PARADOXO - Seson 3 escrita por Thaís Romes, Sweet rose


Capítulo 4
Capitulo 4 - Longe de Casa


Notas iniciais do capítulo

Oi Pessoinhas!
Esse é definitivamente um dos capitulos que estava mais ansiosa para postar. Primeiro por que eu particularmente amo demais a Sarinha e bem, não preciso descrever meus sentimentos pelo Wally, quem leu as duas primeiras partes dessa fic sabe bem como ele é o meu BB. Então estou super no hype para ver a reação de vcs!



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SARA

            4:50 AM

            Itacoatiara, Amazonas. Brasil.

            -Sara! -me viro em direção ao som e vejo um homem velho de descendência indígena com olhos cansados, mas um grande sorriso no rosto.

            Não existiam muitos motivos para aquele povo sorrir, passamos a noite esvaziando casas que alagaram após uma chuva que já durava dois dias. Muitas famílias perderam todos os bens que possuíam no processo, outras perderam a própria vida. Mas olhando em volta as pessoas empurravam canoas com móveis e roupas, quando acabavam ajudavam seus vizinhos a fazer o mesmo, traziam alimentos e tentavam nos manter saudáveis, mesmo estando com metade do corpo submerso em água por mais tempo que me lembro. Os ver sorrindo nesse tipo de situação me leva a imaginar o que mais essa gente suporta, ou como podem nunca perder a esperança.

            -Senhor Rudá -sorrio em resposta, meu português não é tão ruim mais, ainda assim as pessoas riam do meu sotaque quando tentava discursar por mais tempo.

            Rudá é uma espécie de líder da vila onde trabalho. Um homem de pele curtida pelo sol, olhos negros muito expressivos, seu corpo que um dia deve ter sido bem musculoso, hoje é enrugado e flácido em partes estranhas, mas existe algo nele. Rudá simplesmente sabe das coisas, ele conta que seu bisavô fora cacique de uma tribo que abitava o local, com o crescimento da civilização eles foram obrigados pelo governo a deixar suas terras, e observou sua cultura e costumes morrendo ano após ano. 

Moro com ele e sua esposa em uma pequena casa de tijolos de barro no alto de um morro. O casal costuma abrigar voluntários de outros países que vem ensinar inglês as crianças. São pessoas decentes e extremamente preocupados com seu povo, e quando cheguei no Brasil os dois me acolheram em minha pior forma e não desistiram nem por um instante de que eu poderia ser maior do que me enxergava no momento. Rudá e Iracema pacientemente me mostraram que tudo tem dois lados, e só eu tenho o poder de escolher qual valorizar.

            -Menina, não te vi indo descansar desde ontem. -diz como se fosse uma de suas netas e precisasse levar uma bronca por estar agindo da forma que ele esperava, com aquele típico sorriso orgulhoso que só um avô teria.

            -Só temos mais essa casa -dou de ombros antes de receber uma garrafa pet com o que acredito ser café com leite quente e um grande pedaço de bolo de milho. -E com o senhor cuidando de mim, nem me sinto mais cansada -digo com carinho o fazendo alargar ainda mais o sorriso.

            -Então coma e termine logo isso. Não quero que adoeça -faz um gesto para o garoto que remava a canoa, o menino se aproxima e fico ao lado deles comendo em silêncio.

            -Muito obrigada, senhor -agradeço secando o resto da garrafa.

            O homem velho se despede e volto a me concentrar no trabalho. Não passávamos muito tempo em cada casa, as pessoas não tinham muito o que salvar já que esse tipo de acontecimento era bem recorrente. Enquanto voltávamos os moradores cantavam baixinho e por vezes os via brincando de jogar água uns nos outros. Todo meu corpo estava cansado e vou precisar passar os próximos três dias de chinelos se quiser evitar uma micose, mas de alguma forma me sinto em paz.

            11:25 AM

            -Dona Iracema, se eu comer mais vou ficar pançuda! -ela dá risada da minha tentativa de imitar seus vícios de linguagem ignorando minha recusa e colocando outro grande pedaço de frango em meu prato.

