Segunda chance escrita por Laura Vieira, WinnieCooper


Capítulo 7
Capítulo 6




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Miguel se assustou, nunca tinha presenciado ela chorar daquela maneira, era sempre um choro exagerado, um pouco falso quando queria conseguir algo, nunca um choro em meio a dor, uma dor que ele não entendia e não sabia como lidar. Lembrou de quando eram pequenos e ela machucou o joelho ao cair durante as brincadeiras. Ela chorava sentida diante da dor de um joelho ralado e ele sempre preocupado, ia atrás de pegar todos os remédios, curativos que pudessem aliviar a dor e que a fizesse se curar mais rápido. Mas agora, sua dor era diferente. 

Ele tentou confortá-la colocando sua mão em seu ombro enquanto ela chorava diante da revelação da carta que leu, Clara automaticamente, assim que sentiu o gesto do melhor amigo, deitou sua cabeça no peito dele e enlaçou seus braços em seu pescoço num abraço. Miguel podia sentir o perfume do pescoço de Clara naquela posição, um cheiro doce e forte ao mesmo tempo e ele julgou ser o melhor cheiro do mundo, mesmo que ela tivesse cheia de comida pelo cabelo. 

— V-vai f-fic-car t-t-tudo b-bem. - passou desajeitadamente sua mão pelas costas da garota tentando a confortar. 

— Miguel, você acha que aquele garoto é meu irmão? - perguntou com medo, sua voz estava abafada pois ela se recusava a sair do abraço do amigo. 

— N-n-não s-sei. 

— Pensa por mim, estou tão confusa, me ajude a pensar… eu preciso entender, meu coração está doendo, entende? 

Havia súplica em sua voz e Miguel tentaria a responder do melhor jeito que conseguisse. 

— T-t-tal-v-vez s-sim, e-ele afir-m-m-mou al-g-g-gumas v-v-vezes q-que e-era J-J-Julião P-P-Pet-t-truchio e-e as p-p-pesso-a-as, p-p-principal-m-m-mente h-homens t-tem a t-t-tradi-ç-ção de coloc-c-car s-seu p-p-próp-p-prio n-n-nome no f-f-filho. 

Clara suspirou triste, parou de abraçar Miguel e fungou chateada. 

— Isso significa que minha mãe teve um filho antes de mim? E deixou esse filho com meu pai? Fugiu comigo para outro país? Por que ela faria isso Miguel? Por que? 

Ele sacudiu negativamente a cabeça sem saber o que responder a ela, Clara tinha voltado a deixar que lágrimas caíssem de seus olhos. 

— É como se eu tivesse vivido toda uma vida de mentiras e estar descobrindo as verdades aos poucos. Como minha mãe teve coragem? 

— T-t-tem que c-con-v-versar c-co-m e-la. P-p-pergun-t-t-tar t-t-tudo. 

— Mas se minha mãe mentiu para mim durante quinze anos, não vai ser agora que ela contará a verdade. - ela ponderou um pouco mais calma a ele. 

— T-talvez, m-mas s-se v-v-você f-for sincer-r-ra c-co-m e-la t-talvez e-la s-se-j-ja sincer-r-ra c-co-m v-v-você. 

Clara negou com a cabeça, passou a manga de sua camisa longa em seus olhos e nariz, decidiu parar de mostrar seu lado fraco a Miguel, decidiu parar de se lamentar. 

— Eu entendo seu otimismo, sempre vê o copo meio cheio, mas conhecendo minha mãe como a conheço, sei que ela morre negando, mas não assume se não for algo de seu interesse. 

— N-n-não v-vai per-g-g-gun-t-tar ent-tão? 

— Não, vou esfregar tudo o que sei na cara dela! Vou armar um escândalo. Ela quer manter tudo em segredo não quer? Sempre foge do assunto meu pai, sempre se recusa a falar do passado. Mas agora sei que o que ela esconde é bem maior do que supunha. Então vou armar um escândalo! 

Miguel arregalou os olhos diante da ideia absurda da amiga. 

— S-sua m-mãe v-vai o-d-diar. 

— Vai mesmo! Mas que arranco a verdade dela hoje, eu arranco! Vamos! 

Ela puxou a mão de Miguel andando rápido para a beira da rua tentando encontrar um carro de aluguel. O amigo olhava preocupado para ela. 

