Professor escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 15
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— Uma história dessas jamais passaria pela minha cabeça – Shikamaru comentou, já no fim do seu terceiro cigarro.

— Eu tive sorte do diretor confiar em mim, do contrário... – Suspirei – Na mesma semana ele me colocou em contato com a Tsunade, pra ver uma vaga aqui... Eu ia ser um professor temporário, você lembra?

— Lembro.

— Então, eu aproveitei as férias pra vir aqui, procurar um lugar pra ficar... E me mudei no mesmo mês...

— Você nem se despediu dela?

— Não... Meu ultimo contato com ela foi aquele dia no telhado... Eu só me desliguei de tudo, eu tinha que fazer assim, ou não conseguiria ser firme. Não sei nem se ela se transferiu mesmo. Até tomei cuidado pra não acompanhar nenhum site que pudesse ter alguma informação da família dela... – Dei de ombros – Funcionou até hoje.

— E ninguém desconfiou lá?

— Sasuke me contou que houve um burburinho entre os professores, mas o diretor resolveu. E eu pedi pra ele não me falar mais nada... Era melhor não saber, então a vida só seguiu... Sasuke me ajudou muito...

— Você não pensou em voltar?

— A ideia inicial era essa, mas... Eu gostei mesmo daqui. Da escola, do lugar... Das pessoas. Então, quando a Tsunade me ofereceu uma vaga efetiva eu não pensei duas vezes. Eu me refiz aqui.

— Você pode até ter seguido com a vida aqui, mas um pedaço seu ficou lá sim...

Ponderei essa afirmação por um instante e, tive que admitir, ele tinha razão. Não importa quanto tempo passe, eu simplesmente não consigo colocar um ponto final nisso.

— Eu gostaria de dizer que não é verdade, mas seria mentira... – Sorri, sem graça – Ainda mais depois de hoje...

— Você não leu a matéria, não é?

— Na verdade, eu não tive psicológico pra isso... – Confessei.

— Bom... O nome da noiva é Hanabi.

O fitei quase em choque. Tomei o jornal de sua mão e procurei a matéria, confirmando com meus próprios olhos.

Hinata era citada apenas no final, em uma única frase: “Após o casamento, Hanabi Hyuuga assumirá oficialmente o lugar de sua irmã, Hinata Hyuuga. O patriarca da família se diz satisfeito com a decisão de suas filhas”.

O que aconteceu?

— Por um momento eu tive medo de você – Shikamaru disse e eu o fitei, ainda assustado – A moça da matéria tem vinte anos e eu te conheço a seis... Sabe como isso é perturbador?

— Espera! Você ficou ai, sei lá há quanto tempo, sentado, me ouvindo falar dela sem parar, e não pensou em interromper pra dizer que eu estava errado? – Falei indignado.

— Pareceu que você precisava colocar pra fora... – Ele comentou – E eu, com certeza, queria saber a história toda depois do “me apaixonei por uma aluna” que eu achei que tinha quatorze anos.

— Não acredito – Sorri inconformado, colocando uma mão na testa, ainda passando o olho pela matéria – Ah, cara... Me sinto ridículo agora.

— Não suspeitou que pudesse ser a irmã?

— Não, ela sempre falou do peso de ser a herdeira... Na verdade, aqui menciona que Hanabi vai ficar no lugar dela... – Respirei fundo – Eu só não sei por quê.

— Hm, ela tem vinte e três agora – Shikamaru soltou e eu o fitei – A Hinata. Você devia procurá-la, já que, obviamente, ainda gosta dela.

Suspirei profundamente.

— Não... – A voz vacilou um pouco, então repeti – Não, eu vim pra cá porque precisava ficar longe dessa família... Dela. E também, Hinata já deve até ser casada agora. Se bobiar, noticiaram também e eu só não vi a matéria...

Permaneci passando o olhar pelo jornal, como se pudesse surgir alguma nova informação relevante.

— Por isso você não consegue manter nenhum relacionamento decente.

— Vergonhoso, não é? – Ri de mim mesmo – Eu ainda não sei explicar o quanto ela me abalava. Eu era apaixonado por ela. Eu realmente era...

— Era? – Ele repetiu, desdenhoso.

— Bem... – Dei um meio sorriso – Eu admito que não esperava estar tão vivo em mim.

— E está melhor agora que sabe que não é ela que vai se casar?

— Estou melhor por ter contato. Guardo isso há muito tempo e o único que escuta minhas lamentações é o Sasuke... Então, obrigado por me ouvir.

— Sempre que precisar – Ele falou, apagando o cigarro no chão.

— Essa falação toda me deu fome. Vamos comer?

— Acabamos de queimar umas três pausas, não temos tempo pra mais nada.