            -Saco vazio não para em pé! -argumenta como se fosse uma grande explicação, e eu fico tentando juntar a sentença para entender o sentido de sua frase. -Apenas coma menina -sorri acariciando meu rosto antes de se levantar.

            -Deixa que eu faço! -me levanto com a coxa de frango na boca e minhas louças nas mãos.

            -Não se atreva! -ameaça me apontando uma perigosa concha de feijão, com uma expressão encantadora do que ela queria muito que fosse raiva.

            Me sento obediente e ela murmura “boa menina” antes de se virar para pia. Iracema deve ter sido muito bonita quanto jovem, hoje seus cabelos escuros com muitos fios brancos estavam em um rabo baixo, mas ainda eram grossos e brilhavam. Era mais alta que o marido, pouca coisa e sempre me divirto ao ver o senhor Rudá fazer careta quando outro ancião da vila se derrete em sorrisos para a esposa. Começo a sentir uma pequena pontada em meu peito e trato de terminar minha comida, me levanto abraçando Dona Iracema de costas e a carrego para fora da pia tomando o seu lugar, o que a faz reclamar entre risos, mas não poderia entender o que dizia naquela velocidade.

            Escovo meus dentes e visto um vestido de linho branco que acabava um palmo abaixo do meu joelho, escondo atrás do tecido uma corrente cumprida de prata onde guardo minhas alianças. Não tenho o que fazer com minhas olheiras fundas, estou a quase dois dias sem dormir por causa da enchente, mas como diria a Dona Iracema, ao menos não nos falta água e ainda parou de chover a tempo de as crianças irem à escola. Tudo uma questão de perspectiva no fim das contas. Apenas passo um protetor solar e tento ajeitar meus cachos em um coque alto, para ficar mais apresentável.

            -Já está indo minha florzinha? -a escuto perguntar quando pego minha bolsa e materiais que estavam na estante de madeira da sala.

            -Sim -pulo a mesinha de canto e dou um beijo estalado em seu rosto. -Diz ao senhor Rudá que vou ficar para a limpeza, não quero outra bronca por subir o morro depois de anoitecer -estremeço ao me lembrar da última, o que parece ser engraçado aos olhos da senhora.

            -Claro, vai com Deus -apenas aceno pensando em uma velha amiga, o que faz meu coração aquecer por um instante.

            Depois de andar aproximadamente quarenta minutos chego a escola onde leciono. Não que seja realmente uma escola, eram quatro casas médias lado a lado, sendo que uma delas estava servindo como abrigo para as famílias vítimas da enchente, separadas com pequenas saletas onde cada professor ensinava e um refeitório pequeno.

            -Tia Sara! -viro imediatamente ao escutar a vozinha aguda que pronunciava meu nome como se fosse música.

            -Nina -me abaixo para dar um abraço apertado na garotinha morena com grandes olhos escuros, percebo que havia um pequeno corte em sua testa, perto dos cabelos cacheados que estavam embaraçados e sujos. Seus bracinhos finos estavam arranhados e com algumas manchas rochas. -Você caiu? -me afasto para ver melhor e a garotinha faz beicinho. -O que foi querida.

            Nesse momento vejo duas professoras acompanhadas de um homem em seus quarenta anos, elas acenam para que me aproximasse com a garota que se encolhe e abraça minhas pernas não querendo se separar. Lucia a mãe de Nina, a teve na adolescência. Após se formar, começou a trabalhar na cantina e sempre trazia sua filha de dois anos com ela, para que a menina crescesse familiarizada com os dois idiomas. Todos na escola amam a criança que é doce e raramente faz algo errado. Escuto com o coração apertado o homem narrar que quando a casa desmoronou com a chuva, a encontraram abaixo dos corpos dos pais que a protegeram até o último momento. Pego a garota no colo tentando confortá-la, mas o homem procurava por Rudá, a fim de descobrir o que fariam com a criança que não tinha mais ninguém no mundo.

