A Blue Criminal escrita por Mayara Silva


Capítulo 6
O Gangster Azul


Notas iniciais do capítulo

Capítulo sobre a amargura do nosso gangsta preferido ♡ E o início de um sonho com a Annie ;D

Espero que gostem u3u



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“Olha o que você fez pra mim, baby. Eu não posso mais sorrir, baby.

E eu esperei tanto tempo apenas para seguir em frente...

Eu sou o gangster Azul.

 

O que você vai fazer? Você não é minha amiga.

Olha o que você me fez passar...

Agora que eu sou o gangster Azul.”

 

Boate Moon Park (atual) - 17:23 hrs

 

Os rapazes estavam esperando há um bom tempo. Prince nunca havia deixado Michael esperando por tantas horas, mesmo que o detestasse, sempre o atendia primeiro para se livrar logo de sua presença. E com a aparição de Calíope algumas horas atrás… aquele dia não seria mesmo corriqueiro.

 

— Que demora da po…

 

— Sem palavras feias na minha frente.

 

Murmurou Michael. Chris apenas bufou e cruzou os braços.

 

— Você é o único marginal politicamente correto que eu conheço.

 

— Também sou o único chefe que não te daria um tiro na cara por falar assim comigo.

 

— Hum… bem, é verdade.

 

Michael riu discretamente e o seu amigo o acompanhou.

 

— Ah, cara… o que você acha que aquela doida queria?

 

Ele suspirou e deu ombros.

 

— Não faço ideia.

 

— Fica esperto com ela. Aquela vagabunda quase ferrou sua vida, eu realmente não sei por que tu não deu uns pipocos nela.

 

Michael negou com a cabeça, detestava falar sobre isso. Mesmo não admitindo, ele não conseguia odiá-la a esse ponto. Não a amava mais, não queria tentar uma nova relação se assim tivesse chance, mas não conseguia se imaginar empunhando a arma para a mulher que um dia amou mais que a própria vida.

 

— Eu não ia ganhar nada, só mais um crime na minha ficha.

 

— Você quem diz… mas a Annie… ela, pelo menos, parecia ser bem legal.

 

Ele assentiu em concordância. Durante aquele papo, uma das funcionárias do Prince se aproximou.

 

— Senhores, Love Symbol está chamando.

 

— Finalmente…

 

Murmurou Chris. Michael se levantou, em silêncio, e seguiu em frente. Sua mente de repente começou a funcionar em uma velocidade absurda, estava pensando nas perguntas que faria, em como o abordaria…

 

Prince conhecia a Annie, Michael o faria contar tudo.

 

x ----- x

 

Nightclub Scape (8 meses atrás) - 23:57 hrs

 

“She always takes it with a heart of stone! 'Cause all she does is throws it back to me! I've spend a lifetime looking for someone...”

 

Mais uma vez frequentando as noites pecaminosas da cidade, Michael estava se apresentando em um de seus clubes noturnos preferidos. Não que realmente precisasse disso, mas a música era uma de suas paixões joviais e era com isso que queria ter trabalhado antes de se render ao mundo da facilidade. Além do mais, precisava alimentar o seu álibi. Ele precisava trabalhar em algum serviço lícito para manter a sua fachada de cidadão de bem. Uniu o útil ao agradável.

 

“Don't try to understand me. Just simply do the things I say...”

 

A guitarra rasgou o som, era sua deixa. “Give In To Me” foi o autoral que havia escolhido e, também, a música que mais o representava no momento. Para além de um amor perfeito, Michael agora não acreditava mais nessas coisas. Em relação a sentimentos, suprir seus desejos carnais passou a ser a única coisa importante.

 

“Love is a feeling! Give it when I want it… 'Cause I'm on fire! Quench my desire! Give it when I want it… Talk to me, woman! Give in to me...”

 

Michael realmente cantava com o coração, mesmo que não admitisse. Exceto quando estava com seu amigo, a música era a única atividade que o fazia sentir mais a si mesmo, que o fazia esquecer os problemas.

Pelo visto não era o único naquele sentimento, pois o público estava envolvido com a sua voz. Michael apresentou-se por mais alguns instantes e, em seguida, finalizou a canção e deixou o palco, logo após, acomodou-se em uma das mesas disponíveis.

 

Michael suspirou e descansou um pouco. Sentiu vontade de tomar uma bebida, não queria mais cantar por hoje. Felizmente uma funcionária se aproximou.

 

Era uma loira de cabelos curtos e pele bem clara. Ela se aproximou e apenas passou um pano em sua mesa de vidro. Michael arqueou a sobrancelha e aguardou que ela terminasse seu serviço, pelo visto era uma caloura.

