Say Something escrita por Nikka fuza


Capítulo 2
Capítulo 01 - Você Não É Nada Sem Ela




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Ela é uma rosa murcha com espinhos tão afiados como sempre, mas lembre-se que você não é nada sem ela, você está sozinho nesse mundo insensível"

Dimitri Belikov

 

Eu soube que havia cruzado todos os limites ao ver a dor estampada no rosto de Rose. O medo que eu sentia de machucá-la acabou me obrigando a fazer exatamente o que eu temia. Por que ela não pôde apenas se afastar? Por que não pôde compreender que eu não seria capaz de sentir algo belo depois de tudo o que eu fiz?

Ela se afastou rapidamente e eu me peguei desejando que ela não me ouvisse, que ela continuasse insistindo em se aproximar para que eu pudesse me desculpar.

— Belikov, estamos bem? — um guardião se aproximou.

Eu acenei com a cabeça tentando voltar a prestar atenção na missa, mas minha mente não podia mais se prender ao que o padre dizia. Eu via apenas Rose, seu olhar magoado se misturava com lembranças de seu sorriso fácil e espontâneo que me cativava. Inúmeros momentos que passamos juntos invadiram minha mente, terminando com a lembrança da noite que tivemos na cabana. 

Rose estava deitada sobre meu peito e eu acariciava sua cabeça antes de beijar sua testa.

— Eu amo você, Rose.

Eu a amava, eu sabia disso, mas...

— E isso? — eu usei meu controle sobre seus cabelos para expor o alvo de meu desejo — Você quer isso?

— O que...

Eu não permiti que ela terminasse sua frase, afundei minhas presas na pele macia de seu pescoço, por um instante a senti resistir, mas então seu corpo se desmanchou novamente diante de meu toque enquanto eu saboreava seu sangue, e...

Eu fechei os olhos com força, expulsando aquilo de minha mente. Era por isso que eu precisava me manter longe. Eu não poderia me entregar de novo àquele sentimento. Não quando a lembrança do desejo de matar a mulher que eu amava estava fresca em minha memória.

Acalmei minha mente tentando me concentrar nas palavras do padre, mas aquilo pouco me adiantou. Por fim, minha mente vagou até Vasilissa, conseguindo se aquietar por um tempo. 

Ao fim da missa, os guardiões me escoltaram para fora, parecendo aliviados por tudo ter corrido bem. Pouco a pouco eles estavam se convencendo que minha restauração era real.

— Você quer ir a algum lugar, Belikov? — Brad, um dos guardiões, perguntou parecendo de bom humor — acho que você pode passar um tempo fora do quarto hoje.

Estava prestes a negar sua proposta quando uma movimentação de um pequeno grupo de guardiões chamou minha atenção.

— O que está acontecendo? — eu indiquei com a cabeça.

— Não sei — Chase, o outro guardião, franziu o cenho antes de acenar para chamar a atenção de um deles que ia em direção ao bosque — esperem aqui.

Ele se aproximou do guardião, mantendo o tom baixo enquanto verificava o que estava acontecendo.

— A jovem guardiã Hathaway... — eu ergui minha cabeça ao ouvir o nome de Rose.

— Você quer dizer Rose Hathaway? — eu me aproximei, sentindo meu coração disparar.

Algo estava terrivelmente errado ali, eu sabia.

— Belikov, é melhor você... — Brad tentou me afastar.

— Eu era o mentor dela, algo errado? — eu insisti, sentindo uma urgência começar a crescer em mim.

Eles trocaram olhares e mantiveram silêncio até que Mikhail Tanner se aproximou com uma expressão grave.

— O que vocês estão fazendo? Não temos tempo a perder — Ele ralhou.

— Nós temos que ir — o outro guardião se apressou sem me responder.

— Mikhail, eu ouvi o nome da Rose — minha voz soou quase desesperada.

Eu sabia que havia acontecido algo, em meu interior eu sabia. Meus guardiões pareciam prestes a me arrastar de volta para o quarto quando Mikhail suspirou.

— Ele é quem mais a conhece, pode ajudar nas buscas — ele avisou, os dois se colocando em movimento.

Buscas? Que buscas?

Eu não hesitei em segui-lo. Não esperei a permissão de meus guarda costas, que logo se colocaram em movimento para nos alcançar.

— Ajudar? Ele é...

— Ele é o que? Que eu saiba, não é mais um prisioneiro — Mikhail respondeu sem diminuir seus passos.

