Chances escrita por Miss Johnerfield


Capítulo 5
Five




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“Te procurei em cada tarde, meu bem
Eu perco a respiração por você” 

(Mi Persona Favorita - Alejandro Sanz feat. Camila Cabello)

 

— Oi, Anna. Será que a gente podia conversar? – indagou a voz rouca do outro lado da linha.

— Oi Alex! – respondi, entusiasmada até demais, o que não passou despercebido pelos meus amigos. Sério, os dois pareciam adolescentes: Selena segurando uma risada nervosa e Howard me imitando com uma voz fininha.

Cobri a saída de áudio do meu telefone e pedi para que ficassem quietos. Howard riu, colocou sua irmã na cadeira de rodas e ambos foram em direção à cozinha da casa.

— Me desculpe te ligar assim, mas como você não respondeu meu correio de voz, achei melhor fazer isso.

— Claro! Me desculpe também, é que estive ocupada o dia inteiro e tinha me esquecido de te responder. Como você está?

— Um pouco atarefado com algumas coisas, mas indo. E você?

— Estou bem. Sobre o que você queria conversar?

— Sobre aquele convite que eu fiz para você ontem. Não foi bem do jeito que eu tinha planejado, então gostaria de fazer melhor dessa vez. Quer almoçar comigo amanhã?

Senti que meu coração bateu mais rápido, porém tentei me controlar ao máximo antes de responder.

— Sim, seria ótimo! Você tem algum lugar de preferência? – perguntei.

— Bom, eu preciso encontrar alguns fornecedores perto da sua antiga casa, então pensei em irmos a algum lugar por ali. Você ainda mora lá ou se mudou?

— Você ainda se lembra de onde é? – perguntei curiosa.

— Impossível me esquecer – respondeu ele. Senti meu rosto esquentar de vergonha na mesma hora.

— Eu ainda moro no mesmo lugar. A que horas a gente se encontra?

— Eu posso te buscar, se você quiser. A não ser que você ache um problema. Por causa da sua mãe e tal.

Pensei na possibilidade e decidi que não teria problema algum. Já se passou muito tempo, não é possível que ele ainda se deixasse intimidar pela minha mãe.

— Seria ótimo! – exclamei. – A que horas?

— Perfeito. Assim que eu terminar o compromisso com os fornecedores te mando uma mensagem, pode ser?

— Combinado. Até amanhã, Alex.

— Até amanhã.

Depois de desligar o telefone fui em direção à cozinha dos Dorough. Meus amigos conversavam animadamente com duas das funcionárias que trabalhavam por lá, algo que raramente eu via em casa – pelo menos por parte da minha mãe. Como seria viver em um lugar onde essa hierarquia era vista simplesmente como parte do seu emprego, e não por causa de suas condições financeiras?

— Como foi? – perguntou Selena toda empolgada. Howie continuava sua conversa animada com as meninas, como a senhora Dorough as chamava, mas lançou alguns olhares curiosos em minha direção. Hesitei por um momento, temendo que por algum motivo ele se sentisse desconfortável com aquilo, já que havia me dado uma investida na noite anterior – mesmo que eu não tenha levado aquele flerte muito a sério. Éramos amigos há muito tempo, e ontem não foi a primeira vez que Howie agira daquela maneira.

— Alex me convidou para almoçar com ele amanhã.

— Amiga, que incrível! Você perguntou a ele aquilo que a gente conversou mais cedo?

— Não, acho melhor perguntar pessoalmente, assim ele não vai ter tempo de inventar nenhuma história.

Pedindo licença ao pessoal, Selena foi em direção à área externa novamente e eu a acompanhei.

— Mesmo querendo muito que você desse certo com certo alguém – sussurrou minha amiga para que seu irmão não a ouvisse de onde estávamos –, fico muito feliz por você, de verdade. Mas se ele te magoar outra vez, eu vou jogar minha cadeira de rodas nele, pode apostar.

