que havia algo errado. Eu sempre me senti estranho em relação a mim mesmo, portanto, nunca foi algo que realmente me incomodou, mas agora está de mais. Não é só uma porta de casa que ativa defesas quando me aproximo delas, agora tem pessoas que estão se machucando.
do meu destino misterioso cegar o reverendo, eu fui atacado por um vampiro na aula de laboratório. ― meu pai estava pegando uma garfada de ovos e ela caiu toda sobre o seu colo. ― E curiosamente, ele olhou pra mim e disse o nome da minha mãe.
pai arregalou os olhos, saltou da sua cadeira, derrubando-a no chão, deixou o seu prato de comida se espatifar no piso e por pouco não virou a mesa. Sua respiração ficou ofegante, a cor do seu rosto desapareceu e ele parecia que ia desmaiar a qualquer momento. Eu tentei me aproximar, mas ele estendeu a mão, pedindo para eu me afastar.
― Por quê um vampiro conhecia a minha mãe, Pai? ― eu não podia ficar engasgado com essa dúvida. Mesmo que ele infartasse, eu precisava saber a verdade. ― E por que ele... Parecia ter medo dela?
mãe era osso duro de roer. Era o tipo de mulher com uma infância ruim: Pai alcoólatra, agressivo, condição financeira ruim e muita revolta dentro de si, mas ela acreditava nesse Deus que nos abandonou, por isso, eu achei que eu e meu pai ficamos, porque adorávamos matar uma EBD ( escola bíblia dominical).
Meu pai arfava a procura de ar e o máximo que fiz por ele, foi ligar o ventilador de teto. Continuei de braços cruzados, aguardando a minha resposta.
Até que ele desmaiou.
Fazem três dias que ele faz ovos mexidos e só se despede de mim para ir trabalhar. Fez algumas horas extras para ficar mais tempo fora de casa e longe das minhas perguntas. E eu? Estou aqui, na minha cama, ouvindo o meu disk men, pensando em como seria interessante ter a resposta de alguma coisa.
― Alô! ― atendi o celular que vibrava pela nonagésima vez.
― Até que enfim, minha Joanna Dark! ― só Sany para me fazer rir num momento como esse. ― Sua sorte é que meus pais não me deixaram sair de casa, mas eu estava a ponto de fugir só pra saber como você está.
Esta é Sany Meyers. Uma amiga atenciosa e presente. Uma das poucas pessoas que resistiu ao meu mal humor crônico e de quebra, consegue me arrancar sorrisos e risadas.
Eu comecei a contar todos os eventos detalhadamente. Ela ficou em silêncio por tanto tempo que por várias vezes, achei que estava sozinho na linha. A partir do despertar do neófito, Sany começou a suspirar no telefone. Mais um pouco e eu poderia ouvir a adrenalina correndo pelas artérias dela.
― E foi isso.
― Isso? ― ela tinha um tom revolta em sua voz. ― Você passou por tudo isso e nem ao menos sabe o que o reverendo viu?
― O que você queria que eu fizesse? “Ah, reverendo Maxwell, sei que perdeu seus olhos por minha causa, mas poderia me contar por gentileza o que viu no meu futuro?”
Foi a primeira vez que nós dois gargalhamos depois da formatura. Por um momento, pareceu que toda essa confusão e desgraça, nunca haviam acontecido. Eram frutos da minha mente insana.
― Eu soube que o reverendo Maxwell já está em casa... Acho que podemos ir a missa no domingo, o que acha?
― Uma bruxa quer ir a igreja?
― É como diziam: Quem não vai pelo amor, vai pela dor, não é?
― No caso: A minha dor, né, Dona Bruxa?
― Day... ― o tom se tornou doce e fraternal de novo. ― Não é porque você é um repudiado do divino que significa que ninguém mais vai te apoiar!
Sim, ela sabe. Ela é a única que sabe.
― Agora, deixa eu te contar sobre o meu primeiro dia de aula.
― Encontrou, Satã?
― Ele não... ― meus olhos se arregalaram. ― Mas tinha algo satânico naquela estufa. Se você acha que é o único azarado e imã de confusão, Daynian Dilan, você está muito enganado. Deixe que eu te conte tudo sobre o meu casamento.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
O próximo capítulo é o meu favorito.
Aguardem.