Segunda chance escrita por Laura Vieira, WinnieCooper


Capítulo 13
Capítulo 12




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Petruchio tinha um ótimo plano: apagar de vez Catarina de sua vida.

Falou tudo o que queria para a ex-mulher, deixou bem claro que não aceitaria que ela se aproximasse de seu filho, para não o machucar. Desta forma, esperava agora que ela saísse de vez de sua vida.

Era um ótimo plano. Mesmo ela estando de volta ao Brasil, ele não precisava se preocupar com ela, estava casada e vivendo sua vida novamente, sem necessitar de sua presença.

— Casada! - Petruchio fechou seus punhos nervoso fazendo o nós de seus dedos ficarem brancos.

Ele tentava evitar pensar nela, tentava não se abalar, mas quando o assunto era ela… era inevitável.

Catarina era como um quadro negro todo riscado e sua trajetória vivida com ela estava lá narrado. O dia que ela havia entrado em sua vida, o desenrolar de tudo, todas suas tentativas de a conquistar, o carinho que começou a sentir por ela, os sonhos que compartilharam e o desfecho triste que tudo teve. E como um quadro negro, ele precisava apagá-lo para viver novas experiências. Apagar definitivamente as marcas de Catarina em sua vida.

Estava varrendo e limpando a loja antes de a fechar naquele fim de tarde. Pensava só em Catarina.

Pensava em como ela não havia mudado nada em todos aqueles anos, como o quanto continuava linda, em como seu cheiro continuava embriagante e o quanto seu coração ainda se descompassava perto dela. Como ele a apagaria de vez? Como renovaria aquele quadro negro e escreveria uma nova história? Sentia que sua vida corria sempre em círculos e voltava para o mesmo lugar. Ela! Sua vida sempre voltava para ela.

— Ela tá é casada de novo. - Reiterou a informação a si mesmo, como que para lhe reafirmar para esquecê-la. Só reafirmando a si mesmo essa informação para tudo se validar e ele enfim entender que era preciso coragem para apagar ela de vez de sua vida.

Calixto apareceu com Mimosa na loja para buscá-lo para irem a fazenda. Ele subiu na carroça já ouvindo o empregado e amigo o dizer preocupado.

— Mas cadê o Júnior? O senhor tá com uma cara péssima!

— Vê se não zurra na minha orelha que logo vai ser ocê a ficar com uma cara péssima. - Petruchio reclamou enquanto se sentava pegando as rédeas da carroça que estavam nas mãos de Calixto.

— Mas agora eu não posso nem falar mais nada que o senhor já vem com cinco pedras na mão? Mas as caveira de seu pai mais as caveira de sua mãe tão é…

— Para de falar das caveira de meu pai e de minha mãe que não gosto!

Petruchio o cortou, Calixto cruzou os braços na frente do corpo chateado.

— Não ligue meu marido. Esse aí é igualzinho Catarina…

Petruchio engoliu em seco a menção do nome de sua ex-esposa.

— ...A gente tenta ajudar aqueles que consideramos como filhos. Mas é como se estivéssemos cometendo um crime. - Mimosa suspirou chateada lembrando do que havia acontecido há pouco. - Tentei entender Catarina também. O motivo de seu choro e sua tremedeira, mas só recebi pedras.

Mimosa parecia desabafar, mas Petruchio gravou em sua mente a parte em que ela dizia que Catarina tinha chorado e de sua tremedeira.

— Catarina tava chorando? - perguntou tentando parecer desinteressado, mas muito interessado.

— Sim, olhe não sou mexeriqueira, longe disso e longe de mim, mas Bianca me contou que ela havia encontrado o senhor. Vocês brigaram seu Petruchio?

— Mas arriégua! O senhor encontrou dona Catarina e nem me contou? - Calixto exclamou chateado e curioso ao mesmo tempo.

— Encontrei! Como havia de te contar seu jumento se nem te vi ainda hoje?

Calixto não tinha argumentos contra aquilo. Ele cutucou o patrão com os ombros curioso.

— E como é que foi?

— Foi? Foi o que Calixto?

— O encontro de oceis dois arriégua! Mataram a saudade?

Petruchio suspirou cansado lembrando o encontro explosivo com ela.

— Se saudade ocê quer dizer brigar. Sim, matamos a saudade.