            -Não posso ficar por muito tempo -se dividia entre a necessidade de sair e a preocupação de deixar a garotinha sozinha.

            -Moro com Rudá -digo tentando não me atrapalhar com o idioma. -Sou professora voluntária e Nina sempre fica comigo em minhas aulas. Posso cuidar dela até o fim da tarde. Eu a levaria para casa e se senhor preferir pode passar a noite e pegá-la -sugiro e o homem parece se emocionar, apertando minha mão agradecido e falando muitas coisas rapidamente.

            -Obrigado, obrigado. -diz sacudindo meu braço, ergo um pouco Nina que ainda estava no meu colo tentando dispensar os agradecimentos. -Vou buscar a garota a noite, preciso trabalhar agora.

            Coloco Nina em uma carteira perto da minha mesa com folhas em branco e lápis de colorir para distraí-la.  Seu rostinho de bebê estava imerso em uma tristeza que não me parecia justa a alguém daquela idade, apesar de parecer que não queria estar ali, a garotinha não deu nenhum trabalho durante as aulas. Almoçamos junto a outros professores voluntários e não importava o quanto se empenhassem ela simplesmente não saia do meu colo. A coloco sobre uma mesa a dizendo que aquele seria seu novo meio de transporte enquanto lavava o chão, jogando um pouco de água e sabão nela as vezes, o que arrancava o mínimo dos sorrisos quando a empurrava de um lado a outro.

            05:35 PM

            Tranco todas as portas e digo a Nina que a levaria de “cavalinho”, a esse ponto já havia percebido que ela só sorria por pensar que estaria me agradando, então paro de fazer graça e a deixo quietinha durante a volta. Subir um morro com uma criança nas costas não é a tarefa mais simples de todas, mesmo Nina sendo muito magrinha eu estava a quase dois dias sem dormir ou descansar, o que não me deixa no ápice da minha condição física, mas não quero incomoda-la e apenas obrigo minhas pernas a se moverem morro a cima.

            Fora da minha casa vejo Dona Iracema abraçada a uma mulher que não deve ter mais do que minha idade. O senhor Rudá andava de um lado a outro parecendo indignado, enquanto a esposa cuidava da visitante. Tudo fica mais confuso a medida que me aproximo e vejo como a garota por assim dizer estava machucada, um de seus olhos se inchou tanto que não era mais possível vê-lo. Movo Nina a passando para meu colo e me sinto extremamente grata ao ver que a garotinha estava dormindo.

            -O que aconteceu? -sussurro para Dona Iracema, seu marido estava tão furioso que não seria capaz de me escutar no momento.

            -Essa é Mayara -fala sem soltar a garota que ainda chorava abraçada a ela. -O marido a bateu de novo -sussurra sem parecer se assustar com a criança em meus braços. -A coloque em sua cama e traga um copo com água para o Rudá.

            Entro colocando Nina na cama, que se meche um pouco sem despertar. A cubro com cuidado e escoro a porta para que não se feche com o vento, antes de correr para cozinha e pegar a água. Rudá ainda soltava muitos palavrões, mas estava recuperando o controle, me sento ao seu lado em um banco cumprido de madeira.

            -Aqui -estendo o copo com água.

            -Aquele desgraçado vai matar essa menina, e não demora. -diz e percebo suas mãos trêmulas.

            -Ela já o denunciou? -questiono vendo Iracema que parecia ter a acalmado um pouco.

            -Não adianta, ele é filho de um prefeito da parte rica lá da cidade -entendo parcialmente o que ele dizia, mas acredito ter pego o contexto. -Temos um pouco de dinheiro, vou colocar essa menina no primeiro ônibus para Mato Grosso e pedir que uma sobrinha minha cuide dela até que possa manda-la para São Paulo -sua postura era a de um líder sempre que está resolvendo algo com relação aos moradores da região. Rudá franze a testa como se acabasse de lembrar de algo e se vira para me olhar. -Isso chegou essa tarde -me entrega uma carta e uma caixinha pequena. -Menina Sara?

