Professor escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 19
Bônus - Parte 02




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/803575/chapter/19

Senti o carro desligar e respirei fundo.

Notei que Naruto se voltou para mim, mas eu não quis olhá-lo.

Eu fiquei em silêncio, quase o caminho todo. Sentia o peito apertar cada vez que a distancia diminuía. E esse sentimento de aflição aumentou agora que já estávamos dentro dos portões da casa do meu pai.

Depois que ele exigiu nossa presença imediata.

— Amor, olha pra mim – Naruto pediu baixo e meu peito aqueceu, então me permiti olhá-lo – Eu sei que deve ser difícil, mas não fica assim... Ele não tem mais poder sobre você.

— Eu tenho... Medo... De que ele possa interferir nas nossas vidas, na sua vida... Eu... – Respirei fundo – Eu não queria envolver você nisso...

— Hina, eu me envolvi quando me apaixonei por você – Senti quando sua mão alcançou a minha, apertando com firmeza – Viemos por que ele é seu pai... Porém, não interessa o que ele diga ou faça, o único jeito de eu deixar você sair da minha vida é se você quiser, entendeu?

Me senti reconfortada naquele momento. E mais corajosa do que estava sendo, desde o momento que atendi aquela ligação. Eu sorri e o observei se aproximar de mim e depositar um beijo carinhoso em meus lábios.

Quando finalmente saímos do carro, ele rapidamente segurou minha mão, determinado. Caminhamos até a entrada da residência, onde a Chiyo esperava, e demonstrou alegria em me ver.

— Oh, querida – Ela se adiantou e me deu um abraço bem apertado – Que saudade de você.

— Também senti sua falta – Chiyo sempre foi um apoio para mim. E sempre me ajudou como podia. Quando me afastei, eu a fitei com seriedade e apresentei Naruto – Esse é o meu namorado, Naruto Uzumaki.

Chiyo o olhou por um tempo, mas com bondade nos olhos.

— Prazer em vê-lo, Sr. Uzumaki – Ela estendeu a mão – Espero que o caminho até aqui tenha sido tranquilo.

— O prazer é meu. Agradeço a preocupação – Ele a cumprimentou.

— Vamos, por favor, entrem.

Segurei novamente a mão de Naruto e seguimos Chiyo até a sala principal, que não havia mudado absolutamente nada.

— Vocês querem beber ou comer alguma coisa? – Ela ofereceu amigavelmente – Está com fome, querida?

— Isso não é necessário – A voz grave e imponente do meu pai atraiu imediatamente nossa atenção. Acabei apertando um pouco mais a mão de Naruto, que retribuiu o gesto – No meu escritório, agora.

Meu pai sumiu pelo corredor, da mesma forma que eu vi acontecer tantas vezes, enquanto eu crescia.

Respirei fundo, umas duas vezes, antes de começar a caminhar, na mesma direção. Naruto apenas me esperou e seguiu meu ritmo.

Entramos em silencio no escritório. Meu pai estava sentado, de forma autoritária, em sua mesa.

— Sentem-se – Não foi um pedido. Mal nos sentamos e ele continuou – Finalmente deu as caras, Uzumaki. Eu quase admiro sua ousadia.

Senti o coração apertar.

— Papai...

— Eu ainda não te dei permissão para falar – O olhar que ele me lançou foi muito frio, então resolvi me calar – Pensou que eu não fosse descobrir, Hinata? Ainda acha que pode esconder alguma coisa de mim?

— Eu... – Ergui minha cabeça, fazendo o possível para não demonstrar medo na voz – Eu sabia que você ia reagir assim, por isso decidi esperar...

— E de que outra maneira eu reagiria? – Ele se voltou para o Naruto – Quando eu sei que ele se atreveu a se relacionar com a minha filha, quando ela ainda era uma adolescente. Que fugiu quando foi descoberto e agora reaparece para retomar de onde parou, como se nada tivesse acontecido?

— Não foi assim que as coisas aconteceram... – Comecei a falar, mas Naruto apertou minha mão e o deixei continuar.

— Senhor Hyuuga, viemos justamente esclarecer as coisas... – Seu olhar era muito sério – Eu não me envolvi com sua filha, naquela época, mas... Eu estava apaixonado por ela, sim.

— Não brinca comigo que minha paciência é limitada – Meu pai rebateu afiado.

— Não é brincadeira. Eu sabia que não era certo... E sim, eu realmente fugi, justamente por saber disso. Eu não podia estar com ela, mas o sentimento era muito verdadeiro... Tanto que ainda amo sua filha e...