— Oceis não tem jeito memo né? - Calixto negou com a cabeça.

— E o que o senhor falou para ela? Catarina parecia tão abalada. - Mimosa comentou curiosa para saber o que havia acontecido. - Longe de mim ser mexeriqueira, mas é que Catarina estava chorando. Quase nunca a vi chorando.

Petruchio não queria lembrar daquele encontro, estava disposto a apagá-la de vez de sua vida, mas parecia que todos não colaboravam com seu plano.

— Só exigi que ela se afastasse de Júnior. Sei que ela foi ver ele disfarçada.

— Dona Catarina conversou com Juninho? - Calixto perguntou abalado.

— Sim! E provei isso hoje, falei pra ela fica longe de meu filho. Não vou permitir ela voltá como se nada tivesse acontecido. Ela o abandonou!

— Mas ela é mãe! Ela tem o direito de se aproximar do filho. - Mimosa exclamou sem se conter. Começou a entender o desespero nos olhos e no choro de Catarina.

— Não é mãe coisa nenhuma! Não tava aqui quando ele ficou com febre, nem quando ele chorou pela primeira vez por não ter mãe, nem quando ele ficou de castigo por bater no menino da escola por ele o chamar de filho de mulher da vida. Tudo de ruim na vida de Júnior é por causa dela. Não quero ela perto de meu filho! - foi enfático.

Calixto olhou assustado para Mimosa, a mulher negou com a cabeça triste.

O empregado olhou para o patrão ressentido. Não deixou de comentar:

— Pra quê tanto rancor no coração? As caveira de seu pai mais as caveira de sua mãe não gostam de tanta ingratidão. Ela te deu o filho.

— …O filho que saiu dela. Foi um gesto bonito apesar de tudo. - Mimosa concordou com o marido o fazendo coro.

— São defensores de Catarina agora? Só faltam ter saudade dela na fazenda.

— Mas eu tenho. Ah que saudade de dona Catarina! O senhor ficava mais leve e feliz, apesar dos vasos voando. Pronto falei! O senhor querendo saber essa verdade ou não! Falei!

— Saudade dela na fazenda?… - Petruchio suspirou cansado. -  Só penso nas coisas erradas que ela fez e na ingratidão e agora ainda me aparece casada. - terminou com a voz chateada, falando mais para si mesmo que para Calixto ou Mimosa.

— Casada? - Mimosa perguntou estranhando.

— Ocê deve de saber não é Mimosa? Tá direto na casa de Bianca, Catarina voltou casada das Europa. - sua tristeza era tamanha que ele nem prestava mais atenção no caminho, estava quase chegando na fazenda guiando a carroça no automático.

— Esqueci de te contar que seu Petruchio foi escondido ver dona Catarina chegar das Europa e viu o novo marido e a aliança no dedo dela. - Calixto comentou com Mimosa.

A esposa de Calixto estava pensativa, sabia que Catarina não tinha se casado de novo, não pensou em nenhum dos segredos que ela tinha e que exigiu de sua parte sigilo quando exclamou:

— Catarina não está casada não, eu tenho certeza disso, vi ela esses dois dias. Não tinha aliança nenhuma em sua mão esquerda, muito menos um marido, só a fi…

— Não tá casada? - Petruchio perguntou olhando nos olhos de Mimosa, nem deixou ela terminar sua fala, o que foi um alívio para ela, já que o assunto "Clara" era algo proibido.

— Eu tenho certeza que ela não está. Catarina jamais casaria de novo. Estava desolada pedindo um emprego a Bianca, quer sair da casa do pai e morar sozinha, seu Batista inventou uma nova cláusula em seu testamento. Só dar sua herança aos filhos casados.

— Mas pra quê seu Batista tá atrás de testamento? Ele por um acaso tá é morrendo? - Calixto perguntou antes que seu patrão fizesse qualquer pergunta.

— Pior que está sim, faz algumas semanas que Bianca o acompanha em consultas, seu rim não está mais trabalhando como antes, é uma doença que não tem tratamento. Foi por isso que Catarina voltou, para ficar perto do pai nesses últimos dias, mas parece que hoje ele falou sobre sua condição para os filhos receberem a herança e Catarina não aceitou. Quer sair da casa do pai imediatamente.