— Rose, o que aconteceu com ela? — eu insisti, o seguindo entre as árvores.

Meu coração estava disparado em meu peito. Eu precisava de uma resposta naquele momento.

— Ela caiu da cachoeira — ele apontou para um lugar — estamos procurando por ela agora, e...

Eu não consegui ouvir uma palavra depois daquilo, eu corri para o local onde ele indicou, observando a queda de nove metros abaixo. Não... Isso não está acontecendo, eu a vi não faz nem duas horas, como...

Eu desisti de você.

— Não— eu balbuciei.

— Belikov — Mikhail se aproximou com Brad e Chase.

— Como isso aconteceu? O que ela estava fazendo aqui? — eu consegui perguntar tentando conter o desespero que crescia em meu interior.

— Ela estava procurando por isso — A voz de Christian Ozera chamou minha atenção.

Ele estava encostado em uma das árvores e tinha os olhos vermelhos, como se tivesse chorado em algum momento.

— Como? — eu balbuciei.

— Eu a segui depois que a vi sair da igreja — ele se desencostou da árvore, caminhando até mim — "Eu desisti dele", essas foram suas últimas palavras antes de se jogar.

Foi como se um grande buraco se abrisse em minha alma. Não. O que eu fiz? 

De repente eu não sentia mais minhas pernas, elas falharam sob o meu peso me derrubando de joelhos. Rose.

Não! Aquilo era um pesadelo, não podia ser real!

— Acho que você entendeu — Eu não conseguia identificar o sentimento no olhar do rapaz — eu a vi cair. Acho que de todos, você foi quem mais a machucou.

Eu fechei os olhos sem saber como me sentir. Eu me sentia mal desde que fora restaurado, mas aquilo?

— Você não é nada sem ela, e sabe disso — Christian respirou fundo.

— Belikov, agora não é hora de desistir — Mikhail se aproximou — se levante e nos ajude a encontrá-la. Talvez ela ainda tenha uma chance.

— Você deve isso a ela — Christian declarou antes de se afastar, voltando a se encostar na árvore de antes.

Apesar das queixas de meus guardas, Mikhail os convenceu que era vital que eu ajudasse nas buscas, e por fim, passamos as horas seguintes caminhando pelas margens acidentadas do rio à procura de Rose. A Cada minuto que se passava sem que a encontrássemos, meu desespero aumentava. Eu senti como se estivéssemos de volta ao resort em Idaho, quando ela fugiu para Spokane. Ali eu tive certeza que a perderia, e quando a encontrei.

— Ela ficará bem — eu disse a mim mesmo em russo, na tentativa de me acalmar.

Ela tinha que estar bem. Ela já sobreviveu a coisas piores!

—ALI! — um dos guardiões gritou, fazendo com que eu corresse com os outros na direção indicada.

 Olhei para onde ele apontava, identificando um corpo na outra margem do rio. Antes que alguém tomasse qualquer atitude, eu me lancei na água, me apressando para alcançá-la.

 Ouvi alguns comandos sobre providenciar macas e ambulâncias enquanto a tomava em meus braços.

 Consegui identificar duas fraturas claras em seu braço, e meu coração parou por alguns segundos ao olhar em seu rosto. Ele estava inchado, coberto de hematomas e escoriações, seu cabelo que eu tanto amava estava cheio do sangue que escorria de um corte feio em sua cabeça, havia gravetos e folhas embrenhados ali.

— Por favor, esteja viva — eu balbuciei, levando meus dedos trêmulos até seu pescoço na tentativa de sentir sua pulsação.

Eu soltei a respiração que não tinha percebido que havia prendido ao sentir um pulsar fraco em suas veias.

— Belikov, a traga para cá — Brad gritou do outro lado da margem e eu logo obedeci, me movendo cuidadosamente com ela em meus braços.

 Tudo aconteceu depressa, Rose foi tirada de meus braços, colocada na ambulância. Os guardiões conversaram mais uma vez com Christian e toda aquela movimentação começou a se dissolver.

— Vamos Belikov, você precisa de um banho e roupas secas — Chase se aproximou.

— Eu... 

Eu não queria voltar para o quarto, eu queria ir até o hospital acompanhá-la de perto. Mas sabia que era um milagre ter conseguido permanecer até agora, acatando as instruções, eu os segui sem nenhuma reclamação. Minha situação atraiu a atenção de curiosos enquanto caminhávamos pelas ruas da corte.

