A Sétima Zona escrita por Isa Chaan


Capítulo 4
O início de uma jornada


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores!
Venho trazer-lhes mais um capítulo! Estão preparados para a jornada? Então peguem suas armas e prossigam junto a Lucy! Ah, mas tenham cuidado, os predadores estão à ronda...

Boa leitura!



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04.

Música do capítulo

 

Uma águia em seu esplendor sobre um fundo azul royal; asas brancas que envolvem a insígnia do reino de Fiore ao centro. A face do broche de Jellal reluz com o sol da manhã, conforme meus dedos brincam sem ânimo pela aresta circular. De sua moldura, também desponta um pequeno par de asas douradas – símbolo da autoridade do cargo.

Distraidamente, vejo a figura da ave de rapina girar trezentos e sessenta graus. Cinco, seis, sete vezes; quando finalmente fecho os olhos, recostando-me na parede rochosa da caverna. Minha cabeça lateja como o diabo e sinto a pele dolorosamente inchada ao redor dos olhos. Não preciso de espelhos para ter uma ideia de quão miserável está minha aparência.

A noite anterior fora repleta de sombras e dor. Horas sombrias que pareciam esticar a noite até que o prelúdio de uma alvorada não passasse de uma mera fantasia utópica. Um pesadelo em sua infinitude.

A tempestade que se iniciou logo após me abrigar sob a cavidade da montanha, acompanhou meu lamento por horas a fio. E quando enfim pude cair no sono, em vez da paz do descanso, encontrara os espíritos de pessoas que jamais tornaria a ver, a perambular pelos meus sonhos.

As lágrimas já haviam há muito secado, mas a dor latente em meu peito persiste sem ter novas formas de extravasar. Fungo, agora apertando firmemente o broche entre meus dedos, como se ele pudesse me transmitir as forças necessárias para levantar e continuar; o quê automaticamente me leva a imaginar quantas vezes Jellal não teria feito o mesmo nos momentos mais desafiadores.

A simples recordação de seu nome ameaça estraçalhar todos os cacos que eu venho arduamente reunindo em meu coração durante toda a manhã. Não posso deixar que isto aconteça, há vidas que dependem do meu sucesso.

É por elas que me levanto. É pela promessa que fiz a Jellal que ergo uma fortaleza para proteger estes mesmos cacos. Ela resistiria inabalável até que meu dever fosse concluído; até que eu estivesse em casa, rodeada pelos braços de Erza, e ela, pelos meus. Só então eu permitiria que fosse desfeita e voltaria a chorar pela minha família perdida. Faço este juramento mediante aos deuses.

Já de pé, arrumo os cabelos em um rabo de cavalo, pronta para a batalha de uma jornada exaustiva. O céu sem nuvens prometia um dia de sol quente. Preciso me manter hidratada, principalmente depois de tanto choro.

Deslizo o dedo pelo visor do meu bracelete esquerdo até encontrar o item que desejo. De imediato, uma garrafa d'água se materializa diante de mim. Faço o mesmo para obter o mapa da floresta e reaver meus percursos.

Como uma não-maga, a incapacidade de praticar magia com as próprias mãos, trouxe-me o anseio por adquirir o máximo de objetos mágicos que pudesse, para assim, de alguma forma, suprir o fascínio que eu nutria pela magia. Tais itens se demonstravam bastante convenientes nos últimos anos. Entre eles, meu bracelete, sem dúvidas, é um dos melhores do estoque. Dentre suas funcionalidades; data e hora, previsão meteorológica, sensor de éter mágico – útil para diagnosticar os focos de magia, normalmente provindos de inimigos –, e repositório mágico com espaço para até trinta itens, dos mais diversos tipos e tamanhos, estão incluídas.

Logo após me equipar com a aljava e o arco atrás das costas, sigo pela trilha para descer a encosta da montanha. Os ventos que trouxeram a tempestade da noite anterior, por sorte e boa vontade dos deuses, se direcionaram para o norte, levando consigo o fluxo piroclástico para longe de meu caminho. Eu só espero que Levy e os habitantes tenham tido tempo suficiente para escapar, penso esperançosa.

Conforme desço a encosta por uma trilha já desgastada e aplainada – que suponho ter sido muito utilizada por andarilhos para alcançar a caverna logo acima – observo o horizonte ensolarado.