            -Sim -respondo desviando os olhos da carta em minhas mãos.

            -Você estava com um bebê nos braços? -parece confuso por um momento e conto a ele o que aconteceu com Nina. -Pobre criança -murmura coçando o queixo.

            -Senhor? -digo quando ele estava prestes a seguir a esposa e a garota para dentro. Rudá me olha com carinho, por um momento vejo seus olhos se perderem como se pudesse enxergar minha alma. -Por que ainda existem homens que fazem coisas como essas e saem impune? -mal posso conter a indignação em minha própria voz. -Por que essa mulher vai se tornar fugitiva sem cometer nenhum crime? -ele respira fundo se levantando e quando volta a me encarar seu semblante era um retrato da mais pura tristeza.

            -Por que alguns de nós já estão velhos e fracos demais para fazer alguma coisa, e outros apesar de serem jovens se cansaram ou desistiram de lutar -acaricia meus cabelos antes de entrar. Olho para a carta novamente esperando encontrar algo dos meus pais ou padrinhos, mas me surpreendo ao reconhecer a letra bem desenhada de Connor.

            Oi Sarinha,

            Aposto que tem chorado até dormir todas as noites de tantas saudades minhas que sente. Não adianta fazer careta por que sabe que não pode negar!

            Mas brincadeiras à parte, quero te pedir desculpas por não ter ligado, escrito e correr aos berros da casa dos meus pais sempre que se reúnem para fazer vídeo chamada com você. Bom, talvez eu quem esteja morrendo de saudades no fim das contas, a ponto de não confiar que respeitaria sua vontade de ajudar as pessoas por outros meios se te visse. E por esse motivo estou entrando em contato.

            Não posso escolher por você, mas cheguei a um ponto onde não é mais opção não te procurar. Tem noites em que Lunna me conta histórias sobre as conversas que vocês tinham através daqueles colares de estrelas em seu tempo fora, em como se confortavam e ajudavam uma a outra. Sinceramente, se você fosse um homem eu já estaria incinerado por meu próprio ciúme, por que ela confia em você e de alguma forma vocês conseguem se completar. Mas coisas tem acontecido com a nossa Lunna, coisas bem ruins e não sei como ajudar, não tenho ideia do que fazer para tornar a dor suportável.

            Me perdoa Sara, não imagino como se sente e me sinto um bosta por te pedir para voltar. Mas preciso da minha melhor amiga agora, preciso que seja a luz da Lunna como ela é a sua. Mas se não puder, tem algo nessa caixa que pode ser útil.

            Amo você.

            Connor H.

            Limpo uma lágrima que escorreu antes que percebesse por minha face e abro a caixa, encontrando um par de brincos em formato de estrelas e seguro contra o peito tentando me manter forte. Mas um milhão de pensamentos rodeiam minha mente sem parar, o medo do que possa estar acontecendo para fazer Connor me pedir algo pela primeira vez na vida se misturam as palavras de Rudá, mas outra coisa se fixa em minha mente, uma frase dita em uma noite em que eu não tinha mais esperanças, por uma linda voz quase sussurrada.

            “Não tem que se desculpar Sara, eu sempre vou vir por você.”

            -É meu amor... -puxo a corrente em meu pescoço, brincando com as alianças penduradas nela. -Acho que está na nossa hora de voltar. O que acha? -sorrio olhando todo o verde em volta à terra vermelha. -Mas primeiro a Artêmis tem um encontro com um filhinho de político que não sabe o valor do matrimônio -digo estralando meu pescoço ao me levantar.

WALLY

Expectativa versus realidade, então, essa é a melhor forma de descrever minha vida ou o isso que me tornei e a condição que venho existindo. Desde que tudo aconteceu, meu corpo começou a vibrar inesperadamente de formas bem vergonhosas, não gosto de falar a respeito. A cada vez que corria se tornava mais difícil desacelerar, e aos poucos as pessoas passaram a ser lentas demais, até que um dia não conseguiam mais me ver. Foi quando me dei conta que não eram elas que estavam lentas, mas eu que passei a ser muito rápido.

