PARADOXO - Seson 3 escrita por Thaís Romes, Sweet rose


Capítulo 17
Capitulo 14 - Luar de Caçada




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                DAMIAN

            Acho que se existir um molde perfeito para criar alguém que preencha todos os requisitos quando o assunto é me irritar, ela definitivamente foi feita nele. Merda. Olho para Isis de braços cruzados, me encarando com os olhos afiados como lâminas, enquanto tento treinar a Delphine. Se fosse qualquer outra pessoa eu já teria mandado pastar e a Pequena Queen sabe disso e está abusando do fato de não poder manda-la embora, mas juro que até mesmo o meu sentimentalismo idiota tem limite.

            -Quando eu vou poder descer? -a voz de Lunna sai com dificuldade, enquanto equilibra seu corpo sobre os braços em uma barra de metal.

            -Não sei -respondo calmamente, dando as costas para Isis. -Consegue ficar só com um braço? -Lunna sorri de lado, envolve o braço esquerdo na barra e solta o direito. -Muito bom -seus olhos chegam a brilhar quando consegue fazer algo novo. -Agora segure isso -dou uma mochila com alguns livros, Isis se levanta e a encaro, fazendo com que pare. -Como está o peso? -o rosto de Lunna começa a corar, e vejo o suor perto de seu couro cabeludo.

            -Suportável -murmura entre dentes.

            -Garota corajosa! -Sara entra com Nina nos braços e elogia a amiga. -O que foi Queen? -empurra de leve os ombros de Isis que desarma a tromba quando Nina a pede colo. Sara a deixa com a garota em vem em minha direção, parando ao meu lado. -Wally a fez treinar muito o lado esquerdo -comenta.

            -Foi um bom trabalho, sua precisão aumenta dessa forma -observo que agora o peso começava a incomodar de verdade. -Ela pode segurar melhor com a direita sendo predominantemente destra, e se sua esquerda for forte acaba sendo o ideal para esse tipo de caso. -Pode descer Lu -ela salta com a mochila em mãos, Sara e eu sorrimos um para o outro. -Bom trabalho.

            -O peso da Nina. -Lunna me joga a mochila com o semblante orgulhoso de sabe tudo que ela tem. -Pensou que não sacaria?

            -Tinha certeza que saberia -minto as fazendo rir. -Vamos treinar seu equilíbrio em seguida, e Sara vai te ensinar algumas coisas que Wally e eu não podemos.

            -Como? -parece interessada, Sara me chama para o tatame e vejo Nina correndo, a garotinha se joga nos braços de Lunna, distribuindo vários beijos em seu rosto. -Oi querida.

            -Tia Lu. -Nina segura o rosto de Lunna entre suas mãos fazendo com que dê toda sua atenção a ela, Sara e eu paramos no meio do tatame, seria inútil deixar a Artêmis me bater se quem precisa aprender com isso nem vai estar olhando. -Isiss está brava?

            -Não sei, perguntou ela? -fala com a criança como se fossem da mesma idade, as duas se viram para Isis que anda em direção a elas contrariada.

            -Não estou brava, só estou cuidando para não ficar -responde Nina cheia de carinho na voz, antes de me lançar um olhar mortal que me faz sorrir com vontade, o que claramente a deixa mais puta do que antes.

            -Ela está brava com o tio Dam -sussurra para Lunna, Sara solta uma gargalhada alta, enquanto Lu e eu seguramos o riso vendo o rosto de Isis se tornar escarlate.

            -Por que todos são tios, menos eu? -Isis desvia o foco, tirando Nina dos braços de Lunna e fazendo cosquinhas na garota.

            -O que vocês querem me ensinar? -a voz de Lunna chama minha atenção, e tiro meus olhos das duas meninas brincando.

            -Vai aprender a derrubar caras grandes. -Sara parece animada demais com a lição e sinto um calafrio subir por minha espinha. -Quando meu tio jugou que estava boa o suficiente, ele me apresentou para a tia desse garoto -cutuca meu ombro e sinto uma fisgada forte no local, isso por que nem começamos ainda. -Ela e Laurel assumiram um pequeno intensivo, no qual o objetivo era me ensinar o que só as garotas sabem. Isis, amor -chama e a olho surpreso.

