PARADOXO - Seson 3 escrita por Thaís Romes, Sweet rose


Capítulo 19
Capiulo 16 - Ultimato


Notas iniciais do capítulo

Oi Pessoinhas!
Primeiro, o capitulo está enorme e cheio de informações importantes, então, fiquem atentos!
E gostaria de dar uma breve explicação:
Nos falecidos arcos dos Novos 52, Dick finge sua morte por ordem do Batman e se infiltra na Espiral, uma agência/escola de espiões, e claro que ele se torna professor lá. Jim e Juan, é a forma que as alunas se referem aos gêmeos (a bunda dele, lado direito e esquerdo). Guardem isso, é importane! hehehe



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WALLY

—Não pode dar carne de porco para um bebê!

Diggle tentava convencer meu pai, depois de Sara ter comentado sobre fazer um prato brasileiro em um almoço de domingo para nossas famílias em nossa nova casa. Nossos pais adoraram a ideia e minha mãe está eufórica com a possibilidade de aprender qualquer receita que encha a barriga de seus velocistas sem precisar cozinhar a quantidade de um bufê de restaurante.

—Nina está acostumada com essas comidas, muito mais do que com as nossas, pai – Sara intervém, parecendo se divertir.

—Por falar nela, não voltou desde que foi atrás de Isis? – Lyla comenta olhando em volta em busca da neta.

—Ah, não tem jeito, se ela escolheu grudar na pequena Queen, só podemos esperar que perca o interesse – Sara responde tranquila.

Paro de prestar atenção na conversa ao ver Lunna e Connor aparecerem no final das escadas. Os caras em volta e algumas mulheres a encaravam cheios de cobiça e luxuria, a ponto de ignorar Hawke que é naturalmente intimidador, mesmo sem se esforçar para isso.

Minha amiga parecia uma visão, dentro de um vestido longo vermelho sem alças, o tecido drapeado na altura dos seios, liso no restante que se ajustava ao seu corpo e se abria em uma saia elaborada, com o tecido formando camadas pouco abaixo dos joelhos e uma cauda pequena, a deixando parecida com uma sereia. Seus cabelos estavam jogados para o lado caindo em ondas perfeitamente arrumadas, e usava seu colar de estrela como único destaque, e um brinco de pedras delicado para combinar.  Seu rosto se enche de alivio ao me encontrar, seus lábios tingidos de vermelho formam um sorriso carinhoso.

—Lunna! – Sara se manifesta, andando a passos largos na direção da amiga, a sigo pressentindo que algo não estava certo.

—Nossa, você está incrível – Lu diz a minha esposa, que realmente, estava a encarnação de uma deusa dentro daquele vestido perolado.

—Hum, não sou a única – revida com um olhar cumplice, Connor e eu como os idiotas cheios de testosterona que somos, lançamos olhares ameaçadores ao redor, que fazem os abutres a nossa volta dispersarem a atenção. – Mas por que está com essa ruguinha entre as sobrancelhas?

—Ah, bem, pre... preciso falar com o Wally – gelo ao escutar Lunna gaguejando, isso vem se tornando tão raro que passei a associar com presságios de desgraças.

—Algum problema? – me aproximo e Connor faz o mesmo.

—Existe alguma forma de que você possa assim, sem querer machucar alguém ao tocar? – o desconforto em seu olhar me parece estranho, Lunna sabe muito bem que nossa força é a soma de velocidade mais distância, então sabe que a pergunta não faz sentido.

—Existe, se eu vibrar minhas mãos, ou meu corpo através do corpo de outra pessoa e parar no meio do processo, mas sabe que seria proposital, não é atoa que treino tanto, que te faço treinar tanto, quero que seja boa independente de ter velocidade ou não.

—Então a resposta é não? – confere aflita.

—Parada? – confirmo por precaução, percebendo que Connor e Sara apenas observavam tudo, sem entrar no meio. Lunna assente. – Não, não se não se fortalecer como qualquer humano normal. Qual o problema, Lunna?

—Acho que não tem um problema, só estou bancando a irmã mais velha paranoica – estremece olhando de esguelha para Connor. – Acabei de te dar um sermão por implicar com os relacionamentos de Isis e Damian e fiz o mesmo sem perceber, desculpe – ele abre um sorriso divertido em resposta.

—Vocês dois incomodados com a enrolação de outro casal é a hipocrisia do século – Sara solta com seu habitual jeito nada delicado, me fazendo gargalhar. – Agora, por que não bancam os padrinhos e tentam nos ajudar a tirar Nina do pé da Isis, por que quero tirar fotos do meu bebê essa noite e não vou conseguir se ela continuar bancando o cãozinho de guarda da irmã de vocês!

—Acho que Nina também não gostou muito do Collins – Connor murmura com a sombra de um sorriso orgulhoso aparecendo em seu rosto. – Vamos fazer isso logo, quero ver o show do Phill.

PHILLIPPE

É ridículo ficar nervoso no que deve ser a apresentação menos cheia que faço esse mês. Mas ao encarar o salão de festas dos Queen’s e ver o rosto atento de todos que passaram a ser como família, sinto como se nunca tivesse tocado em um microfone antes. Havia muitos executivos, funcionários e pessoas que nunca coloquei meus olhos, então tento focar nelas quando começo.

—Boa noite a todos! -falo ao microfone e vejo Babs, Sara e Isis esgoelando “lindo” ao lado de Mia e Lunna que me observavam quase em transe. -Eu as paguei para dizer isso -aponto para as garotas e as pessoas dão risada. -Sou Phillippe Delphine, e quero dedicar essa primeira música a minha irmã -começo a dedilhar o violão. -Ela odeia exposição, por isso não vou dizer que é a mulher mais linda desse salão, por que não quero que encarem a chefe da grande maioria de vocês e coloquem seus empregos em risco. -Lunna esconde o rosto rindo, e Babs aponta para a cabeça da amiga debochando se sua timidez. -Espero que ela goste, se chama “Tudo”.

Então começo a cantar e é como se tudo realmente desaparecesse, somos apenas eu, Lunna e todas as nossas lembranças. Dedilho a melodia lenta que lembra a princípio uma canção de ninar que Lunna cantava para mim a noite. Aos poucos a torno dinâmica e poética, com uma beleza incontestável, a perfeita descrição do que minha irmã é.

Fomos feitos em um par, verde e grená.

A dupla dinâmica, mistura perfeita

Deixados em um mundo incerto, sem nada concreto além do outro.

Duas partes de quem nos deu a vida

Ela é brisa, delicada e necessária

E eu as folhas que viajam por caminhos que seu esforço vem trilhando.

Ela compõe os versos do meu tudo.

Ela é tudo.

O escuro da minha alma se dissipa em seus olhos

Meu medo desaparece como o verde neles anoitece.

Garota, como pode ser tão forte? Como posso fazer que perceba?

Você deveria ter tudo, os céus e estrelas.

Você deveria ter.

 

No início da manhã, vejo seus olhos completamente escuros

Como seus cabelos, como os meus.

Já deveriam estar verdes, menina

Jovem, recente

Seu temor os mantém em trevas, mas não consegue ver a própria luz

Ela é minha luz.

Suas feridas são mais profundas do que posso ver e ela as esconde do mundo em sua bravura

Mas garota, você nunca estará só

Se seu coração bate o meu acompanha

Se seus olhos te traem ao contar as verdades que pretende esconder

Vou fingir ignorância, vou ser o que precisa

Vou manter a inocência e te abraçar forte quando o mundo tirar seus pés do chão

Estarei bem aqui para firmá-los

Pois você, garota, deveria ter tudo.

 

E só peço que espere

Prometo que com o fim da noite o verde volta

Prometo que vou estar no quarto ao lado e vou fingir inocência.

Serei sua força, garota.

Por que você merece tudo.

Por que você é tudo o que tenho, tudo em mim.

 

Seja forte

O verde volta a brilhar em seus olhos multicor

Continue forte, por que tudo é seu.

E você garota, é tudo para mim.

Continue forte.

LUNNA

Quando Phill termina a última nota meus olhos estavam a ponto de explodir em lágrimas. Sinto o braço de Connor envolver a minha cintura, enquanto as pessoas ao meu redor romperam em palmas. Ele é definitivamente um astro, não tem como negar. Seus olhos me encontram de cima do palco e toco meu peito, sussurrando um obrigado que gera um sorriso radiante em seu rosto. Nossos pais teriam orgulho do que ele se tornou e queria mais do que qualquer coisa que estivessem aqui para testemunhar o resultado da boa educação que o deram.

—Ele é perfeito – murmuro quando sinto Connor dar um beijo em meu rosto e Phill emenda outra música na sequência. Dançante e mais agitada, mesmo sendo boa, não se compara a minha.

—O talento vem de família – brinca e me viro para abraçar meu marido direito. -Phill é um homem crescido e as vezes sinto que não vi quando isso aconteceu -seus olhos se perdem em uma imensidão de pensamentos e emoções, o que me diverte, pois estava na mesma vibe e o ver dessa forma me faz perceber do que se trata.

—Estamos agindo como pais orgulhosos -declaro e a risada rouca de Connor é como um presente de natal.