— Não se preocupe, eu estou bem, foi um momento de fraqueza. Não é da minha personalidade parecer tão frágil. Não vou chorar mais tão facilmente. 

— C-chor-r-rar n-n-não é s-s-sinal de fra-q-q-queza. Vo-vo-cê só es-t-tava…

— Eu entendi Miguel. Não quero mais falar sobre isso. 

Ele queria lhe dizer que estava tudo bem em não ser uma fortaleza o tempo todo, que para ele, ela poderia se mostrar frágil, que amava ver todas suas faces. Mas não disse. Previa que o dia longo não terminaria bem. 

xx

— Catarina! - Mimosa gritou feliz ao vê-la entrar na casa de Bianca. Já correu para a abraçá-la.

Seu dia estava cheio de abraços e reencontros com o passado, tinha saudades de Mimosa, como de todos que estava reencontrando, mas em meio ao conforto de seus braços e em todos os sorrisos trocados com palavras de saudades e nostalgia, Catarina só pensava que precisava ser sincera com ela e contar sobre a filha antes que ela descobrisse por outras línguas e espalhasse para toda fazenda chegando aos ouvidos de Petruchio. 

— Mimosa eu voltei, sei que é casada com Calixto e consequentemente mora na casa de Petruchio… - ambas estavam sentadas no sofá da sala, Bianca tinha pego as filhas e levado ao quarto para deixar as duas mais à vontade. 

— Moro sim, convivo com seu filho todos os dias. Precisa conhecê-lo, aliás como conseguiu ser tão fria e entregar ele ao pai quando nasceu? - Mimosa permanecia indignada até os dias atuais, ainda não tinha entendido o ato egoísta dela. - Como consegue viver longe dele sabendo que ele viveu dentro de você Catarina? Sei que amava seu filho quando estava grávida. 

— Eu amava e o amo, nunca deixei de o amar, e ao contrário do que todos pensam e falam eu nunca fui egoísta. Fui sim altruísta! Ninguém pode entender a dor de deixar um filho para trás. Ninguém a não ser eu.

Mimosa normalmente não a encarava, não dizia o que pensava, mas para ela era irracional ver Catarina longe de seu filho, longe de sua família, longe da felicidade. 

— Pois acho que está sendo egoísta em adiar o seu destino para a felicidade. 

— Que destino? - Catarina estava nervosa de sempre a lembrarem que poderia ter uma família completa e feliz se voltasse a Petruchio, aquela conversa a cansava, tudo estava muito redundante. - A felicidade é um momento, um estado de espírito, não um destino. 

— Então vai me dizer que nunca foi feliz quando morava na fazenda, quando se sentiu amada? Eu lembro de seus olhos Catarina, eram brilhantes e felizes, não opacos, como os que vejo agora. Seu coração estava cheio e preenchido, não murcho e incompleto. 

Catarina bufou nervosa, era inútil brigar com todas as pessoas dizendo o que sempre dizia que estava feliz como estava. Até porque nem ela sabia até que ponto aquilo era real.

— Entenda, minha vida não pode ter o pacote completo. 

— Então admite que sente ainda algo por Petruchio? Ele jamais casou de novo, finge que está casado até hoje com você, para te proteger e proteger seu filho. 

— Quer que eu fique agradecida por isso? - ela cruzou os braços na frente do corpo exausta, estava cansada de mentir, cansada de omitir informações, cansada de lutar contra o passado que vinha como uma grande onda tentando a afogar em meio às novidades. - Ele não fez mais que a obrigação, eu que fiz tudo por ele lhe dando um filho meu. Mesmo assim, você e ninguém há de reconhecer o que fiz. Só vão olhar para o pior lado quando a verdade vir à tona, porque infelizmente, mais cedo ou mais tarde a verdade vai aparecer. 

Mimosa tentou raciocinar sobre o que ela dizia, mas não entendeu direito suas meias palavras. Tentou uma abordagem mais calma com ela e segurou sua mão. 

— Catarina, eu te criei, te conheço, não entendo até hoje como conseguiu viver longe de seu filho, mas eu sinto que aconteceu alguma coisa, não aconteceu? 

Ninguém havia perguntado a ela e nem percebido se tinha acontecido alguma coisa para ela tomar a atitude que tomou. Sempre a chamaram de louca, ou ingrata, ou egoísta. De fato, havia um motivo. Um motivo que ninguém sabia além dela. Catarina engoliu em seco a resposta verdadeira e negou com a cabeça a antiga governanta de seu pai.