            -Não era o combinado -falo baixo o suficiente para que só Sara escutasse, claro que ela não se importa, pega Nina do colo de Isis e me vejo em frente ao meu pesadelo pessoal, no sentido mais literal possível.

            -Acho que faz tempo que não fazemos isso. -Isis comenta, estralando o pescoço. Depois fica vermelha, provavelmente se lembrando do que se seguia a essas seções. Desvio meus olhos e tento isolar minha mente como Connor vem tentado me ensinar.

            -Precisa ver seu oponente como uma tela. -Sara começa a instruir, Isis e eu nos encaramos no centro do tatame. -Estão atrasados! -exclama e desviamos nossos olhos, vendo Connor e Wally andando calmamente para se juntar as garotas.

            -Seu marido. -Con responde dando um beijo no rosto de Nina que a faz corar. -Oi amor -beija Lunna que cora também.

            -Oi. -Wally pega Nina de Sara sorrindo para a garota que parece ter ganhado um presente de natal. -Vamos ver o tio Dam levar um coro? -reviro meus olhos e volto a encarar a criatura com ar angelical e que luta como um demônio, Isis estava imersa em seus próprios pensamentos, olhando para os quatro ao nosso lado.

            -Tem que relaxar mais, Dam -escuto Connor dizer vendo minha tentativa de seguir suas lições, mas é impossível.

            -Caras grandes contam com sua força. -Sara volta para a lição. -Bom, caras grandes que não são um morcego treinado pela Liga dos assassinos -acrescenta e sorrio para ela em forma de agradecimento. -Mas vamos começar só com o cara grande mesmo, Damian vai ser um ator agora. Precisa entender suas vantagens quando luta com alguém assim. -diz, e Isis me dá um sorriso angelical, com os olhos brilhando que me faz perder o fôlego. Em seguida sinto seu cotovelo em minhas costelas, seu braço se prende nos meus ombros e giro no ar, sendo lançado ao chão. -Simples, não é?

            Me forço a não respirar, enquanto tenho Isis sobre meu corpo. Não sei quem foi o masoquista que inventou isso de garotas treinarem com essas calças justas de malha e sei menos ainda se essa blusa cinza de mangas longas que está usando pode ser chamada de blusa, está mais para segunda pele, posso sentir suas costelas sob minhas mãos enquanto apoio seu corpo quente sobre o meu. Ela leva cerca de dois segundos para sair do transe em que estava, presa a meu rosto. Se levanta rapidamente e voltamos a tomar distância. Merda, preciso recuperar a porra do meu foco!

            -Isiss não tá mais brava -escuto Nina dizer seguido de uma gargalhada de Sara e Lunna.

            -Tia Isis -a pequena Queen a corrige, mas Nina sorri da forma que Isis sorriria ao contraria alguém, como um anjo. -Tão frustrante -murmura sem conseguir deixar de sorrir de volta.

            -O que percebeu Lunna, por que Isis conseguiu derrubar o nosso morcego? -Sara volta a se focar, Lunna me olha com um sorriso fraternal, como se prometesse guardar meu segredo.

            -O porte e aparência de Isis são claramente subestimáveis -eufemismo do século, mas me sinto grato por não dizer a verdade. -Como ele está atuando como um cara grande sem treinamento, Isis pode facilmente o imobilizar.

            -Claro que foi isso que aconteceu. -Wally murmura para Connor cheio de sarcasmo.

            -Agora, eles vão mostrar o que acontece em um caso mais avançado, preste atenção.

            Isis se coloca em posição de batalha, e faço o mesmo. De todos os Arqueiros, a pequena Queen é a que possui melhor evasiva, quase como se ela dançasse ao lutar, por vezes seus pés mal tocam o chão enquanto avança sobre o oponente. Apenas bloqueio suas investidas, o que é mais fácil do que seria normalmente, mas Isis estava fora de campo a algum tempo, assim tornando minha vantagem clara sobre ela.