—Definitivamente eu lidaria bem com um exército de Phillippe’s -a animação em sua voz me surpreende.

—Anda se sentindo paternal, Con? -questiono e ele parece ponderar.

—Vou estar mais do que pronto quando acontecer, Isis e Phillippe nos farão largar com uma vantagem incontestável! -brinca beijando a ponta do meu nariz. -Eu só quero tudo o que a vida puder nos dar, tudo que puder ter ao lado da mulher que amo.

—Esse é um daqueles momentos perfeitos, não é? -ele balança a cabeça e limpa uma lágrima em meu rosto, sabemos bem o que esses momentos perfeitos antecedem.

—Olha gente, é o meu menino. – Felicity aparece ao nosso lado, com um guardanapo secando as lágrimas. E a ver naquele estado me ajuda a conter as minhas, pois é como se ela estivesse a cada dia mais se metamorfoseando na Mama Smoak e não sou louca de dizer isso a ela, mas é muito divertido assistir.

—Mãe, menos. Phill não é exatamente o ‘seu menino’. – Connor implica fazendo charme para Felicity, com seu ciúme fingido, enquanto massageia os ombros da minha sogra.

—Oh meu amor, as vezes você é exatamente como seu pai -junta os braços do filho ao redor de seu corpo, tornando a massagem de Connor em um abraço afetuoso. -Não é uma competição, você e Isis são parte de minhas entranhas, minha vida. Mas Wally, Sara, Damian, Lunna é Phil são meus meninos sim, e não vão tirar isso de mim – faz um bico de criança como se desafiasse alguém a tentar a retrucar. Vejo a música terminando e Phill agradecendo a plateia que o ovacionava animados.

—Somos todos seus meninos, uma creche particular da Smoak-Queen. – Wally aparece e a abraça apertado, posso escutar a gargalhada de deboche inconfundível do Dick Grayson, mas ainda estou anestesiada por ser a menina de alguém que também acolheu meu irmão como “menino dela”. Não é como se o resto, nem mesmo o deboche do Grayson estourasse minha bolha.

Ao se aproximar meu irmão para ao lado de Connor, tentando entender o motivo da comoção, meu marido explica superficialmente o assunto e ele sorri em resposta -Somos sim. – Phill a abraça com carinho. – Obrigado por me incluir nesses seu seleto grupo. – Felicity suspira, esse tipo de frase vinda de um de nós dois sempre tem conotação séria.

—Linda musica meu amor. – Fel segura o rosto dele entre as mãos, Phill facilmente era uma cabeça, talvez duas, maior que minha sogra, mas isso não a impediu de lhe dar um beijo forte e vermelho em sua bochecha. E ele não dá a mínima para isso, a devolvendo outro beijo estalado no rosto que a faz dar risadinhas e Wally reagir como um Oliver honorário, a colocando atrás de seus ombros, fazendo graça.

—Muito perto, bonitão! -brinca e vejo Sara dando um tapa em seu braço.

— E aí, não te fiz ficar envergonhada, não é? –Phill para a minha frente, vejo seu lábio superior tremer com a expectativa. – O que achou? -não sei como esse garoto enorme, que é basicamente metade do meu mundo sozinho, consegue ter dúvidas que posso sentir qualquer coisa além de orgulho.

—Foi o melhor presente que já recebi -murmuro em minha voz baixa, para ele que coloca suas mãos em meus ombros e me olha. Vejo tudo o que quer dizer passar por seus olhos violetas. Como teve medo, como estava preocupado com minha doença e o alívio que sente por me ver melhor agora. -Vou fazer meu melhor para progredir e não te deixar mais se sentir dessa forma, é uma promessa -garanto e Phill me abraça apertado, por longos segundos nos quais nenhum de nós queria se afastar e me entrega um papel dobrado, onde encontro a letra da música que fez para mim.

—Ei, quem é a garota com o Damian? -ele tosse, para fazer a emoção desaparece em sua voz, dando por encerrado nossos assuntos mal-acabados. Definitivamente meu tipo de garoto.

—Phoebe Morley, acho que ela está perseguindo a Caitlin. – Sara aparece ao meu lado carregando Nina, que olha de mim para Phill por algum tempo no qual parece enfrentar um grande dilema. – Tenho quase certeza que vi ela pedindo um autógrafo para a Snow – Nina toma uma decisão e se joga nos braços de Phillippe, seguro o riso ao ver o rosto de Sara. – Sério filha? –se vira para criança que tinha um sorriso sapeca idêntico ao da mãe. – Isso já pode ser enquadrado como patologia? – me questiona.

—Acredito que se trata de um padrão exageradamente elevado -respondo com tristeza.

—E devemos ou não falar dos elefantes na sala? -Sara olha para Donald Collins que enchia a boca de comida em um canto do salão e Phoebe Morley que protagonizava um discurso fervoroso para Damian que arrastava Chloé de uma mesa, ela tem se tornado dificil agora que já está quase uma adolescente. Mas para sua sorte pegou o melhor dos dois tem os olhos verdes acinzentados luminosos e inteligência de Babs, com todo o sarcasmo e jeito magnético do Richard, isso sem falar da fusão dos pais que é aparência da menina.

—Nossa religião não permite julgar as pessoas – Phill brinca e balanço a cabeça confirmando.

—Não quero julgar, quero entender como isso é possível, não posso ser a única a pensar que não é exatamente a hora dos dois aparecerem acompanhados – cruza os braços e olha diretamente para Damian que não entende a fúria da amazona que o encara.

—Vim em missão de paz -ergue os braços e Chloe me dá um beijo carinhoso quando me abaixo para cumprimenta-la. -Nunca se sabe quando vão precisar de uma babá e a GG aqui pode ser a solução em poucos meses! -apresenta a sobrinha como se fosse um produto em uma prateleira de mercado.

—Não sou um objeto, tio Dam -cruza os braços e Damian sorri bobo para a marra dela. -Mas se quiser me oferecer um emprego, sou a melhor para ser considerada! -abre os olhos muito animada com a situação. – Mamãe sempre diz que sou a única que pode conter Al quando ele está agitado demais -fico boquiaberta.

—Uma criança precisa do próprio dinheiro. – Damian apoia. Phoebe estava constrangida ao lado dele, sem saber como deveria se portar.

—Como se o avô dela não tivesse o suficiente – Connor chega com Al em seus ombros, ladeado por Wally que tinha uma câmera nas mãos e Dick olhando os filhos como se fossem bombas a serem desarmadas em um curto período de tempo.

—Está passando fome? Precisa de dinheiro para uma viagem à Europa? -ele questiona a filha tentando parecer sério. Chloe levantar aquela bendita sobrancelha da Batfamília, o famoso julgamento mudo.

—Você viu? Deve ser genética -sussurro para Sara que concorda de leve com a cabeça.

—Vocês, não atrapalhem o momento. -Wally os recrimina.

—Ei amor? Você não quer conhecer uma amiguinha? – Sara pega a filha no colo, e Chloe pula para dar um abraço animado em Phill, nem sei como essas crianças vão lidar com a vida lá fora, vai ser um choque para elas quando notarem que o mundo não é feito de pessoas com esse nível de beleza.

—Obrigada por me mandar todas as demos, minhas amigas estão com muita inveja! -diz animada, fazendo Phillippe rir e tenho certeza que ela deve estar as vendendo no intervalo de suas aulas.

—Claro princesa, sempre que quiser. Mas por que seu tio mal-humorado te chama de GG? -Phill a pergunta enquanto cumprimenta Damian batendo seus punhos nos dele.

—Gordon-Grayson. Meu sobrenome -responde cheia de desenvoltura, só faltou oferecer um cartão de visitas. Quase a vejo como uma empresária no estilo Miranda Priestly.

—Tia -a voz de Al chama minha atenção e o vejo me dar um sorriso de lado quando Connor chega mais perto. -Olha como estou alto, maior que meu padrinho.

—E muito mais bonito. -Dick acrescenta e fico entre o choque e a vontade de gargalhar quando Alfred assente todo solene, concordado com o pai.

—Vai ficar mais alto do que ele um dia também -pisco para Al, vendo seu rosto se iluminar com a nova expectativa.

Mas logo minha atenção é direcionada para Phillippe e Damian que aproximavam as garotas. -Sua nova babá. -Dam diz a Nina depois se vira para a sobrinha. -Sua nova boneca -sorri divertido e Wally bate uma foto de surpresa, quase nos cegando.

Nina a observa com cuidado, com as mãos segurando Damian e Phillippe sem saber se podia confiar ainda. O olhar tranquilo de Chloé me faz pensar em Barbara em um campo de batalhar ou o Grayson enquanto monta uma estratégia. Não tem como não se apaixonar por essa garota e logo vejo Nina a dando um sorriso tímido.

—Aqui amor, segura isso. -Wally dá a câmera para Sara. -Anda Connor, você já viu que vamos precisar! -puxa meu marido com Al nos ombros. -Você mini Grayson, trata de fazer cara de mau. -diz a Alfred o colocando entre as meninas, desaparece e então surge novamente, colocando os gêmeos Don ao lado da sobrinha e Dawn ao lado de Chloé. – Sabem o que fazer – instrui aos irmãos que assentem e tratam de cruzar os braços e fazer as carinhas de “mau” mais fofas que já vi.