Pela primeira vez desde a tragédia, sinto uma paz interior, um alívio temporário, como se finalmente emergisse depois de muito tempo embaixo d'água. Aprecio a sensação do vento morno sacudindo meus cabelos e acariciando minha pele enquanto desvio de algumas pedras pelo caminho.

A floresta se estende abaixo como um veludo verde brilhante pontuado por manchas vermelhas e douradas do prenúncio do outono, tão vasta e bela quanto é possível, ao mesmo tempo que me faz duvidar da existência de um fim para uma vastidão tão aterradora. Eu nunca antes precisara atravessá-la a pé das poucas vezes em que tive de voltar para minha cidade natal, Magnólia. Era comum que os oficiais militares fossem transportados por veículos mágicos aéreos, nestes casos. Agora, a quase impossibilidade daquela tarefa pesa sobre meus ombros, minando a determinação recém-adquirida.

Atrás de toda a massa arbórea, até onde a vista pode alcançar, a silhueta enevoada da cordilheira de Enova delimita a paisagem ao sul, um paredão rochoso de altos picos nevados que depois da curva, se estende em linha reta para o norte, perdendo-se de vista. Felizmente, desta perspectiva, não é possível ver a região onde se assenta o vilarejo, nem o tamanho do estrago que o acometera. Estou certa de que não estou preparada para ver tal cenário, ainda não.

Ao me aproximar da base da montanha, o solo seco e cinzento dá lugar a um tapete verde de gramíneas e arbustos, enquanto as copas frondosas das árvores se assomam cada vez mais acima do nível dos olhos, até que eu esteja envolvida sob a vegetação alta e intimidante.

O mundo o qual transponho é misteriosamente calmo. Vigilante.

Quase um ser vivo consciente, a floresta parece se retrair com a chegada de um intruso, uma ameaça a seu ecossistema perfeito.

Imediatamente, como já previa, sinto a vibração familiar do bracelete; no visor, os níveis de éter mágico se elevam consideravelmente.

Apesar de aparentar ser uma floresta qualquer em um primeiro vislumbre, Dhara contém uma aura singular e etérea a causar incômodo a qualquer forasteiro. Algo relacionado, talvez, ao canto hipnótico dos pássaros ou mesmo a maneira como os raios solares se dividem em milhares de feixes dourados ao atravessarem a camada vegetal, fulgurando sobre as folhas coloridas caídas no chão. A beleza encantadora que certamente esconde suas armas, da mesma forma que a bela sereia melodiosamente chama o marinheiro para encontrar a própria morte em águas profundas.

Ao meu redor, antigos carvalhos e ulmeiros de troncos retorcidos dividem espaço com a imponente vegetação das coníferas, formada por cedros e pinheiros que se esticam em direção ao céu até que seja necessário pender a cabeça para trás para vislumbrar o topo. Os troncos centenários me recebem como guardas obstinados a protegerem seu território, e mesmos as folhas parecem conspirar segredos proibidos, oscilando em meio aos caprichos do vento.

A sensação é de que não sou bem-vinda.

As regras que regem seus domínios são muito claras. Nada se destrói, nada se usurpa. Tomará para si apenas o que lhe ronca o estômago e o que lhe ameaça a vida. Do contrário, os galhos lhe tomarão o espírito para que jamais parta, e tornar-se-á a própria floresta como um só, até que o sol se ponha no leste e os oceanos virem terra.

As lendas ainda diziam que para cada árvore gloriosamente erguida, jazia a alma desafortunada de um daqueles que se atreveram a contrariar as regras de Dhara.

Permaneço parada por breves instantes, os braços arrepiados, enquanto espero por algum desdobramento trágico. Mas nada acontece, além da sensação constante de ser avaliada por uma entidade onipresente. Talvez a floresta realmente tenha vida própria, afinal, penso.

Depois de me assegurar que nada perigoso aconteceria em seguida, volto a abaixar os olhos para o mapa e a engajar os primeiros passos pelas folhas secas que encobriam o solo; com a ausência de qualquer trilha visivelmente demarcada pelo acobreado característico da terra, tudo o que restava era atentar-me ao caminho irregular indicado no mapa.

O ponto negro móvel a se locomover pelos traçados do papel velho representa a minha localização – ou ao menos, qualquer usuário que esteja em posse do objeto. Na realidade, o mapa é mais um dos itens mágicos em meu estoque, adquirido em uma antiga loja de quinquilharias por preço de banana – o cobrador, um senhor ranzinza de idade avançada, sequer reconhecia um terço da valiosidade dos produtos em suas estantes.