Cheguei ao quarto e fui diretamente para meu banheiro, me livrando das roupas molhadas e deixando a água quente escorrer pelo meu corpo. As lágrimas que vinha segurando por tanto tempo enfim começaram a sair, queimando meus olhos no processo. Como eu pude fazer isso? Como eu pude permitir que isso chegasse tão longe? Após tê-la amado mais que minha própria vida, como eu pude machucá-la dessa maneira?

Era hora de ser honesto comigo mesmo, aquilo me feriu mais do que qualquer coisa que eu já tivesse feito. 

Saí do banho e me joguei na cama, encarando o teto do meu quarto enquanto pensava no que eu faria a seguir. Eu preciso ficar ao lado dela, ela precisa se recuperar, se ela partir... Eu não sei se sou capaz de continuar sem sua existência nesse mundo.

As horas se passaram sem que ninguém desse nenhuma noticia sobre Rose. Eu não conseguia dormir, ou tirá-la de meus pensamentos. O sol já estava alto quando bateram na porta do meu quarto. Eu fui ansioso até lá, pensando que talvez fosse alguém que pudesse me trazer notícias.

— Belikov, você precisa nos acompanhar até o gabinete do Guardião Croft — um guardião que me era desconhecido avisou.

— Mas e a guardiã Hathaway? Ela... — eu alternei meu olhar entre ele e os dois guardas que ficavam na porta do quarto.

— Isso será respondido pelo guardião Croft — ele garantiu.

Eu tive um mau pressentimento sobre aquela declaração, mas sabendo que não conseguiria mais nenhuma informação, optei por segui-lo sem questionar. Quanto antes eu chegasse ao gabinete do Guardião Croft, antes eu teria notícias do estado dela. Assim que entramos no prédio dos guardiões o clima estava tenso. Alguns dampiros me olharam desconfiados, enquanto outros pareciam simplesmente perdidos. 

O que está acontecendo?

Eu pensei que havia sido levado até ali para prestar esclarecimentos sobre o que aconteceu com Rose, principalmente após ver Christian sair do gabinete do Guardião Croft, me lançando um olhar cansado ao cruzar meu caminho. Mas ao entrar na sala e encontrar o chefe dos guardiões reais parado ali, senti que se tratava de mais do que aquilo.

— Belikov, estávamos esperando por você — Hans indicou para que eu me sentasse à frente deles.

Eu fiz o que ele mandou, sentindo meu coração acelerar diante da situação. Algo está muito errado aqui!

— Do que se trata? — eu questionei.

— Belikov, você pode nos contar como foi o seu dia? — O guardião real solicitou.

Eu olhei em volta confuso com aquela pergunta, mas no rosto de Hans Croft eu vi apenas uma coisa, eu deveria responder todas as perguntas sem questionar.

— Eu fui à igreja pela manhã — eu comecei a narrar — nós permanecemos até o fim da missa. Os guardiões Brad e Chase estavam me levando de volta ao quarto quando encontramos Mikhail Tanner.

— Quando vocês encontraram Mikhail Tanner, o que ele disse? — Hans me interrompeu.

— Ele nos contou o que havia acontecido com a Guardiã Rose Hathaway — narrei — nós o acompanhamos até o local do ocorrido e auxiliamos nas buscas.

— Foi você quem localizou a guardiã Hathaway? — o outro guardião perguntou.

— Não, foi outro dampiro, eu apenas tirei da água — eu franzi o cenho.

Eles parecem já saber de tudo, por qual motivo estão me fazendo essas perguntas?

— E depois o que aconteceu? — Hans tomou a palavra mais uma vez.

— Então Rose foi levada para o hospital e eu fui escoltado de volta ao quarto, permaneci lá até vocês me buscarem — eu olhei em volta — o que está acontecendo? Por que a guarda real está aqui?

— Serei direto com você, Belikov — Hans Croft me lançou um olhar grave — a Rainha Tatiana Ivashkov foi assassinada.

Eu não tive qualquer reação imediata aquela notícia. A rainha foi assassinada? Dentro da Corte? Como isso pode ser possível!?

E então minha mente começou a ligar os pontos. Eles me trouxeram até aqui, fizeram todas essas perguntas. Isso é ridículo. Eu nunca conseguirei voltar a ser um guardião!