Nem mesmo meu tio Barry pode se dar conta da minha presença, e de alguma forma não sinto a Speed Force com sentia antes. Mas tem uma dentre todas as pessoas que pode me deixar temporariamente em um estado quase normal. Por algum motivo Lunna estabiliza minha visão dos outros, como se estivesse entre o plano deles e o meu, percebi a pouco tempo que dependendo de como estiverem minhas emoções ela pode me ouvir, o que é uma merda por que não gosto de como ela fica em seguida.

Mas pulando toda a parte deprê da minha situação de quase existência, tento não ficar próximo de quem me causa muitos sentimentos. Pensei que não ser visto poderia ser algo bom, afinal é um tédio não ter nada nem ninguém com quem possa interagir. E se me decepcionei ao voltar no tempo e conhecer os protótipos dos meus heróis, foi extremamente pior ver como é um tédio a vida deles.

Olha, se espera que o Batman seja sempre, bem, o Batman. Mas aquele cara toma muito chá, e em câmera lenta observá-lo metade do dia em frente aos computadores da caverna lendo e lendo e lendo... É como ver um quadro no museu. Nada divertido. As vezes um dos Robins aparece e fico esperando a ação, mas a Batfamília é tão normal quanto minha tia Iris e os gêmeos. Mentira, as ameaças da Tia Iris tornam as coisas um pouco mais legais.

—Bruce pode analisar isso?—uma frase, e parece que Jason levou um dia inteiro para pronunciar.

Me sento no painel de frente para eles. Muito ressentimento sabe, a tensão é complicada. Jason tenta manter a pose de badboy máster, mas Bruce também não é um adversário fácil. -E olha, o Batman tem expressões faciais!

—Aviso se encontrar algo—só, é tudo o que responde. É meu amigo Todd, prometo que se conseguir voltar um dia, te dou um abraço e permito que use meu ombro para chorar o quanto quiser.

A parte reconfortante de pairar por aqui é que não existem muitas DRs, tirando o rancor e mágoa subentendidos, não tem muito para provocar fortes emoções. E vejo por muito, muito tempo a porta do elevador se abrindo. Damian estava fazendo pose de boyband lá dentro, só faltou passar a mão nos cabelos e... Esquece, ele está fazendo isso.

—Encontrei sua namorada outro dia—epa, agora vai ser bom. Jason comenta quando Dam passa por ele. Nem me importo de esperar pela resposta. —Olha, a Pequena Queen... – assovia para demonstrar o estrago. -Está bem parecida comigo, e não estou te falando dessa versão.

Mesmo Bruce se vira nesse momento, e Damian tenta não parecer afetado. Tão bonitinha essa criança, posso ver pela próxima eternidade que leva para ele engolir em seco e lutar contra o impulso de se virar. Acabei de perceber um padrão de afeto entre eles, ficam jogando pontos e cuidando do que interessa o outro, da forma mais irritante possível.

—Não namoro mais com ela, por que não vai contar isso para o Arqueiro?—traduzindo (voz de novela mexicana): Isis me deu um pé na bunda querido e amado irmão, por favor me ajude a salvá-la. Dedure a garota que amo para seu irmão super protetor, controlador e bombado.

—Está me confundindo com o Grayson.—Jason sai, o que deve ser muito mais impactante na velocidade normal e se eu não tivesse visto a preocupação em seu rosto carrancudo, mas com certeza ele fez algo a respeito.

            Damian é outro que não correspondeu em nada minhas expectativas. Sem falar que estar perto dele não é a coisa mais fácil, o pequeno Wayne pode provocar um sentimento que posso descrever como a vontade de passar fita adesiva em uma pessoa e jogá-la de um barranco com um vulcão no final, mas isso é só a primeira maravilhosa impressão. Dam é bem sentimental, o que torna difícil mascarar quando alguém pode te assistir em câmera superlenta.