            -Sua esquerda perdeu potência, e está hesitando. Assim quase não tem graça, Queen – digo em seu ouvido, a travando com minha perna e simulo jogá-la ao chão, a erguendo antes que aconteça, não é seguro ficar nos revezando em cima do outro assim.

            -O que aconteceu agora? -Connor é quem pergunta a esposa, vendo que Sara estava se esforçando muito para não dar risada.

            -Tio Dam fez a Isiss ficar feliz. Eles vão fazer beijinhos, papai? -Nina responde por Lunna e todos olhamos com diferentes expressões, o que no caso dos quatro se tratavam de vários níveis de divertimento, Isis estava constrangida e eu não sou capaz de mover minhas pernas.

            -Fazer beijinhos? -Connor repete, rindo do rosto confuso de Nina.

            -Tio Con, faz beijinhos com a tia Lu -o explica como se ele fosse uma criança.

            -Vou beijar você -digo correndo na direção dela, antes que essa história piore. Nina salta dos braços do pai, correndo na direção oposta. -Vem aqui! -a pego, ela solta gargalhadas enquanto beijo seu rosto dos dois lados.

            -Não é assim, tio -sussurra para mim, me abraçando. – Só pode fazer beijinhos com a Isiss.

            -Mesmo, e por que? -ergo a sobrancelha a olhando.

            -Isiss, faz o tio Dam brilhar, assim oh! -abre e fecha as mãozinhas, depois parece focar sua atenção em Wally e é como se não existisse mais. -Quero brincar de urso com o papai Ali -se mexe em meus braços até que a solto, então corre na direção dos pais.

            Connor assume meu lugar, treinando com Lunna o que ela aprendeu hoje. Sara é muito boa em fazer as pessoas irem além do limite, sem que elas percebam que estão fazendo isso. Depois de tomar um banho, me sento no segundo degrau da escada, esperando que aquilo acabe e em uma distância segura da Queen, coloco meus fones de ouvido e fecho meus olhos tentando colocar a mente no maldito vazio que Connor vive falando. Não sei quanto tempo fiquei nessa, mas sou desperto pelo cheiro de pêssegos da Lunna, que estava em um de seus vestidos delicados e com saltos que não devem ser confortáveis, mas ela parece gostar.

            -Não comeu nada ainda -me entrega um saco pardo e se senta ao meu lado.

            -Valeu -tiro o sanduiche de beterraba, cogumelos e pasta de abacate, meu preferido e uma garrafa de suco de limão. Sorrio agradecido e ela parece contente com algo bobo como me ver comer qualquer coisa e parecer minimamente satisfeito. Vai entender.

            -Nina está pensando que deixou o tio Dam, triste -conta com um sorriso admirado no rosto.

            -Ela é articulada demais para a idade que tem -respiro fundo. -Vou comprar o amor dela com algum presente depois. -Lunna dá risada da minha piada ruim.

            -Sabe que não é a idade, não é? -a sinto empurrando meu ombro de leve. -Nina é uma espécie de Cupido, são os poderes dela -me viro em sua direção e vejo seu rosto preocupado. -Percebe sua ligação com Isis e simplesmente não pode ignorar, então implica com a Pequena Queen, não dando a ela o título de tia, e mexe com sua percepção te fazendo ficar curioso com o que está acontecendo – dá de ombros. -Petulância com Isis e interesse com você.

            -Quer dizer que aquela garotinha de dois anos, pode nos ler, avaliar e traçar um plano de contingência? -sou pura descrença o que diverte bastante a Delphine.

            -Colocando assim, faz com que nosso bebê se pareça com algum tipo de criança soldado -me olha com humor. -Ela não traça planos, estamos falando de emoções Damian. Nina é uma manifestação do amor, então ela simplesmente segue seus instintos.

            -Que bom que estão aí. -Connor diz saindo do elevador, só então percebo que ou acabei dormindo, ou encontrei o tal vazio.

