I - Herdeira da Noite: Êxodo escrita por Elizabeth Charpentier


Capítulo 14
Capítulo Treze




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Depois de algumas horas dentro do carro rodando na estrada, os três chegaram em St. Charles e, como o último rapto havia acontecido há poucas horas, decidiram ir direto para a cena do crime como se fossem agentes do FBI. Passaram rapidamente em um posto qualquer para vestirem os uniformes e esconderem as armas. Daquela vez Nyssa se passaria por uma agente em treinamento enquanto Dean e Sam comandariam tudo.

— Me permitam perguntar, mas por que o FBI está interessado em raptos em uma cidadezinha pequena? — um dos policiais encarregados do caso perguntou quando chegaram ao quarto da garota raptada.

Nyssa se agachou perto do batente da janela e encontrou um pequeno pedaço de escama de peixe em um tom esverdeado, como o contato de Bobby havia dito. Pegou-o e colocou em um de seus bolsos sem que alguém da perícia visse.

— Estes casos estão ocorrendo em diversos estados Sargento, o que acaba envolvendo o FBI também. — ouviu Sam explicar. — Podemos analisar um pouco o quarto? Prometemos não mexer em nada.

O policial os deixou sozinhos um pouco a contragosto. Começaram a vasculhar todos os cantos do quarto procurando por algum outro pedaço de escama ou algo suspeito, mas não encontraram nada. Como nos outros casos, a garota havia sido raptada e todas as suas jóias verdadeiras foram roubadas, restando meras e baratas bijuterias.

— O amigo do Bobby disse qual ser mitológico ele pensa que é aqui? — Nyssa perguntou, sentando-se na beirada da cama.

— Ele acredita que é um dragão, — Dean respondeu rindo. — mas isso é impossível.

— Se vampiros, metamorfos, fantasmas, carniçais e todas essas coisas que caçamos existem, mesmo todos acreditando que não passam de contos, é melhor não duvidar. — Nyssa comentou.

— Mas ainda assim é um absurdo. Como um dragão voaria por aí sem que ninguém o visse?

— Não sei, ele pode se camuflar, talvez. Anjos existem e não saem com as asas para fora o tempo todo. — Sam se intrometeu.

Sam se lembrava muito bem de ter lido sobre dragões ou seres semelhantes nos livros de Bobby e algumas passagens no diário de seu pai. Eles iam em busca de mulheres virgens e outro para poder fazer seus sacrifícios e libertar sua mãe do purgatório.

— Quanto anos as garotas tinham? 18? — Sam perguntou enquanto a teoria se formava em sua cabeça.

— Entre 17 e 21 anos. — Nyssa respondeu olhando o relatório em mãos. — Todas moravam com os pais ou avós, consideradas de família, calmas e comportadas. Não namoravam ou tinham um histórico disso. Não tinham contato com pessoas que pudessem incentivar a fuga.

— Bom, não querendo generalizar, mas a maioria das garotas dessa idade e com essas características não costuma ter uma vida sexual ativa ou ter uma vida sexual. E, de acordo com os livros de Bobby e do pouco que vi nos diários do papai, dragões estão à procura de garotas virgens para realizar um sacrifício e libertar sua mãe ou criadora. — Sam expôs.

— Vamos voltar para o hotel então, pesquisamos um pouco mais sobre isso e se é possível essas criaturas ainda existirem.

(...)

Pesquisaram durante algum tempo sobre dragões em diversas mitologias que existiram ou ainda existiam. Haviam diversas formas de como eles se comportavam e suas características físicas, mas uma coisa era certa, que se repetia em todas as histórias: dragões adoram viver em cavernas ou lugares escuros, úmidos e relativamente isolados de outras pessoas e criaturas. Com isso, o único lugar da cidade que conheciam que se encaixava nessas características eram os esgotos que passavam por baixo de toda a cidade.

— Como vamos acha-lo? — Nyssa perguntou desgostosa com a ideia de ter que passar pelos esgotos. — Há quilômetros de túneis na cidade.