            —Felicity e a Delphine travam os computadores quando querem atualizar o sistema -justifica sua aparição repentina quando Bruce o olha, o que gera o mínimo sorriso no rosto do morcego pai, não que tenha dado algum tempo de o Dam chegar a ver.

            Ele se senta ao lado do Batman e analisa pelo que julgo ser a trilhonésima vez a teoria da relatividade, tentando desesperadamente justificar o que aconteceu comigo. Lunna fez tudo isso em duas horas, mas não vou ficar jogando esses dados na cara de uma criança tão afetuosa quanto o pequenino morcego. E tem isso, ele se sente responsável tanto quanto os outros, é irritante não poder fazer nada enquanto todos sofrem.

            Já começo a pensar onde poderia ir, quando percebo o celular dele tocando e não posso lutar contra minha curiosidade. Mesmo que tenha tempo suficiente para fazer isso. No tempo infinito que se segue vejo os olhos de Damian brilharem, seguido de um semblante triste, antes que ele possa disfarçar em uma carranca padrão morcego.

            —Posso, a pego as seis—espero mais uma eternidade que a outra pessoa diga o que quer. -Não, fazemos isso de carro.

            Acho que aquilo no rosto dele é animação, quando me dou conta estou sorrindo também. Depois do treino que tiveram na semana passada, tudo parece mais intenso. Quero muito dar a Lunna um tempo para se recuperar, e não sei quando vou acabar soltando algo com ela por perto, não importa o quanto minha cabeça doa nessa versão de mundo lenta.

            -São três horas de viajem, Connor—e percebo o quanto Connor fala, é quase um monólogo, quando penso que não havia mais nada, Damian pega uma rara deixa. -Arrume a festa que quiser, Sara vai estar de volta, acha mesmo que Lunna vai reparar na decoração? Não aguento mais do que isso do Cisco...

            Sara.

            Minha Sara, de volta. Quando dou por mim já estou no México. Achar Sara não foi a coisa mais difícil que já fiz. Não sabia onde estava apenas que estava localizada em algum lugar da floresta amazônica, o que por si só já quer dizer alguma coisa. Nunca fui o senhor exemplo em geografia, mas resolvi começar a procurar pelo lugar que tinha o nome da floresta, e fiquei perplexo pelo tempo que demorei. Levou uma eternidade para encontrá-la, cerca de três minutos inteiros!

 Seria legal poder passar esse tempo todo focado em alguma coisa, mas não quando a pessoa que estou fuçando o mundo a procurar é só A Pessoa, sabe aquela pessoa, que é o centro do seu mundo? E não, isso não é uma música melosa ruim. Por todo esse tempo me recusei que estive... bom não chega ser uma existência, logo não sei se realmente estive em algum lugar que não perdido entre os infinitos de cada momento, mas a verdade é que não pude procurar por ela. 

Desejo pode ser o sentimento mais poderoso de todos, e existir sem estar presente me forçou a descobrir isso. É imensamente doloroso lidar com a dor da minha família e amigos, mal consigo passar muito tempo perto deles sem que algo se quebre por acidente ou alguém tenha uma crise nervosa, mas quando se trata da Sara, Minha Sara. Simplesmente não parece justo que invada seu quarto quando ela não pode me ver e observe seu sofrimento mudo, ou a queda da sua máscara de força. Não seria suportável para nenhum de nós. E a imagem do sofrimento dela, definitivamente me levariam a concluir que os fins jamais justificariam os meios.

Quando pôr fim a encontro, percebo que minhas expectativas estavam muito além do que seria revê-la. Sara estava recostada olhando o céu pela janela de uma casa simples, como se buscasse um caminho. Estava mais magra e seus cabelos mais compridos, mas ainda era minha Sara, e não existe ninguém tão linda quanto ela. Tenho certeza que meu coração parou por um segundo inteiro.