            -Quantas horas? -pergunto aos dois.

            -Você conseguiu, garoto. -Con bate sua mão em punho na minha. -Já está quase anoitecendo. Vamos ao Lodai, Isis está esperando no carro.

            Ele ergue Lunna com um cuidado desnecessário, mas que faz parte do casal arco-íris e as coisas piegas deles. Levanto e recolho meu lixo, os seguindo para fora da caverna. Connor entra no banco de trás do carro, e Lunna estava prestes a se sentar ao lado do marido, quando a seguro pelo braço, nos encaramos por dois segundos enquanto ela se nega a ir na frente e eu me nego a concordar.

            -Okay. -diz entre dentes. -Isso é ridículo e vocês vão ficar apertados lá atrás! -reclama entrando no banco da frente e bate à porta com força.

            -Não é geladeira não, viu -escuto Isis dizer quando me espremo ao lado de Connor que me olha como se me perguntasse o que diabos eu estava fazendo ali.

            É, não deveria ter me sentado aqui mesmo. Atrás de Lunna com Isis bem em meu campo de visão. Posso ver a pinta atrás de sua orelha, enquanto ela joga os cabelos para o outro lado antes de arrancar o carro. E lá vou eu tentar o bendito vazio outra vez.

            -Já esteve nesse tal de Lodai, Damian? -Lunna questiona me tirando do vazio.

            -Acompanhei Roy algumas vezes para fazer algum serviço para a liga, mas nunca comprei nada com ele -respondo procurando um lugar seguro para fixar meus olhos. -Lúcios, Tim ou meu pai costumam fabricar nossas armas...

            -Ou ele as consegue com a Liga dos Assassinos -Isis completa naturalmente.

            -Ou isso... -murmuro começando a me sentir derrotado.

            -Nunca fui lá com tanta gente assim. Vamos ter que usar a entrada social -Connor diz o que deveria conter alguma animação, mas seu rosto está inexpressivo. -Ao menos Lunna vai nos poupar tempo no elevador. -Isis, Connor e eu sorrimos, Lunna parece não entender.

            Entramos em um bar fedorento, com um bando de homens mal-encarados que secavam as garotas. Connor e eu andávamos atrás das meninas que não precisam de proteção, mas é sempre bom ter um motivo para procurar briga em um bar. Uma porta próxima aos banheiros mais fedidos que já vi, nos leva ao velho elevador.

            -Tem que deixar as armas. -Connor diz a Lunna com um sorriso divertido no rosto, enquanto toca a as quatro bandejas que aparecem a nossa frente.

            Isis já estava fazendo a dispensa, e fico chocado quando ela solta a plataforma do seu salto e retira um teaser. Connor deve pesar no mínimo uns três quilos a menos agora, e não posso falar muito deles. Mas quando Lunna retira um canivete e um teaser da bolsa, deixa seu tablet modificado, retira pequenos rastreadores acopláveis do que até então acreditávamos ser enfeites de sua bolsa e se livra do cinto que marcava seu vestido, nós damos risada até lágrimas se formarem em nossos olhos.

            -Péssimas influencias -digo limpando meu rosto.

            -Corrompemos a Lu. -Isis completa e agora eu e Connor rimos da ideia de Isis corrompendo alguém.

            LUNNA

            Aquilo era realmente uma caverna, uma espécie de buraco fabricado da forma mais rustica possível na terra. O calor que emanava das forjas ao melhor estilo Hefesto, era quase insuportável, o que me faz olhar para os garotos em suas jaquetas de couro nada necessárias, mas isso não é de longe o mais estranho daquele lugar. Um homem que deve sofrer de um grave quadro de escoliose e mais algumas coisas do gênero, baixinho de braços cumpridos e estranhamente finos, vestindo um macacão jeans e com um olho maior do que o outro que me fez lembrar automaticamente do Alastor Moody nos encarava como se fossemos peças de alguma engrenagem que ele pretendia usar.

            -Esse é o Lodai -Isis faz as honras, caminhando completamente à vontade em direção ao homem.