— Mas nem um lanchinho? Eu acho que mereço um lanchinho.

— Merece? – Ele me fitou sorrindo, de maneira debochada. Enquanto se levantava e me oferecia à mão, para fazer o mesmo.

— Palavras erradas – Concordei sorrindo e aceitei sua mão.

Recolhemos tudo o que trouxemos e voltamos para sala.

— Finalmente! Onde vocês estavam? – Temari, professora de idiomas e rolo de longa data do Shikamaru, avançou sobre ele – Você sumiu.

— A culpa é dele – Apontou para mim.

— Não importa, a nova professora chegou e ela é responsabilidade sua. Não me faça fazer o seu trabalho! – Ela literalmente jogou uma pasta sobre ele.

Acabei sorrindo do olhar perdido que ele me lançou. Dei de ombros e voltei para minha mesa.

— É a professora que veio do exterior? – Perguntei causalmente, lembrando que ela tinha sido mencionada em algum momento daquela semana.

— Sim... – Ele respondeu sem desviar os olhos da pasta, analisando muito seriamente – Ela esta esperando há muito tempo, Temari?

— Cerca de meia hora. Eu estava quase indo lá quando você apareceu.

Eu estava abrindo minhas informações no computador, quando senti algo cair na mesa, bem ao meu lado. Era a pasta.

— Ela é responsabilidade sua agora.

— Hã? Você que ficou de responsável – O lembrei de sua função extra.

— Não dessa vez. Pode considerar como me devolvendo o favor de te ouvir.

— Poxa, você não estava sendo um ombro amigo?

— Me processe – Ele se virou e foi para sua mesa, me intimando – Vai logo...

Fiquei pasmo. Claro que ele me daria mais trabalho para compensar os momentos que roubei dele.

— Onde a professora está? – Perguntei para Temari, enquanto me levantava com a pasta na mão.

— Na sala do lado da administração – Falou me acompanhando, saímos juntos – E ela é uma gata... – fez um “okay” com a mão.

Dei uma risada alta. Contrariando sua personalidade, por alguma razão, Temari sempre tentava arrumar “namoradas” para mim.

— É serio! Você devia investir, se ela for solteira, é claro, não vi essa parte. Ela parece ser muito meiga e tem olhos claros, quase perolados, nunca vi...

Um arrepio percorreu minha espinha e eu parei de prestar atenção. Isso me trouxe lembranças muito fortes, ainda mais depois daquele jornal e da minha conversa com o Shikamaru.

— Enfim, boa sorte – Temari bateu no meu ombro e desceu as escadas, seguindo seu rumo, enquanto eu permanecia parado.

Quais seriam as chances? Não. Não tinha como...

Olhei em direção a porta aberta da sala, a poucos passos de mim, mas permaneci travado no lugar. Então eu olhei a pasta em minhas mãos. Era só eu ver o nome da moça e pronto. Ali estava o currículo e as informações dela, então eu apenas abri.

“Hinata Hyuuga”

— O que? – Não podia ser. Senti minha garganta fechar e meu coração disparou sem controle. Era ela.

Meus olhos correram rapidamente pelo documento. Ela tinha se formado em uma faculdade do exterior... E estava solteira.

O que estava acontecendo? Por que ela estava aqui? Por que meu coração ainda queria sair pela boca, depois de todo esse tempo?

Engoli em seco e caminhei até a sala, com a expectativa lá no alto. E a primeira coisa que vi ao entrar na sala, foi a figura feminina esbelta, em pé, olhando pela janela.

Percebendo a minha presença, a morena se virou e engoli em seco, fitando aqueles olhos, dos quais senti tanta falta.

Meu chão sumiu completamente.

Ela estava ainda mais bonita do que eu me lembrava.

— Professor Uzumaki... – A voz melodiosa inundou meus ouvidos. Eu senti a boca ficar seca e não consegui falar nada – Já tem tanto tempo...

A morena pronunciou baixo, ainda me fitando longamente, levemente corada. Respirei fundo, tentando tranquilizar o coração.

— Eu... – Pronunciei, tentando formar uma frase inteira, com muita dificuldade - Sim... Muito tempo...

— Você quem vai me orientar? – Seu rosto não havia mudado quase nada, mas estava mais maduro, e seu olhar mais firme.

— Sim... – Falei, retomando minha compostura, mas meu coração ainda martelava meu peito sem dó – Sim, se você não se importar.

— Eu adoraria... – Ela falou baixo e se aproximou de uma poltrona, para pegar sua bolsa. Caminhou lentamente em minha direção e parou próxima a mim, me olhando diretamente.