Vejo Tim e Jason correrem quando Wally faz sinal para eles e não consigo conter a gargalhada ao ver Connor, Damian, Dick, Wally, Tim, Jason e até mesmo meu irmão, que tentou fugir, mas Wally argumentou que naquele caso o tamanho era o que importava. Eles ladeavam as meninas com os braços cruzados sobre o peito e a expressão ameaçadora. Alfred era a coisinha mais fofa do mundo entre a irmã e Nina imitando o pai e os tios, os gêmeos estavam lindos bancando os “tios protetores”. Sara contém o riso com esforço e bate a foto, me mostrando a imagem no visor e não consigo mais parar de rir. Chloé tinha um sorriso encantador, mas Nina estava meio de lado, com a boquinha aberta e os olhos arregalados em uma expressão de surpresa e admiração, olhando para Dick atrás da filha.

ISIS

—Ei? – meu pai surge ao meu lado atrás da escada, carregando um copo que nem pergunto o que é, só roubo da sua mão e viro em um gole só, o que logicamente me arrependo no momento que sinto o liquido queimando minha garganta.

—O que acabei de beber? – devolvo o copo como se fosse radioativo, meu pai sorri satisfeito com a minha reação, como se dissesse bem feito.

—Cachaça, Sara nos trouxe de presente do Brasil.

—É horrível!

—Nós gostamos- dá de ombros, o nós, parece se tratar dele apenas. – Mas por que está escondida aqui?

—Não quero voltar lá, tem o ... Deus qual é o nome dele, mesmo? – olho para cima em busca de iluminação, mas só vejo uma teia de aranha mesmo.

—Donald. – Meu pai semicerra os olhos como se não acreditasse. -Você está parecendo sua tia assim que voltei da ilha, isso não é legal.

—Donald, isso! – ignoro o seu comentário.

—E Phoebe e Damian também não ajudam muito, não é? - juro que ele aprendeu esse olha de ‘bem feito’ com a esposa.  Concordo com a cabeça sentindo o efeito da bebida ao fazer o movimento. – Agora junta essa sua dignidade e volta lá, não te criei para fugir de uma boa briga – me empurra de volta para o salão, não tinha como lutar contra aquele brucutu e olha que tentei. Mas claro que a primeira pessoa que dei de cara foi o neto do demônio.

—Que grande titica! - exclamo sem pensar, o fazendo levantar aquela bendita sobrancelha.

—Dia ruim? – sei que aquilo ali no canto da boca dele, é um sorriso de deboche.

—E está ficando pior – logo atrás do Damian, Donald vinha junto com Phoebe, que me desperta de imediato uma estranha sensação de familiaridade. Devo estar louca de vez.

—Oi. – Donald envolve a minha cintura em um abraço, e mal posso conter o desconforto.

—Com licença – sorrio com toda a educação que meus pais me deram para Damian e a namo... Ah isso aí dele. E puxo Donald Collins para a sacada. – Precisamos conversar – falo longe dos ouvidos humanos, mas sei que Kon, Clark e Jon pode nos ouvir se quiserem, e espero muito que não queiram.

—Você está diferente -ele abre um sorriso triste. -Mas de alguma forma não parece ruim -talvez Collins seja um cara legal, mas a verdade é que essa Isis não consegue pensar nele como nada além de alguém que existe no mundo. Como não posso dizer que nem mesmo me lembro de sua existência, seguro suas mãos com carinho.

—Eu sinto muito Donald – começo a dizer, me surpreendendo por como o pesar no seu rosto me incomoda. -Eu...

—Aquele cara ali é o seu ex? – me gira e aponta para Damian que nem disfarçava ao nos observar.

—Não tem nada a ver com ele – faço careta e minha incapacidade patológica de mentir me trai de forma vergonhosa.

—Odeio isso – diz sério, voltando a me olhar com aquela tristeza incômoda. -Perder uma garota como você é o tipo de coisa que com certeza vai me tirar o sono em alguns anos.

—Obrigada por entender -acaricio sua mão e antes que possa dizer algo mais, ele se aproxima de mim, inclina o seu corpo e me beija, e foi relativamente bom, melhor do que esperava.

—Pelo menos vai terminar comigo com um adeus descente – sorri um sorriso cafajeste, e ali consigo ver o motivo da Dark Isis se atrair por ele.

—Desculpe – tudo o que sinto é remorso por ter o usado.

—Tudo bem, se cuida Isis – dá de ombro e sai sem falar mais nada.

— Odeio ele. – Mia aparece ao meu lado e ignoro o fato de que pela sua rapidez com certeza estava nos espionando. – Mas pelo menos foi uma partida digna – eu a abraço, sem me importar de fato do sarro que ela estava tirando da minha cara.

—Me desculpa – não consigo a soltar.

—Tudo bem, é bom te ter de volta – retribui o abraço.

—Obrigado por cuidar de mim, por não me abandonar quando eu devo ter feito muita coisa para merecer isso – as lagrimas começam a escorrer, já estava cansada de chorar toda vez que ia me desculpar com alguém, mas meio que saia involuntariamente.

—Tommy me avisou, ele tem medo de você chegar perto dele e começar a se desculpar de novo – brinca acariciando meus cabelos.

—Por isso ficou longe de mim a noite toda? – enxugo minhas lagrimas com o dorso da mão.

—Isso e o fato de Donald o lembrar muito na época da faculdade – começa a gargalhar o que acaba dando fim a minha choradeira.

—Vamos voltar para dentro e encher a cara com uma bebida maluca brasileira – jogo o meu braço envolta do seu pescoço.

—Gosto dessa ideia – sorri. – Mas você sabe que temos aula segunda.

—Podemos institucionalizar segunda como o dia oficial da ressaca – teorizo.

—Adorei!

Durante minha tentativa de beber a Katoptris resolveu dar o ar da graça, e então passei a me forçar a engolir a bebida para lidar com o restante da noite, sem desabar por completo. Em algum momento percebo que preciso fugir de todos com o resto de cachaça que venho enrolando para não beber, em meu copo. Só tem um lugar onde gostaria de estar naquele instante, e não é vendo meu ex se agarrar com a nova garota dele. Uma parte minha me obriga a tentar ficar feliz por Dam estar bem, mas é muito amor a minha volta.

 Meus pais parecem um casal de namorados quando Phill volta para o palco, agora para o show mais longo eles se beijam e abraçam ao som de suas músicas. Sara e Wally dançavam com Nina entre eles e chega a ser doloroso de tão bonito. Connor e Lunna tem a aura própria deles que ilumina qualquer coisa em um raio de cem quilômetros, isso sem falar dos Allen’s, Diggles e Graysons.

E minha melhor amiga estava radiante dançando com seus pais adotivos, depois de um momento Tia Thea a pega pela mão e dança com ela e Tommy se junta a irmã e a filha, é como ver o sonho de Mia se realizar diante dos meus olhos.

—É só jogar nos vasos de plantas, bem assim. – uma voz masculina suave me desperta, e o sinto tirar o copo de minhas mãos e o despeja em um vaso de lírios brancos. Reconheço de imediato o sorriso gentil de Tim.

—Você está nos deprimindo sabia? -Jason surge do outro lado e passa o braço por meus ombros.

—Tenho que te pedir desculpas também -me encolho ao lembrar do meu incidente com ele na boate.

—Está provado, ela voltou -Tim diz ao irmão, como se conversassem sobre algo no qual não me encaixo.  -Quer que a gente crie um apagão? -sugere fazendo um sorriso largo aparecer em meu rosto.

—Eu adoraria - afirmo, depois me viro novamente para frente. -Mas olha para Mia -aponto minha amiga que quase tropeça ao se distrair com os olhos no palco enquanto dançava com Tommy. -Ou minha família, não é certo.

—Tão chatinha. -Jason cantarola, mas nem ligo para ele. -Não vamos acabar com a festa Pequena Queen, só te dar tempo para escapar e depois cair de cara na bebida.

—Fale por você. -Drake murmura, mas Jason apenas sorri com sarcasmo e estuda meu rosto.

 -Só nos resta a segunda opção, Tim.

—Quantos planos vocês fizeram? -questiono sendo arrastada para a pista de dança pelos irmãos Pink e Cérebro. E escuto Phill começar a dedilhar I Want U Back. Odeio essa mania do Delphine de usar seus poderes para a própria diversão.

Então viro o recheio de um sanduiche de Robins. Mas o deboche de Jason me faz esquecer Damian e a garota que dançavam ao nosso lado. Sem que perceba vejo o par de olhos cinzas do Dick a minha frente e Babs passa para os braços de Tim. -Vocês são inacreditáveis! -solto em choque ao ver a comoção descabida que aquilo acabou se tornando.

—Aproveita Isis, que estou te emprestando o Jim e Juan! -Babs grita e vejo Lunna praticamente engasgar com uma risada e Sara dar Nina para Iris e Barry se juntando aos outros com o marido.

—Quem é Jim e Juan? -questiono fazendo todos a minha volta rirem.

—Não pode acabar com a inocência da Isis assim. -Dick tapa meus ouvidos de forma teatral e reclama com a esposa.

