Segunda chance escrita por Laura Vieira, WinnieCooper


Capítulo 14
Capítulo 13




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A partir do momento que Petruchio uniu seus lábios aos dela, ela desejou mais. Não o empurrou, não o chutou no meio das pernas, nem desviou seu rosto para que o beijo não fosse aprofundado. Pelo contrário, segurou o rosto dele com suas duas mãos e aprofundou o beijo. Precisava e queria sentir todas as sensações que um beijo dele, quinze anos adormecido, poderia lhe proporcionar.

Era um beijo carregado de sentimentos. Toda a ansiedade e expectativa de ambos transparecendo no momento, mesclando desespero e calma, mas seus lábios se completavam sem estranhamento ou receio algum. Era como se aqueles quinze anos não tivessem passado, como se aqueles quinze anos fossem horas. Por isso ela cravava suas unhas no cabelo dele e pedia por mais, e ele correspondia segurando o rosto de Catarina com uma das mãos enquanto a outra se ocupava em segurar sua cintura tentando quebrar um espaço que não existia. E ela estava com seus pés esticados para o alcançar e o sentir por inteiro. O retrato perfeito de um romance que só poderia ser vivido por Catarina e Petruchio.

Diferente do que pensaram algum dia, um beijo entre os dois depois de tanto tempo não era nada estranho. Não mesmo. Eram duas almas separadas pelo tempo e espaço que se encontravam novamente no mesmo tempo e espaço. Beijar Petruchio era como jogar fora tudo o que havia vivido nos últimos anos. Toda sua vida na Europa, sua preocupação em criar sua filha longe dele, seus choros escondidos por causa do filho deixado para trás, suas mentiras sufocadas dentro de si. Ao mesmo tempo, beijar Petruchio era libertador. Era como se mostrar livre para si mesma, deixar transparecer seus desejos mais escondidos, não precisar mais viver atrás de máscaras e enfim pensar que um dia poderia voltar a ser feliz.

Beijar Catarina era como concretizar que seu sentimento por ela não havia morrido, que o seu sentimento ia sim, além do amor que havia sentido por ela quinze anos atrás quando havia se apaixonado por cada parte de sua fera na convivência na fazenda. Beijar Catarina era confirmar que todos os momentos que ainda não haviam partilhado, que todos os momentos que haviam perdido em não estar juntos com o filho precisavam ser vividos, que aquele sentimento de coração preenchido e a felicidade percorrendo suas veias precisava ser experimentado e não mais ignorado. Por isso ele preencheu seu rosto de pequenos beijos quando precisaram de ar e ela sorriu aproveitando o gesto dele de olhos fechados enquanto acariciava seu pescoço e o abraçava, ele pode então sentir o cheiro do perfume dela se misturando em seu pescoço e sabia que era o melhor cheiro do mundo. Desejou poder engarrafar e guardar para sempre. Seu cheiro preferido novamente ao seu alcance.

Catarina esticou seu pescoço e o olhou nos olhos, seus olhos castanhos brilhantes e felizes. Não se conteve e iniciou outro beijo com ele. Mais calmo desta vez, precisavam aproveitar todas as sensações: os corações acelerados e os suspiros que davam entre um selar de lábios e outro. Ela o abraçou apertado fechando seus olhos o acariciando no pescoço ao que ele retribuiu prontamente a abraçando de volta, não conseguia parar de sorrir.

Era como ter sua Catarina toda romântica e carinhosa com ele de volta, uma Catarina tão rara que ele até estranhou.

— O que pensa que está fazendo?! - Ela de repente acordou de seu momento calmo por demais e o empurrou para longe de si o mais forte que conseguiu.

— Eu? - Petruchio perguntou sorrindo, não conseguia parar de sorrir. - Eu tô te beijando, e ocê tá retribuindo, mais do que isso, ocê tá toda carinhosa comigo.

Ele voltou para perto dela tentando alcançar sua cintura novamente. Catarina era como um vício e uma vez que havia experimentado esse vício novamente, não conseguia ficar longe por muito tempo.

— Pois eu não te entendo! - ela estava com os olhos fechados tentando se manter firme, mesmo que a presença física dele a tocando a fizesse ter as pernas moles e não conseguir mais ter controle de seus atos. - Hoje a tarde brigamos, se esqueceu?

— Eu fiquei louco Catarina, louco em pensar que ocê tava casada de novo com um marido a tocando como eu tô te tocando agora, eu fiquei louco.