— Podemos delimitar um raio levando em consideração os locais dos raptos. — Sam deu a ideia.

— Vou achar um mapa da cidade.

A ruiva se levantou da cama sem nem ao menos ouvir os garotos e saiu do quarto. Desceu as escadas e foi em direção à recepção, onde uma mulher conversa ao telefone atrás de uma placa de vidro grossa que as separava.

— Com licença. — chamou sua atenção. Ela olhou para a garota e murmurou algo para quem estava do outro lado da linha e se virou para ela. — Gostaria de saber se você tem algum mapa da cidade que eu e meus amigos possamos usar. Somos novos e não queremos nos perder. — deu um sorriso amarelo e se apoiou na bancada, se aproximando o máximo que o vidro permitia.

— Claro, só um minutinho.

Ela se virou e começou a mexer em um armário atrás dela. Voltou para frente e entregou um papel extremamente dobrado e puído.

— Aqui está mocinha. — disse enquanto entregava.

— Muito obrigada. — agradeceu, sorriu e se virou para ir embora, mas a voz da mulher a fez voltar para o lugar.

— Olha, não quero ser intrometida ou qualquer coisa do tipo, mas tome cuidado enquanto anda por essas ruas. Há muitas garotas bonitas como você que estão sendo sequestradas nas últimas semanas. Tome cuidado. — alertou.

— Agradeço senhora, tomarei cuidado sim.

(...)

Quando seus pés tocaram o chão, toda a água suja que estava ali pulou em direção às suas pernas, molhando seu jeans com o que estava ali — e Nyssa nem queria pensar no que era para o bem da sua sanidade mental.

— Argh, que droga! — praguejou.

— Se prepare benzinho, só vai piorar. — zombou Dean.

Nyssa mostrou o dedo do meio para ele e andou à sua frente. Mesmo que não ligasse muito para a sua aparência física, se sujar em restos das necessidades de outras pessoas lhe causava enjoo. Continuou andando até que se deparou com vários outros túneis de esgoto indo em direções diferentes.

— Okay, vamos nos separar ou iremos juntos? — Nyssa perguntou aos dois.

— Vamos nos separar, assim isso acaba logo. Qualquer problema, liguem no celular do outro que iremos até onde você está. — Dean deu a brilhante ideia. Nyssa quase revirou os olhos.

— Dean, o sinal do celular não funciona aqui embaixo. — Sam lhe disse o óbvio.

— Então vamos marcar um ponto de encontro. Como cada um tem um mapa parcial da rede, podemos combinar de estarmos aqui daqui uma hora e, caso algum de nós não apareça, vocês vão atrás. — Nyssa deu a ideia aos dois, que concordaram.

— Nyssa! — Sam a chamou antes que fosse em direção dos túneis. — Castiel me entregou isto um pouco antes de viajarmos, esqueci de te entregar. — ele estendeu a ela uma das Katanas do treinamento.

— Ah, obrigada. Espero não precisar usar. — brincou.

— Se cuida, garota. — disse enquanto dava as costas para ela.

Voltou a andar e ligou a lanterna, iluminando o caminho a sua frente. O ambiente ficava cada vez mais escuro a medida em que caminhava, os bueiros que traziam um pouco de luz para o caminho iam sumindo gradativamente, aumentando o espaço entre eles. Tropeçou algumas vezes em tubos pequenos que passavam pelo chão, mas não encontrava nada além disso. Já estava começando a ficar irritada por andar e não encontrar nada, até que um brilho diferente chamou a sua atenção quando passou a lanterna.

Andou até lá e percebeu que era uma espécie de sala diferente das outras. Estava mais iluminada e haviam algumas plataformas por cima da água que passam por ali. O ambiente estava mais quente e o cheiro insuportável, porém aquele local diferente poderia ser ótimo para o esconderijo de um dragão, então continuou andando em sua direção.