 

— Ca-ham…

 

Pigarreou. Ela o encarou com seus belos e grandes olhos azuis, e por algum motivo aquele olhar doce e penetrante havia lhe deixado estagnado. Michael ficou em silêncio por um tempo, quase havia esquecido o que ia falar, todavia a mulher lhe despertou dos seus devaneios.

 

— Olá, ahm… a sua apresentação foi muito bonita.

 

Ao ouvir o comentário, Michael retornou do mundo inteligível e voltou para a sua carapaça amarga e solitária.

 

— Me traga uma margarita com pouco álcool.

 

Ela ficou sem reação por um tempo, mas logo voltou à sua realidade e assentiu. Se retirou para buscar a bebida, retornou momentos depois.

 

— Aqui está, senhor. Mais alguma coisa?

 

Michael fez um sinal com a mão, mostrando que ela estava dispensada, em seguida provou de sua bebida. A mulher assentiu e se retirou, estava acostumada com aquele tipo de cliente.

 

Passaram-se alguns instantes e o homem estava prestes a aposentar sua noite, tudo já estava começando a ficar monótono e as mulheres do ambiente não lhe atraíam o suficiente para gastar o seu tempo com elas. Ia tomar mais uma bebida e finalizar a estadia, mas olhou para o lado, para o outro, e não viu a garçonete, não viu mais nenhum outro garçom.

 

Isso porque estavam todos entretidos com a próxima apresentação: ela.

De repente, uma mocinha de pele clara e cabelos loiros curtos subiu ao palco. Ela parecia um pouco tímida, encolheu seus braços na frente do corpo e ficou ereta diante do microfone. Suas vestes eram as mesmas da garçonete que lhe atendeu instantes atrás, com exceção do avental que ela havia removido. Era ela.

 

“When I fall in love… It will be forever! Or I'll never fall in love...”

 

Sua voz era doce, suave e quase sussurrante, como se estivesse escondendo um segredo. A música era calma, relaxante, falava sobre um amor verdadeiro. Eram perspectivas tão diferentes de um mesmo sentimento.

Michael, como amante da música, estava impressionado com a sua técnica de canto, mas talvez outras coisas também tenham lhe chamado atenção… talvez fosse a alma que ela colocava ao entoar a melodia. Michael não sabia o que era, mas ela tinha alguma coisa diferente.

 

“When I give my heart… It will be completely! Or I'll never give my heart… And the moment I can feel that you feel that way too… Is when I fall in love... with you.”

 

Ao finalizar a canção, a mulher inclinou-se para receber os aplausos e se retirou em seguida, aos sorrisos. Ela tinha um sorriso lindo, e foi esse sorriso que Michael ficou observando enquanto a moça desaparecia para a parte escura do palco. Ele suspirou, não estava sentindo amor, era cedo demais para isso, mas aquela sensação era o início de um problema. 

 

Logo, instantes após a apresentação, estava a moça desconhecida novamente servindo os clientes. Pôs seu avental e partiu até o barman. Michael lhe fez um sinal e ela prontamente se aproximou.

 

— Sim, senhor?

 

Ele a encarou dessa vez.

 

— Me traga outra margarita com pouco álcool, e… sente-se aqui, eu quero falar com você.

 

Ela arqueou a sobrancelha, sem entender muito. Não queria ser rude com um cliente, mas não podia parar para bater papo, estava tentando manter aquele emprego. Ela engoliu seco.

 

— Eu…

 

— Diga ao seu patrão que eu sou da elite Azul. Se a falta do seu serviço é tão prejudicial assim para ele, diga que eu posso repor.

 

Ela já havia ouvido esse termo antes. Elite, Azul, Púrpura… sabia do que se tratava. Prontamente aquiesceu e assim o fez, Michael sempre conseguia o que queria.

Quando ela se acomodou, logo após lhe servir mais um coquetel, o homem lhe fez as perguntas mais básicas.

 

— Qual o seu nome?

 

— Er… Annie.

 

— Annie. Você cantou muito bem, desde quando se apresenta?

 

— Desde… alguns meses atrás. Eu acabei de sair de um emprego no outro lado da cidade, e estou tentando esse. Eu preciso complementar a renda.

 

Ele aquiesceu e tomou um gole.

 

— Por que escolheu essa música?

 

Ela discretamente mordeu os lábios e Michael logo percebeu, pois tinha o mesmo costume quando estava tímido ou apaixonado.

 

— Vários motivos… Marilyn Monroe cantava essa canção. As pessoas dizem que me pareço com ela, então resolvi pesquisar suas músicas, e descobri que tínhamos mais coisas em comum do que pensei.

