Como tudo deve ser escrita por Carol Bandeira


Capítulo 4
Esperar


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Grissom caminhava com Jim Brass pelos corredores do laboratório. O detetive podia ver que seu amigo já vira dias melhores. Sua aparência era a de cansaço extremo, e Jim sabia que o homem não saía do laboratório há uns dias.

—Então... você vem dobrando muitos turnos essa semana.

—É... é só isso que tenho feito- o supervisor não desmentiu o amigo, e Brass não estava esperando tanta honestidade dele, o que o preocupou ainda mais.

— Você tem falado com Sara ultimamente?- ele acertou na lata. O problema era que a noiva do entomologista estava longe e para piorar, incomunicável. Coisa que ela havia prometido não fazer: o deixar sem notícias.

—Nós nos falamos brevemente.

—Então, onde ela está?

—Ela está em São Francisco, visitando sua mãe.

— Você sabe... onde ela está com relação a vocês dois?

—Eu não posso falar por ela...

—Então fale por você.

ele acreditava que eles estavam apaixonados, que iriam se casar e construir uma família para eles... mas se sua noiva não podia nem atende-lo ao telefone.. bem, ele não sabia de mais nada.

—Eu... não posso falar... estou muito ocupado.

E bateu em retirada. Aquela conversa o estava matando. Ele nunca conseguira se abrir emocionalmente com ninguém. Doía demais quando ele tentava, e aquela situação, o fato de não ter contato com a única pessoa que poderia tirá-lo da sua miséria... bem, era demais para ele.

Foi mais para o fim do dia que aconteceu. Grissom, exausto e angustiado com toda aquela falta de contato, sentou-se em sua cadeira no trabalho e , num ato desesperado, começou a ligar incessantemente para o celular de Sara. Aquilo estava o levando para uns meses antes, exatamente no dia em que Sara fora raptada por Natalie Davies. Ele ligava, ligava e nada de atender. Até que finalmente...ela atendeu. Só não era quem ele esperava....

—Laura...mas o quê... onde está Sara? O que houve?

Gil já estava se levantando e preparando-se para partir para o aeroporto, sem mala nem nada.

—Senhor Grissom... eu não sei...eu só sei que ela precisa estar com o senhor..

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Quando Sara saiu da casa da mãe, foi para andar a esmo pela cidade. Ela não sabia qual o caminho tomar, só o que conseguia era pensar em colocar a maior distância entre ela e sua mãe o possível. Afinal, como pudera ser tão burra? O que achou que iria ouvir de Laura? Que ela a amava e que sentia muito por tudo o que ela fizera a filha passar? Que se ela pudesse apagaria todo o passado e elas viveriam uma vida feliz?

—Estúpida, estúpida, estúpida!

Sara finalmente parou de andar. Quando se deu por si, percebeu que havia caminhado quase uma hora! Cansada, a morena procurou uma loja para comprar uma água para beber. Na geladeira da loja, além das garrafas de água, packs e packs de cerveja gelada. Uma tentação. A mesma que levou seu pai à ruina... saiu da loja sem levar nada. Na loja da frente havia uma empresa de locação de carros. Ela não pensou duas vezes.

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Mais de 24 horas depois de deixar seu quarto de hotel, Sara retorna para o aposento, pensando em duas coisas. Um banho e a cama. Talvez tivesse forças de ligar para Grissom antes de dormir, mas não iria se preocupar muito com isso. Não conseguia, na verdade.

Então, qual não foi sua surpresa ao adentrar no aposento e dar de cara com o noivo sentado em sua cama!

—Grissom...! Meu Deus, que susto!

O homem não respondeu com palavras. Seu único ato foi se deslocar até ela e abraça-la com força. O ato levou o casal, já emocionalmente instável, às lágrimas.

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— Eu só consegui pensar nisso... será que eu sou tão impossível de amar assim? Tão difícil que nem meus pais, meus próprios pais não conseguiram?!

—Sara...- a ideia era tão ridícula que Grissom teve vontade de rir, mas se segurou- você é a pessoa mais amável da face da terra...