— Então, vocês pensam que eu fiz isso — eu conclui, tentando manter a calma — mesmo tendo alguns guardiões de olho em mim o tempo todo.

Os guardiões presentes na sala trocaram olhares cheios de significado antes de Hans suspirar.

— Não é isso que está acontecendo aqui, Belikov.

— Não? Então qual o motivo de todas essas perguntas? — eu devolvi — me parece que querem confirmar onde eu estive o tempo todo.

— Não é o seu álibi que estamos confirmando, Sr Belikov — o homem da guarda real devolveu — É o da guardiã Hathaway! 

Eu pisquei atordoado diante daquilo. Rose? Por que Rose precisa de um álibi?

— Eu não...

— A estaca usada para assassinar a Rainha Tatiana pertence à Guardiã Rosemarie Hathaway, Belikov. — Hans esclareceu.

— Rose nunca faria isso. Vocês não podem acusá-la — eu me levantei — não nesse momento!

— Acalme-se Belikov — ele pediu — nós não vamos acusá-la.

— Sim, após ouvir seu depoimento, de Christian Ozera e de outros guardiões, está claro para nós que a guardiã Hathaway foi incriminada pelo verdadeiro assassino. Agora iremos investigar quem é!

Eu voltei a me sentar, me sentindo um pouco aliviado diante daquelas palavras. Quem faria isso com Rose? Por que?

— Ainda sobre a guardiã Hathaway, Belikov. Christian Ozera disse que sua queda não foi um acidente, e sim, uma tentativa de suicídio — Hans voltou a falar chamando minha atenção — você tem algo a dizer sobre isso?

Aquela pergunta me pegou desprevenido, eu me mexi desconfortável na cadeira, sentindo o olhar de todos sobre mim.

— Eu...

— Tentaremos de outra forma, Belikov — Steele, um outro guardião que estava na sala tomou a palavra — Qual é a sua relação com a guardiã Hathaway?

— Eu fui seu mentor quando ela ainda estava na St Vladimir — eu senti minha pulsação acelerar.

Eles sabem! 

— Apenas isso, Belikov? — Hans ergueu uma sobrancelha — porque de acordo com o depoimento do Sr Ozera, e com tudo o que temos observado desde que você voltou, há alguns indícios que indicam que o relacionamento de vocês não é apenas profissional.

Eu pisquei sem saber o que dizer diante daquilo. Eu não sabia o que Christian havia revelado e nem ao certo o que ele sabia sobre Rose e eu.

— Antes que você responda, Belikov. É melhor considerar que sua situação não é das melhores para que aceitemos mentiras — Hans avisou — se você quiser ter alguma chance de voltar a ser um guardião, é melhor ser honesto conosco.

Com aquela intimação eu soube que não teria outra escapatória. 

— Quando me tornei seu mentor, eu estava disposto a transformar Rose na melhor guardiã — eu comecei — mas com todo o tempo que passávamos juntos e todos os treinamentos... Nós dois acabamos nos aproximando e um sentimento acabou surgindo. 

— Então vocês estavam envolvidos esse tempo todo? — Steele declarou horrorizado.

Eu decidi que era melhor contar apenas partes da verdade e deixar de fora alguns detalhes.

— Não, nós decidimos esperar até que ela completasse dezoito anos e eu tentaria uma realocação na corte — eu respirei fundo — mas o ataque a St Vladimir aconteceu alguns dias antes.

Relembrar aqueles detalhes fez meu coração sangrar. Aquela fora a primeira vez que eu me permiti acreditar que poderia ter algo realmente meu em minha vida, e em questão de segundos, tudo fora tirado de mim. O olhar desesperado de Rose ao perceber que eu havia sido derrubado por Nathan ainda estava gravado em minha mente.

— Segundo relatos, desde que você... voltou... Vocês dois vinham discutindo — O guardião real me observou — Christian Ozera disse que vocês discutiram na igreja antes de tudo acontecer.

Eu balancei a cabeça em afirmativa, sem saber como responder aquilo verbalmente. Se eu não tivesse dito aquelas palavras a ela…

 Como eu pude?

— Você acha que isso pode ter sido a motivação da guardiã para tal ato? — Steele me encarou.

Eu não queria mais responder aquelas perguntas, eu queria ter alguma notícia dela, eu precisava!

— Eu já contei tudo o que sabia. Eu preciso ter notícias dela, eu...

