As Long As I Have You escrita por Buttercup


Capítulo 9
Nada É Por Acaso




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POV BUTTERCUP

Finalmente cheguei em casa. Nem acredito. Todo o discurso do Butch ficou martelando na minha cabeça. E quando estou com ele, sinto como se estivesse com o Ace. Isso é muito estranho. Nunca senti isso. Parece que ele passa segurança para mim, de alguma forma.

Balancei a cabeça, tentando afastar toda aquela maluquice da mente. Mas não era tão fácil assim.

Tinha começado uma chuva fraca, mas eu nem cheguei a me molhar. Estava já dentro do meu quarto, fitando as gotículas de chuva escorrendo pelo vidro da janela.

Suspirei, meu coração queria me dizer algo mas eu não estava entendendo direito o que era. Todos os acontecimentos dos últimos tempos têm sido inacreditáveis. Mas como o Professor sempre diz: “Nada é por acaso.” Talvez eu possa acreditar mais no destino, afinal.

Mas quando eu penso em amar de novo, me retraio, fico com medo. Tento usar a minha casca grossa para me proteger. Mas infelizmente, é só fachada. A única pessoa que sabe o que sinto de verdade é o Butch. Antes era o Ace, mas é como se eles fossem a mesma pessoa.

Observei minhas irmãs chegando em casa de ônibus. Observava a Blossom toda irritada por ter molhado seu cabelo e Bubbles, por ter molhado seus sapatos novos. Eu dei risada, pensando como aquilo não me pertencia mais. Antigamente, eu era assim. Preocupada com o cabelo, roupas, calçados, até maquiagem. Mas mudei radicalmente após… vocês sabem.

Sou tirada dos meus pensamentos com uma batida na porta do quarto. Quando abri a porta, levo uma travesseirada na cara. Bubbles e Blossom geralmente fazem isso.

— Oiii, maninha! - Bubbles soltou um gritinho aguda que quase me deixou surda. - Saudades!!

— Saudades do que? Nós nos vimos antes de irmos para a faculdade, pô. - Respondi, meio ríspida. Eu falava assim com elas, mas ainda bem que nunca me deixaram sozinha por causa disso.

— Queríamos ver como estava nossa esquentadinha. - Sorriu Blossom, sentando-se na minha cama. Bubbles imitou ela, sentando-se do meu outro lado. - O Professor disse que você mal cumprimentou ele quando voltou.

— Ah, é que estou com muitas coisas na cabeça.

Mentira não era, eu estava mesmo com muitas coisas na cabeça. As duas se entreolharam e sorriram para mim.

— É um garoto? - Indagaram em uníssono, para minha falta de paciência.

Respirei fundo.

— Mais ou menos. - Disse, cruzando os braços. - É meio que o Ace.

As duas sumiram rápido com o sorrisinho. Se entreolharam novamente e pareciam não ter mais nada a me dizer. Já comentei que detestam quando elas se entreolham e eu fico boiando?

— O Ace de novo? - Blossom começou a dizer, com uma voz calma. - Ai, maninha… Ainda não superou o que houve, né? - Ela não estava dando bronca, estava tentando me consolar.

— Mas dessa vez é diferente. Não é bem o Ace… É meio que… É como se fosse ele, mas é outra pessoa… Tá ligada?

As duas fizeram uma careta. Blossom achou que eu estava ficando louca.

— Acho que mais algumas sessões de terapia não fariam mal. - Minha irmã ruiva disse, olhando fundo nos meus olhos.

— Não precisa! - Falei, erguendo meu tom de voz. Eu já estava perdendo a paciência (que novidade). - O que quero dizer é que tem um cara na minha sala que foi salvo pelo Ace antes de morrer! E que de vez em quando, o Ace entra no corpo dele!

Não era para eu ter dito a última parte. Ninguém acredita nessas coisas. Minhas irmãs pareciam chocadas demais para dizer alguma coisa. Me xinguei mentalmente, me questionando o porquê de eu ter falado aquelas coisas para elas.

— Acho que a saudade está fazendo você delirar. - Blossom tocou minha testa para ver se eu tinha febre. - Febre você não tem.

Bubbles não disse uma palavra, mas seu olhar era de compaixão.

— Vamos marcar uma sessão com o Cleyton. - Bloss cruzou os braços, tomando a decisão por mim.

Cleyton é o psicólogo da família. Ela é negro, homossexual, mas muito divertido. Eu adorava ele. Mas nesse momento, achava que eu mesma tinha que resolver meus conflitos.

— Boa noite, Butter. Vê se não encana com isso, tá? - Blossom me abraçou e levemente me deu um peteleco no ombro. A ruiva pegou seu travesseiro para levar de volta ao seu quarto. O de Bubbles continuava jogado no chão.

— Tá, tá… - Dizia eu, tentando tirá-la do meu quarto logo. Eu sabia que ela se preocupava comigo, mesmo sendo desse jeito.

Antes de sair, Bubbles ficou me olhando.