            -Morcego e arqueiros -comenta com uma voz áspera, como se estivesse nos cumprimentando. -Hum, parece que finalmente se acertou com a Katoptris -diz a Isis que sorri simpática.

            -Tivemos alguns contratempos, mas agora está tudo bem.

            -Um aviso poderia ter encurtado o processo -Damian diz em tom ácido.

            -Elas são a Katoptris, Morcego, não tenho voz para falar por elas.

            -Claro, mas o que precisamos é de uma arma -Connor toma a frente, antes que Damian pudesse revidar. -Pode se aproximar -ele estende uma mão para mim e me conduz para o centro da cratera.

            -Especialidades? -Lodai começa a me rodear, me observando.

            -Super inteligente e capaz de dominar qualquer tipo de tecnologia – Isis diz.

            -Tem a velocidade aprimorada, com aptidão para evasivas -Connor acrescenta.

            -Domínio de três estilos de artes marciais, é leve e tem mais facilidade em combates com pequenos espaços entre ela e o oponente -Damian finaliza e realmente parece ser meu treinador naquele instante.

            -Destra? -agora ele estava falando comigo.

            -Acredito que ambidestra seria o termo correto, me sinto mais à vontade usando minha mão direita, mas posso usar a mão esquerda se preciso -respondo me sentindo zonza com a ciranda que ele estava fazendo a minha volta. -Minha letra não fica tão boa, mas...

            -Ele não está se referindo a escrever -Connor explica calmamente. -Ela pode usar os dois lados, parece ter mais facilidade com a esquerda.

            -Interessante -Lodai nos dá as costas e começa a mexer em uma pilha confusa de caixotes de madeira. -Onde mesmo essa bugiganga estava?

            -Só espero que não seja nada que resolva bater papo com você -Damian sussurra ao meu lado, me fazendo prender o riso quando Isis o olha ofendida.

            -Hey, pensei que já tivesse entendido que o erro de interpretação foi nosso!

            -Na verdade estava pensando no tempo que ela passou tendo que aturar o Wally -o pequeno morcego se explica com um sorriso tão sem vergonha que me faz duvidar se a intenção não era pura e simplesmente alfinetar a ex desde o início. -Mas uma arma falante também pode ser bem traumática -coça o maxilar, pensativo fazendo Isis revirar os olhos.

            -Isso parece ser perfeito para uma guerreira com aptidões tecnológicas -Lodai volta curvado carregando uma caixa que parece ser maior do que ele e por um momento penso ter me esquecido de respirar.

            Observamos atentos quando ele usar uma espécie de pé de cabra para forçar o caixote a se abrir. Sem perceber todos nos aproximamos espiando dentro da caixa e para nossa surpresa um par de bastões pretos que devem medir pouco mais de trinta centímetros cada, com uma linha prateada que ganhava diferentes tons metálicos, flutuam para fora, como se correntes de estática os mantivessem alinhados, eles rodeiam a sala e param a minha frente. Uma espécie de tela se forma no espaço entre eles e um scaner passa por todo meu corpo, formando um holograma meu bem diante dos meus olhos.

            “DNA acoplado, Lunna D. Hawke” declara uma voz robótica.

            -Estenda a mão criança -Lodai diz e obedeço meio que em transe. Os bastões pousam levemente sobre minhas palmas e mal sinto algum peso. -Podem ser bastões elétricos, vão se adaptar automaticamente ao tamanho necessário assim que forem tocados por seu dono, funcionam como um mini computador, se ligar a uma fonte potente é como ter uma base móvel -explica. -Claro que vai descobrir muito mais utilidades neles, essas belezinhas podem responder a comandos de voz ou GPS, funcionando apenas com o seu DNA.

            -Irado! -escuto a voz de Isis e Damian se misturarem.

            -Parece perfeito -concordo vendo os bastões vibrarem, os solto e eles deslizam para minha bolsa. -Isso não é...

            -Magia? -Lodai completa parecendo se divertir. -Não criança, é apenas um computador que pode ser usado para golpear pessoas.