Através de suas propriedades mágicas, o mapa traça percursos em tempo real, levando em conta a própria localização e evitando os focos de éter mágico, desta forma, opta pelos caminhos mais seguros. Círculos concêntricos em vermelho demonstram os focos de éter em diversas regiões da floresta, o que podem significar tanto a presença de criaturas perigosas, ou simplesmente os chamados santuários – locais temporários onde o éter se acumula espontaneamente graças à sua abundância. Infelizmente, devido à grande extensão, apenas parte da floresta está representada no papel; a visualização das áreas conseguintes se daria apenas com uma aproximação mínima de dois quilômetros.

As horas passam sem alarde, conforme atravesso a mata em silêncio, afastando alguns arbustos do caminho quando necessário, e aos poucos me acostumo com o belo cenário natural; o musgo verde cobrindo a madeira rugosa, a folhagem das plantas roçando gentilmente meus calcanhares, o brilho do sol encontrando as sombras suaves. Convencida de que nada poderia me deixar ainda mais fascinada, sou surpreendida mais uma vez. Meus olhos se arregalam em deleite ao encontrar um antigo bordo vermelho alguns metros a frente; a copa cheia apesar das muitas folhas avermelhadas já forrando o solo. Como um convite para fazer uma pausa e comer, sento-me abaixo do amparo de seus galhos grossos e antigos logo que me aproximo. E sem demora, materializo um enlatado com sardinhas dando início a meu almoço escasso, envolvida pelo canto dos pássaros e frescor da brisa, até que um ruído peculiar se sobressai aos sons da floresta. O som baixo de um miado.

Com o olhar atento, vasculho os arbustos de onde acredito que tenha vindo o som, e encontro, abaixo de uma amoreira silvestre, grandes olhos brilhantes quase rentes ao solo.

Já imaginando quem é o visitante da vez, tenho uma ideia e jogo uma das sardinhas na direção do animal. O pequeno intruso sai das sombras no mesmo instante, devorando o peixe com gosto. Depois de lamber os beiços, ele se senta nas patas traseiras com o olhar fixo em mim, a cabeça inclinada e a ponta do rabo balançando lentamente atrás de si. É um pequeno filhote de gato selvagem. Mas o que me espanta, tão logo o vejo, é a sua exótica pelagem na cor azul. Nunca antes vira espécie igual.

Que tipo de gato selvagem é esse?, penso maravilhada no mesmo passo que, mal contendo a curiosidade e fascinação, pego meu caderno de pesquisas e uma caneta, pronta para fazer desenhos e anotações sobre tal espécie singular. Com muito cuidado, também trazendo o enlatado, me aproximo poucos metros da bola de pelos – não me atrevendo a ir muito longe, para não assustá-lo. Atiro mais sardinhas; uma ele apanha certeiramente com a boca, as outras pousam bem ao seu lado formando um montinho.

Enquanto o animal felizardo se empanturra, aproveito para fazer os primeiros rabiscos em uma folha branca, tentando captar e evidenciar suas características mais distintas, como as orelhas grandes e as manchas brancas pelo corpo.

Conforme mastiga a comida distraído, parte de seu dorso fica temporariamente exposto à luz do sol, e talvez por uma mera ilusão criada pela luz, tenho a impressão de ver o contorno translúcido de algo parecido com asas saírem de suas escápulas. Antes que eu tenha a chance de me aproximar mais um pouco para averiguar, o felino ergue as orelhas pontudas, atento a algum som ou chamado, e saí em disparada por onde veio, desaparecendo pela mata tão rápido quanto uma lufada de vento.

Ao abaixar os olhos para meu desenho incompleto, não posso evitar um suspiro frustrado.

 


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Notas finais do capítulo

Parece que Lucy encontrou um gatinho que nos é bem conhecido, não é mesmo? Será que ele tem dono? ~(ºuº~)
Apesar de ter sido um capítulo mais curto e introdutório, espero que tenha lhes agradado. E não se preocupem, muita ação, romance e tensão ainda vem por aí!
O próximo capítulo está programado para dia 7/11 (domingo) às 15h30!
Espero encontrá-los lá!
Até mais, queridos leitores! o



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