Petruchio ficou ouvindo Mimosa conversando com Calixto, prestando atenção em todos os detalhes narrados pela governanta de Bianca. Seu peito se enchia de dúvidas e a raiva por Catarina ter mentido para si lhe tomava.

— O senhor não vai descer da carroça? - Calixto perguntou assim que chegaram na fazenda. Petruchio permanecia com a feição brava e estava pensativo.

— Calixto dê uma olhada em Júnior, se ele tá em casa e se tá tudo bem… eu preciso falar com Catarina, tirar satisfações com ela.

— O senhor vai atrás dela? As caveira de seu pai e de sua mãe devem virar pó se o senhor voltar a brigar com dona Catarina hoje.

— Vou sim! Ela mentiu para mim! Vou até a casa de Bianca e conversar com ela exigindo toda a verdade!

Calixto observou o patrão sair preocupado, sabia que Catarina mexia demais com os pensamentos e sentimentos de Petruchio. Esperava que ambos não se ferissem mais do que já estavam feridos.

xx

— ...Dona Dalva, como é bom revê-la, infelizmente não posso dizer o mesmo de seu marido. - Catarina cumprimentou a mãe de Candoca com um abraço.

— Catarina! - Bianca a repreendeu envergonhada.

— Ora Catarina, para mim é sempre um prazer revê-la, tanto tempo na Europa te deixou mais bonita. - Jornalista Serafim disse nada envergonhado. 

— Infelizmente não posso dizer o mesmo do senhor, está parecendo um maracujá velho.

— Catarina! - Bianca voltou a repreendê-la. - Eles vieram conversar com você, não seja tão… tão…

— Sincera? Esqueci que a etiqueta me obriga a mentir. - Catarina suspirou cansada. Aquele dia estava longo e ela não queria mais tentar ser educada com ninguém.

— Está procurando uma casa para morar? - Dalva perguntou tentando mudar de assunto.

— Sim, preciso morar em outro lugar que não seja na casa de papai e não quero ficar mais dependendo dele. Pensei numa pensão, mas Bianca lembrou que a senhora enriqueceu e que têm algumas casas para alugar.

— Tenho, mas não sei se são de seu agrado. Não são mansões. - Dalva ponderou.

— Melhor ainda. Não quero nada extravagante.

— Ora, então se separou mesmo de Petruchio? Ele vive mentindo que está doente na fazenda. Mas nós que somos mais próximos da família sabíamos que tinha ido morar na Europa. - Jornalista Serafim não deixou de comentar.

— Petruchio mentiu sim, mas foi para o bem de meu filho! - Catarina automaticamente respondeu brava virando seu olhar cortante para ele.

— Ah é verdade, vocês têm um filho. Sempre tão moderna não é Catarina? Pretende dividir a guarda do filho? Mesmo separada quer ter direitos sobre ele, imagino. - Serafim não se continha.

— Caro jornalistazinho. Por um acaso está com saudades dos meus vasos lançados na sua cabeça? - rugiu nervosa o que o fez se afastar um pouco dela. - A minha vida conjugal e a de meu filho não é da sua conta!

— Serafim meu marido, por favor, não deixe Catarina constrangida. - Dalva tentou ajudar.

— Não estou constrangida não. Estou com raiva mesmo! - Catarina a corrigiu.

— Vamos voltar ao assunto da casa? - Bianca pediu com medo do desenrolar da conversa.

— Sim! - Dalva concordou continuando o assunto. - Tenho algumas casas, posso tentar alugar para você. Preciso é claro de um contrato e uma garantia de que irá me pagar o aluguel todo mês.

— Eu posso assinar essa garantia Dona Dalva. - Bianca respondeu. - Pretendo ajudar minha irmã como ela me ajudou no começo da escola.

— Excelente! Amanhã podemos visitar algumas casas. - Dalva exclamou feliz pelo término da conversa tranquila.

— E eu faço questão de ir junto. Certamente um homem como eu é de valia para uma mulher sozinha como você Catarina. Não vai conseguir escolher sozinha uma casa. - Serafim disse.

Catarina estreitou seus olhos nervosa para ele, sua paciência se esvaindo completamente.

— Está afirmando que eu, como mulher, não teria a capacidade de escolher uma simples casa, para eu, mulher, morar sozinha?! - rugiu entredentes a ele.

Ele se levantou indo de encontro a Dalva, sua mulher. Ambos se encaminhavam para a porta de saída.