— Não aconteceu nada. - disse calma, tão calma que Mimosa estranhou. 

— Tem certeza? Eu sinto dentro de mim que aconteceu algo. - bateu os punhos fechados sob seu coração. 

— Não sinta, pois não há nada a sentir. - Catarina foi enfática. 

— Por que sempre foge? 

— Me escute! Preciso te falar algo sério. - resolveu emendar imediatamente ao assunto que levou ela a ir até a casa de Bianca para falar com a antiga governanta da casa de seu pai, aquela que ajudou a criar ela e sua irmã. 

— Algo sério? 

— Sim, sério! E preciso de sua palavra de que isso que vou lhe contar jamais chegará aos ouvidos de Petruchio. 

Mimosa não teve tempo de prometer nada, pois um furacão entrou pela sala na forma de uma garota adolescente de quinze anos que  rugia raivosa. Clara entrou batendo a porta e gritando a plenos pulmões e Catarina sabia que sua informação secreta, que mantia trancada a sete chaves, seria revelada da pior forma possível a Mimosa. 

— Eu te odeio! - Mimosa arregalou os olhos e sentiu um frio na espinha assim que a viu. 

A menina tinha longos cabelos pretos, parecidos com os de Catarina, as pontas eram levemente enroladas, Mimosa podia reconhecer em seus olhos a expressão de ódio, mas também de tristeza, que já havia tanto visto nos olhos de Catarina, o jeito que ela gritava as palavras lembrava muito Catarina.

— Clara! Agora não! Estou conversando e ocupada! Aliás, isso é jeito de entrar na casa de sua tia? - a repreendeu. 

— Não, não vai fugir de mim, e eu só entrei assim na casa de minha madrinha porque sabia que estaria aqui. E quero fazer um escândalo para todos ouvirem o quanto você é injusta comigo e o quanto te odeio! 

Catarina olhava de Clara para Mimosa, que encarava tudo sem entender nada. Olhou para Miguel que estava ao lado de sua filha, parecia ser a chave para entender tudo.Talvez sua salvação.

— Miguel, me diga o que está acontecendo. Por que esse ódio todo de Clara por mim? - ela sabia que sua filha era esperta e estava de olho em pistas para descobrir sobre o pai, mas precisava ouvir antes de confirmar qualquer coisa. 

— E-eu… C-Clara s-só es-t-ta...

— Mas o Miguel não precisa responder nada, estou aqui para gritar em alto e bom som. A senhora é uma mentirosa. E eu nunca mais em minha vida vou confiar em você! 

— Olha os modos mocinha. Eu sou sua mãe! 

— Infelizmente! 

— Mãe? - Mimosa finalmente se deu conta da informação jogada no ar e perguntou a si mesma fazendo Catarina olhar para ela em pânico. 

Mas é claro que Mimosa havia achado os traços das duas parecidos além do modo de dizer as palavras.  Ao mesmo tempo em que sua cabeça ficava tonta da informação de uma filha grande que Catarina tinha que ela não fazia ideia de sua existência cerca de segundos atrás, ela tentava encaixar as peças e entender o quebra-cabeça que se formava na sua frente. Havia uma parte nessa história que não se encaixava. Como Clara poderia ser filha de Catarina, quem seria seu pai? 

— Você se casou de novo, Catarina? - Mimosa perguntou diretamente para ela, era a única coisa que seu cérebro conseguiu concluir. 

— O que está acontecendo aqui? - Bianca desceu as escadas correndo assustada com a gritaria. 

— A minha mãe é uma mentirosa, é isso o que está acontecendo. O pior é que todos vocês sabem. Todos e ninguém teve a coragem de me dizer a verdade. - Catarina estava com raiva do modo que sua filha lhe dirigia a palavra, sem nenhum respeito, completamente autoritária e sem medir o que proferia, mas também queria entender o que ela dizia, até que ponto ela havia descoberto a verdade, qual era a face da verdade que ela havia identificado. 

— Clara, vamos para casa e conversamos com calma lá. Sua tia e Mimosa não merecem ouvir seus gritos e surtos e eu prometo que vou dialogar com você sinceramente, sobre o que quer que você queira saber. 

