A princesa Eunbi estava encarando o príncipe Seokjin, que se mantinha com suas mãos às costas logo atrás do rei Kim. Eu sabia que ele era mais velho que eu, lembrava das vezes que nos esbarramos durante as guerras, e apesar de minha altura se comparar a dele, eram suas mãos que continham mais sangue.

Príncipe Seokjin, era por quem a princesa Eunbi estava lutando. Nosso reino não era o mais pobre, se mantinha com um cuidado extremo para que não morresse completamente. Mas, assim que o Rei Choi se deu conta que sua rainha não tinha condições de voltar a engravidar, ele colocou a princesa em um longo e rigoroso treinamento, a preparando para o Campeonato da Moeda desde muito nova. 

O próprio Rei Choi não havia ganhado o último torneio, mas apostava tudo em sua filha. Apertei meu punho fechado ao lado do corpo. Ele a estava entregando para um homem qualquer por dinheiro, se eu pudesse...Me controlei e continuei ao lado dela. Ela precisava desse apoio, e a seguiria para onde quisesse.

— Sejam todos bem-vindos — o Rei Kim exclamou com um sorriso no rosto. — E, hoje, com a junção dos sete reinos que formam o que, um dia, foi o continente asiático, damos início ao Campeonato da Moeda.

Todos se mantiveram em silêncio, exceto o Príncipe Jungkook, que basicamente não respeitava ninguém. Nunca soubemos como o príncipe nunca foi castigado pelo pai por ser tão rebelde e impulsivo, mas mesmo com um humor ácido e obscuro, o Reino Jung carregava um dos títulos de maior pobreza, assim como meu reino,  e ainda conseguia ser muito mais bem elogiado que o reino mais rico.

— Venham todos, seus quartos já se encontram prontos — o rei voltou a anunciar. — Acomodem-se e, antes do grande jantar, teremos as explicações de todo o Campeonato.

O rei se virou e adentrou o castelo. O príncipe se manteve à frente da porta ao lado da princesa, que tinha o olhar entediado apontado para o nada. A princesa Sinb bufou, recebendo um olhar preocupado de seu irmão.

— Sejam bem vindos ao Palácio Kim, estarei a disposição para satisfazer seus desejos durante sua estadia em nosso lar — ela se pronunciou, com o mesmo rosto sem emoção de antes. Ouvi uma risada e o Príncipe Jungkook desmontou do cavalo.

— É mesmo, Princesa? — ele disse cruzando os braços. — Estarei com isso em mente!

— Céus, Jungkook — o Príncipe Hoseok exclamou, bufando.

— Como eu estava dizendo — A Princesa Sinb continuou, como se nada tivesse acontecido. — Cada reino receberá um grupo de empregadas que estará a disposição para agradá-los mediante suas acomodações — ela falou ênfase a última palavras, mirando o olhar para o risonho Príncipe Jungkook. — Contudo, qualquer um do reino Kim estará ao dispor, sintam-se em casa.

Ela fez uma breve reverência, junto de seu irmão e os dois se viraram, de braços dados, de volta para o palácio.

— Príncipes, princesa e cavalheiros — a mulher mais velha a frente das empregada, o que deveria ser a governanta do palácio, exclamou —, por gentileza, sigam-me.

Ela adentrou o palácio e a princesa Eunbi foi à minha frente, seguindo com seus príncipes. Olhei ao redor, reparando no Príncipe Jimin retornando a carruagem.

— Como vai Taehyung? — o Príncipe Jungkook se aproximou de meu lado direto, com o que respondi com um rosnado. — Ora, achei que Eunbi tinha um cavalheiro e não um cachorro.

— Serei o que ela precisar para sua proteção — sussurrei e ele riu, dirigindo o olhar para seu próximo alvo.

— Calma, Tae — murmurou o cavalheiro Mark, que cercava a Princesa do outro lado. Ele vinha de outras terras longínquas, mas havia ganhado minha confiança na zona de guerra quando nos conhecemos. Eu podia confiar a princesa a ele caso algo me acontecesse, e ele conseguia ser muito mais calmo que eu.

— É, calma — Jungkook murmurou, se afastando.

As empregadas enfileiradas começaram a ser dividas em seis grupos e o que eu imaginei ser a governanta do palácio veio a frente delas e se curvou em nossa direção.