Ele abaixou sua boca procurando a dela novamente, mas desta vez Catarina desviou.

— E o que o faz pensar que o fato de eu não estar casada te dá o direito de me beijar?! - o empurrou novamente.

Petruchio levantou suas sobrancelhas de triunfo para ela.

— Eu já conheço essa história, sei de cor. - ele disse notando que a boca dela estava vermelha, por causa dele. Amou ver esse pequeno detalhe que ainda não havia notado.

— Que história? - ela cruzou seus braços dando um passo para trás, não era muito bom ficar tão perto de Petruchio.

— Eu dizendo pr'ocê que te beijei, ocê brigando comigo que não tinha o direito de te beijar, eu falando pr'ocê que ocê me beijou de volta e ocê falando que não beijou, quando claramente beijou. Sei as falas desse diálogo inclusive.

— Então sabe que é muito errado o que fez! Quase um assédio.

— Assédio?! - ele começou a rir diante da fala dela. - Catarina ocê tava fazendo carinho em eu, tava suspirando e me beijando de volta, como se fossemos casados de novo.

— Isso mesmo! Não somos mais casados! Beijar alguém sem seu consentimento ou pior! Sem ser absolutamente nada dessa pessoa é no mínimo assédio! - tentou tomar a razão para si.

— Catarina, eu sei que ocê sentiu a mema coisa que eu senti quando te beijei. É como se quinze anos não existisse. É como que se conectar com ocê fosse fácil e natural. - ele não conseguia parar de sorrir.

Na verdade ele não foi até a casa de Bianca para beijá-la, mas a ideia dela ter mentido sobre o casamento havia o deixado maluco e a possibilidade dela não estar de fato casada o fazia sorrir, consequentemente a abraçar e a desejar beijar era natural. Quase esqueceu todas as angústias e mágoas de quinze anos passados.

— Quinze anos se passaram, eu não sou mais uma jovem que você conquista para se casar visando minha herança. - foi rude com ele.

— Quinze anos se passaram sim, mas não teve um dia nesses quinze anos que eu não pensei n'ocê. - uma vez que tinha beijado ela decidiu não mais brigar, não ia desistir dela tão facilmente.

Catarina não conseguia mais descrever seus sentimentos que eclodiam em si todas as vezes que ele falava palavras como aquelas.

— Eu senti muita raiva d'ocê esses anos todos, senti sim, não queria falar com Júnior sobre ocê e todas as vezes que via ele sofrer eu tinha mais raiva e culpava ocê sempre pela dor dele, falar d'ocê doía até…

— Hoje? - ela o interrompeu, não havia esquecido das palavras dele a ela naquela tarde. - Você jogou em mim palavras difíceis e doloridas demais sobre meu filho hoje a tarde.

Ele confirmou com a cabeça se lembrando de ter jogado nela todas suas frustrações de anos num momento errado. Despejou sua dor e seu sofrimento tudo de uma vez e sabia que havia tocado na pior ferida de uma mãe: Seu filho.

— Eu tava triste Catarina, porque ocê tinha voltado e nem tinha sequer lembrado do filho esses anos todos e de repente tava se encontrando com ele escondida.

— Eu queria o conhecer! Eu precisava o conhecer! - ela estava cansada. Cansada do turbilhão de acontecimentos em sua vida desde que havia voltado para o Brasil. Tão cansada que chorar era fácil, tão fácil que pequenas lágrimas começaram a descer de seu rosto. - Meu coração está partido só de imaginar meu filho passando por tudo aquilo que você me gritou nesta tarde.

— Eram verdades, ocê entende agora a razão de eu ter ficado com raiva d'ocê por ter nos abandonado? - ele não brigava com ela, não mais, perguntava tentando fazer que ela o entendesse para que enfim ele a compreendesse.

— Soa como se minha partida para a Europa fosse algo supérfluo, como se fosse uma regalia. Sendo que não foi. Eu nunca quis abandonar meu filho. Eu juro! - Ela gritava ao mesmo tempo que não conseguia mais impedir suas lágrimas de caírem por seu rosto na frente dele.

Petruchio guardou algumas informações e pistas que ela havia dado em sua fala. Mas resolveu ignorar por hora, queria a confortar.