—Não é assim que eu me sinto, Gilbert!- Sara, que estava deitada sob o peito de Grissom , sentou-se rapidamente. Aquela conversa estava a pondo nervosa- Não quando ouço da boca da minha própria mãe que ela não me amou... ou quando lembro o quanto você demorou para aceitar sair comigo. Parece que eu ...

— Amor, vem cá- Gil a puxou pelo braço e ela se acomodou nele novamente, enfiando o rosto no pescoço do amado- Eu não posso dizer pelos outros, mas... da minha parte... você é tão fácil de amar... honey, eu  te amo desde que te conheci! Isso nunca foi o problema... você não é um problema... é a melhor parte de mim- para coroar sua fala, Gil deu um beijo no topo da cabeça de Sara- Na verdade, o problema nunca foi com você, e sim comigo... você sabe disso...

— Como eu poderia saber? Quando você me rejeitou... ou quando minha mãe escolheu sofrer aqueles anos todos sem pensar em mim... ou em todas aqueles pais que iam aos lares adotivos e nunca olharam duas vezes para mim?

— Sua vida não foi fácil, mas isso não invalida a boa pessoa que você é, Sara- Gil poderia tentar negar a fala de Sara, ao menos a parte que dizia respeito a ele. Mas sabia que não era a hora. Do relacionamento deles ele cuidaria mais tarde- Ou transforma você em uma pessoa que não mereça ser amada. Sua mãe fez escolhas horríveis, e hoje ela entende que o fez por não saber amar... é isso o que ela quis dizer honey...

— Não deveria ser tão difícil amar a própria filha- Sara estava exausta, e se deitou novamente nos braços de Gil. Ela só queria que ele a segurasse e não deixasse mais partir.

— Não deveria- ele deu um beijo no topo da cabeça dela- Mas também não deveria ser difícil amar a si próprio, e isso é algo extremamente difícil, não é? Tem pessoas, e isso eu falo com experiência, que não sabem amar... e acabam por magoar os outros. Mas nunca é culpa de um ou do outro... as pessoas são simplesmente assim. E é preciso um processo para que isso melhore... você, por exemplo.... eu aprendi a amar porque você chegou na minha vida. Sara- Gil se sentou e fez Sara fazer o mesmo, para poder olhá-la nos olhos- Eu te disse mais cedo e repito. Você é a pessoa mais fácil no mundo de amar. Eu vivi uma vida inteira antes de você, e de repente... você chegou e eu me encantei... nunca pense que é você quem não merece ser amada, pois isso esta muito mais do que longe da verdade...

Gil enxugou as lágrimas dos olhos de Sara e a trouxe novamente para o seu abraço. Ele só esperava que algo do que ele falou tenha registrado nela.

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Laura não sabia o que esperar quando atendeu o telefonema de Grissom aquela tarde. Preocupada como estava com a filha achou ser o menor dos males invadir um pouco a privacidade dela. Só não contava que fosse ficar ansiosa como estava por respostas. Além de ter enviado uma mensagem para dizer que havia encontrado com Sara e que ela estava bem, Grissom- era esse o nome no visor- não a contactou mais. Será que ela falara demais para Sara e agora o homem a impedia de voltar a ver a mãe?

Já era tarde do segundo dia desde a ligação e nada de sua filha aparecer. Laura deixava o celular da filha ligado durante o período em que estava em casa mas o desligava a noite. Esperava que ela voltasse ao menos para buscar o objeto e não queria que a filha pensasse que ela ficara bisbilhotando, por isso mexeu nele o menos que pode.

Somente quando ela perdera as esperanças que Sara deu sinal de vida. Ela apareceu na porta da casa dela, de mãos dadas com um homem corpulento e de cabelos grisalhos. Mas com os olhos mais azuis e bondosos que Laura já vira. Não lembrava em nada o olhar de seu finado marido.