— Não é mais necessário, não é mamãe. - Clara riu balançando a cabeça em negativa. - Eu fui atrás da verdade, ninguém quis me contar, mas eu fui atrás e descobri tudo. 

— O que está dizendo? - Catarina estava tensa de preocupação, sabia que a filha era esperta e não parava de procurar até encontrar as respostas que tanto ansiava. - É sobre seu pai, é isso? 

— Ah meu pai? - Clara voltou a rir sentindo um nó em sua garganta ao mesmo tempo que revelava o nome de seu pai a ela. - Julião Petruchio?

Catarina sentiu seu coração disparar, Mimosa gritou espantada olhando a antiga garota que ajudou a criar, que agora era uma mulher feita. Então Catarina não havia se casado novamente.

— O que isso quer dizer Catarina? Ela é filha de Petruchio? - Mimosa perguntou alarmada. 

— Sim! Petruchio! O nome do meu pai Pe-tru-chio! A senhora conhece ele é claro. Todos conhecem. Meu pai Pe-tru-chio! - ela enfatizava o nome do pai olhando Mimosa. - Está vendo minha sobrancelha? Igualzinha a dele não é? Minha mãe odeia essa sobrancelha. 

Mimosa se antes estava com os olhos arregalados agora quase desmaiava. 

— Catarina, o que significa tudo isso? Como ela pode ser sua filha com Petruchio? 

Bianca chegou perto de Mimosa segurando em seus braços. 

— Calma Mimosa, eu te explico tudo depois. - Bianca sussurrou em seus ouvidos. 

— Clara! Vamos para casa conversarmos. - disse nervosa com os dentes cerrados. 

— Pra que? Todos já sabem o que descobri! 

— Clara eu juro que estou prestes a fazer com você algo que nunca pensei em fazer em toda a minha vida! - o sangue de Catarina fervia de raiva, seu rosto estava completamente vermelho. 

— Eu não me importo! Eu não me importo! Porque hoje eu descobri que tenho um irmão! - Clara berrava ao mesmo tempo que seu grito era cortado por um choro sentido que estava ainda em sua garganta. 

Catarina antes prestes a explodir, sentiu-se gelar, antes com seu rosto vermelho, ficou pálida. 

— E é por isso que te odeio, que odeio ser sua filha, que odeio ter que ir atrás de uma verdade que jamais descobriria por você! - Ela chorava livremente agora e sem vergonha de demonstrar sua dor.

— ... Você… deve… ter… ouvido… - Catarina gaguejava tentando fazer seu cérebro, antes esperto e ligeiro, raciocinar uma desculpa que contradissesse  a verdade que sua filha expunha. 

— Que desculpa você vai inventar mãe? Que eu li suas cartas errado? Que interpretei da maneira errada o: "meu filho"? Que não entendi certo quando dizia que seu coração estava sempre pela metade e jamais completo? Eu li! 

— Você mexeu nas minhas coisas? Quem te deu o direito de mexer nas minhas coisas?! 

Apesar dos choros de Clara e da negação de Catarina em acreditar que sua filha tinha de fato descoberto tudo, os ânimos permaneciam exaltados e pros três telespectadores o clima estava cada vez pior. 

— Não venha me cobrar respeito e moralismo, você não teve respeito nenhum por mim quando decidiu dar meu irmão a meu pai e esconder que tinha outro filho, você não tem mais moral nenhuma comigo! 

Catarina negava com a cabeça fechando os olhos, tentando encontrar uma conclusão que não vinha, tentando achar uma solução e uma luz no fim do túnel inexistente. Como sairia daquela situação?

— Sabe o que é pior mãe? - Clara perguntou calma, sem gritar pela primeira vez em toda discussão. - Eu tive que vê-lo para acreditar nas palavras da sua carta, eu tive que conversar e discutir com ele para enfim entender tudo. 

— Como assim você o viu? - Catarina perguntou sentindo um calafrio em sua espinha. Quantos sustos Clara lhe daria naquele dia? 

Sua filha negou com a cabeça, pegou o primeiro vaso que viu e jogou com a maior força do mundo no chão. 

— Saiba que minha confiança e admiração por você virou caco, como esse vaso! E para recuperá-la será preciso reconstruir o vaso, pedaço por pedaço! 

Ela virou as costas para a mãe e segurou Miguel pela mão o arrastando para fora da casa. 