—Por favor, não seja um código para baixaria, por favor não deixe ser. -fecho meus olhos e começo a murmurar uma pequena prece, sinto as luzes diminuírem e os garotos gritarem.

—Troca! -Dick me gira enquanto meus olhos ainda estão fechados, mas não preciso abrir para saber de quem se trata. -Lunna -o escuto dizer cheio de satisfação, descobrindo quem está em seus braços.

—Richard! -ela devolve e os dois passam a dançar juntos, em uma espécie muito doentia de batalha contra Con e Babs.

—Sinto muito por ter que dançar comigo -murmuro sem jeito, não encontrando lugar para tocar em Damian. Deus, como ele é pode ser ainda mais lindo de pertinho?

—Não percebeu que esse era o plano dos idiotas um e dois? -ergue a sobrancelha, estudando meu rosto, depois que não encontra nada incriminador me dá um pequeno sorriso. -Claro que não percebeu.

Ele mesmo coloca meus braços em volta do seu pescoço e sinto sua mão deslizar calmamente por minha coluna, parando no meio das minhas costas e preciso prender um suspiro na garganta. Percebo o quanto ele cresceu enquanto estava ausente, com meus saltos nossa diferença de altura é de quase uma cabeça e fico intrigada em saber qual seria sem eles.

—Legalzinho seu namorado -contenho o riso, por saber que esse é o único adjetivo que ele conseguiu dar a Collins.

—Ex namorado.

Suspiro com tristeza e desisto de manter a distância entre nós, me deitando minha cabeça em seu ombro e por alguns segundos finjo que nada mudou, segundos, pois ver Jay girando Phoebe que não parecia gostar da brincadeira me traz a realidade, então volto a me afastar, mesmo que todo o meu corpo quisesse desesperadamente o contrário.

—Nem me lembrava da aparência, ou nome... -coço a cabeça confusa contendo o nó em minha garganta. -Sinceramente, nem sabia da existência dele. E percebo que não sei o que fiz com esse cara. Teve alguém me tocando e beijando sem que me desse conta – as palavras saem como uma enxurrada, e sinto minhas pernas bambas. -Não sei dizer a que ponto cheguei com ele... -não dava mais, não consigo ficar perto assim.

—Deve estar sendo dificil -a preocupação em sua voz é como um soco no meu estômago. Me solto de seus braços e Damian fica olhando sem entender. Olho em volta até encontrar Tim, ele assente ao ver o que queria.

—Eu não posso – balanço a cabeça para Damian, tirando suas mãos da minha cintura. -Sinto, sinto muito mesmo, Damian.

As luzes se apagam e desapareço em meio à multidão. Corro como se o Vertigo estivesse me perseguindo e só paro ao me lembrar do que aconteceu na última vez em que sai pelas ruas dessa forma. O que eu fiz com Collins? Vasculho minha mente desesperada e toco a Katoptris que está presa a minha coxa, e sou bombardeada por imagens minhas me agarrando com diferentes caras, em um bar, boate, um beco e posso sentir o gosto da bebida e tudo o que enjeri pelo decorrer do dia em minha garganta e minhas pernas se tornarem pesadas demais para conseguir movê-las.

—Pronto amor, eu te peguei -reconheço o cheiro de cigarros e bebida, mas meu peito dói, minha cabeça dá um milhão de voltas. -Está tudo bem, vai ficar tudo bem. -John Constantine me sustenta em seus braços e vejo uma mulher de cabeços pretos lisos e muito escuros ao seu lado.

—Zas? -murmuro confusa e imediatamente Zatanna segura minha mão.

—Oi querida, fica calma. Nós vamos cuidar de você.

DAMIAN

—Sua família é bem enérgica. -Phoebe escora na parede, parecendo exausta.

—Você se acostuma depois de um tempo -puxo uma cadeira de uma mesa vazia e a sento ali, me agachando em sua frente para ver o estrago que as pragas dos meus amigos fizeram. -Seus pés são enormes! -debocho tirando sua sandália e ela empurra meu ombro, um cara normal cairia sentado, mas pobrezinha, não estou nem perto disso.

—É um jantar de gala, queria que viesse de sapatos ortopédicos e o jaleco que uso no laboratório? -olho para seu rosto indignado.

—Fica fofa no laboratório -provoco e ela faz careta. -Foi você quem quis conhecer meus amigos! -a lembro.

—Queria conhecer três deles, não todos ao mesmo tempo! -verdade, viro seu pé e vejo o pequeno corte no calcanhar.

—Licença -Laurel aparece ao nosso lado e me lança um olhar de desespero, antes de colocar um sorriso diplomático no rosto. -Dam, pode levar Mia e Phillippe para casa?

—Claro, estava prestes a levar Phoebe para o hotel -calço os sapatos nela novamente e me levanto. Phill pode se cuidar e se ela me pediu para levar os dois, é por que algo está acontecendo. -Pode me dar um minuto? -pergunto a Phebs que sorri de forma doce assentindo.  -Levo cada um para sua respectiva casa? -questiono quando estamos distantes o suficiente.

—Pensei em você os deixar na sua, qualquer lugar fora do radar -olha em volta, então segura meu braço e me puxa para um pouco mais distante. -Seus irmãos foram deixar Nina, os gêmeos e seus sobrinhos na sede dos Titãs.

—É sério assim?

—Muito -ela respira fundo, depois solta um riso tenso -não tenho ideia de como Felicity faz isso desde que Connor chegou, estou a ponto de enlouquecer nesse instante.

—Vou leva-los ao meu apartamento, existe um bunker no subsolo que suporta uma investida do Superman, ou uma bomba atômica, o que julgar mais perigoso -dou de ombros e me assusto ao ser abraçado pela Canário Negro, conhecida por demonstrar amor nos treinando com a maior violência possível, para garantir nossa sobrevivência.

—Obrigada, vou ir avisar ao time que temos isso sob controle, Thea e Roy vão ficar com eles assim que terminarmos na Torre, ela está tentando me acalmar e dizendo que esse é um ótimo momento para conhecer melhor a nova sobrinha -Laurel se vira, mas parece lembrar de algo. -Deixe a garota no hotel, e encontre seu time. Aqui -me entrega uma carta de tarô antiga. -A casa vai vir até você com isso.

—Ah não, isso que começou? -a vejo concordando e sinto minha energia chegar a zero em um segundo. -Meu time já está lá?

—Estão a caminho, Lunna pediu para avisar que já está levando suas coisas, pediu Bruce para trazer roupas suas de sua casa em Gotham, tenho roupas para Mia em meu carro e já pedi Connor para passar para o seu, assim como as do Phill -pensaram em tudo. -Se apresse.

—Claro -minha voz chega a ficar mais grave, quase idêntica ao do meu pai. -Precisamos ir -estendo minha mão para Phoebe que não protesta. -Vou ter que te deixar primeiro, tenho que levar meus amigos embora e me encontrar com meu pai antes que ele saia de Star City.

—Está tudo bem -olha em volta tranquila.

—Desculpe a demora. -Phill segura a beg de seu violão nos ombros e sustenta Mia que está um pouco bêbada a segurando pelo braço.

—Damian Wayne. -Mia sorri com todos seus dentes alinhados à mostra. -Garota nova do Damian -estende a mão para Phoebe que corresponde ao gesto um tanto insegura. -Sou Mia Dearden, não, espera... -pensa a respeito. -Esse era o nome que herdei da minha mãe biológica e o usava para me esconder do meu pai biológico -sussurra para nós, Phill me olha em alerta. -Meu nome agora é Mia Merlin Lance. O que acha Wayne?

—Combina com você -estendo minha mão para Phill que me entrega a beg e passa a segurar Mia direito, então vamos para meu carro, com ela cantarolando as canções do ex. Nem quero imaginar o constrangimento que vai ser no dia seguinte.

—Meu hotel fica a dez minutos. -Phebs olha a rota em seu celular, sentada ao meu lado. -É realmente mais rápido se me deixar antes -vira a tela para que veja.

—Ótimo -dou partida, vendo o carro do meu pai sair em disparada com Diana e Barry nele.

—Dam. -Mia prolonga o “m” ao me chamar.

—Lance? -ela dá risada, gostando do novo sobrenome.

—Disse ao Phill, ele aqui olha -vejo pelo retrovisor ela apontar Phillippe, que tentava com esforço fazer com que ela parasse de se mexer. -Consegue ver ele?

—Posso ver claramente -as motos de Connor e Oliver passam por mim, já estavam como arqueiros e acelero até o limite de velocidade, por ter Phebs que não sabe que sou o Robin.

—Então, disse a ele que não vou mais ficar com outros caras, só por que estou em outra cidade -cruza os braços emburrada e Phill parece constrangido, me lembra Lunna por um momento.  -Por que seu eu gosto dele e ele gosta de mim, não sei o porquê colocar outra pessoa no meio que só vai sofrer, não é justo -passa a dizer em tom sério. -Pessoas que se amam, devem ficar juntas. Não acha? -engulo em seco, usando todo meu treinamento para manter a mesma expressão impassível em meu rosto.

—Eu estou com você, sua bêbada tagarela. -Phill reponde, me livrando da enrascada. -Estou bem aqui.