— Não se atreva! – Ele rebateu um pouco mais alterado – Eu conheço a sua espécie, você não tem noção de onde se meteu. Te acobertaram naquela época, mas eu sabia que era você e, dessa vez Uzumaki, você não vai sair impune. Vou me certificar que saibam que você é um abusador, e que fica se engraçando com as suas alunas.

— O que? – Naruto reagiu pasmo. Eu mesma não estava acreditando no que tinha escutado.

— Isso não é verdade! – Rebati, falando mais alto que o habitual – Ele não fez nada disso!

— Você já não tem moral para questionar nada, Hinata. Ele está te usando e você está deixando, com um sorriso de orelha a orelha.

— Eu nunca fiz mal a nenhum aluno, incluindo a Hinata – Naruto se interpôs.

— Você admitiu que se apaixonou por minha filha quando ela ainda era uma criança! – Percebi uma veia saltar na testa de meu pai – E ainda é atrevido o bastante pra procurá-la de novo. Mas dessa vez eu não vou permitir! Vou fazer você se afastar da minha filha e garantir que não chegue perto de nenhuma escola, enquanto eu viver, Uzumaki!

— Você não pode fazer isso! – Insisti.

— Eu posso e você sabe – Ele se voltou para mim.

— Não aconteceu nada do que você está descrevendo! – Falei mais exaltada.

— E como você espera que eu acredite nisso?

— Será que pode me ouvir, uma única vez, na vida?! Ele não fez nada antes e não fez nada agora. Eu que fui atrás dele. Eu que o procurei... Eu também me apaixon...

— Basta! – Ele bateu as mãos na mesa com força, ficando de pé – Por isso você escolheu aquela cidade no fim do mundo Hinata? Eu devia saber! Ele fez uma lavagem na sua cabeça! Até quando você vai deixar que ele destrua sua vida? Você abriu mão de tudo e foi por causa dele, que eu sei!

— Foi por mim! – Vociferei, me levantando também – E se você não é capaz de perceber é porque nunca olhou direito pra mim! Eu sou feliz hoje, papai, muito mais do que já fui, em toda minha vida, e não é graças a você...

— Hinata – Naruto se levantou e segurou meu braço, mas eu continuei.

— Você não é capaz de ver isso, porque não me enxerga como sua filha. Tudo o que vê é o quanto eu posso ser útil, dentro dos seus planos, dos seus padrões... Foi você que me usou!

— Hinata Hyuuga! – Ouvi o meu pai gritar, mas antes que um de nós pudesse continuar, Naruto nos interrompeu.

— Chega disso! Não vamos a lugar nenhum assim! – Ele me fitou com carinho – Hina, por favor...

Meu corpo parecia eletrificado. Nunca havia falado com meu pai assim na vida... Era até estranho, como se fosse errado. Apenas me deixei cair novamente na cadeira, tentando me acalmar.

— Senhor Hyuuga, eu admito que errei deixando o sentimento nascer, mas só isso. Eu não abusei dela, nem de ninguém. E se eu estou aqui é justamente porque eu não quero, de jeito nenhum, mal entendidos. Então, vamos ser civilizados e conversar, porque eu sei que se você tivesse mesmo esse poder sobre mim, eu já estaria sem emprego ou preso.

Percebi, por uma fração de segundo, meu pai vacilar. Naruto ainda estava de pé e encarava meu pai, de igual.

Depois de uma pequena pausa, meu pai se sentou, quase calmo demais para o momento, e me fitou.

— Saia.

Meu corpo tremeu levemente. Tive medo do que aconteceria se eu saísse. E também do que aconteceria se eu não saísse.

— Papai...

— Hina... – Naruto me fitou e com um mínimo sorriso, mas senti sinceridade em seus olhos azuis – Está tudo bem.

Concordei, ainda receosa. Olhei meu pai uma ultima vez e pedi:

— Por favor, o escute... – Supliquei, antes de sair da sala.

Lá fora, Chiyo já me esperava apreensiva.

— Vem aqui querida – Veio em minha direção assim que fechei a porta, me abraçando – Eu sinto muito.

— Por que ele age assim? – Me deixei embalar, enquanto nos afastávamos da porta, em direção a sala – Ele não queria nem saber, já tinha tudo decidido, como sempre.

— Hinata... Seu pai é um homem duro e não sabe direito como agir. Tente entendê-lo... Ele te ama muito.