— Clara me espere! Clara precisamos conversar! - Catarina gritou inutilmente vendo a filha sumir da frente de seus olhos. 

Virou o rosto pra Mimosa respirando forte tentando entender tudo o que tinha acontecido e tudo que ainda estava acontecendo. 

— Mimosa, não conte nada a Petruchio, é tudo o que lhe peço. Aliás, ordeno! É uma ordem! - tentou soar imperativa com ela, mas estava preocupada com a filha. - Sim eu tenho uma filha, nasceram gêmeos, é uma longa e difícil história. 

Mimosa sentiu suas pernas amolecerem e ela quase desmaiar na frente de Catarina. 

— Mimosa, não caia aqui, eu não consigo te segurar! - Bianca pediu tentando levar ela para sentar no sofá. 

A irmã de Catarina pegou o chapéu da antiga governanta e começou a abanar no rosto dela. Mimosa estava com os olhos perdidos e com a boca entreaberta de surpresa. 

— Explique tudo a ela Bianca, por favor, e ordene que ela mantenha a boca fechada. 

— Catarina, você que arma toda essa história e quer que eu segure o rojão? Minha irmã, está na hora de você dizer toda verdade. Clara já descobriu tudo. 

— Eu sei, eu sei! - Catarina disse brava, ao mesmo tempo que transtornada pela verdade. Clara já sabia tudo, ela não poderia mais mentir nem omitir nada. - E é com ela que preciso me entender primeiro. Por isso é importante que Mimosa não dê com a língua nos dentes. 

Bianca revirou os olhos, mas concordou com a cabeça. 

— Vá atrás de sua filha, eu me entendo com Mimosa. 

Catarina sorriu agradecida, pediu desculpas pela bagunça da filha e saiu apressada da casa de sua irmã. 

xx

— Mas arriégua que que aconteceu aqui? - Calixto perguntou alarmado quando viu a bagunça da loja. 

Julião Júnior estava bufando nervoso tentando arrumar parte da bagunça. Restou pouco do estoque de laticínios depois da briga com aquela jovem enxerida e ele fazia as contas na sua cabeça do tamanho do prejuízo que tinham tomado. 

— Um furacão Calixto, um furacão. E ocê não me enche as paciência que tô nervoso. 

Calixto normalmente não via Júnior bravo, só quando brigava com Petruchio. Então acabou fazendo uma careta pela resposta que ele havia lhe dado. 

 — Ah, mas as caveira de sua avó e de seu avô deve de tá se contorcendo de desgosto no cemitério por ter um neto tão má educado. 

Júnior suspirou cansado e olhou Calixto tentando a todo custo não brigar com ele. 

— Agora entendo porque o meu pai fica falando sempre pra ocê parar de zurrar nas orelha dele. 

— Tal pai tal filho. Ingratidão atrás de ingratidão com um pobre cristão como eu. - Calixto se fazia de sentido para ele. 

— Me ajude aqui Calixto. Me ajude a limpar a loja. Ainda preciso de fazer as conta pra vê o tamanho do prejuízo. - pediu cansado. 

— Mas eu ajudo né? Eu ajudo que já não basta ser um burro de carga a manhã toda, fazê os queijo a tarde toda, ainda tenho que limpa a bagunça dos outro. 

Júnior resolveu não retrucar com ele enquanto via Calixto o ajudar a esfregar o chão lotado de iogurte. Atrasaram para pegar Mimosa na casa de Bianca, o que deu tempo para a madrinha de Clara explicar tudo a ela. 

— Ah Mimosa, que bom que está acordando. - Bianca havia pego um vidro de perfume e colocado para ela cheirar. 

— Ahhh - Mimosa colocou a mão em seu peito ainda abalada. - Parece que vivi um pesadelo. Estava numa batalha numa guerra! O que aconteceu? 

— Você conheceu Clara, minha afilhada, filha de Catarina e Petruchio. - Bianca tentou entregar a informação a ela o mais calmamente possível, mas de qualquer forma que dizia tudo parecia soar alarmante. 

— Meu Deus Bianca! - Mimosa disse com a voz fina e perplexa. - Não foi mentira. Como isso aconteceu? 