— A guardiã Hathaway está internada na unidade de terapia intensiva, e está estabilizada — Hans me cortou — e eu creio que nós temos tudo o que precisamos por hora.

Os dois guardiões se levantaram e se despediram, saindo da sala em seguida. Eu estava prestes a fazer o mesmo quando Hans me interrompeu.

— Belikov, você sabe que haverá uma investigação sobre toda essa sua situação com a guardiã Hathaway — ele suspirou parecendo cansado.

— Sim senhor — eu assenti — mas neste momento, eu apenas gostaria de vê-la. Eu preciso.

Ele pareceu pensativo, como se ponderasse as consequências de suas decisões. Por fim, ele voltou a suspirar, se levantando e vindo em minha direção.

— Sabe Belikov, por um lado toda essa situação foi boa. Os guardiões estão convencidos que você não tem mais nenhum resquício de Strigoi em seu interior graças à sua atitude — ele se colocou à minha frente.

— Estão convencidos o suficiente para permitir que eu a veja? — eu joguei a sorte.

Por um momento pensei que ele não me responderia, ou riria da minha cara e ordenaria que me jogassem de novo em uma cela. Mas não.

— Faremos o seguinte. Toda essa situação com o assassinato da Rainha tomará muito de nosso tempo livre — ele voltou a falar depois de uma breve consideração — É possível que o verdadeiro assassino tente eliminar Rose ao descobrir sua situação.

— Ao descobrir? — eu franzi o cenho.

— Nós mantivemos tudo o que aconteceu em sigilo. Não será possível manter dessa maneira por mais tempo, então é provável que o verdadeiro assassino tente algo contra ela — ele explicou — Eu posso transformá-lo em seu acompanhante oficial, se você se dispuser a protegê-la se necessário.

— Eu posso fazer isso, Senhor — eu garanti me levantando.

— Te acompanharão até o hospital — Ele acenou a cabeça indicando que eu me retirasse.

Eu não perdi mais nenhum segundo ali. Alguns minutos mais tarde, eu estava caminhando pelos corredores do hospital acompanhado do guardião Cliff. Ele me deixou na porta do quarto após conversar com uma moroi, explicando minha situação "especial". 

Eu entrei ali sendo recebido pelo som do monitor cardíaco que enchia o ambiente. Rose estava deitada sobre a cama, e estava praticamente irreconhecível. Ela tinha um braço e uma perna engessados e fizeram um bom curativo em sua cabeça. Mas o que me fez prender a respiração ao me aproximar, foi o tubo em sua boca. Eu nunca imaginei vê-la daquela maneira um dia, aquilo tinha que ser um pesadelo. Não podia estar acontecendo!

— Pensei que te prenderiam por mais tempo — Christian chamou minha atenção, fazendo com que eu me virasse para os fundos do quarto.

Ele estava sentado em uma poltrona no canto oposto do quarto e se levantou quando eu o vi.

— Eu tive que contar a eles sobre vocês — ele explicou — sinto muito, mas estavam sugerindo que talvez ela tivesse feito isso por remorso.

— Eu entendo — eu voltei minha atenção para ela, acariciando seu rosto, sentindo as lágrimas lutarem para chegar aos meus olhos.

Christian se colocou ao meu lado, também observando a garota deitada ali completamente indefesa. Uma batida na porta chamou nossa atenção, nós nos viramos a tempo de ver um jovem médico entrar no quarto.

— Dimitri Belikov? — Ele alternou o olhar entre nós dois.

— Sim?

— Eu sou Michael Lillard — ele estendeu a mão — sou o médico responsável pela paciente. Me avisaram que você é o acompanhante oficial enquanto ninguém da família se apresenta.

Christian me lançou um olhar surpreso, mas eu apenas acenei confirmando. Eu queria saber o que ele tinha para dizer sobre o quadro de Rose.

— Como ela está? — Christian perguntou.

— Estável, mas... Serei sincero com vocês. Eu não teria grandes esperanças. É um verdadeiro milagre ela ainda estar viva — ele suspirou.

Eu não consegui absorver aquelas palavras imediatamente, no fim, Christian se recuperou mais rápido que eu.

— Você quer dizer que ela não vai se recuperar? 

— Talvez seja melhor vocês começarem a se despedir — o médico declarou — eu sinto muito.

Eu voltei minha atenção para seu rosto, me recusando a aceitar aquelas palavras. Ela ficará bem, apenas precisa de um tempo para se recuperar. Ela é forte, sempre foi!