—Mas não estava antes -choraminga deitando em seu ombro e foco na estrada, vendo que já estávamos chegando. -Bom, eu também não ajudei, não sabia bem como ter alguém na minha vida e posso ter te obrigado a me deixar -alguém faz essa garota se calar, pelo amor de Deus! -Você e Lunna são melhores do que eu nisso de serem órfãos, aceitam que as pessoas os amem e as deixam fazer parte do que são.

—Sério? Minha irmã? -Phill sorri. -Lunna só começou deixar que as pessoas entrassem quando conheceu esses caras -aponta na minha direção.

—É mesmo, Dam? -me pergunta de novo.

—Foi mais um trabalho de equipe do Connor e Wally, eu vim depois com todo o resto -estaciono o carro em frente ao hotel. -Volto em três minutos, mantenha a Lance na linha -ele assente e saio rapidamente dando a volta para abrir a porta de Phebs.

Andamos em silencio lado a lado. Ela pega sua chave na recepção e subo com ela para o quarto a deixando na porta. -Obrigado por me acompanhar -digo a vendo mexer na chave em suas mãos.

—Não precisa agradecer, eu fiz que me trouxesse.

—Ainda assim, foi bom ter companhia -coloco uma mecha de seus cabelos atrás da orelha e ela segura minha mão em seu rosto.

—Não somos namorados, Damian -pisco algumas vezes sem entender aquela conversa do nada. -Não temos um compromisso, dormimos juntos mais por comodidade do que paixão.

—O que aconteceu?  Você quer um compromisso? -observo seu rosto que está sereno como sempre.

—Na verdade você não quer, não comigo.

—Eu gosto de você -falo naturalmente e Phoebe dá um passo em minha direção e me dá um beijo rápido.

—Você gosta de muitas pessoas, apesar de não gostar de admitir -dá de ombros. -Mas sei que é inteligente o suficiente para entender que não está apaixonado e não vai ficar. Sou sua amiga Damian, não tem que ser dificil, só voltamos para os parâmetros normais de uma amizade.

Meu peito se aperta de uma forma estranha, nada parecido como perder o chão, como foi quando Isis saiu no meio da nossa dança, mas com certeza isso é triste. A empurro contra a parede e beijo de verdade, segurando seu rosto com cuidado entre minhas mãos. Sou grato por ela nunca ter me visto como uma ameaça, ter me aceitado como amigo e ter me consolado por tantas noites, espero que esse último beijo a mostre o que não poderia dizer em voz alta.

—Foi um prazer Morley -sorrio e a vejo sorrir da mesma forma, então dou um beijo no alto de sua cabeça e me afasto, a vendo entrar para seu quarto de hotel. -Detesto ficar sem cobertura -murmuro sozinho enquanto tenho que andar calmamente pelos corredores e esperar o elevador como uma pessoa normal, por não ter um hacker facilitando minha saída.

—Você não levou só três minutos, foram quatro minutos e cinquenta e um segundos -a voz arrastada de Mia é a primeira coisa que escuto ao entrar no carro, dando partida imediatamente.

—Isso prova a importância da sua cunhada na equipe -dou de ombros acelerando ao máximo. -Não posso correr ou saltar por janelas sem um hacker apagando meus rastros.

—Connor me disse que ficaríamos em sua casa. -Phill parece outra pessoa agora que Phoebe não está, e não precisamos ter nenhum segredo, sem a aura distante que usava antes.

—Isso, tem um bunker no subsolo, vão ficar por lá, até que Laurel ou os Queens te liberem -coloco os dois a par do que tenho conhecimento. -Parece que Thea e Roy virão ficar com vocês.

—Ser herói deve ser um saco. -Mia reclama. -Vocês não têm um casamento, festa ou sei lá, comemoração do aniversário de um cachorro. Sem serem interrompidos no meio.

—Isso aí é verdade -concordo entrando na garagem do meu prédio.  -Vamos fazer o caminho social, o bunker só pode ser acessado do meu apartamento -aviso e Mia concorda com um movimento exageradamente sério, coitada, vou fazê-la lamentar por isso assim que nos encontrarmos e ela estiver sóbria. Pego as malas no carro e entro com eles.

—Sr. Wayne –o recepcionista se levanta nos cumprimentando, mas seus olhos param em algo atrás de mim e vejo o misto de espanto e fascinação tomando seu rosto.

—Boa noite Steve -devolvo o cumprimento antes de chamar o elevador. -Cara, você começou a ficar famoso, vai ter que repensar sobre sair com garotas bêbadas no meio da noite -sussurro para Phill, fazendo um gesto para meu porteiro que o fotografava animado.

—E agora, o que vamos fazer? -me olha preocupado e não rio por que civis não tem obrigação de saber como invadimos a privacidade deles sem que saibam.

—Lunna é a segunda, melhor hacker que existe, bom, eu já a vi hakeando a primeira e não sei se isso as coloca em pé de igualdade ou mostra que já está superando Felicity -pondero. -Mas o que quero dizer é que você é protegido, muito mais do que pensa. Os locais em que moramos são guardados com reconhecimento facial, em tudo o que sai ou entra digitalmente neles.

—Isso é bizarro.

—Sua irmã inventou o programa -conto me divertindo com o choque em seu rosto. -Mas é mais eficiente do que guardas armados, pode acreditar.

—Acredito -estremece. -Connor está preocupado, você também parece preocupado. -diz quando as portas se abrem, ele não se interessa por nada em volta e apenas pega Mia nos braços que já havia adormecido e me segue para um segundo elevador no fundo do meu quarto.

—Estamos preocupados -confirmo. -Mas não acho que sua família queira que se preocupe com nada, além de sua própria segurança.

—Isis estava desaparecida -me viro para ele assustado.

—O que? -quando as pessoas pararam de me dar informações por aqui?

—Foi como souberam que começou, seja o que for que precisam combater -entramos no bunker e aponto para a cama, sentindo o chão sobre meus pés girar -fugiu naquela hora em que estava cantando, então não conseguiam falar mais com ela, acontece que Mia disse ao Connor que enquanto ela bebia, Isis teve uma visão e contou que estava sozinha em meio a muitos carros, enquanto quatro chamas caiam dos céus e muitas pessoas se enforcavam.

—Isso foi antes do seu show? -ele assente.

—Então quando desci do palco, seu pai e o Oliver chegaram contando que pessoas se suicidaram em Gotham e Central -preciso colocar minha cabeça em ordem.

—Tem comida na geladeira e armários, um banheiro, camas e televisão -aponto para as coisas enquanto digo. -Fique à vontade para usar a Netflix, mas não entre na internet por nenhum outro meio se não os celulares que estão na gaveta ao lado do armário de comida. Não preciso dizer que nada de redes sociais, não é? -solto as malas no chão.

—Não é a minha primeira vez em um abrigo desse tipo -me lembra. -Pode ir ser um herói. Vamos cuidar de nós mesmos.

—Claro, em último caso tem armas no armário ao lado do banheiro, Connor deve ter te ensinado como usar -ele confirma, aperto o botão do elevador e o vejo deitando Mia com cuidado. -Phill.

—Sim?

—Lunna vai ficar bem -ele parece precisar ouvir isso. -Sua irmã é incrível, mais durona do que imagina.

—Obrigado -respira aliviado e vejo a porta se fechar.

 ISIS

Zatanna me deu roupas limpas e me levou a uma porta torta dentro de uma casa flutuante, onde encontrei um banheiro para me lavar. A Katoptris apareceu quando perdi a consciência por um breve instante no meio da rua, e o que julguei serem segundos, foi na verdade quarenta minutos. Onde ela precisou me fazer andar até um local seguro, para que não fosse atropelada. E meus pais e o time já estavam a ponto de pôr fogo no mundo para me encontrar.

E por falar neles, meus pais são os primeiros a passarem correndo pela porta ele como Arqueiro verde e ela ainda com o vestido de festa que usava, e estou encolhida no sofá de uma sala que me lembra um desenho antigo da família Adams, com a voz embargada demais para dizer qualquer coisa. Sento no colo da minha mãe e estico minhas pernas sobre as do meu pai de forma que acabo ficando no colo dos dois ao mesmo tempo. E me permito chorar entre eles, sem forças para fingir ser durona. Connor, Lunna, Sara e Wally aparecem em seguida todos de uniforme e Lunna ainda no vestido de gala. Meu irmão relaxa de imediato e eles se sentam pelo chão, respeitando meu choque.

Já começava a me perguntar onde Damian estava, quando o vejo entrando ao lado do pai, Diana, Barry e Superman. Com a gravata borboleta solta sobre os ombros e o terno aberto, mostrando o suspensório que usava, os outros também estavam em suas roupas de festa, menos tio Barry que estava vestido como o Flash, mas acho estranho que toda essa comoção se deva ao fato de eu ter me descontrolado com algumas memórias, então me lembro da visão mais cedo e descubro que não era exatamente o motivo no mesmo instante.