Quando voltar vai ter uma grande surpresa. – disse olhando para o nada e pela primeira vez não acho ruim estar em câmera lenta. – Ela tem o seu olhar Wally, o mesmo de quando era criança. São olhos enormes e cheios de vida, mesmo depois de tudo que aconteceu – ela estava falando comigo, fato que não podia me ver, mas era para mim, sei que a velocidade dela era lenta e até difícil de acompanhar, mas era como uma oração.

Respiro profundamente, enquanto levava uma eternidade para se virar e sentar na janela, agora olhando para dentro. Só então percebo que ela falava de alguém, mais uma vez meu coração falhou uma batida, talvez até mais, não dá exatamente para contar quando ele não bate e sim vibra. Atravesso a parede, e ali, deitada, com os cabelos espalhados para cima igual a Sara faz para dormir, havia uma linda menininha. Uma menininha que me parece muito familiar. E é nesse momento que o ar me falta.

 —Ela é nossa, minha e sua. Você vai ama-la como já a amo –dá uma risada constrangida e leva as mãos aos cabelos.Deus, nem sei quando isso aconteceu — pula no chão e se ajoelha na cama, brinca com os dedos da menina e leva a sua mão a boca dando um beijinho, posso assistir isso para sempre —E você vai amar o papai, Nina— eu tenho uma filha, e ela se chamava Nina. —Igual ele ama o Barry, igual eu amo o seu avô— não sei como isso aconteceu, mas eu definitivamente tenho uma filha, queria perguntar como? Quando? De que maneira? E de todos os momentos que não quis estar preso, esse com certeza é o mais forte.

—Eu sou pai!

Tento me ver como pai daquela garota. A levando para escola, fazendo os projetos de ciências no meio da madrugada com Nina jogada em meu colo, ensinado a irritar todo mundo a nossa volta, leva-la ao parque para ensina-la a soltar pipa enquanto fazia um pequeno tornado com as mãos só para a pipa subir mais e vê-la sorrir. A amando como fui amado. É quando me lembro de um dia ensolarado no parque, Lunna e eu assistíamos Sara e Connor brincando com uma garotinha.

—Era você -concluo, olhando a criança que dormia tranquilamente. – Não disseram seu nome real quando nos conhecemos – me dou conta, agora me sentindo meio idiota. – Senti sua falta, Halo.

Nina West— sorrio feito bobo escutando Sara pronunciar seu nome. E sinto todo meu mundo mudar.

SARA

‘Filho de prefeito se entrega a polícia.’ consigo ouvir a televisão ainda da rua.

— Iracema, meu bem! –Rudá grita aparecendo na janela no momento exato que abro o portão. –Corre aqui menina, vem ver também -era até engraçado ver os dois se apressarem para dentro da sala.

‘Meu filho não fez isso!’ entro a tempo de ver o prefeito corpulento com cara de leão marinho berrar aos quatro ventos, segurando o filho pelos braços. ‘Ele está abalado com a saída da esposa de casa.’ a imagem muda para o repórter que estava em frente da delegacia da cidade.

“O prefeito Pedro Barroso compareceu essa tarde a junta de advogados do Amazonas. Para contestar as acusações contra seu filho Wellington Barroso de vinte e seis anos, que está sendo acusado de agressão pela esposa. Em uma reviravolta inesperada, Wellington Barroso se recusou a aceitar os advogados contratados por seu pai, e solicitou a defensoria pública para não expedir fiança ou habeas-corpus em seu nome.” a imagem corta novamente para a gravação do filho tão asqueroso quanto o próprio pai.

‘Eu agredi Mayara, bati em outras namoradas também. As humilhei por vezes seguidas, até perdi as contas. Algumas vezes desejei ter matado, só não o fiz por que elas fugiram.’ diz rápido, com o olhar amedrontado. ‘Eu falhei com ela’ olha para os lados como se algo o tivesse seguindo. ‘Quero ser preso.’ O homem grita as palavras em desespero e chora feito um garoto sofrendo bullying na escola. ‘Preciso ser preso!’