— Não quis te ofender Catarina, só prestei minha ajuda em solidariedade. - disse se escondendo atrás da mulher.

— Uma ajuda muito machista!

Catarina pegou um vaso ao lado na mesinha da sala. Dalva e Serafim começaram a sair pela porta da frente correndo ao mesmo tempo em que Petruchio entrava no aposento da casa de Bianca, bem a tempo de receber o vaso que Catarina havia lançado em cheio em sua cabeça.

— Olha o que você fez! - Catarina gritou furiosa olhando o jornalista Serafim observar a cena de Petruchio caindo no chão tonto, quase desacordado.

— Passar bem Catarina, amanhã Dalva lhe acompanha para escolher a casa que quer alugar. - ele começou a andar puxando a mão da esposa.

Dalva observava Catarina preocupada com o ex-marido agachando ao encontro dele que estava caído no chão.

— Ligo na casa de seu pai para combinarmos um horário. - Dalva se despediu deixando que Serafim a levasse para longe da casa de Bianca.

— Bianca pegue um pano molhado, qualquer coisa que ajude Petruchio a estancar o sangue! - Catarina pediu desesperada a irmã, vendo seu ex-marido gemer de dor e o sangue escorrendo de sua testa.

xx

Calixto seguiu as ordens de seu patrão, foi ver como Júnior estava. Observou a porta de seu quarto entreaberta e o jovem olhando um papel, ao mesmo tempo em que passava os dedos em um medalhão que ele sabia que carregava a foto da mãe.

— Juninho tudo bem? Ocê não vai jantar? - tentou começar um diálogo com ele.

Júnior levou um susto pela voz dele, sorte não ser seu pai, não queria que ele o visse sofrendo pela falta da mãe novamente.

— Tô sem fome vô Calixto. - respondeu.

— Mas seu pai não há de gostar de ver ocê sem comer. - Calixto ponderou.

— Onde ele tá? - Júnior olhou nos olhos do velho amigo de seu pai, que considerava como um avô paterno. - Não o vi chegar.

— Precisou resolvê uns problema da cidade. - Calixto engoliu em seco respondendo a única coisa que seu cérebro conseguiu solucionar.

— Problema? Cidade? Ele tá em contato com minha mãe?

— Sua mãe? - Calixto deu uma risada tentando disfarçar. - Sua mãe tá na Europa.

— Voltou pro Brasil que sei, confirmei com meu avô Batista hoje.

Calixto engoliu em seco e arregalou os olhos diante do assunto proibido por Petruchio a seu filho, como ele fugiria daquilo?

— Foi vê seu avô, escondido de seu pai?

— Não mude de assunto Calixto. Meu pai foi vê minha mãe não foi?

Júnior quase podia ver o medo misturado com pânico nos olhos de Calixto, ele não conseguia mentir.

— Arriégua! Mas eu não sei onde seu pai foi não! - exclamou sem saber mentir e resolveu sair do quarto dele.

— Sabe sim! Ocê sabe tudo de meu pai! - Júnior foi atrás dele.

Calixto se encaminhou para mesa de jantar sentando-se tentando fugir das investidas do neto postiço.

— Escute! - exclamou vendo que Júnior não desistiria, havia sentado em sua frente o encarando decidido. - Seu pai ta tentando resolvê as adversidades da vida dele e eu não vou me meter nisso porque há de sobrar pra eu!

Júnior resmungou ao mesmo tempo em que Mimosa aparecia na sala de jantar.

— O que está acontecendo aqui?

— Ah Mimosa! Ocê há de me ajudar! - Júnior disse decidido olhando ela nos olhos. - Ocê trabalha pra minha tia Bianca, deve saber de um tudo o que acontece na cidade! Me conte! Minha mãe voltou não voltou?

Mimosa olhou Calixto com os olhos arregalados sem saber o que dizer.

xx

Catarina estava passando um pano molhado no rosto de Petruchio tentando ver se o estrago de seu vaso lançado havia o machucado muito.

— Acha que devemos chamar um médico? - perguntou a irmã com os olhos estreitos de preocupação.

— Que médico o que, eu tô ótimo. - Petruchio reclamou de imediato, tentou se levantar do chão que ainda estava estirado e sentiu tudo rodar.