— Sejam bem vindos ao Palácio Kim, como nossa amada Princesa Sinb falou, estaremos ao dispor — a mulher mais velha disse para todos. — As empregadas estão se dividindo para que estejam ao dispor específico de cada reino, me sigam para que possam estar se acomodando.

A mulher mais velha se virou e seguiu, os príncipes e a princesa começaram a caminhar, cada um com seus cavalheiros para dentro do palácio Kim. O hall era sofisticado, com tudo que fosse possível em mármore branco e brilhante. Tão limpo que nos refletia ao nosso redor diversas estátuas nos acompanhavam pelo longo corredor. A escadaria dupla era adornada por corrimões em detalhes dourados e passou pela minha cabeça se aquilo seria ouro verdadeiro. Ouro...céus, ouro ainda existia e nesse reino eles usavam apenas enfeitar o palácio.

— Suas altezas estarão alocadas no terceiro andar, onde se encontram apenas a realeza — a governanta exclamou, subindo as escadas.

Todos a seguimos, olhei para trás e algumas empregadas ficavam para pegar nos cavalos e carruagem a bagagem, enquanto alguns cavalheiros do próprio reino Kim levavam os cavalos para os estábulos. Então reparei que o Príncipe Jimin prosseguia de frente para a carruagem, examinando algo dentro da mesma.

Ainda havia algumas empregadas nos seguindo, e uma delas tropeçou no longo tapete, ao qual o Príncipe Hoseok segurou a mão, antes que ela caísse no chão.

Olhei novamente para a direção da Princesa Eunbi, que subia lentamente. Assim que passamos pelo primeiro andar, prosseguimos para o segundo. Os Príncipes começaram a seguir para o terceiro e, ao passo que a Princesa também continuou, segui ao seu lado.

— Meu senhor, não pode passar daqui — a empregada que estava ao lado de um cavalheiro do reino Kim me barrou na escada. — Somente a realeza visita o terceiro andar. Todos os cavalheiros ficarão acomodados no segundo andar do palácio.

— E quem irá me impedir de prosseguir? — olhei dela para o cavalheiro, que parecia tão jovem que não saberia usar a espada. — Não confio em nenhum de vocês para acompanhar minha Princesa.

A princesa Eunbi prosseguiu a subida e passei pelos dois, com a mão no cabo da espada a seguindo. Mark e todos os outros cavalheiros permaneceram no segundo andar, exceto os cavalheiros que estavam lutando como príncipes pelo seu reino, Yoongi e Namjoon.

Uma empregada acompanhou a princesa até seu quarto e saiu se curvando assim que entrei no quarto. Olhei ao redor e no corredor. Ali não havia nenhum guarda, nem mesmo empregadas perambulando, não permitiram que um cavalheiro permanecesse naquele andar, com certeza já haviam alertado sobre a quase invasão que fiz.

— Muito mais espaçoso que nossos cômodos, não é mesmo? — A princesa Eunbi pronunciou e eu a olhei.

Seu vestido branco e longo estava brilhando ao sol que adentrava pela janela. Linda, como sempre, ela parecia, naquele local tão luxuoso, uma verdadeira princesa. Ela não estava mais usando seu traje de montaria e nem no meio de uma batalha, com sujeira no rosto.

— Tae? — ela me chamou, franzindo a testa. — Está me ouvindo?

— Desculpe — pedi, sacudindo a cabeça —, estava pensando sobre esse andar. Não estarei aqui, não me deixaram passar.

— Sei me cuidar — ela disse com um sorriso no canto do lábios —, não precisa se preocupar.

— Me preocupo sempre, minha princesa — me aproximei dela e me abaixei, colocando um joelho no chão, e o outro mantendo dobrado com o pé no chão. — Qualquer coisa que desejar ou se sentir ameaçada, me alerte. Estarei sempre aqui, para sua alteza.

Ela então sorriu abertamente, e eu sabia que agora estava olhando para Eunha, e não para a princesa Eunbi. Sabia também que sempre que elas queriam me mostrar gratidão e sinceridade, aquela que conseguia lançar o sorriso mais brilhante saia para me cumprimentar. E isso fazia meu coração saltar.