—Começou. -Bruce diz, mas meus pais não se movem. Minha mãe continua afagando minhas costas com meu pai nos abraçando, era como se dissessem que se dane o mundo e naquele instante eu era tudo o que os importava. -Uma nova onda de suicídio ocorreu em Metrópoles, Gotham e Central. E Hal nos informou que Coast City também entrou na estatística, nesse instante -levanto meus olhos para eles, mas me arrependo ao ver o desespero no rosto de Damian que me observava preocupado.

—E não é só isso. -Barry diz e toca o ombro de Diana como se a confortasse.

—Duas de minhas irmãs se enforcaram também -pela primeira vez vejo a Mulher Maravilha parecer frágil. Wayne tem uma mão em suas costas, com Barry mantendo a sua nos ombros dela.

—Sinto muito, Diana -minha mãe diz com pesar.

—Obrigada, Felicity -responde de cabeça baixa. -Mas precisamos nos apressar antes que seja muito tarde para fazer alguma coisa.

—Eu rastreie os possíveis lugares pelo mundo em que podem acontecer o próximo recrutamento. -Batman volta a falar. -Vamos deixá-los com vocês. -diz a Zatanna e Constantine, antes de se virar para o meu time. -Vocês estarão com a pior parte, a mais arriscada e nós vamos lutar por aqui, os dando suporte.

—Tomem muito cuidado e cuidem uns dos outros -meu pai acrescenta e beija o alto da minha cabeça antes de se levantar. -Vai ser a missão mais dificil que já enfrentaram na vida, terão que usar tudo o que ensinamos no decorrer desses anos -seus olhos param em Connor, como ele sempre faz em um momento de crise.

—E fazer escolhas difíceis em frações de segundos. -Barry acrescenta.

—Nós confiamos em vocês -Batman fala e toca o ombro de Damian. -Se cuida. -diz para o filho que balança a cabeça concordando. -Não temos mais tempo, precisamos ir.

 Minha mãe faz sinal para Connor, então me passa para ele como se eu fosse uma criança, sinceramente, não me sinto bem para ficar sozinha. -Eu amo vocês mais do que qualquer coisa no mundo. -diz nos olhando com seus olhos azuis intensos.

—Nós te amamos, também. -Connor responde e ela nos beija com carinho, entrega uma bolsa a Lunna antes de se despedir da pupila e dos outros.

Então ficamos sozinhos com um mago ocultista e a Zatanna, na casa do Sr. Destino. Não faço ideia do que está para acontecer, só percebo Lunna se sentando onde meu pai estava e sinto seus braços sobre o meu. Continuo chorando baixinho, sem nada que pudesse me consolar e nada além de silencio e algumas fungadas vezes minhas, e as vezes de outra pessoa preenchiam a noite.

DAMIAN

Ela parece destroçada, como se um animal selvagem a tivesse disputado no jantar com outro. Nenhum de nós levou em consideração que o quer que a arca tenha feito com o corpo de Isis, foi feito sem ser a escolha dela, e ninguém parece conseguir pensar em uma forma de remediar isso. Nem os magos conseguem uma brecha para falar naquele tipo de situação.

—O que temos que fazer agora? -Connor pergunta com os olhos na irmã que parece ter adormecido entre ele e Lunna.

—Tem um feitiço que Nabu usou para prendê-los da primeira vez. -Zatanna diz. -Vocês vão atrás do que precisamos para fazê-lo e das armas que usarão para derrota-los.

—Nós dois vamos tentar proteger os seis e manter as forças de Felix Fausto sobre controle.  -Constantine complementa. -Mas é um serviço digno de ocupar todas as Ligas, em peso.

—Qual o primeiro local? -questiono, usando qualquer coisa para tirar minha preocupação com Isis da cabeça.

—Que bom que foi você quem perguntou, pois, a primeira jornada é sua. -Constantine diz, sem deboche ou sarcasmo e de uma forma bizarra isso arrepia os cabelos da minha nuca. -Sua e do Arqueiro Verde. -Connor levanta os olhos e apenas observa em silêncio. -Descansem todos essa noite, tem quartos o suficiente por aqui e amanhã vamos dar início a tudo.

—Mas o Batman acabou de dizer que não temos tempo. -Sara argumenta.

—O tempo não importa onde estamos agora. -Zatanna começa a explicar. -É como quando fingimos sua morte.

—Nesse caso, eu vou dormir. -Wally de levanta e ergue Sara junto. Depois todos nós fazemos o mesmo.

Assim que passo pela porta do quarto, ele começa a transmutar. Então estou dentro do meu próprio quarto, o da mansão Wayne. Com uma cama de solteiro, algumas estantes entulhadas de livros, minha escrivaninha e até mesmo os aparelhos de ginástica, que foi o motivo de ter preferido móveis de solteiro que não ocupassem muito espaço. Jogo a mala que Lunna me trouxe no chão e me sento na cama, olhando para as paredes cinzas familiares. Encontro a foto de família que mantenho em um porta-retratos de metal. Alfred faz uma falta do inferno, os devolvo para a estante e vejo uma minha com Isis, que Felicity tirou sem que soubéssemos, foi no início de nossa amizade, estávamos na biblioteca dos Queen’s estudando tudo o que podíamos sobre a Katoptris, e acabamos pegando no sono, cada um de um lado da mesa, com nossas cabeças se tocando no centro, Oliver me deu de presente em meu aniversário ano passado. A vida era mais fácil. Escuto batidas leves na porta e devolvo a foto para seu lugar, vou até a porta e giro a trinca, depois volto em direção a minha cama.

—Entre.

—Pensei que estaria com fome. -Lunna passa pela porta com uma bandeja de comida nas mãos.

—Religiosamente a cada três horas -dou risada por seus hábitos metódicos. Ela deixa a bandeja sobre a escrivaninha e olha em volta.

—Não me surpreende -aponta para os aparelhos de ginástica.

—Quero muito ver o que essa casa criou para você e Connor. Uma sala de cinema no alto de uma montanha? -sugiro com deboche e me sento ao seu lado em minha cama.

—Nosso quarto no apartamento -me mostra a língua. -Mas uma sala de cinema seria bem legal -empurra de leve meu braço. -Coma! -pego o sanduiche e começo a mastigar.

—Isis está bem melhor agora, está no nosso quarto dormindo -informa. -Vim para dizer isso, além de te alimentar.

—Seu irmão também vai ficar bem, os deixei em segurança com Thea e Roy a caminho -olho para seus olhos e começo a entender a música de Phillippe, o direito está completamente verde, enquanto o esquerdo tem riscos castanhos, misturando as duas cores, que parecem começar a se dissipar ao ouvir boas notícias sobre o irmão.

—O que aquela garota é para você, Dam? – direto, sem rodeios.

—Você me lembra o Alfred as vezes, Delphine -olho para o sanduiche em minhas mãos. -É como se fosse capaz de ler o que não estou falando.

—Bom, você é bem parecido com meu pai também -dou risada. -Não fisicamente, seu idiota -seu xingamento faz ser ainda mais engraçado. -Quero dizer que sempre está por perto, sem dizer uma palavra se quer acaba ajudando a todos em sua volta. Mas não me respondeu!

—Não somos nada, ela é uma amiga com quem eu dormia as vezes -por algum motivo isso é constrangedor, como seria falar sobre isso com uma irmã. -Mas nós terminamos, isso de ser colorido.

—Foi por que te viu com Isis? -questiona e balanço a cabeça confirmando.

—Por que ex namorados são tão complicados, Lu? -mal consigo respirar com a Queen por perto, mas não preciso dizer isso em voz alta, Delphine tem um relacionamento com o outro Queen, e sabe como é.

—Não é complicado se não existir amor entre os dois -dá de ombros como quem sabe das coisas. -Sua amizade com Phoebe vai continuar, só não serão nada além disso e acredite em mim, não vai ter nada de complicado ou estranho nesse caso.

—Foi assim com o Tim? -sorrio de lado ao ver o choque em seu rosto. -Qual é, Isis e eu fizemos vocês se encontrarem pela primeira vez, é claro que nós sabemos que vocês não terminaram depois daquele jantar insuportável na minha casa. Por três meses não precisei suborná-lo para me manda a Star City, ele até oferecia as vezes!

—Por que essa história parece estar voltando ultimamente? -massageia as têmporas com as pontas dos dedos, antes de se virar para responder. -Sim, é exatamente assim com o Timothy -seguro o riso, por que sei que está se esforçando para me ajudar.

—Deve ser, se ele parecia estar bem no seu casamento – pondero. – Até ajudou na decoração, bom, não é como se Sara tivesse nos dado qualquer escolha, mas entendeu o que quero dizer! – Lunna revira os olhos antes de voltar a falar.

—Só fomos estepes um para o outro, Connor era bem galinha por assim dizer, quando não estávamos juntos e lidar com uma dezena de garotas as vezes torra o saco -seu rosto fica um pouco vermelho, e Deus, como isso é divertido. -Naquele jantar eu tinha ligado para o Connor e uma dessas atendeu, falou um monte que não precisava, então pode imaginar como uma coisa levou a outra.

—Mas o estranho é que depois daquilo, Isis e eu tivemos medo que vocês acabassem dando certo -me lembro de como pensamos que o tiro sairia pela culatra e o desespero da Pequena Queen por pensar ter arruinado o grande amor do irmão.