— Está é teimoso como sempre! Não vê que é perigoso? Foi acertado na cabeça. - ela o repreendeu segurando em seu braço para que ele não caísse o ajudando a se levantar.

— Quem será que jogou em mim? - perguntou sarcasticamente.

— Não era para você, mas já que serviu a carapuça. - Catarina não deixava de alfinetá-lo no momento estava o ajudando a chegar no sofá, ao mesmo tempo que sentia o perfume de sua roupa, o cheiro que vivia em suas lembranças. Ele ainda tinha cheiro de queijo.

Petruchio, embora chateado e com um assunto importante a tratar com ela, não podia deixar de aproveitar o abraço auxiliador dela e o cheiro embriagante de seu cabelo. Foi com uma cara de chateado que foi largado no sofá quando se viu longe de seus braços.

— Tava jogando o vaso no Jornalistazinho mequetrefe?

— Ele merecia o vaso, estava muito ardiloso em suas falas e completamente machista. - ela cruzou seus braços na frente de seu corpo brava.

— Ela te defendeu Petruchio. - Bianca acrescentou.

Petruchio levantou as sobrancelhas olhando Catarina admirado.

— Bianca está louca, nunca te defenderia.

— Defendeu sim! Na frente de todos. - Bianca voltou a confirmar.

— Eu defendi meu filho, não esse grosseirão.

Catarina parecia discutir mais com si mesma que com a irmã. Nunca admitiria a Petruchio que o defendia e admirava sua atitude para defender o filho de ambos das más línguas.

— Defendia meu filho? - Petruchio perguntou confuso. - O que aquele jornalistazinho mequetrefe disse de meu filho?

Catarina negou com a cabeça tentando desviar do assunto recém instaurado no ar.

— Nada que eu não tenha dado um jeito.

— Eu juro que se ele abriu aquela boca torta dele pra dizer qualquer asneira de Júnior eu jogo ele na frente de um trem. - Petruchio levantou os punhos no ar ficando em pé, ao mesmo tempo sentiu sua cabeça girar e seu corpo o lançar para o sofá novamente.

— Não seja um brutamontes, um homem das cavernas. Quer resolver as coisas de forma muito arcaica! - Catarina o repreendeu ao mesmo tempo imaginando que se ele decidisse fazer aquilo, ela o ajudaria a atirar Serafim na frente do trem.

— De certa forma, é bom ver que ocê ia tacar aquele vaso nele.

— Minha mira sempre tão certeira, pena que acertou na pessoa errada hoje. - ela suspirou tristemente.

Bianca estava adorando ouvir aquele diálogo de certa forma calmo e tranquilo entre os dois, era um passo enorme.

— Tão feliz em ver vocês dois juntos e unidos pelo bem do filho de vocês.

Catarina de repente acordou do que estava acontecendo e logo recuperou sua voz incisiva.

— Afinal, o que faz aqui Julião Petruchio?

— Eu vim pra falar com ocê. A sós. - ele disse sem rodeios olhando diretamente para sua ex-cunhada.

Bianca saiu da sala sem cerimônia deixando os dois sozinhos.

xx

— Sua mãe? Não fiquei sabendo de nada… - Mimosa tentou disfarçar com uma mentira, mas Júnior estava cansado.

— Eu confirmei com meu vô Batista hoje. Ela tá de volta sim! Por que oceis só mentem pra mim? - perguntou realmente chateado.

— Seu pai não quer que se chateie. - Mimosa tentou se justificar, o filho de Petruchio estava decidido e sabia de fato que a mãe estava de volta.

— Não queremos desobedecer ordens de seu pai e nem te chatear. - Calixto completou.

— Eu sei que meu pai vive pedindo pra oceis me pouparem de dor e sofrimento, mas eu já sou grande, eu aguento. Minha mãe nunca quis um filho é isso? - perguntou com seu olhar em súplica para Mimosa. - Eu sei que ocê criou minha mãe desde pequenininha Mimosa. Me diga a verdade, eu aguento.

Mimosa olhou para o marido cúmplice. Não queria mais mentir a Júnior.

— Vou ser sincera com você…

— Isso pode dar ruim pr'ocê Mimosa. - Calixto a alertou.

— Eu não aguento mais mentir, não depois do que vi hoje. - ela se defendeu ao marido. - Seu pai provavelmente vai brigar comigo, mas vou falar. Não aguento ver você sofrendo de cá e sua mãe sofrendo de lá.