— Vocês por acaso pensaram no que a escuridão poderia fazer a ela? — A voz de Christian vacilou.

Eu ergui meu olhar para o rapaz, encontrando seus olhos azuis marejados enquanto ele lutava contra as lágrimas.

— Ela estava absorvendo a escuridão por todo esse tempo, e nem você e nem a Lissa pensaram nas consequências — ele declarou com raiva — Você pensou apenas na sua dor esse tempo todo. Vocês dois! Não pensaram nela nem por um segundo, e agora ela está assim!

Suas palavras me atingiram com força exatamente por conter somente a verdade. Desde que fui restaurado eu apenas pensei no quanto as lembranças que vinham em minha mente sempre que eu a via, me machucavam. Mas eu não pensei em nenhum momento o quanto eu a estava machucando.

— Acabou — eu declarei tirando o cabelo do seu rosto. — Acabou. Tudo vai ficar bem.

Rose balançou a cabeça com uma expressão assustada

— Não. Não vai. Você... você não entende. É verdade; tudo com o que eu me preocupava. Sobre Anna... Sobre eu pegar a loucura do espírito... Está acontecendo, Dimitri. Lissa enlouqueceu lá com Jesse. Ela estava fora de controle, mas eu acabei com aquilo, porque suguei sua raiva e a coloquei em mim. E é... é horrível. É como se eu fosse, sei lá, uma marionete. Não consigo me controlar.

— Você é forte — eu tentei acalmá-la — Não vai acontecer de novo.

— Não — sua voz falhou por um momento enquanto ela se sentava — Isso vai acontecer de novo. Eu vou ficar como a Anna. Eu vou ficar pior e pior. Dessa vez, foi sede de sangue e ódio. Eu queria destruí-los. Eu precisava destruí-los. E da próxima vez? Não sei. Talvez será apenas loucura, como com a professora Karp. Talvez eu já esteja louca, e é por isso que vejo Mason. Talvez tenha depressão, como Lissa tinha. Eu vou continuar caindo e caindo, e aí serei como a Anna e vou me suici...

— Não — Eu não consegui ouvir mais. Eu não podia sequer imaginar aquela possibilidade. Aproximei meu rosto do seu, nossas testas quase se tocando. — Não vai acontecer com você. Você é muito forte. Vai lutar contra isso, como fez dessa vez.

— Eu só consegui porque você estava aqui.

Eu a envolvi em meus braços, tentando protegê-la.

— Não consigo fazer sozinha — sussurrei.

— Consegue, sim — tentei transmitir alguma confiança a ela. — Você é tão, tão forte... Por isso eu amo você.

— Você não devia. Vou virar algo terrível. Eu posso até já ser algo terrível.

Aquilo era ridículo. Ela nunca seria nada além de maravilhosa e ela precisava crer nisso. Eu me afastei o suficiente para olhar em seus olhos, segurando seu rosto com minhas mãos.

— Você não é. Você não vai virar — Eu declarei com firmeza — Não vou deixar. Não importa o que aconteça, eu não vou deixar você.

E eu tinha feito exatamente o contrário. Eu não cumpri nenhuma de minhas promessas e não sabia nem por onde começar a compensá-la por isso. Christian saiu da sala sem olhar para trás. Eu me senti agradecido, finalmente deixando as lágrimas saírem com a lembrança.

— Você ficará bem — eu declarei, levando sua mão livre até meus lábios.

Eu me recusava a acreditar nas palavras do médico. Eu não me despediria dela, eu não a deixaria partir assim.

Fiquei parado ali velando por ela por alguns minutos até que o cansaço daquele dia e todas as horas sem dormir começou a tomar conta de mim. Eu segui até a poltrona que Christian estava acomodado antes. Desde que eu fora restaurado, dormir se tornou uma tortura para mim. As lembranças de minhas ações como Strigoi vinham em forma de pesadelo e me assolavam. Dessa vez não foi diferente. 

Eu estava terminando de me alimentar de uma humana qualquer que conhecera em uma boate em Moscou. Eu sentia a vida deixando seu corpo pouco a pouco e aquilo me deliciava. Mas logo aquela imagem foi interrompida pelo rosto sorridente de Rose durante um de nossos treinamentos. Quando ela tentava me vencer na corrida.

Aquela imagem de alguma forma conseguiu acalmar minha mente e me proporcionar um sono tranquilo.

 

 

 

 


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