— Não chora não. - Petruchio pediu quebrando novamente a distância entre eles e tocando o rosto da ex-mulher limpando suas lágrimas. Catarina mordia seus lábios tentando controlar seus olhos que insistiam em derramar lágrimas mesmo fechados, não queria se mostrar frágil a ele. Não estava em seus planos chorar em sua frente. - Não chora que meu coração fica dolorido.

Ele a abraçou, Catarina colocou seu rosto em seu peito e por um momento deixou que ele a embalasse em seus braços e deixou se sentir protegida como não se sentia por muito tempo. Ele quase não conseguia acreditar que ela estava em seus braços sem brigas ou vasos voando, mesmo que sua testa tivesse uma marca de um vaso, permitia passar seu nariz no topo da cabeça dela, num vai e vem ritmado tentando fazer ela se acalmar.

xx

Neca estava terminando de lavar a louça do jantar com Mimosa na cozinha inquieta. Havia escutado escondida a conversa de Júnior com ela na sala de jantar. Sabia que ela ajudaria o filho de Petruchio a se encontrar com a mãe escondido.

— Mas tô me corroendo, não posso ficar calada! - exclamou não aguentando mais sua luta interna.

Mimosa a olhou desconfiada.

— Ocê não pode ajudar Juninho a encontrar dona Catarina. - disse de uma vez.

— Depois eu que sou mexeriqueira. Deu pra ouvir de trás da porta Dona Neca?

Neca normalmente brigaria com Mimosa, diria que não era fofoqueira, implicaria com ela e ambas acabariam saindo da cozinha uma com a cara virada pra outra. Mas no momento, ela precisava conversar com Mimosa.

— Eu me encontrei com dona Catarina.

— Você? Como se não sai dessa fazenda? - Mimosa questionou nem um pouco convencida. Levantou as sobrancelhas.

— Fui com Juninho pra loja esses dias atrás porque ele tava meio abalado e seu Petruchio pediu. Então eu vi dona Catarina entrar na loja. - Neca começou sua explicação.

— Catarina foi à loja?

— Foi falar com Juninho.

Mimosa cruzou seus braços e negou com a cabeça.

— Que mentira mais deslavada, Júnior tem foto dela, ele a reconheceria.

— Mais aí é que tá. Ela foi com um lenço cobrindo o rosto e óculos de sol pra ele não reconhecê ela. - Neca chegou mais perto dela olhando sério em seus olhos. - É verdade isso que tô te falando. Juninho vai ficar muito decepcionado se vê dona Catarina e descobri tudo.

Mimosa engoliu em seco.

— Era esse o segredo que você tinha naquele dia?

— Era sim. Eu até conversei com dona Catarina - Neca prosseguiu.  - Até que tentei convencer dona Catarina voltar pra fazenda, mas ela não aceitou. Falou que tava separada com o maior orgulho. 

— Ah eu sei, ela é teimosa. Nunca dá o braço a torcer. Mas eu sinto que alguma coisa maior aconteceu. - Mimosa confessou.

— Que coisa há de ter acontecido?

— Não sei, talvez ela tenha medo e receio de todas as mentiras que contou. Começar pela filha que ela escondeu do seu Petruchio.

— Filha? - Neca perguntou chocada sem entender.

Mimosa colocou a mão por cima de sua própria boca e arregalou os olhos espantada com a informação que tinha deixado escapar.

— Dona Catarina teve uma filha com seu Petruchio? - Neca sussurrou a informação em segredo. - Mas como?

— Não era pra ter te contado, não era, Catarina me mata se essa informação escapar. - Mimosa suspirou passando os dedos por todo seu rosto em agonia.

— Mas agora que começou vai ter que terminar.

— Está bem, vou te explicar tudo, mas essa história não pode chegar nos ouvidos do seu Petruchio e de mais ninguém daqui da fazenda.

Mimosa explicou o que sabia sobre Clara e tudo o que Catarina havia feito, Neca, enquanto ouvia, sentia que tudo poderia desabar na cabeça de todos.

— Dona Catarina mentiu demais. Seu Petruchio jamais há de perdoar ela.

— Eu torço para que ele entenda tudo quando ela lhe dizer, mas ao mesmo tempo sei que isso é quase impossível. É difícil para mim, imagine para ele. - Mimosa se pronunciou.

— Tô prevendo é caos atrás de caos. Por isso é importante que Júnior não veja ela pessoalmente.

— Como que vou impedir isso de acontecer? Ele me pediu ajuda, sei que Catarina precisa dessa reaproximação com o filho também. - Mimosa estava preocupada.