— Às vezes duvido disso... Eu não sou o que ele esperava... – Falei baixo, me sentando no sofá. Senti os olhos lacrimejarem, mas me impedi de chorar.

Chiyo sentou-se ao meu lado e me olhou com paciência.

— Aquele era mesmo seu professor, não era? Lembrei dele, de quando fui te buscar na enfermaria, uma vez. Não me esqueceria daqueles olhos azuis bonitos – Ela sorriu, me fazendo sorrir também – Mas, o que mais me chamou a atenção era a tristeza neles. Me perguntei naquela época o que seria... Hoje penso que era por sua causa, não é querida?

— Bem... Já n-nos gostávamos... – Falei baixo – E aconteceu u-um beijo... Por impulso. Mas foi só isso, Chiyo... Não tivemos nada naquela época – Suspirei – Pouco antes de você chegar, ele tinha acabado de me dizer... Que era errado...

— Hinata... – Ela parecia escolher as palavras – Consegue se imaginar no lugar do seu pai? Você o conhece tão bem quanto eu e sabe, que ele não admite que nada esteja fora do seu controle. Principalmente se isso coloca suas filhas em risco. Ele não viu que sua filha se apaixonou... Menos ainda que alguém, inevitavelmente, se apaixonou pela menina maravilhosa que você é...

— Mas as coisas poderiam ter se resolvido apenas conversando.

— Mesmo? – Chiyo me fitava com carinho – Seu pai descobriu que você e um homem mais velho, seu professor, se beijaram em um lugar onde ele acreditava ser seguro pra você... E você não conta quem é... Sua amiga te cobre, e a escola acoberta o caso... – Eu estava pronta para rebater quando ela me impediu – Hinata, querida, o que vocês viveram, só vocês viveram. Foi isso o que chegou ao seu pai... O que você pensaria se essa história chegasse a você, desse jeitinho, mas com a Hanabi?

Por um instante, eu analisei o que ela disse e, talvez... Talvez, eu também pudesse ter feito diferente.

— Você sempre foi obediente minha querida – Ela continuou – E não estou dizendo que isso foi errado. Mas, não se impor tem um preço. Você simplesmente abriu mão de tudo, depois de anos de submissão, por causa de um rapaz... Foi do nada para o seu pai e não teria como ele apenas aceitar isso... Não acha?

— Acho que você... Talvez... Tenha razão – Ponderei, analisando as coisas por uma perspectiva diferente – Mas, o que eu faço agora?

— Agora você é adulta também. Eu sei que vão chegar a uma solução – Ela me olhou com um sorriso no rosto – Seu namorado fez bem em vir encontrá-lo... Tenho certeza de que é um bom rapaz...

— Ele é maravilhoso – Confirmei.

— Bom... Já que temos que esperar, torcendo pelo melhor – Falou se levantando – Vamos fazer isso com um chá... Eu já volto.

Chiyo saiu e eu fiquei sozinha, ponderando tudo o que ela disse. Meu pai não me escutaria quando mais nova, mas eu devia ter tido uma conversa séria com ele agora. Apenas esperar que ele entendesse foi querer demais dele.

Um interminável tempo depois, Chiyo e eu tomávamos chá quando Naruto apareceu. Me levantei imediatamente e caminhei até ele, o abraçando.

— C-como foi?

— Difícil... – Ele respondeu, com a voz arrastada – Mas... Acho que ele me entendeu.

— Mesmo? – Perguntei surpresa.

— Mesmo – Confirmou, acariciando meu rosto – Agora ele quer falar com você... Vai lá, eu vou esperar aqui.

Respirei fundo, sentindo o coração acelerar. Ele percebeu e me deu um beijo carinhoso na testa, me tranquilizando imediatamente. Eu sorri, olhei pra Chiyo mais uma vez e então fui novamente até meu pai.

Quando entrei no escritório, meu pai, dessa vez, estava em frente à mesa, apoiado nela, próximo à cadeira onde eu estava antes.

— Vem aqui Hinata – Sua voz era branda. Me aproximei e me sentei na mesma cadeira – Me conta tudo o que aconteceu... Tudo.

Eu fiz uma pausa longa, organizando minhas memórias. E enfim, contei tudo que podia me lembrar, desde que fui transferida, sem esconder absolutamente nada. Incluí todos os sentimentos que descobri em mim, tanto pelo Naruto quanto por mim mesma.

Meu pai apenas ouviu, com uma expressão atenta e completamente inexpressiva.