Sara apresentou o tal de Grissom para ela ( pode me chamar de Gil, ele dissera) e os três conversaram um pouco sobre amenidades antes de Gil dizer que iria resolver umas coisas e que buscaria Sara mais tarde. Laura levou o noivo da filha até a porta e antes de ele sair, pegou na mão dele e sussurrou um obrigada. Ele deu um meio sorriso e foi embora.

Laura então se virou para a filha e já iria começar a pedir perdão pelo que falou mas a morena a cortou.

—Eu preciso falar umas coisas que estão engasgadas no meu peito...não me interrompa, por favor.

E assim Laura o fez.

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Após o dia cansativo que teve, Sara chegou ao hotel e descobriu que seu noivo havia feito um upgrade no quarto deles.

Quando chegou no novo quarto entendeu o motivo. O homem a esperava de robe perto da banheira de hidromassagem.

—Você me conhece e quer que eu entre nisso ai?- ela falou, dividida entre a afronta e a vontade de rir- Ainda bem que a gente não casou!

—Ainda!- o homem foi até ela e a ajudou a retirar a roupa- Mas você vai ver como a pressão da água vai relaxar até os músculos que você não sabia que tinha!

—Hahaha! Duvido muito!- mas ela falou mais por falar, pois deixou o homem despi-la como ele quis.

—Eu achei que seria um bom fim para o seu dia.

—É... acho que eu não morro de entrar em contato com esses milhares de outros germes de hospedes passados.

—Ah, o drama!

A mulher riu e quando já não tinha mais roupas para perder, abraçou o noivo e o beijou. O casal ficou ali namorando em pé até que Gil sentiu o vento bater onde não devia e se viu sem roupas.

—Ei... esse era para ser o seu momento de relaxamento.

—Então... estou trabalhando para isso....

—Já vi que essa conversa com a sua mãe foi animadora...

—Ótimo jeito de cortar o clima, hein Gil!

A morena largou o noivo mas não ficou muito tempo longe dele, pois o homem a puxou novamente para seus braços e a guiou para perto da banheira.

—Vamos, entre aí que a vontade volta rapidinho- ele brincou, mas estava mais interessado em ver a mulher relaxar e lhe contar como foi a conversa com a mãe. Mas não queria forçar, ia deixar as coisas correrem como deveriam.

A noiva entrou na banheira e afundou até a água bater em seus ombros. Encostou a cabeça na parede da banheira e fechou os olhos, relaxando pela primeira vez em muitos dias.

—Você não vai entrar?- ela quis saber.

—Esse prazer é todo seu.

—Não tem graça se você não estiver comigo.

O homem sorriu e se despiu. Entrou na banheira e foi logo para o lado da amada.

Foi somente depois de se amarem na banheira e voltarem para a cama que ela começou a contar do que houve entre ela e a mãe. Como ela falou de todos os sentimentos que guardara e em como sentia com relação ao que Laura havia confessado. Que Laura pedira desculpas por ter sido tão enfática naquele dia. Que ela não mentira, mas que precisara de muito tempo para redigir aquelas verdades e que não tinha o direito de jogar tudo em cima dela e em tão pouco tempo.

—E o que você quer fazer com tudo isso?

—Fazer? Eu não sei... acho que... eu preciso deixar o passado no passado... assim como ela o fez... mas...acho que preciso de mais tempo... para aprender a perdoa-la... para fazer as pazes com tudo isso...

—Tome o tempo que precisar, Sara...

A verdade era que Gil queria levar Sara para Vegas, e cuidar dela lá. Queria leva-la para uma capela e se casar com ela e viver o resto da vida ao lado dela. Mas sabia que não era isso que ela precisava. E isso era o que mais doía. Achar que não era o que ela precisava.

—Eu te amo, sabia? Tanto, tanto... eu só preciso de mais um tempo. Você me espera?

— O tempo que for preciso.

Ele a amava tanto que se ela dissesse que sentia o mesmo ele poderia esperar até o sol se consumir para ficar junto dela. Não havia tempo que apagasse o amor deles.

Ele esperaria


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