— Butter, se quiser conversar comigo, eu estarei com você. - Minha irmã loira pegou nas minhas mãos, tentando passar confiança.

Vi nos olhos dela que ela estava falando a verdade.

— Você… Acredita em mim, não é, Bubs? - Eu estava quase chorando de emoção por pelo menos uma pessoa acreditar na minha história maluca.

Ela não disse nada, só assentiu com a cabeça, arqueando a boca para o lado, formando um sorriso. Aquilo para mim era o suficiente para me reconfortar.

— Valeu, Bubs. Pelo menos você. - Sem pensar duas vezes, eu a abracei. Era bom ter alguém para contar.

— Não acho que você esteja ficando louca. Mas por via das dúvidas, seria bom ver o Cley mais uma vez.

— Tá bom… Eu vou. - Eu assenti, apertando um pouco mais o abraço. - Bubbles?

— Sim?

— Fica assim mais um pouco, por favor.

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POV BUTCH

No sábado era o dia em que eu ia jogar futebol com meus amigos. Acordei relativamente cedo. O cheiro de álcool invadiu a casa e eu fiz ânsia de vômito. Brick e Boomer estavam deitados no chão, com várias garrafas espalhadas por perto. Não sei como esses caras foram ficar desse jeito.

Aquilo me lembrou que o Ace frequentava muito nossa casa. Ele contava piadas, jogava videogame e até incentivava a gente a beber. Mas quem mais gostou dessa vida “bandida” foram aqueles dois. Claro que eu não recuso uma cervejinha de vez em quando.

Calcei minha melhor chuteira e analisei meu rosto. Eu mal tinha dormido, então estava com olheiras. Mas eu não iria conseguir dormir num momento desses.

O sol lá fora brilhava e o ar era puro. O campo de futebol é bem perto da minha casa. Quando cheguei lá, havia alguém. E estava jogando sozinho.

Os dribles dele… Eram bem parecidos com os do Ace. Ele me ajudou a melhorar minhas jogadas. Caramba, eu sinto muito a falta dele. Talvez não tanto quanto a Buttercup, mas ainda assim…

Me aproximei um pouco e quando o misterioso jogador de capuz se virou, eu pude ver o rosto dele. Ou melhor, dela.

Era a Buttercup. Estava ofegante por estar jogando sozinha, fazendo todo o trabalho por conta própria. Mais uma vez, não era por acaso. Aquilo estava destinado a acontecer.

— Oi, Buttercup. Beleza? - Tentei parecer casual, dando o punho para ela.

— Beleza, e você? - Ela retribuiu meu cumprimento e eu sorri.

— Tô de boa. - Disse eu, me aquecendo. - Vamos jogar uma partida?

Sentamos em um banco. Ela ficou um tempo em silêncio e por um instante, achei que ficaria no vácuo. Mas aí, ela falou, numa voz meio rouca:

— Esse campo...

Me virei para ela, um tanto surpreso e curioso com o que ela falaria em seguida.

— Foi o campo que o Ace me ensinou a jogar futebol. - Disse ela, com um sorriso triste. - Eu era muito ruim no começo, mas até que mando bem agora.

Assenti com a cabeça, em solidariedade a ela. Tentei imaginá-la no começo, perdendo dribles e tomando gol. O Ace era um ótimo professor.

— Aqui ele me ensinou várias jogadas, também. - Confessei.

Ela se virou para me olhar.

— O Ace era muito especial, não é? - Os olhos dela brilhavam. Ela estava prestes a derramar lágrimas.

— Com certeza.

— Então, por que ele tinha que partir tão cedo? - As lágrimas começaram a escorrer e molhar o rosto dela.

Limpei algumas lágrimas com o dorso da minha mão, tentando fazê-la se sentir melhor. Mas parecia que nada era melhor do que botar para fora.

Abracei ela, apertando de leve. Ela começou a chorar de verdade, berrando de dor. Era a dor da saudade, eu conhecia bem isso.

— Por que ele não vai mais voltar? Por que? - Ela indagava entre soluços.

Eu a trouxe para mais perto, acariciando seus cabelos e apertando o abraço. Acariciava de leve suas costas, para indicar que estava ali com ela.

Então, algo sobrenatural aconteceu novamente. Eu senti aquele vento estranho de novo. Esvoaçando as folhas das árvores e nossos cabelos, algo aconteceu. Ace veio para meu corpo, mais uma vez.

Quando abri os olhos, já era ele quem estava fitando a Butter.

— Meu Docinho, não chore mais. - Disse eu (ele), acariciando o rosto dela.

— A-Ace? - Ela podia ver nos meus olhos que agora era o Ace quem estava diante dela, mesmo em meu corpo.

Ela o abraçou forte e chorou mais ainda.

— S-Sinto tanto a sua falta! S-Simplesmente, não consigo te esquecer! - Dizia ela, soluçando e fungando muito. - Eu nunca mais vou amar ninguém!

Ace tirou a franja do olho dela e tocou sua nuca. O cabelo dela era curto, o que facilitava para ele tocar em sua nuca.