— Tudo o que eu fazia, papai, era por que eu tinha que fazer... Não porque eu realmente queria fazer... – Finalizei

Um longo silencio se instalou no ambiente, ao final do meu relato.

Quando ele finalmente desviou o olhar de mim, levou uma das mãos ao rosto e apertou os olhos, como se estivesse muito cansado.

— Você está mesmo feliz agora? – Ele finalmente se pronunciou.

— Sim! Eu amo meu trabalho, eu amo aquela cidade... Eu amo o Naruto...

Eu percebi que ele fez uma expressão de quase desgosto, mas não disse nada, então continuei.

— E eu amo você papai – Notei que ele se surpreendeu e voltou a me olhar – Eu queria ser como você sonhou, mas...

— Vem aqui – Ele me cortou, estendendo a mão na minha direção. Eu aceitei e me senti ser puxada para um abraço, bem apertado.

Nesse momento eu permiti que as emoções me dominassem e chorei, retribuindo o abraço.

— Senti sua falta, minha filha.

— Eu também – Falei entre um suspiro – Muita saudade...

— Eu sempre te vi como minha filha...  Nunca duvide disso... – Ele falou, ainda me abraçando – Eu só queria o melhor pra você... Ainda quero.

— Eu sei... – Falei baixo.

— Sua mãe saberia o que fazer, melhor do que eu... E se orgulharia de quem você se tornou. E, eu também me orgulho de você... – Ele me soltou e me fitou – Mas, você vai precisar me dar mais tempo para aceitar essas mudanças, eu ainda não consigo concordar.

— Tudo bem papai... Eu sinto muito por meu comportamento... Eu sei que também não agi certo. Eu vou... – Suspirei – Me abrir mais com você, se me permitir.

Ele acenou com a cabeça e o abracei novamente.

— Chega. É melhor vocês irem antes que fique mais tarde – Ele falou e eu me afastei.

— Obrigada... De verdade, papai, obrigada – Eu sorri e depositei um beijo em seu rosto.

— Se mudar de ideia, eu vou estar esperando – Eu suspirei e abri a boca pra responder, quando ele continuou – Eu sei, Hinata. Só estou dizendo que eu vou sempre estar aqui, pra você.

— Obrigada, papai... – Pronunciei, já saindo, porém quando eu já estava quase na porta, o ouvi dizer:

— Voltem no ultimo domingo desse mês... – Me voltei para ele, com dúvida no olhar – Os dois... Hanabi também virá com o marido.

— Eu vou adorar – Respondi feliz com o convite e finalmente sai, com o coração totalmente leve.

Naruto estava conversando com a Chiyo na sala, e se levantou assim que me viu.

A primeira coisa que fiz foi o abraçar, bem apertado. Ele não perguntou nada, apenas me apertou em seus braços e ficamos assim, por um momento.

— Vamos? – Ele perguntou.

— Sim...

Nos despedimos da Chiyo, que nos acompanhou até a porta, muito emotiva. Mas se animou quando mencionei que voltaríamos em breve.

Caminhamos sem pressa até o carro.

Eu ainda não podia acreditar que, finalmente, as coisas se resolveriam. Não tinha como o resultado ser melhor.

Era um habito do Naruto, abrir a porta do carro para mim, então não estranhei quando ele me acompanhou até o lado do passageiro. Mas ele não abriu a porta, ao invés disso, ele me puxou e senti seus braços fortes me envolverem. Ele apoiou a cabeça em meu ombro e deixou um longo suspiro escapar.

— Seu pai é completamente assustador menina – Ele murmurou baixo – Te admiro ainda mais agora. Você é muito corajosa. Eu achei que era meu fim...

Eu me permiti sorrir, retribuindo o abraço.

— Eu tive medo também... Mas, ele só estava preocupado comigo... Eu entendo melhor agora... – Eu o afastei, apenas para poder olhá-lo. Levei uma mão ao seu rosto, em um carinho suave – O mais importante é que já acabou... Finamente, acabou. O que vocês conversaram?

— Vou te contar tudo depois... Agora eu quero te beijar até esquecer meu nome – Ele falou se aproximando de mim. Porém, contrariando minha expectativa, antes de nossos lábios se tocarem, ele abriu a porta do carro e se afastou um pouco – Bem longe daqui... Não quero correr o risco do seu pai mudar de ideia.

Eu sorri e notei que ele sorriu também...

Finalmente podíamos viver tranquilos, com a certeza de que nada mais poderia interferir no nosso futuro.

 Nosso futuro...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Professor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.