— Então a gente vai ter que ajudar eles se entenderem. A gente precisa aproximar Juninho de Dona Catarina de uma maneira que ele entenda a mãe e não se decepcione mais.

— Mas como? - Mimosa perguntou querendo a ajudar.

— Eu ainda não sei, mas a gente há de descobrir. Precisamos pelo menos apaziguar toda situação.

Mimosa confirmou com a cabeça concordando com Neca. Nunca pensou em se unir por algum propósito com ela, ainda mais que não eram nem um pouco amigas, mas se tivesse um motivo que as faria juntar forças, seria esse. Catarina se unindo ao filho para enfim se unir a Petruchio.

xx

Esperou que ela parasse de chorar para voltar a falar. Em momentos calmos Catarina parecia perder a fala.

— É impressionante o que ocê faz comigo. Num momento eu tô louco de raiva, no outro eu tô assim, completamente calmo. - Catarina ergueu seu pescoço o encarando observando ele falar consigo todo cuidadoso. - Às vezes eu quero pegar ocê no colo. Te cuidar e proteger para que seu coração não doa mais e que seus olhos não derramem mais lágrimas.

Catarina fungou limpando seu rosto com a palma da mão. Quanto tempo não se sentia protegida e calma assim? Quanto tempo sonhou em estar sendo acalentada novamente nos braços do único homem que amou e permitiu ser amada? Parecia até outra realidade. Ergueu seus dedos e tocou o rosto dele, contornou sua barba e passou o polegar por seu queixo. Ergueu seus dedos trilhando caminhos até sua testa, que estava marcada com o machucado do vaso jogado. Parecia querer decorar ele com seu toque. Parecia querer sentir que ele calmo em sua frente era real.

— Catarina, ocê tá de volta, para sempre? - ele quis arriscar a pergunta. Aproveitaria que ela estava aceitando seus carinhos.

— Eu não sei, o que seria para sempre para você? - parecia hipnotizada, como se estivesse dopada de remédios. Petruchio conseguia coisas inimagináveis com ela.

— Pra sempre é como ocê na minha vida. Impossível de dissociar. É como olhar pra cada canto daquela casa e vê ocê, é como olhar pro Júnior e ver ocê e sua perseverança nele. É como esses anos todos que tentei não pensar em ocê ou tentar sentir ódio. Não consegui. Ocê tá pra sempre em mim.

Ela negou com a cabeça e deu dois passos separando-se dele.

— O para sempre é diferente para mim.

— O que tá dizendo? - Petruchio perguntou tenso, sem conseguir entender ela.

— Vivi só alguns meses com você na fazenda, esse momento significa para sempre em meu conceito, mas preciso que entenda que ele já passou, eu não estou de volta para sempre em sua vida. Não posso. - ela negou com a cabeça.

— Pode sim, pode sim, eu te perdoei já, não me importo se ocê abandonou o filho e foi pras Europa longe de eu. Eu não me importo. Só volta Catarina. Só volta.

Ela negou com a cabeça reparando no olhar triste e desesperado do ex-marido. Havia tantas coisas que ele não sabia.

— Você me disse para não me aproximar do meu filho, eu vou obedecer. - ela continuou negando com a cabeça, procurou sua bolsa e começou a andar para sair da casa de Bianca.

— O que? - Petruchio correu atrás dela ficando em sua frente a impedindo de andar. - Eu me arrependi, de tudo o que te disse hoje à tarde, eu juro que me arrependi. É que eu sou assim memo Catarina, cabeça quente.

Ela olhou para o chão evitando encará-lo.

— É melhor ficarmos como estamos, cada um na sua casa, cada um com seu… - engoliu em seco pensando em Clara, em toda sua vida baseada em mentiras. - Ah, Petruchio, há tantas coisas que você não sabe.

— Eu não sei, mas ei de saber se ocê começar a confiar em mim. - ele pegou levemente na mão dela e segurou levando para perto de si. Catarina o encarou. - Lembra que a gente só começou a se entender quando a gente, eu mais ocê, começamos a confiar um no outro? Aconteceu alguma coisa esses anos todos? Aconteceu alguma coisa pra ocê ir embora? Confia em mim, Catarina, confia… - Petruchio estava com aquela pista que ela havia deixado intrincada em sua fala, dela não ter ido para a Europa como prêmio próprio, havia algo enorme por trás.