Ri de sua colocação e ajudei Selena a deitar-se novamente na espreguiçadeira em que estávamos antes de seu irmão chegar. Sentei-me em um dos sofás próximos a ela e falei:

— Amiga, é só um almoço! Eu ainda não sei o que vai acontecer. Mesmo tendo gostado muito dele, isso foi há muito tempo. Eu estou diferente, ele também... Não sei.

— Vamos aguardar. Enquanto isso eu continuo aproveitando o clima entre o meu casal injustiçado e imaginando como seria ótimo ter você como minha cunhada.

Revirei os olhos para ela e Selena riu. Alguns minutos depois Howard veio até nós e com a ajuda de uma das meninas trazia três taças do que pareciam ser piñas coladas.

— Obrigado Theresa – agradeceu ele quando ela pediu licença e se retirou. – Essa sem álcool é para você – disse ele entregando uma bebida para sua irmã. – E essa é sua – concluiu ele entregando-me outra taça.

— Obrigada – sorri para ele em agradecimento. Howard sorriu de volta e sentou-se ao meu lado no sofá. Selena olhava para nós contendo um risinho. Franzi o cenho para ela numa tentativa de fazê-la parar de bobeira, mas não funcionou. A pilantra inventou de ligar a caixa de som que estávamos usando minutos antes e uma música que deduzi ser romântica começou a tocar. Como eu não entendia muito de espanhol, mal consegui compreender o que era cantado – apesar de achar a melodia muito bonita.

— Howito, por que você não ensina a Anna a dançar Salsa? Eu sempre quis aprender, mas... – comentou Selena com um tom de voz meio triste.

Se tinha uma pessoa que não sabia ser sutil, essa era minha melhor amiga.

— O que? – perguntou Howard meio incrédulo e rindo em seguida. – Nem vem. Faz anos que não pago esse mico.

— Amiga, você sabia que ele foi campeão regional aos quatorze anos? – indagou Selena em tom de fofoca. Olhei para Howard e suas bochechas estavam mais vermelhas que a cor do meu esmalte.

— Eu só acredito vendo – desafiei.

— Que vergonha, meu pai... Ok – disse ele levantando-se do sofá e estendendo sua mão para me ajudar a ficar em pé. Levantei-me e ele segurou minha outra mão, ensinando-me o básico.

— Essa é a posição aberta – explicou-me ele e dando alguns passos para trás. – Eu vou para frente com a perna esquerda e você vem na minha direção com a perna direita.

— Ok – respondi.

— Um, dois, três, quatro... – disse Howard contando os passos. – Isso, só tente balançar mais os quadris e os ombros.

Olhei para minha amiga e ela continuava a beber sua piña colada não alcoólica e olhar para nós dois com um semblante sonhador. Lancei a ela um olhar do tipo “você me paga” e ela apenas deu de ombros como uma criança mimada, rindo de mim em seguida. Revirei os olhos e segui prestando atenção ao que Howard dizia, tentando seguir seu ritmo. Achei divertido, até, e quase me esqueci de que não estava naquela situação por vontade própria.

— Ok, agora eu vou te girar. Pronta? – indagou ele. Assenti afirmativamente e assim ele o fez, apoiando uma das mãos em minhas costas enquanto a outra segurava a minha. Tudo foi tão rápido que quando o movimento acabou me senti um pouco tonta e pensei que iria cair. Apoiei minhas mãos em seu peito e Howard me segurou pela cintura, evitando minha queda.

— Tudo bem? – perguntou-me ele, observando-me atentamente.

— Sim – respondi meio sem jeito. – Acho que preciso treinar um pouco mais.

— Meu irmão seria um excelente professor – cantarolou Selena. Senti meu rosto esquentar e desviei o olhar. Howard riu levemente e continuou a me encarar com seus grandes olhos castanhos, o que me fez corar ainda mais.