—Confesso que o Drake foi essencial para me fazer entender a diferença gigantesca do que sinto por Connor a qualquer outro tipo de atração. Seu irmão me fez chegar no fim da linha, decidir que não daria mais voltas. Começamos e terminamos sem nenhum drama, por que não era amor, ele só era cômodo. Digamos que nós falávamos a mesma língua.

—Ah, eu sei! -a empurro de leve com o ombro. -Eu falo sete línguas diferentes e tenho certeza que a conversa de vocês dois não era nada que alguém da Terra consiga entender, tipo, bacharelado em nerdice!

—Babaca -me repreende.

—Quantos idiomas você fala, Lunna? -mudo de assunto, voltando para meu sanduiche.

—Nove, e voltei a estudar português desde que Nina apareceu. É mais fácil entender algo se não precisar de uma tradução -dá de ombros como se não fosse nada. -Acho que minha velocidade pode ser usada em pensamento ultimamente -conta. -Estudei tudo o que temos sobre as forças de aceleração, velocidade, mitologia Tupi, Greco-romana e incidentes mágicos, mais um arquivo enorme que Tim me deu quando fomos a caverna. Isso e um idioma novo e não sinto que cheguei a me esforçar.

—Se esforçava antes? -ergo a sobrancelha e ela nega fazendo careta.

—Mas foi bem mais rápido -se defende e levanta da cama. -Nos vemos amanhã, morcego.

—Até amanhã arqueiro cinco! -devolvo e ela sai rindo. -Obrigado -acrescento para a porta fechada.

ISIS

Saio do quarto do meu irmão, onde acabei dormindo entre ele e Lunna feito uma garotinha de dois anos. E só ao passar pela porta me dou conta de ainda estar na casa dos mistérios. Começo a entender Wally e seu horror a magia, essas coisas acabam com a cabeça da gente.

—O que você faz aqui? -me surpreendo ao entrar na sala e encontrar Dick Grayson em uma conversa muito animada com a Zatanna, enquanto Constantine limpa as unhas das mãos com um estilete, emburrado em um canto.

—Não estou, não de verdade -ele se vira com um grande sorriso em seu rosto de cafajeste sem cura. -Zas me conjurou.

—Poderia ter escolhido conjurar qualquer homem no mundo, qualquer um em qualquer tempo e entre o Bard Pitt ou Jesen Ackles em seu auge, escolheu o Dick Grayson? -me jogo no sofá ao lado de Constantine, o empurrando para o lado sem cerimônias e ainda tomo o estilete de suas mãos. -Isso é nojento demais para ter que lidar a essa hora da manhã.

—Uau! -Dick exclama parecendo ter levado um soco no estômago. -Estou feliz por não estar preso em uma brecha temporal com ela -murmuro tudo o que ele disse, afinando a voz e fazendo careta, acaba não o irritando como previa e só meu deu um sorriso bobo antes de sacudir a cabeça e se lembrar por que está acabando com minha manhã, e a de Constantine pelo visto. -Onde está Damian?

—Acha que dormi com ele? -solto petulante, mas sinto meu rosto queimar de imediato. -Eu não dormi -esclareço a todos. -Sério, não dormi mesmo!

—Quem não dormiu? -Damian aparece com os cabelos bagunçados, e um olho só aberto. Usando uma regata branca cavada demais e calças de moletom escuras. Ele nos olha irritado. Mas toda aquela imagem é tão sexy que me pego paralisada, incapaz de desviar o olhar.

—Não dormiu, mas com certeza está querendo fazer isso. -Constantine murmura para ele mesmo e aponto o estilete em sua direção o fazendo encolher.

—Por que está gritando que não fez coisas a essa hora da manhã? -Damian reclama com a voz grossa demais, e me olha com cara de dor. -E o que ele está fazendo aqui? -aponta para Grayson.

—Dou conta do meu irmão mais velho, super protetor -dou de ombros virando meu rosto para o outro lado, antes que escorra um filete de baba da minha boca. -Você cuide do seu.

—Nossa, isso vai ser um inferno. -Sara entra com Wally ao seu lado, que parecia enjoado e meio cinza.

—Ele está bem? -questiono preocupada.

—É só o lance da magia -ela o ajuda a se sentar em uma poltrona. -Zas pode o ajudar com isso?

—Desde que ele pare de negar a existência da mágica no universo, vai ficar bem. -Zatanna responde serena.

—Ótimo, agora fico viúva. -Sara se senta no braço da poltrona. -O que você está fazendo aqui, Grayson?

—Alguém pode me recepcionar bem? -pede exasperado, e no mesmo momento Connor aparece completamente vestido, com jeans e uma blusa de manga longa branca, os cabelos louros molhados e um sorriso de capa de revista, dá para ver a aura brilhante em volta e me irrita profundamente.

—Bom dia -diz a todos, sem comoção, mas é o suficiente para gerar uma reação em massa.

 Eu olho para o lado oposto, Wally pergunta para quem era um bom dia. Damian revira os olhos e Sara passa a massagear a própria cabeça nos observando como se pensasse de quem se alimentaria primeiro caso o estoque de comida da casa acabasse. Acaba que Zatanna e Dick são os únicos a responde-lo, pois Constantine de alguma forma está ressonando com a cabeça em meu ombro. Meu voto é nele, só para constar, John Constantine no caso de o estoque de comida chegar ao fim e tals.

—Novidades? -meu irmão pergunta ao Grayson arrastando uma cadeira e a coloca ao lado de onde estou, empurrando de leve a cabeça do Constantine dos meus ombros sem nem olhar na direção do cara que só tomba para o outro lado sem acordar.

—Falta a Lunna, não? -Dick olha em volta cheio de expectativa.

—Ela está em meio a uma crise. -Con dá de ombros, ganhando a atenção de todos. -Cisco mandou um uniforme, agora que vai ter que sair em campo, mas parece que isso é mesmo que sugerir um ménage à trois—nós o encaramos chocados e ele parece perceber como as coisas saíram, suas bochechas ficam vermelhas de imediato. -Eu não sugeri nada disso -esclarece nos olhando. -É sério, foi só um exemplo.

—É como você, só que com músculos -a voz de Constantine me faz pular de susto.

—Aqui, você não estava dormindo? -falo em voz baixa.

—Não durmo muito -penso em argumentar que foram minutos, ou segundos, mas prefiro evitar a fadiga.

Finalmente Lunna entra, com um vestido xadrez rodado e curto, do tipo que ela costuma usar no dia a dia. A cabeça baixa e não olha ninguém nos olhos. Connor apenas faz cara de “não tenho ideia” quando eu o encaro sem entender a reação de sua esposa que se senta do outro lado da sala, na única poltrona que restava.

—Eu não vou usar aquilo. -Lunna avisa nos olhando de forma que nos desafia a contradizê-la. Damian se arrasta para onde ela está e se senta na beirada de sua poltrona. -Não vou usar! -responde um pouco mais alto, para algo que Dam a diz.

—De novo, não tenho ideia -Connor mexe os lábios sem emitir som, para nosso questionamento mudo.

—Então, encontrou uma versão do Cristal? -Lu parece não estar no seu melhor momento e olha para o holograma 3D do Grayson pedindo uma resposta.

—Só eu que não estou por dentro de nada? -levanto uma mão, para pedir a palavra naquela sala cheia de gente irritada, Connor, Zatanna e Grayson.

—Verdade, não é todo mundo que sabe. -Dick faz outro holograma aparecer a seu lado. -Essa é a primeira missão de vocês -ele mostra uma espécie de lâmina de gelo, do tamanho da minha adaga. -Se chama Cristal do Caos, é a arma que foi responsável pelo sarcófago de Damian ir parar em Apokolis -todos ficam imediatamente desconfortáveis.

—Vamos tirar isso do meu corpo sem vida? -não parece gostar nada da ideia, bom, ninguém aqui gosta.

—Não, aquele não seria útil -vejo a preocupação no rosto do Dick e finalmente entendo o porquê de ele ser conjurado ali. Connor provavelmente quis deixar Damian o mais confortável possível com o que deveria fazer. -Mas tem uma das realidades onde Bruce e Oliver fingem não se conhecer para todos de seus times e Damian dessa realidade acabou de morrer.

—Meu corpo também foi roubado? Ele está tentando o recuperar? -isso desperta Damian completamente e o vejo segurando a mão de Lunna como se precisasse de algo para se firmar, pobre Wayne.

—Sim, na verdade ele sabe onde seu corpo está. Mas o Batman quer a mesma coisa que queremos e vocês tem que encontra-lo. -Zatanna fala apontando com uma mão para Damian e outra para meu irmão. De forma quase inconsciente o morcego massageava o centro de seu tórax.

—Ele não vai nos oferecer o cristal com um laço de fita -Connor se move desconfortável, me tapando por um momento com seu corpo.

—E não fica mais fácil depois disso, o cristal é apenas a arma que vão usar, ainda precisamos do ingrediente do feitiço.

—Por favor, não diz que é um pedaço do meu cadáver -o rosto dele chega a ficar verde.