— Meu pai não vai saber de nada. Conte pra eu Mimosa. - implorou segurando na mão dela.

— Sua mãe te ama e quer ficar perto de você e te abraçar também. Sei disso, estava hoje chorando e sofrendo por estar longe de você.

Júnior sorriu diante da fala dela, sempre soube dentro de seu coração que sua mãe nunca foi mulher da vida e nunca o abandonou porque quis.

— Mimosa você a vê todos os dias. Eu preciso encontra ela frente a frente. Ocê me ajuda nisso?

Calixto olhou a mulher de rabo de olho com medo da resposta de sua esposa. Mimosa confirmou com a cabeça a pergunta de Júnior, o jovem de quinze anos a abraçou agradecido. O que ela poderia fazer? Só queria que Catarina e seu neto postiço sorrissem e parassem de sofrer pelo mesmo motivo.

xx

— Diga o que veio fazer aqui Julião Petruchio. Meu dia está extremamente longo e exaustivo e não consigo e nem quero brigar com você agora. - Catarina disse a ele enquanto andava pela sala de um lado para o outro.

Estava ansiosa e nervosa pela presença de seu ex-marido, ver ele duas vezes no mesmo dia não estava em seus planos. Ter duas discussões com ele no mesmo dia não a ajudaria a dormir melhor à noite.

— Eu não quero brigar com ocê, não depois de saber que ocê defendeu Júnior pro jornalistazinho mequetrefe, mas estou com raiva que ocê mentiu pra mim.

— Menti? - perguntou a ele o encarando.

— Sabe muito bem do que eu tô falando. Não se faça de desentendida.

Catarina deu dê ombros. Tanta coisa ela havia mentido para ele, quais das mentiras ele queria lhe jogar na cara?

— Ocê mentiu na maior cara dura, como se isso fosse afastar ocê de mim…

Petruchio levantou do sofá e começou a andar para perto dela com o dedo indicador esticado. Catarina levava em sua feição confusão. Será que ele havia descoberto de Clara?

— Ah eu mato a Mimosa! - rugiu nervosa com seus punhos fechados. - Ela não tinha o direito de te contar nada!

— Foi Mimosa sim, mas ocê não há de brigar com ela. Só fez o que fez com as melhor das intenções. - ele quebrou a distância que havia entre os dois ficando frente a frente com ela. - Agora quero ouvir de ocê, com todas as palavras de que mereço. Algum outro homem te tocou assim?

Petruchio segurou sua cintura o que fez Catarina arregalar os olhos, não estava esperando essa atitude dele.

— O que pensa que está fazendo? - tentou gritar nervosa, mas sua voz saiu fraca.

— Me diga Catarina, algum outro homem já se embriagou com o cheiro de seu cabelo além de eu?

Petruchio enfiou seu nariz em seu pescoço inspirando o cheiro que vivia em seus pensamentos e que uma vez que havia recordado naquele dia sua essência, precisava senti-lo sempre. 

Catarina sentiu suas pernas amolecerem feito gelatina, seu coração batia na boca.

— Não têm o direito de fazer isso. - tentava gritar e o empurrar, mas parecia que seu cérebro não a obedecia quando o assunto era Petruchio segurando sua cintura e cheirando seu pescoço. Entendendo que ela não o empurraria mais, o ex-marido olhou  a mulher nos olhos.

— Me diga Catarina, algum outro homem já sentiu o seu beijo, como eu?

Ela poderia pegar outro vaso e o impedir de a beijar, estava ali do lado, fácil de alcançar, poderia jogar novamente em sua cabeça. Poderia o chutar no meio das pernas e correr o impedindo de selar seus lábios no dela, como fazia agora, mas seu corpo inteiro tinha reações adversas a seu cérebro. Uma vez que sentiu ele aproximar seus lábios dos lábios dela, antes tão inalcançáveis, agora tão tocáveis em diferentes sentidos. Não conseguiu o repelir.

Passou seus braços por seus ombros o abraçando, deixou que ele a beijasse sem o impedir, pediu que ele aprofundasse o beijo segurando seu rosto para perto de si.

Podia ouvir seu coração bater no mesmo ritmo que o dele e pela primeira vez em muito tempo, não pensou em nada, só agiu.


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