 

Ela deu ombros e riu discretamente.

 

— Mesmo se tornando um símbolo sexual, ela ainda desejava um amor verdadeiro. Acho que sou um pouco assim… ainda sou um pouco sonhadora.

 

Ele ouviu sua história em silêncio, enquanto tomava um gole de sua bebida.

 

— Isso é um pouco fantasioso. Pelo visto, você ainda não se feriu muito nessa vida.

 

A garota negou com um balançar de cabeça.

 

— Você nunca amou de verdade? Porque eu me conheço o suficiente pra saber quando eu estou amando de verdade. Acontece que, às vezes, a outra pessoa só está... apaixonada… o que é bem diferente.

 

Ele ficou em silêncio, refletindo sobre aquelas palavras.

 

— De certa forma…

 

Tomou mais um gole, um definitivo, finalizando o coquetel. Annie ficou o observando, Michael custou um pouco a perceber seu olhar fixo a ele.

 

— O que foi?

 

Ela lhe deu um fraco sorriso.

 

— Eu entendo você… também não tive experiências muito boas.

 

Michael discretamente franziu o cenho, pensava se isso realmente estava tão escancarado assim em sua cara. Para além, suspirou, suas frustrações eram mais complexas que qualquer problema bobo que ela poderia ter tido e não era algo que estava a fim de compartilhar com uma desconhecida.

 

— Meus problemas são bem mais complexos que qualquer bobagem que você tenha passado. Agora vá embora, não lhe chamei para ter pena de mim.

 

Annie surpreendeu-se com aquela resposta. Suspirou e assentiu, não podia fazer muito senão aceitar, querendo ou não ele ainda era um cliente. Michael percebeu seu incômodo, não que ligasse muito, mas normalmente as mulheres com quem já saiu não se importavam com aquele seu jeito rude, elas até gostavam. Ela era diferente.

 

— O que ainda está fazendo aqui?

 

Indagou. Annie negou com um movimento de cabeça, não queria chorar, mas não se conteve, derramou lágrimas silenciosas. Michael já estava impaciente, imaginava que havia a magoado única e exclusivamente por suas palavras, o que não lhe trazia o mínimo interesse, mas as cicatrizes eram mais profundas. O que ele não sabia era que ela já estava muito machucada por dentro, assim como ele também estava. Bastava apenas um pequeno gatilho para que tudo viesse abaixo.

 

— Mafiosos… nunca vi diferença entre um e outro.

 

Disse, na sua cara. Michael a encarou com um pouco de espanto, estava surpreso pela sua ousadia. A única explicação plausível para isso era que ela ainda não havia entendido estar conversando com um gangster, mas algo dentro de si dizia que aquela garota sabia sim o que estava fazendo.

 

— Mesmo?

 

— Sim. São grosseiros e acham que podem falar com os outros do jeito que querem.

 

Ela se levantou, parecia bem familiarizada com aquele meio.

 

— Você me perguntou por que eu escolhi aquela música. Eu a escolhi porque ainda acredito no amor, e porque, se eu tiver a honra de encontrá-lo mais uma vez, sei que, da minha parte, será verdadeiro. Agora, se me permite… eu preciso voltar ao trabalho.

 

Assim que a mulher se levantou, Michael também o fez, a observando se afastar.

 

— Você sabe com quem está falando?

 

Indagou com firmeza, mas manteve a calma. Ela não conseguiu evitar um sorriso, parecia já esperar por aquela frase. Virou-se e o encarou nos olhos.

 

— Um gangster. E o que tem? Você acha que eu nunca falei com um? Já estou cheia de problemas de gangues nas costas…

 

Finalizou aquela conversa e se retirou, voltando ao seu trabalho. Michael ficou a observando se afastar. Aquela mulher era ousada demais e parecia ter vivenciado muitas coisas, talvez algumas parecidas com sua história. Pensava que, provavelmente, sua ousadia significasse que não tinha nada mais a perder. Naquele momento, ele não conseguiu sentir raiva de suas palavras, mas elas lhe fizeram refletir sobre quem ele foi e quem ele estava sendo agora. Ele estava se perdendo.

 

Embora desconfiasse, Michael mal sabia que, de fato, isso seria o início de outro problema. Annie estava abalando o seu mundo.

 


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:

Seguiu e, ao chegar, falou com o patrão e foi se acomodar em uma das mesas. Queria cantar naquele dia, mas ainda estava decidindo qual seria a música. Annie se aproximou e limpou a mesa em que estava. Entre todos aqueles clientes, ela havia escolhido justamente sua mesa, parecia proposital.

— Boa noite.

Disse ela.



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