—Não! -Zatanna e Dick soltam ao mesmo tempo e Constantine bufa irritado ao meu lado, o que é meio divertido. -Mas vão ser levados a outra terra, atrás de uma versão sua que não se redimiu, precisamos das lágrimas dele.

Grayson fala tudo calmamente e então sai do centro, andando em direção ao irmão. Damian se levanta e vejo os dois frente a frente, não existe mais diferença de altura entre eles, e passam a se olhar como iguais, ambos transbordando seriedade.

—Essa é sua versão do universo em que o Superman se tornou um ditador. -Dick conta e Dam fecha suas mãos em punhos, desviando os olhos dos do irmão. -Não é você, cara. -Lunna também se levanta e toca o ombro de Damian, a verdade é que todos da sala pareciam querer fazer isso, mesmo que a maioria não saiba o real motivo para eles estarem tratando o assunto com tanta delicadeza.

—Essa versão minha, foi responsável pela morte do Grayson. -Dam diz de olhos fechados, respondendo à pergunta da maioria. -Ele deixou a família e se aliou ao Kal-El, o Clark desse mundo gosta de ser chamado assim. -todos permanecem em choque por longos segundos e minha mente começa a bombear de indignação por ele estar se culpando por uma versão babaca de outro universo.

—O Damian, nosso Damian nuca faria algo assim, não existe se quer uma forma de alguém aqui imaginar que possa ferir o Dick, muito menos escolher dar as costas a sua própria família, e sei muito bem que versões de outros universos não são como nós, acredite, já vi uma delas em que você era um nerd super atrapalhado, quatro olhos e a Thalia era uma mãe super protetora!-me pego falando de forma apaixonada, cheia de indignação em cada sílaba, e quando dou por mim todos estão me encarando, mas Damian tem um pequeno sorriso de gratidão no rosto que acaba por fazer minha vergonha valer a pena.

—Vocês simplesmente não controlam o que dizem, quando o assunto envolve alguém do qual gostem -pronto, Constantine acaba de decifrar três quintos dos Queens.

—Isis está certa. Eu não falaria melhor. -Grayson tranquiliza o irmão. -Mas eu não acho que esse Damian teve a intensão de me matar...

—Não vou dar uma chance ao cara que é responsável por você ter perdido sua vida -corta o irmão, falando entre dentes. -Não vou tentar fazer com que veja a luz, ou o que estiver pensando. Se quer as lágrimas dele, fico feliz em conseguir, mas não me peça mais do que isso -não tem como argumentar, mas vejo algo que não tinha me dado conta até hoje.

Dick não rebate, ele não tenta convencer o irmão, apenas lança um olhar para o meu irmão, que assente discreto. Então partes de nossas vidas começam a fazer sentido, como Wally que sempre aparece em algum grande momento de crise, Jason na boate em que a Arca desfilava com meu corpo enquanto Connor me espera calmamente em meu dormitório, novamente Jason e Tim na noite passada, Connor se esforçando tanto para ensinar Dam a direcionar sua raiva. Eles têm uma espécie e central do irmão mais velho, ou coisa do tipo. Inacreditável! O pior é que se vasculhar minha mente vou me dar conta de que isso existe desde que me lembro.

Vocês iniciaram isso ainda crianças.” Não percebi que estava tocando a Katoptris, até que nossa voz preencheu minha mente. “Cada um conseguiu fazer o que podia para baixar ao máximo o número de mortes, eles só querem manter vocês vivos.” Não estou brava, penso para que pare de ficar argumentando comigo. “Está um pouco.” Quase nada. Dou de ombros encerrando meu assunto.

—Boa sorte a vocês -a voz do Grayson me traz de volta a realidade e não sei quanto perdi, mas todos se dispersavam e seu holograma desaparece.

Meu irmão abraçava Lunna, assentindo para algo que ela dizia. Sara e Wally estavam ao lado de Damian o confortando e dando incentivo necessário para a missão. Me levanto e vou para meu irmão que se vira e me abraça com um sorriso que é idêntico ao que meu pai me dá.

—Ainda falta o menino prodígio ali se vestir -aponta para Damian.

—Volto em dez minutos -Dam diz cabisbaixo, indo em direção a seu quarto.

—O que nós faremos enquanto vocês estão fora? -questiono com mânha, um pouco irritada por perder a chance de ver uma versão do meu pai de outra terra.

—Vão estudar suas partes do plano e serão nosso reforço, algo me diz que vamos precisar ao ir para a terra com a versão ditadora do Clark. -Con olha para os lados então me puxa para um canto mais afastado. -Posso te pedir algo a parte? -questiona olhando para os dois lados.

—Claro. Qualquer coisa.

—Lunna tem que usar o uniforme, ela pode pensar que é besteira, mas sabemos que o kevlar é a única coisa que nos separa da morte na maioria das vezes -seu rosto se enche de preocupação.

—É tão ruim assim? -fico confusa.

—Não tenho ideia, ela não me deixou ver -é preocupante imaginar o que é tão ruim para fazer uma garota que já usou o pior uniforme dos Robins não querer usar.

—Vou fazer o que puder, e se não consegui a tranco em um desses quartos com o uniforme e a Sara -ele sorri relaxando um pouco por minhas besteiras, sempre funciona. O abraço apertado mais uma vez. -Por favor, voltem inteiros.

—Claro, sempre vou votar Isis -me tranquiliza acariciando de leve meu rosto. -Na verdade eu não queria ir, agora. Não quero te deixar aqui, não depois de ontem -confessa e nem consigo me irritar mais pela rede super irmãos lá. -E antes que apele, sei que sabe se cuidar, só que eu não sei te deixar nesse tipo de situação -as lágrimas começam a acumular em nossos olhos.

—Se vira de costas que eu chuto sua bunda bem forte, vai parar lá na porta -aponto na direção e escuto sua risada. -Eu te amo, Con.

—Amo você, pivete – beija o alto da minha cabeça. -Vai lá dar tchau para o Damian, vou te conseguir algum tempo -se afasta e pega a mão de Lunna no meio do caminho a tirando da conversa que estava tendo com Sara e Wally.

DAMIAN

Coloco uma jaqueta de couro por cima de minha blusa e confiro equipamento e meu uniforme em uma pequena mala de mão. Olho para meu celular em um dilema se devo ou não o levar, mas como nem deve funcionar em uma terra diferente o deixo na mesinha de cabeceira e só coloco uma corrente do tipo militar que Zatanna enfeitiçou para funcionar como o comunicador que Lunna e Sara usam para falar uma com a outra. Mas a forma estranha em que a voz surge em minha mente, me faz cogitar esquizofrenia e não é uma sensação agradável.

—Licença. -Isis está parada no batente da porta, com as mãos nos bolsos de uma calça florida larga que sempre a deixa linda, de um jeito bagunçado e meio trombadinha. Cara, isso não deveria me fazer sentir atração, deveria?

—Pode entrar, Queen, ou me acompanhar até a saída -coloco todas as minhas coisas organizadamente na bolsa e posso sentir o julgamento vindo dela.

—Você tem essa foto ainda -sorri, pegando nossa foto na estante.

—Por que não a teria? -questiono confuso.

—É, por que não? -dá de ombros. -Está pronto?

—Saio assim que me disser o que quer dizer -bato na beirada da minha cama e ela se senta meio receosa.

—Vai ser uma missão bem emocional, só queria ver se está bem -a sua falta de jeito quase me faz sorrir, e reprimo um desejo grande demais que me puxa na direção dela.

—Eu sinto muito por ontem -falo e a vejo prestes a me cortar, mas seguro sua mão o que a trava de imediato. -Eu me irritei com você quando descobri como conseguiu a arca, por que pensei que escolheu me deixar -vejo seus dedos delicados e a aliança negra que parece nunca ter saído de onde a coloquei. -Mas não pensei em como a arca te usou, e te afastar de quem te conhece como sua família e namorado é o movimento mais lógico para não ser descoberta -seus olhos se enchem de lágrimas e queria ter tempo para a ajudar a secar todas, mas estamos no meio de uma missão que pode garantir um futuro onde tenho a chance de fazer isso. -Vamos falar disso direito quando tudo acabar.

—Tem uma coisa que eu quero saber, só uma e você pode ir. -Isis se levanta, mas não deixo que solte minha mão, o que me faz acabar levantando também. -Hoje, a forma que sua vida está, te faz feliz? -me encara tentando com esforço esconder a tristeza que sente, mas seus olhos não cooperam. 

—Acho que não hoje, não agora que estou indo encarar a minha versão que é tudo o que abomino. Mas estou satisfeito na maior parte do tempo, Isis. Seria feliz se pudesse ficar bem aqui, nesse instante -dou de ombros e me inclino para dar um beijo em seu rosto, que acaba sendo um exercício de resistência ao parar por ali e conseguir me afastar antes que se tornasse evasivo. -Nos falamos na volta? -pergunto a olhando dentro do meu quarto, enquanto já estou do outro lado da porta.

—Não vou a lugar nenhum mais, Dam -dá de ombros com um sorriso triste. -É só você voltar.

Isso me lembra o discurso bêbado de Mia e a conversa que tive com Lunna. Acho que esse é o meu “fim da linha”.


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Notas finais do capítulo

Bom é isso ai, amores.
Me contem o que acharam!



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