— Bom, até hoje eu custo a acreditar que ela tenha feito isso e tenha arrastado tantas pessoas para essa mentira. Mas você conhece Catarina, quando coloca uma ideia na cabeça não há ninguém que a tire. Ela jamais conseguiu perdoar Petruchio. Não aceitou sua traição com Marcela. Estava decidida a criar seu filho longe dele. 

— Mas como ela decidiu separar os filhos? 

— Não sei como ela teve coragem até hoje. Depois que tive minhas filhas pensei muito nisso. Ela deve ter sentido uma dor inexplicável em deixar o menino com Petruchio. - Bianca tentava explicar ao mesmo tempo tentando entender o ato da irmã. 

— Bianca, nada justifica o que ela fez. Petruchio nunca soube da existência da filha, ela não pode ter feito isso sem uma razão maior, sem um porquê maior. - Mimosa estava inconsolável. 

— Ela teve que entregar um filho a Petruchio, pois não queria mais o ver e sabia que ele jamais ia deixar ela em paz em outro país se não fizesse isso. Então ela mentiu. Ao mesmo tempo Mimosa que tento encontrar a razão e entender o porquê de Catarina ter feito o que fez, eu não encontro. Foi isso o que ela fez, pelo orgulho ferido de ver Petruchio com outra. 

— Mas ele fez o que fez para encontrar o dinheiro dela. Se eu soubesse como tudo terminaria, teria confessado o que fiz antes. 

Bianca segurou as mãos de sua antiga confidente e agora ajudante em sua casa. 

— Eu entendo sua frustração, mas não adianta pensar nos "e se". Catarina, apesar de tudo, ama o filho, ama a filha. E eu sei que sua volta ao Brasil é para resolver esse lapso de seu passado jamais superado. 

— Como ela vai resolver tudo? Assim que Petruchio descobrir a verdade, assim que Júnior descobrir que tem uma irmã… - Mimosa suspirou tentando pensar em tudo. - Imagine quando descobrirem. 

— Vamos torcer para que ela conte tudo e resolva da melhor maneira. Por isso é imprescindível que você não fale nada para o pessoal da fazenda o que descobriu hoje. - Bianca pediu escolhendo cuidadosamente as palavras. 

— Não vou falar nada. Não ouso falar nada. 

Mimosa negava com a cabeça com medo do que estava por vir, ainda muito abalada com tudo o que havia descoberto. Como encararia Júnior e Petruchio depois daquela tarde? 

xx

— O que está acontecendo? Que modos são esses? - Filomena falou brava assim que viu Clara e Miguel entrarem na casa de Batista. Clara bufava nervosa, chutando alto. Miguel estava um pouco atrás ainda com medo do desenrolar de tudo. - Onde vocês se meteram? Se dona Catarina descobre que ficaram fora de casa o dia todo! 

— Você também, Filó! - Clara levantou os dedos no rosto de sua antiga babá. - Eu confiava tanto em você, afinal você me deu de mamar, ajudou a cuidar de mim. É como ser apunhalada pelas costas por você! 

— T-t-tamb-b-bém n-não é a-a-assim C-Clara. - Miguel tentou defender a mãe da fúria da amiga. 

— Não saia do meu lado Miguel! Não ouse não ficar do meu lado! Eu sou vítima! Tudo isso é muito trágico! Se não ficar do meu lado eu nunca mais falo com você! 

— É c-cla-r-ro q-que es-t-tou do s-seu l-l-lad-do.

— O que está acontecendo? - Filomena perguntou ao filho confusa. Não lembrava de ter visto Clara tão nervosa. E ela a conhecia desde sempre, sabia muito bem como era os ânimos da garota, ainda mais quando brigava com a mãe. 

— E-e-ela desc-c-cobr-br-briu que t-t-tem u-u-m i-ir-m-mão. 

Filomena arregalou os olhos assim que ouviu a informação que seu filho entregava a ela. Tinha entendido tudo. 

— Está vendo nos olhos dela Miguel? Está vendo? Ela sabia! É claro que já sabia! São todos traidores! É tudo tão trágico. 

Clara andava de um lado para outro na sala da casa de seu avô inconformada com tudo. Filomena tentou abrir a boca para se explicar. Mas antes que o fizesse, Catarina abriu a porta de entrada e chegou perto da filha nervosa. 

— Pronto, já fez seu show e conseguiu toda atenção para si. Já falou o que queria falar para mim. Agora é minha vez! 

 


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