Se tem algo que meu padrinho me ensinou bem, foi como causar medo nas pessoas. Connor quase não se esforça para isso devido a cara de mau que herdou do pai, mas não é meu caso e com o tempo descobrir ter um “charme pessoal”. Após uma noite de bebida em um bar, como dizem as lendas contadas pelas redondezas, esse cara certamente preferiria encontrar a mula sem cabeça, ou o próprio curupira a me encontrar mais uma vez em sua frente.

 ‘Cala essa boca moleque!’ em um momento de descontrole o prefeito tenta estapear o filho e acaba acertando o policial ao seu lado.

 ‘É Evaristo, a agressão ao Major Guaniar pode render processo para o prefeito.’

—Agora a menina Mayara vai conseguir ter paz. –Rudá abaixa o volume da TV e sorri feliz.

—Mas o que fez o filho do Barroso colocar a mão na consciência? –Iracema olha intrigada para a TV. –Olha, hoje posso dizer que já vi de tudo.

—Pouco me importa o que fez o bostinha virar gente -o velho dá de ombros sorrindo feliz. –Só espero que o povo se lembre do que fizeram nas próximas eleições.

—Ele vai tentar a reeleição?  - Agora é a minha vez de ficar em choque. –Depois de tudo isso!

—E pode ser que ganhe, florzinha.  -Iracema passa a mão em meus ombros, como quem diz que são coisas que ainda não conseguiria entender.

—Talvez você devesse se candidatar! -me viro para Rudá que solta uma risada gostosa.

—Oh filha, tenho até o coração no lugar, mas não saberia cuidar de tudo –admite a incapacidade.

—Seria melhor que essa morsa aí –aponto para a TV.

—Seria.  -Iracema olha para o marido com ar de orgulho.

E por um momento sinto como se alguém estivesse me olhando. Me viro vendo Nina em um cantinho me observando com seus olhinhos infantis. Seus lábios se movem em um sorriso sapeca quando percebe que foi descoberta.

 -Senhor Rudá – o chamo sem conseguir tirar meus olhos de Nina. –Acho que minha hora de ir está chegando –olho para o ancião que aprendi a respeitar como um avô de verdade, e seus olhos se tornam tristes me observando como se tivesse o poder de guardar meu rosto em sua mente pela eternidade.

—Em algum momento, todos precisam voltar para casa –dona Iracema me abraça com carinho apesar de ter tristeza em seu rosto.

—Vem aqui menina. -Rudá chama e paro em sua frente, ele coloca as mãos em meus ombros e mais uma vez sinto como se minha alma estivesse sendo observava, então seus olhos param em um local a minha direita, um breve sorriso aparece em seu rosto e o vejo assentir, como se concordasse com minha decisão. -Verdade, é sua hora de voltar.

—Fico feliz por compreender -não sabia até aquele momento como sua aprovação me era importante.

—Tem coisas que são mais fortes e estáveis do que o medo menina -seus olhos negros brilhavam. -Quando enfrentar o que nunca quis perder, vai precisar ser forte. Tem que agarrar o que sempre sonhou e puxar para você. Me entendeu? -não entendi nada, mas concordo mesmo assim. -Se lembre que cada evento na vida tem dois lados, você escolhe qual deles valorizar. E só precisa se cercar de quem te ama para ter forças!

—Vou sentir muita falta de vocês -confesso, contendo as lágrimas.

—Ah minha florzinha, isso nem é um adeus. -Dona Iracema diz com tanta certeza que acredito que esteja certa.

—Tem só mais uma coisa que gostaria de pedir –sorrio para a garotinha encostada na parede e ao me virar deparo com o casal de anciões estampando sorrisos orgulhosos, como se já soubessem o que estava prestes a dizer.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Muitas coisas aconteceram e sei que tudo estava turvo até aqui, mas finalmente está comprovado o que aconteceu com meu bb, que agora é pai! Eu também estou adorando a amizade esquisita do Dam e a Lunna... Bom, espero que tenham gostado, me contem nos comentários!
Bjnhos!!!



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