As Long As I Have You escrita por Buttercup


Capítulo 2
Recomeçar




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Segunda-feira, 06 de maio, 13:06, casa das meninas

POV BUTTERCUP

Minha vida anda tão entediante. Eu sei que tá todo preocupado comigo, mas eu acho que um dia minha agonia vai passar.

Nada consegue me prender por muito tempo. Mas mesmo assim, tô praticando karatê às sextas-feiras e jogo futebol de vez em quando com meus “amigos”. Amigos, pff. Como se eu precisasse de alguém. Algum dia eles irão embora e eu vou sofrer de novo. A trouxiane vai se esvair em lágrimas.

Sorte que agora eu mudei, não tô mais chorona e nem toda sensível. Eu tô casca grossa, durona mesmo e dane-se.

Eu tô sem nada pra fazer hoje, o que é um saco, pois eu quase só fico em casa. Talvez devesse mesmo fazer uma faculdade como aconselha o Professor, digo, meu pai.

Não sei o que iria combinar comigo. Antigamente, queria algo que envolvesse escrita. Mas agora, já sou mais fã de esportes. Acho que devo arriscar. Não tenho nada a perder mesmo. Bom, só dinheiro mesmo.

— Pai. – Vou até ele em seu laboratório subterrâneo, que por sinal está escuro porque uma das lâmpadas está queimada.

— Diga. – Ele dá uma baforada de cachimbo e tira os olhos do experimento para poder me olhar.

— Vou fazer faculdade.

Ele deixou cair o cachimbo no chão de tão surpreso que ficou com minhas palavras.

— É verdade mesmo? – Perguntou, colocando as duas mãos sobre meus ombros, o que era irritante. Poxa, parece que tô zoando? Não tenho capacidade para ser universitária? – Ninguém te forçou?

— Ninguém me forçou. Eu só faço o que eu quero. Você sabe. – Falei meio seca pra ele, com um rosto indiferente.

— É, eu sei... – Ele assentiu, porém sorriu. – Mas é ótimo que esteja pensando em se formar em algo, querida!

— Só vou fazer pois estou entediada. – Dei de ombros, e ele abafa um suspiro decepcionado. – Vai me distrair, certo?

— Certo. – Ele dá um sorriso amarelo. – E qual o curso que minha Buttercup escolheu?

Dei de ombros, como se isso fosse o de menos nessa história. Bom, na verdade era. Não falei nada até ele perguntar de novo.

— Vou fazer uma coisa que eu gosto. – Respondi depois da segunda pergunta. – Vou fazer por prazer, não para trabalhar.

— Já é alguma coisa. – Sorriu meu pai. Parecia aliviado que eu finalmente “amadureci”. Eu discordo disso. Sou uma cabeça de M.

Não acredita em mim? Pois vou provar. Depois que aquele lance aconteceu com o Ace, eu fiquei deprezona. Aí eu abusei do álcool, confesso. Claro, sem ninguém saber. Também acabei experimentando o tal do narguilé. A sensação na hora é ótima, mas depois me arrependi, pois me deu dor de cabeça das brabas.

Pichei o muro da escola, quebrei parte do patrimônio público, roubei... Enfim, fui uma delinquente juvenil. Bom, o Ace quando tinha minha idade costumava fazer isso, mas parou. Parecia que ele estava agindo sobre meus atos e eu tava fora do controle. Só tava dane-se para tudo, mesmo estando errada.

Mesmo contra minha vontade, me inscrevi no processo seletivo na mesma universidade que a Bubbles e a Blossom. Uma faz veterinária e a outra faz direito. Já eu sempre fiz tudo errado, se é que me entendem.

O Professor estava tão feliz que foi fazer o jantar cantando, como há muito tempo não tinha visto.

— Oi, pai. – Sorriu Blossom ao entrar na cozinha e estranhar ao vê-lo cantando e dançando. – Ih, que foi? Algo bom aconteceu?

— Algo maravilhoso aconteceu! – Ele a beijou na testa. – Nossa Buttercup vai pra faculdade!