Senti um leve tremor em minha mão, então apertei a pasta com mais força. Eu queria abraça-la e senti que acabaria cedendo se não tomasse cuidado. Meus pensamentos estavam bagunçados e novamente tive que me recompor.

— Bem... Vamos... – Ofereci passagem para ela e começamos a andar.

Eu estava completamente aturdido, por isso eu comecei a falar da organização da escola, das salas, dos alunos, basicamente no automático. Citei tudo, até as diferenças da estrutura organizacional e tudo o que envolvesse apenas as questões profissionais.

A morena me ouvia atentamente e comentava quando achava pertinente. Apesar das bochechas rosadas, ela parecia mais a vontade do que eu.

Já estávamos chegando á sala dos professores e eu queria fazer tantas perguntas. Queria saber tudo o que aconteceu nesses anos. Porque ela estava ali, como virou professora, e o casamento? E suas obrigações como herdeira?

Lembrei da matéria.

— Ah, coincidentemente, eu li uma matéria no jornal hoje, sobre o casamento da sua irmã. Ela vai se casar no final do mês, certo? – Puxei assunto, mudando o foco.

— Sim, ela está ansiosa. Mais do que eu seria capaz de descrever... Eu sei que ela gostaria que as coisas fossem muito mais simples do que o nosso pai planejou, mas ela está feliz.

— Achei que esse fosse o sonho de toda garota... Casar em um castelo – Sorri e a vi sorrir também, fazendo meu coração aquecer.

— Algumas sonham com a chance de escolher com quem se casar – Ela pronunciou e senti borboletas no meu estomago – Felizmente, Hanabi está apaixonada pelo príncipe dela, então tudo bem...

Parei, pouco antes de chegarmos à porta. Quando ela percebeu, também parou, se voltando para mim.

— O seu pai... Não te apresentou ao seu... Príncipe? – Arrisquei.

— Apresentou sim... – Ela desviou o olhar.

— Mas, você não se casou – Afirmei, sentindo o coração na garganta.

— Não... – Ela voltou a me olhar nos olhos – Eu não poderia... – Um turbilhão de emoções diferentes me atingiu.

Engoli em seco e dei um passo em sua direção, ela apenas observou. Meus olhos estavam fixos aos dela.

— Por quê? – Pronunciei, talvez baixo demais, e a vi corar quase até as orelhas.

Essa era a minha Hinata.

Todavia, antes que pudéssemos continuar, Shikamaru apareceu na porta, saindo da sala. Parou assim que nos viu e me fitou por um tempo, antes de se voltar para a morena.

— Você é a Hinata Hyuuga, certo? Sou o professor Shikamaru Nara.

— Prazer em conhecê-lo, professor Nara.

Ele estendeu a mão para mim e lhe entreguei a pasta com os dados dela.

— Está dispensado, Uzumaki, eu dou andamento daqui – Fitei Shikamaru surpreso, eu ainda não tinha terminado o meu trabalho – Hyuuga, você também pode ir. Pode continuar vindo essa semana, pra se adaptar, mas seu período de experiência, dando aulas, começa na semana que vem, está bem?

— Sim, eu agradeço o cuidado – Ela curvou-se em respeito.

Shikamaru voltou para dentro da sala e eu fitei Hinata, ansioso.

— Você está de carro?

— Na verdade, não...

— Eu posso te levar, por favor? – Minha voz saiu quase como uma suplica – Eu quero... Conversar mais com você...

— Claro... – Ela disse baixo, enquanto seu rosto se tingia de vermelho, desviando o olhar.

— Me espera aqui... – Entrei na sala e fui direto para minha mesa.

Passei a guardar minhas coisas rapidamente e senti uma pressão no peito. Parei um instante, apoiando as duas mãos na mesa e respirei fundo.

— Você não parece bem. Esperava uma reação diferente – Shikamaru disse me fitando de sua mesa, ao meu lado.

— Eu sonhei tanto com esse momento desde que saí daquela cidade... Eu já tinha me conformado que não aconteceria... Eu não sei, acho que estou assustado.

— Se ela vai trabalhar aqui, precisa resolver isso. Eu não sei o que vai fazer... Mas faça – Falou de modo autoritário e eu apenas sorri.

— Shikamaru, obrigado. Mesmo – Ele apenas acenou com a cabeça e voltou ao seu trabalho.

Eu me endireitei, colocando minha bolsa no ombro. Respirei fundo e caminhei tremulo até ela.

Eu ainda não sabia o que aconteceria, porém, dessa vez, eu não ia fugir.


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Notas finais do capítulo

Voltamos para o inicio.
Suspeitaram que a noiva fosse Hanabi?
E agora? Eles finalmente vão ficar juntos?

Vejo vocês no ultimo :3



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