Ela sentiu seu coração se apertar, como queria que fosse fácil assim, mas no caso dela, nem se seu desejo mais profundo de seu coração fosse ter sua vida e uma família com ele de volta, ela não conseguiria.

— Você jamais vai me perdoar. - ela negou com a cabeça.

— Eu já te perdoei. - ele sorriu para ela colocando a palma da mão de Catarina, que ainda estava entrelaçada com sua mão em cima de seu coração. - Eu já te perdoei e quero que ocê me entenda que quero ocê por inteira em minha vida de novo. Sinta meu coração todo batendo pelo ocê. Ele sempre foi assim só pelo ocê.

Catarina queria o beijar ali, sorrir, o abraçar e se sentir protegida como se sentiu minutos atrás, queria voltar para a fazenda e ter o seu para sempre com ele, como queria.

— Eu não posso. - disse apenas, saindo de perto dele e enfim cruzando a porta da sala de Bianca.

Petruchio ficou parado alguns segundos sem saber o que fazer.

— Catarina! Catarina! - ele correu atrás dela e segurou seu braço pedindo para que ela parasse de andar para longe dele. - O motivo é eu?

Ela o encarou confusa, o que permitiu que ele continuasse suas conclusões.

— Se ocê não pode voltar pra mim, estando solteira, sabendo que eu te perdoei, depois que ocê me beijou de volta, significa que o motivo sou eu. Ocê nunca perdoou eu ir atrás da Marcela?

Catarina revirou os olhos diante daquele nome, daquela mulher.

— Eu juro pr'ocê, eu nem sei como jurar mais, eu juro pela vida de meu filho...

— Não faça isso. - ela negou com a cabeça desesperada.

— Mas eu juro, eu juro porque eu não fiz nada, eu nada fiz, eu só queria achar seu dinheiro e te entregar como fiz. É por isso que ocê não me perdoa? Eu lembro, eu lembro d'ocê falando que se fosse qualquer outra mulher ocê tentaria me perdoar, mas justo a Marcela. Eu juro…

— É muito além da Marcela. - ela o interrompeu lembrando de suas dores de mais de quinze anos atrás que pareciam tão tocáveis agora, a ameaça de Marcela com seu filho e suas razões ocultas que só ela sabia, só ela e mais ninguém sabia o motivo de sua fuga. - Eu sabia que a partir do momento que eu voltasse ao Brasil, o peso de minhas decisões ia cair sob meus ombros. Eu não posso. Eu não posso. - Negou com a cabeça voltando a andar para longe dele, indo de encontro ao motorista de Bianca.

— Não pode. Mas quer. - Petruchio falou não desistindo. - Eu sei que ocê quer, eu senti que ocê ainda me queria. Eu não vou desistir Catarina.

Ela o olhou com os olhos marejados e voltou sua atenção ao motorista pedindo a ele para que a levasse para a casa de seu pai.

Petruchio ficou observando ela partir, para longe de seus olhos e longe de seus braços.

— Ela não pode, mas por que ela não pode? - perguntou a si mesmo sem se dar conta que Bianca estava ao lado.

— Petruchio, Catarina está gritando socorro com os olhos. - disse ao ex-cunhado o encarando.

— Socorro? Por que? O que aconteceu Bianca? - ele a encarou preocupado.

— Ela precisa de ajuda, mas nunca dá o braço a torcer. Quer sair da casa de meu pai e arranjar um emprego, mas a vida de uma mulher separada não é fácil e ela percebeu isso da pior maneira.

— Fizeram algum mal pra ela?

— E ela me diz alguma coisa?

— Eu juro que se alguém fez algum mal pra ela eu… - Petruchio ergueu seu punho no ar fechado.

— Escute, eu estou tentando a ajudar. Arranjei um emprego na escola de Edmundo. Ela vai dar aula de substituição. E ela quer sair da casa de meu pai o mais rápido possível, quer se sustentar sozinha. - Bianca prosseguiu com suas explicações.

— Só memo sua irmã para fazer isso. - ele concluiu. Pensou por alguns instantes e logo sua mente começou a entender partes de toda aquela trama. - Ela veio pra ficar.

— Veio sim, meu pai está muito doente.

— ...Se ela veio pra ficar posso aproximar Juninho dela. - ele sorriu para Bianca com o dedo indicador esticado no ar. - Júnior tava querendo mesmo volta pra escola. Posso tentar.