— Sério mesmo? – A Blossom parecia não acreditar, mas acho que estava feliz por mim. – Nossa! Conseguiu convencê-la?

— Claro que não, estrupício. – Mandei um “elogio” logo de cara. – Eu vou fazer porque eu quero e pronto.

— Isso tá muito estranho... – Aquela ruiva parecia desconfiada mas tô nem aí. Já decidi e não há nada que ninguém pode fazer.

Logo a Bubbles chegou lá também e tivemos que explicar a história TODA de novo. Também parecia não acreditar, mas ao mesmo tempo, estava feliz por mim. Minha família se importava mais comigo do que eu imaginava. Por isso que eu só preciso deles e de mais ninguém.

— Quando você vai começar, Butter? – Indagou Blossom, enquanto comia um pouco da macarronada.

— Vou ter que fazer a matrícula amanhã, levar documentos e tals... – Respondi, tomando um pouco de suco de laranja, deixando um bigode.

— Tá animada? – Bubbles indagou.

— Ah, sei lá. Tô normal. – Respondi, porém eu tava nervosa sim. Em muito tempo que a minha vida não acontece algo de “bom”.

Eu confesso que mal dormi naquela noite pensando no que eu teria pela frente. Enfim, tomaria juízo. Ou não, né? Não é porquê sou universitária que vou me comportar. Mas ainda assim, vou precisar estudar. Seria muito legal aprender todas as técnicas para jogar algum esporte profissionalmente.

Imagino como serão as coisas por lá. Os alunos, os professores, o campus. Só vi a universidade por fotos e por fofoca das minhas irmãs. Mas entrar lá, nunca entrei.

Antes de dormir, sempre vou até a janela e contemplo o céu. Rezo em segredo para que onde quer que Ace esteja, que esteja bem. Eu ainda o amo e a saudade que sinto dele aperta meu peito e me machuca. Eu às vezes derramo algumas lágrimas de saudades.

— Oi, Ace. Como você está? – Junto minhas duas mãos e me ajoelho para rezar. Já sinto os olhos arderem. – Vou fazer faculdade de educação física. Legal, não é? Pena que você não está aqui... Poderíamos ir juntos ao campus.

Me lembrei que na época de sua morte, Ace fazia faculdade de música. Estava em seu último ano. E estudava na mesma universidade que eu irei. Vai ser como se ele estivesse lá sempre comigo.

Não digo à minha família que “converso” com o Ace. Falar dele aqui em casa é praticamente proibido. Para não deixar ninguém mal, principalmente eu. Então, evitamos de falar dele. Mas religiosamente, falo com ele e rezo por ele todos os dias. Não deixei a religião de lado. Bom, na época me revoltei contra Deus, mas foi tudo resolvido. Fui ao psicólogo da família que me deu algumas dicas. Mas eu acho que um dia, a dor vai sumir por completo. Mas ainda sinto que algo em mim mudou. Abri os olhos para uma nova vida.

— Espero que eu goste do curso e de tudo por lá... Promete que não vai me abandonar? – Eu sempre faço essa pergunta pra ele e parece que ouço a resposta: “Nunca, Butter, eu te amo.” – Também te amo, muito...

Começo a chorar um pouco. As saudades ainda machucam. Não faz nem um ano que aquilo tudo rolou e eu pareço que ainda vivo aquele dia terrível que queria apagar da memória. Mas está tudo tão recente e tão vivo na memória... Parece que queima dentro do meu peito e dentro da mente.

POV BUTTERCUP OFF

O Professor, Blossom e Bubbles estavam atrás da porta ouvindo o que Buttercup dissera e derramaram algumas lágrimas. Aquela garota ainda estava machucada e sofria em silêncio. Criou uma casca grossa, porém ainda era alguém sensível com sentimentos. E o mais importante, não havia esquecido de Ace, o namorado que tanto amava, que havia sido arrancado brutalmente do seu lado, mas não de seu coração e sua memória.

— Boa noite, Ace. – Foi o que eles ouviram a morena dizer por último com uma voz mais doce, antes de apagar a luz.


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