— Não diga isso. - Ace começou dizendo. - Não acabe com sua vida por minha causa. Não é o que quero para você.

— Mas eu não consigo ficar sem você… Eu só amo você, Ace, só você!

— Por enquanto, isso é verdade… - Suspirou ele. - Mas em breve, um milagre vai acontecer. E você vai amar alguém novamente. E está perto de acontecer.

A Butter ficou chocada e cobriu a boca com as duas mãos.

— Não quero trair você.

— Mas não é traição, Docinho. - Ele disse, docilmente e sorrindo para a garota. - Você tem meu consentimento. Não há nada de errado em amar outra pessoa.

— Mas eu não quero te esquecer… Você foi meu grande amor!

— E você, o meu, Docinho. Mas você deveria dar uma chance para o Butch. Ele cuidará bem de você, assim como eu. - Dizia ele. - Você está começando a gostar dele, não é?

— E-Eu não… E-Eu não poderia…

— Docinho. Não quero te ver sofrendo por mim. Já é hora de seguir em frente. Confie seu coração ao Butch. Ele é de confiança.

Fechei meus olhos. Sabia que Ace sairia agora do meu corpo.

— Ace! ACE! - Gritou ela, soluçando e chacoalhando meu corpo. - Fala comigo! Não vá embora!!

Eu havia despertado naquele momento. Ela estava com o rosto todo molhado de chorar. Não combinava com ela. Eu preferia quando ela estava com aquele sorriso travesso e sapeca.

— Buttercup. - Eu disse, baixinho. - Não chore mais.

Eu toquei o topo de sua cabeça, bagunçando de leve seus cabelos negros e curtos. Ela me encarou, como se eu tivesse uma doença contagiosa. Me assustei e não sabia o que esperar em seguida.

— O Ace tem razão. - Ela esboçou um tímido sorriso. - Acho que devo dar uma chance para você.

Eu não tinha entendido muito bem o que ela quis dizer, mas em seguida, já tinha entendido o recado. Delicadamente, ela segurou nos meus ombros e se aproximou meio hesitante. Nossas respirações ofegantes se misturaram e quando percebi, estávamos com os lábios colados. Aquilo acendeu uma chama dentro de mim e percebi que aquilo estava destinado a acontecer. Há muito tempo, eu venho procurando por essa sensação e finalmente encontrei. Graças a ela, Buttercup, e graças a ele, o Ace.

Meu coração estava descompassado, assim como a minha respiração. Mas eu não queria estragar um momento tão puro e doce como aquele. Ace tinha confiado sua ex-namorada para mim e eu não ia decepcioná-lo nesta missão. Eu iria cuidar dessa garota pelo resto da minha vida. Iria protegê-la da forma que pudesse, já que conhecendo ela, sabe se defender bem sozinha.

Entrelacei meus dedos nos dela e continuei beijando-a, sentindo muito mais que apenas desejo. Eu sentia que realmente amava cada pedacinho dela. Desde os defeitos até as qualidades. Queria juntar todos os pedacinhos quebrados dela e colá-los. Queria consertar seu coração, sua vida, sua alma. Eu sentia que estava amando um anjo, pois a sensação que eu estava sentindo era inexplicável. Parecia alguma coisa divina, de Deus.

Obrigado. Muito obrigado por me permitir essa graça.” - Pensei com meus botões. Não sei se agradecia a Deus ou a Ace. Decidi agradecer aos dois.

Quando nos desgrudamos, ansiando por ar, nos encaramos totalmente sem jeito. Rimos nervosamente, enquanto brincávamos com os dedos. O rosto dela estava corado e acredito que o meu não está diferente.

— Você… Vai me dar uma chance? - Resolvi arriscar em perguntar.

Ela assentiu com a cabeça, sorrindo emocionada.

— É a primeira vez que arrisco amar alguém que não é ele. - Continuou ela, ainda sorrindo. - Eu sei que não nos conhecemos há muito tempo, mas… Já sinto algo forte por você.

— Estivemos ligados todo esse tempo, só esperando para nos encontrarmos. Só que o momento era agora. - Eu sorri ao vê-la tão radiante e linda naquele momento.

— Nada é por acaso, afinal. - Ela comentou e eu concordei com a cabeça. - O destino nos uniu.

Eu me aproximei e beijei a testa dela, em sinal de respeito e carinho por ela.

— Quando você me beijou… Senti o Ace comigo. - Ela murmurou, corada.

Eu fiquei meio ofendido e enciumado. Talvez ela lembrasse dele se ficasse comigo. Mas ao vê-la tão feliz, resolvi apenas deixar assim. Se ela estava feliz, era o que importava.

— E aí? Vamos jogar? - Quebrei um pouco do clima romântico, pois eu estava super envergonhado, confesso.

— Bora. - Ela fez sua cara desafiadora que eu adoro.

E assim, começamos a jogar. Naquele dia não apareceu mais ninguém no jogo. Por que eu acho que tudo foi armado para nos deixar à sós?

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