            -Acho que seu tablet acabou de se tornar inútil -Connor sussurra baixinho para que só eu escutasse.

         SARA

—Bom dia – falo baixo para Wally que tinha dificuldades em abrir os olhos pela manhã.

—Bom dia – sussurra enquanto acaricia minha mão. Olho para baixo e consigo entender a dificuldade que tinha para respirar. A cabeça de Nina estava encaixada em baixo do meu pulmão, seus pés estavam na cara do Wally. Um sorriso enorme surge no rosto de Wally como se medisse que aquilo era perfeito para ele.

—Como ela veio parar aqui? – a coloco em uma posição normal, beijando a sua testa.

—Eu a trouxe – puxa a coberta para cobri-la. –Quando era criança corria para dormir entre meus pais e antes disso entre Felicity e Oliver, me sentia protegido. Fico com medo de Nina se sentir sozinha a noite, da mesma forma que costumava me sentir – dou um selinho rápido em seus lábios, feliz por ter sido abençoada com o que o amor pode ter de melhor. – Acho que tenho que levantar e recuperar meu emprego – se espreguiça, mas não levanta da cama.

—Acho que tenho um emprego em vista – me olha espantado. -Lunna acredita estou perdendo oportunidade de usar meu poder ditatorial.

—Ela ainda não esqueceu do que você a fez passar no casamento? – me olha com uma falsa piedade.

—Pensando bem, acho que é isso mesmo – começo a lembrar meu momento Mônica Geller.

— Mas não entendo como ela ainda cogita de te dar algum poder depois daquilo -ele coça a cabeça com um sorriso preocupado nos lábios. 

—Também não – admito e me levanto com dificuldade, por sentir as dores da luta de ontem, não contra o Pinguim e os seus capangas, mas sim a ‘brincadeira’ meninas contra meninos, que por sinal nós ganhamos, com muita trapaça e golpes baixos, mas nesse caso especificamente os fins sempre vão justificar os meios.

—Sério, que você vai deixar os seus dois amores aqui? – faz cara de pura tristeza, e quase me convence a voltar.

—Ou você pode deixar Nina dormindo e me acompanhar no banho – e de repente não estava mais no quarto e sim no banheiro com a água do chuveiro caindo em meu corpo.

—Você sabe exatamente onde apertar os meus botões. – Sorri beijando o meu pescoço, nem sei dizer quando minha roupa tinha saído do meu corpo. -Só não vamos fazer barulho -sussurra em meu ouvido.

Estou sentada na minha cozinha esperando Wally fazer o café com um sorriso maior que seu rosto, já eu, bom ia ficar dolorida pelo menos pelo resto do dia. -Acho melhor esse café sair logo, você me deixou com fome nível Flash.

—Mamãe Sara? – um pequeno choro vem do andar de cima, era incrível essa pequena palavra cheia de significado, ainda mais forte por ser na sua língua natal. Wally estava no pé das escadas, tão encantado quanto eu. – Papai Ali? – Wally me olha como se pedisse autorização para buscá-la, apenas sorrio consentindo e ele parece se obrigar a ir na velocidade normal.

 Espero ali olhando para a nossa casa de fazenda recém reformada, era como estar vivendo um sonho, era bem possível passarinhos entrarem pela porta e parar em meu dedo cantando alguma melodia. Não tinha como ser mais feliz do que estou nessa manhã, tenho tudo que preciso, bem aqui e agora. Wally desce as escadas com uma Nina sonolenta em seus braços que quase se joga em meu colo quando os dois passam por mim.

—Bom dia, minha fada – abraço a sentando no meu colo enquanto Wally prepara nosso café.

—Gostei de Fada, parece mais com ela do que princesa. – Wally pondera enquanto coloca uma pequena montanha de panqueca em nossa frente.