— Bom, chega de Salsa por hoje. Eu tenho um compromisso agora à noite e preciso me arrumar.

Percebi que ainda me apoiava nele, então me afastei um pouco sem jeito e senti os olhos de minha amiga sobre nós dois.

— Aonde o mocinho pensa que vai? – perguntou ela sem conseguir conter a curiosidade.

— Não vou dizer – respondeu ele imitando seu tom de voz e sorrindo de maneira cínica.

— Aposto que vai se encontrar com alguém – disse ela fuzilando-o com os olhos. – Está vendo amiga, a falta de educação que eu tenho que aturar?

Howard riu e desenhou um coração no ar com as duas mãos, piscando para ela.

— Eu te amo – disse ele afastando-se de nós duas e entrando pela porta da sala. Sentei-me na beirada da espreguiçadeira onde estava Selena e a fuzilei com o olhar.

— Você não perde a oportunidade – disse eu alfinetando-a.

— Um dia, vocês vão descobrir que se amam e ainda me agradecerão – cantarolou ela.

— - - - - ◈ - - - - -

Quando saí da casa dos Dorough, fui direto para casa e jantei com meus pais. Conversamos um pouco sobre como havia sido o dia de cada um. Contei a eles que fiquei com Selena e minha mãe me pediu para convidá-la para passar o dia com a gente quando minha amiga tivesse tempo. Estranhei aquela atitude porque minha mãe nunca me pedia para convidar minhas amigas para virem até a nossa casa, apesar de gostar muito de Selena. Eu tinha certeza de que ela estava querendo sondar se o que havia entre mim e Howard era mais do que uma amizade e uma relação profissional.

Por mais que minha mãe tivesse atuado no meio artístico na época em que era modelo, aparecendo em clipes musicais e comerciais de televisão, ela nunca havia se envolvido com ninguém do mesmo círculo, e por isso o casamento com meu pai fora algo inesperado pelas pessoas próximas a ela. Minha halmeoni por parte de pai não aprovava a união do filho porque achava que minha mãe era uma interesseira, e infelizmente esse tipo de comportamento mesquinho e preconceituoso se refletia em mim também por parte da minha mãe. Mesmo eu sendo adulta, ainda morava com meus pais e minha mãe se achava no direito de escolher um marido para mim. Patético.

Apesar da ansiedade, consegui dormir “um sono só”, como Nari dizia. Não me lembro de ter sonhado com absolutamente nada, o que foi bom, pois só assim conseguia descansar. No dia seguinte acordei bem disposta e com um frio enorme na barriga. Nem conseguia pensar direito no que iria vestir! Será que iríamos a um lugar mais descontraído ou a algum restaurante mais requintado?
Esperei pela mensagem que Alex disse que me enviaria, mas estava demorando um pouco. Lá pelas dez e meia da manhã, tomei um banho, mas continuei de pijamas, e resolvi que esperaria ele chegar primeiro para depois decidir com que roupa eu iria. Dependendo do que ele estivesse vestindo eu saberia em que lugar iríamos comer.

Ao descer as escadas para tomar café, ouvi vozes animadas vindas da cozinha. Achei aquilo muito estranho, pois nunca havia ouvido minha família conversar com algum dos nossos funcionários daquela maneira, a não ser com Nari, que era praticamente da família. Tomei um susto ao chegar lá, pois vi Alex encostado despreocupadamente na ilha da cozinha enquanto Nari morria de rir de alguma história que ele contava.

— Bom dia, meu amor! Olhe só quem está aqui! – exclamou ela toda animada.

— Oi, Anna – cumprimentou-me Alex, bebendo uma xícara de café de maneira despreocupada. Perdi o rumo quando o vi ali, dentro da minha casa depois de tanto tempo - até me esqueci de que estava vestindo pijamas. Se a intenção dele era me surpreender e me fazer querer hiperventilar de emoção, tinha acabado de conseguir.


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