Segurou com força a Katana em uma de suas mãos e rezou para que aquele lugar fosse apenas um lugar estranho e sem dragões, mas parecia que estava errada. Depois de passar por uma entrada, haviam várias joias aos montes pelo espaço, algumas parecidas com as que estavam nos relatórios da polícia.

Seu coração batia cada vez mais rápido com o perigo eminente. Mesmo sabendo onde estava, olhou o celular e viu que ali realmente não havia sinal. Não tinha como pedir ajuda, teria que contar com a sorte de Dean ou Sam acabar chegando até ali ou perceberem que não estava no local combinado.

Caminhou por mais alguns metros e começou a ouvir alguns murmúrios vindo abaixo das grades do chão. Retirou sua Katana da bainha e a posicionou em frente ao seu corpo, se preparando para o caso de alguém ou algo tentar atacá-la.

Continuou andando por cima das plataformas em passos calmos; não havia qualquer córrego passando abaixo dela, apenas o chão de concreto separados em algumas pequenas galerias, mas os murmúrios continuavam ali. Olhou ao seu redor e não havia nada além das paredes com musgos e a iluminação amarela passando pelos tubos. Voltou seus olhos para os seus pés, para os vãos entre as grades, e viu o leve brilho de alguns olhos a encarando, vendo as garotas presas embaixo das barras que sustentavam a plataforma.

Nyssa pulou as grades de proteção da plataforma e parou na frente de uma delas, retirando a sua mordaça.

— Vocês estão bem?

— Sim. — a garota a respondeu com a voz fraca.

— Onde está quem deixou aqui?

Ela gesticulou com a cabeça em direção a uma porta e murmurou um "ali".

— Eu não posso tirar vocês daqui agora, mas eu prometo voltar e buscar vocês, okay? — elas se entreolharam e começaram a se remexer. — Se ele sentir a falta de vocês, vai saber que estou aqui. Prometo voltar.

Colocou a mordaça novamente e subiu novamente para a plataforma, escalando uma das barras que a sustentava. Andou até a porta e se escondeu ao lado dela, abrindo-a um pouco e vendo seu interior pela fresta. Haviam mais algumas joias espalhadas pelo chão, agora de concreto limpo, e algumas tochas que iluminavam o espaço.

Não parecia haver qualquer movimentação ali dentro, então Nyssa abriu totalmente a porta e entrou, fechando a porta atrás de si. Achou um altar na parte esquerda da sala com alguns livros em línguas estranhas e algumas velas acesas, bem usadas pela cera que escorria e secava em sua base. Também haviam algumas cortinas azuis presas à parede do altar e alguns cálices espalhados por ele. Estavam manchados de vermelho e com as mesmas escritas dos livros.

— Ora, ora. O que temos aqui?

Se virou rapidamente, assustada com a repentina aparição do homem atrás de si. Olhou para a porta e ela continuava da mesma forma que havia deixado, e não havia escutado qualquer barulho dela abrindo ou fechando.

— Decidiu participar da festa, querida? — falou enquanto dava um sorriso assustador, mostrando todos os seus dentes e se posicionando de maneira ofensiva.

— Hoje não, amorzinho.

Nyssa partiu para cima dele instintivamente, antes que ele se movesse novamente em sua direção. Tentou acertar seu pescoço, mas ele desviou rapidamente para trás dela e puxou seus cabelos com força, fazendo-a curvar para trás e encarar o teto sujo. Arfou com a dor repentina em sua cabeça e lhe deu uma cotovelada onde alcançou primeiro, fazendo com que ele afrouxasse o aperto, a libertando.

Acertou seu rosto com a bainha da Katana e quebrou o nariz da criatura. Ele cambaleou para trás, colocando uma de suas mãos em seu rosto, tentando estancar o sangue. No pouco tempo em que estava livre de qualquer ataque, ela analisou quem estava à sua frente. Não passava de um mero humano, com características normais. Se não fosse pela agressividade e o local em que estava, ela nunca desconfiaria de que ele era um dragão — até mesmo se questionava se estavam certos.