LUNNA

Faz tempo que não para uma pessoa se quer no cargo de relações públicas da QC. Felicity e eu acabamos por nos revezar, afinal não tem como culpar alguém por não conseguir dar conta de justificar de forma plausível a nossa forma de vida. Mas após meu casamento que embora fosse decidido em cima da hora, sem local ou nada no horizonte, acabei tendo a ideia da pessoa perfeita para o cargo. Justifico a mim mesma que nem eu ou Felicity temos mais tempo para lidar com toda a loucura que o impacto da nossa outra jornada de trabalho tem na empresa, nossos segredos estão completamente a salvo, mas não pega bem na bolsa de valores Queen Master e Queen Jr aparecerem na sociedade de olhos roxos, as ações vivem em altas e baixas, sem falar nas reuniões que tanto Felicity e quanto eu, acabávamos por perder. Basicamente por isso que nosso antigo RP pediu demissão, literalmente em um dia qualquer, depois de criar que o braço quebrado do meu marido tinha sido por um salto radical de skate mal sucedido, que foi a sua gota d’agua.

—Consigo lidar com quase tudo, mas não sei o que fazem da vida pessoal de vocês, minha cartilha de mentiras se esgotou. A próxima coisa que vou falar é que são vigilante noturnos, então antes de chegar nesse nível de absurdo, eu me demito. – Afonso quase gritou para mim e Felicity em uma reunião emergencial por causa da súbita queda das ações depois de termos faltados em duas convenções seguidas.

Desde então estávamos cobrindo os nossos rastros como dava, mas parando para pensar ter alguém que divide os nossos segredos em um cargo com essa importância, pode ser a chave para melhores noites de sono em um futuro próximo. Ou mais tempo para não precisar dormir... Deus sabe que tenho minhas necessidades.

—Sra. Hawke? -meu secretário aparece a minha porta, levanto os meus olhos da pilha de papel que precisava organizar antes da próxima reunião. –A Sra. West acaba de chegar.

—Pode pedir que entre –levanto puxando minha saia para baixo.

Olho meu reflexo pelo vidro da janela e vejo como é incrível o que uma noite mais ou menos bem dormida, meus amigos de volta e uma alimentação decente podem fazer a alguém. Não estou mais transparente de tão branca, e as olheiras roxas que eram presença constante em minha face eram meras lembranças a essa altura, mas o que descobri que um corretivo de meia cobertura pode fazer durante aquela época, vai ser algo que levarei pelo resto de minha vida. Santa maquiagem!

—Bom dia. – Sara entra como se possuísse um sol particular, e me abraça como carinho.

—Bom dia – sorrio refletindo sua felicidade.

—Tem certeza que quer contratar uma Mônica para integrar seu quadro de funcionários? –me pergunta enquanto nos sentamos no sofá.

—Acredito que o seu momento controlador foi intensificado por ser meu casamento e por seu casamento não poder ser consumado -ela faz cara de dor. -Tenho certeza que consegue lidar com todas as nossas crises, sem o Wally precisar desarmar alguém que pretende te dar um tiro pelas costas.

—Quem? -exclama em choque.

—Jason -contenho o riso. -Cinco vezes!

—Lunna, acha mesmo que sou a melhor pessoa para lidar com as crises da empresa? -questiona, mas quase dou risada.

—Acho que você não entendeu corretamente, a Queen Consolidation sofre com as crises das nossas identidades secretas então precisamos justamente de gente que saiba o que somos e saiba lidar como as loucuras que acabamos fazendo aqui. A empresa em si, Fel e eu conseguimos lidar sem nenhum problema -começamos a rir do absurdo. – Então? Aceita?

—Se vocês me querem, então eu também quero – dá de ombros como se tudo estivesse muito bom.

—Então Sra. West pode passar no nosso RH, mas antes não esqueça de passar na sala da nossa chefe, ela está te esperando. E depois pode voltar aqui por que temos uma festa para preparar -levanto e ela me imita, e nos abraçamos empolgadas. Se me dissessem a alguns anos que eu seria o tipo de garota que abraça a amiga e dá pulinhos, ninguém no mundo me faria parar de rir, tamanha a minha descrença, mas quem me viu, quem me vê.


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Notas finais do capítulo

Comentem, me digam o que acharam.
Bjnhos!



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