— É uma ótima ideia. Ela precisa do filho perto. - Bianca confirmou com a cabeça diante da ideia dele.

— Eu vou fazer isso, se ela vê que tô aceitando ela perto do filho, que quero que ela conquiste a confiança do filho, talvez ela me perdoa.

Bianca deu um sorriso amarelo a ele sabendo que o motivo da fuga de sua irmã era muito maior. Só torcia para que ela se resolvesse logo com ele e que contasse de Clara.

— Muito obrigado Bianca, eu preciso volta pra fazenda.

Ela confirmou com a cabeça sorrindo, enquanto o via sair com a carroça só torcia para que o amor que ele sentia por sua irmã fosse maior que o ódio que ele poderia sentir quando descobrisse que ela mentiu a ele por quinze anos sobre uma filha que ele nem sabe que têm.

xx

Clara estava entediada esperando a mãe voltar, assoprava seu cabelo da testa para cima deixando ele cair em seguida, fazia isso num ciclo que jamais terminava. Foi quando ouviu um carro estacionar e a voz dela lá fora agradecendo ao motorista.

Esperou que ela passasse pela sala e que entrasse no quarto. Fechou os olhos.

Catarina observou a filha deitada na cama, esticada com os olhos fechados.

— Já está dormindo. - suspirou cansada chegando perto da filha, acariciou seus cabelos da testa que estavam todos bagunçados. - Eu estou tentando Clara, com todas as minhas forças, estou tentando lhe garantir um futuro melhor.

— Um melhor futuro para mim é ao lado de meu pai. - Catarina deu um salto para trás quando ouviu a voz da filha.

— Meu Deus! Quer me matar do coração? Achei que estivesse dormindo.

— Preciso fingir que estou dormindo porque só assim para você se abrir comigo.

Catarina arregalou os seus olhos diante da confissão da filha.

— Já fez isso antes?

— É claro, você é muito fechada. Sempre fiz isso, mas infelizmente nunca te ouvi confessar sobre meu pai. - Clara sentou-se na cama e colocou suas duas mãos no rosto, sorriu: - Me conte mãe, encontrou meu pai hoje?

Catarina tossiu engasgada com a própria saliva.

— Me respeite, sou sua mãe!

— Ficou corada e não negou. Foi ver ele. - Clara deu um gritinho de felicidade.

— Se quer saber, fui cuidar do seu futuro.

— ...O nosso futuro ao lado de meu pai. - Clara completou só para a irritar.

— Vou começar a dar aulas na escola de sua tia e amanhã mesmo você irá comigo. - Catarina terminou sua fala.

— O QUE?! - Clara exclamou indignada.

— Além disso, sua tia me convenceu a mudar para uma casa de aluguel ao invés de uma pensão. Amanhã visitarei algumas casas. No mais tardar até o final da semana estamos de mudança.

— Mãe, você vai dar aula na escola que eu vou estudar?! - Clara perguntou ignorando a última informação que a mãe lhe dizia. - Desde quando você dá aula? Nunca teve paciência nenhuma para me ajudar em minhas tarefas.

— Oras, eu sempre dei aulas para meu afilhado Buscapé e seus tios Fátima e Jorginho. Vai dar certo. - ela sorriu para a filha piscando seu olho esquerdo.

— Sabe o quanto é trágico ser filho ou filha de mãe professora?

Catarina começou a andar em direção a seu banheiro.

— Se acostume, amanhã mesmo vou te levar para a escola e conhecer tudo por lá.

— A minha vida é uma avalanche de tragicidade. - Clara reclamou assoprando seu cabelo da testa para cima.

Ao mesmo tempo lembrou que iria para a escola, significava que seu cárcere privado tinha acabado?

— Meu castigo acabou?! - gritou a pergunta para que a mãe lhe ouvisse do banheiro.

— Seu castigo continua até que eu esteja organizada o suficiente para conversar com seu pai sobre você, antes que faça isso antes de mim. - Catarina a espiou da porta. - Vá dormir, temos um dia cheio amanhã.

Clara esperou que a mãe sumisse de sua visão para estreitar seus olhos e dizer a si mesma.

— Não vou desistir tão fácil de ir atrás de meu pai. Não mesmo.

Por fim, resolveu dormir. Teria um dia cheio no dia seguinte e esperaria dar seguimento ao seu plano de se encontrar com seu pai o mais rápido possível.

 


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