Em um movimento rápido ele a empurrou na direção da parede mais próxima e a pressionou contra a parede, colocando um de seus antebraços no seu pescoço.

— O que te faz crer que vai conseguir se livrar de mim?

Ele colocou a sua mão livre na parte desnuda do antebraço de Nyssa, apertando firmemente sua pele. Enquanto ele sorria em sua direção, sua mão adquiria um tom alaranjado e esquentou ao ponto de começar a queimar a pele da ruiva, fazendo-a gritar e tentar se soltar. Aumentou ainda mais a força de seu antebraço no pescoço de Nyssa, impedindo que ela respirasse e permanecesse quieta.

Por nenhum momento ela deixou que a Katana caísse de suas mãos e, por algum motivo, ele nem ao menos se importou com isso. Nyssa começou a sentir sua cabeça pesar enquanto permanecia sem conseguir respirar. Sabia que tinha que agir e se desvencilhar daquilo o quanto antes, mas não importava o quanto de força depositava contra ele, ele não cedia.

Levantou a mão que estava a Katana na direção do quadril da criatura, hesitando em golpeá-lo ou não. Se Castiel estava certo, com aquilo ele morreria, mesmo que o golpe não fosse fatal. Sentiu seu coração bater ainda mais forte, mas sabia que se não o matasse, ele voltaria a sequestrar outras garotas e provavelmente eles não estariam aqui para protegê-las.

Sem pensar duas vezes ela atingiu com força o seu quadril, cravando a lâmina em sua pele. Ele a soltou, tanto em seu pescoço quanto em seu braço, cambaleando para trás.

— O que...

Seu corpo começou a tremer de uma forma estranha, como se estivesse prestes a convulsionar, e as veias em sua pele se sobressaiam como se um líquido vermelho e denso passasse por elas. Ele deu mais alguns passos para trás e caiu no chão, momento em que todo o seu corpo se desmaterializou em um pó vermelho.

Nyssa soltou a respiração que estava prendendo, relaxando seus músculos. Voltou correndo para a plataforma e deu de cara com Sam e Dean ajudando as garotas a subirem. Quando Dean a viu, andou rapidamente em sua direção.

— Como você está? Onde está o dragão? — perguntou preocupado.

— Estou bem e bom, o dragão era apenas um homem e está morto agora.

Dean respirou aliviado e a abraçou, encostando onde havia sido queimada, fazendo-a gemer. Ela estranhou seu ato de carinho, mas retribuiu da maneira que podia e seu braço permitia. Se soltaram rapidamente e trataram de ajudar o restante das garotas.

(...)

Daquela vez Sam acabou dirigindo de volta para casa, já que Dean queria aproveitar a viagem de volta para dormir um pouco. Nyssa decidiu ficar acordada lendo um dos livros de Bobby que havia trazido que falava sobre anjos e Deus. Queria saber um pouco mais sobre eles além do que as Irmãs a haviam ensinado na infância.

Apesar de ter começado há pouco, havia notado algumas diferenças nas histórias; o céu não era simplesmente um campo aberto para a vida eterna, e sim, uma pequena parcela feita para cada alma ou grupo que era digno de ir para lá, que representava um pequeno espaço de seu mundo e de seu cotidiano, onde viveria eternamente lá.

Isto parecia ótimo para ela, mas solitário.

— Sam, abaixa um pouquinho o volume do rádio?

Diminuiu sem falar nada e voltou a atenção para a estrada. Nyssa continuou concentrada em seu livro, sem se preocupar muito ao redor. Depois de alguns minutos em silêncio, Sam deu uma freada brusca, fazendo-a bater no banco da frente e acordar Dean.

— Mas o que...

Assim que olhou para frente viu um homem parado no meio da estrada, virado de frente para o carro, mas com o rosto abaixado e iluminado pelos faróis do carro. Quando os três olharam para frente, o homem levantou o olhar e fixou-se em Nyssa, com seus olhos totalmente brancos. Aquilo mostrava o quão estava ferrada. 

 


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