Corvo Branco escrita por Costtolinana


Capítulo 8
06. Os Próximos Cinco Anos (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, resolvi dividir os cinco anos em dias partes, seria um capítulo gigantesco.


AVISO: SOBRE O SÉTIMO ANO: CAPÍTULO TEM CENAS QUE TRAZEM UMA CRISE DE ANSIEDADE, SE VOCÊ FOR SENSÍVEL, POR FAVOR, NÃO LEIA.



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SEXTO ANO: VISITA




— Boa noite, meu filho — disse James segurando a porta do quarto de Harry — Tenha bons sonhos — se despediu.

A criança se aconchegou mais entre os lençóis e travesseiros, suspirando ao se sentir confortável. Não demorou muito para adormecer, sendo levado diretamente para a terra dos sonhos. 

Era quente, seus pés tocavam na areia morna e o vento passava suave pelo seu cabelo. O mar era imenso e bonito, calmo. Sorrindo, correu em direção ao mar para sentir as ondas se chocar contra seu corpo, brincando na água  até se sentir cansado. O tempo passou muito rápido, já escurecia. Quando saiu da água, com seus dedos enrugados, percebeu que não tinha nada por perto, uma casa, alguém, nada. Começou a ficar com frio e foi procurar alguma proteção em algum lugar. Não achou nada. Desesperado, começou a gritar por alguém, qualquer um que o pudesse ajudar. Nada. Parecia que o lugar inteiro era um pedacinho do céu esquecido por todos. Tremendo com o frio, começou a chorar e chorar por seus pais, seus tios, sua irmã, qualquer um.  Ninguém lhe respondeu e, em meio ao desespero, chamou por elas.

— Violet, Hortense, por favor, me ajudem — pediu com tom de desespero — Por favor, não me deixem sozinho — voltou a chorar copiosamente.

“Harry” chamou uma voz firme

“Harry, acorde” disse uma voz suave.

Sentiu um toque em seu ombro, delicado e ao mesmo tempo firme. Olhou em volta, à procura das vozes, esperançoso.

“Vamos, Harry, é hora de acordar” 

“É só um sonho, vamos querido, acorde”

Seus olhos se abriram devagar, sonolentos. A primeira coisa que ele viu foi uma garota bonita, de olhos azuis e cabelos loiros, com um desenho de um sol na bochecha direita. 

— Ah, você acordou — a garota sorria ternamente para ele — Fiquei com medo de que você demorasse mais para acordar.

Harry ainda estava meio grogue. Confuso, olhou em volta, estava em seu quarto. Voltou a olhar para a garota que estava sentada na sua cama, ao seu lado, com sua mão em seu ombro. Atrás dela, tinha outra garota idêntica a outra que estava a sua frente, com diferença de olhos lilases e um desenho de uma lua na bochecha esquerda. 

— Hortense, acho que ele não te ouviu — disse a garota de olhos lilases.

— Tenha calma Violet, ele deve estar desorientado — disse a garota de olhos azuis — Lembre-se que o acordamos. 

Harry observava as duas enquanto conversavam baixinho. As duas pareciam gêmeas, com rostos tão perfeitos que lembravam bonecas. Seus olhos e os símbolos em suas bochechas eram uma das poucas coisas que elas possuíam de diferente. A de olhos azuis possuía uma expressão calma e amável em seu rosto, sempre portando um sorriso. A de olhos lilases tinha uma expressão mais séria, parecia retraída, olhando para todos os lados, em busca de algo que ele não sabia. Elas eram idênticas e diferentes ao olhos, eram como o amanhecer e o anoitecer. 

Ainda olhando para as duas garotas conversando, sentiu um carinho, um cafuné em seus cabelos. Era gostoso e confortável, quase o fazendo cair no sono novamente. 

— Pare Hortense, assim você vai fazê-lo dormir — reclamou a outra garota.

— Ele é tão fofo, não consigo parar de mexer com seus cabelos, são tão macios — respondeu a garota que estava sentada na cama.

— Nós temos que nos apresentar formalmente dessa vez, esqueceu? — disse a de olhos lilases.

— Tudo bem, tudo bem, você está certa — disse a de olhos azuis

— Eu sempre estou certa — afirmou.

— Certo, certo — respondeu recitando os olhos — Bom, Harry, é um prazer finalmente conhecê-lo. Eu sou a Hortense e aquela ali atrás é a Violet. Finalmente tivemos força para estar aqui — parou e respirou um pouco — Estou tão feliz de estar finalmente aqui, você e Rose são as coisas mais fofas de univer-

— Hortense, se acalme, está assustando o menino.

— Me desculpe, Harry, só estou feliz em ver você — disse Hortense.

Ele olhou para as duas aturdido. Então aquelas duas eram as donas das vozes da sua cabeça? Suas vozes eram compatíveis com o que ele sempre ouvia. Aquelas vozes o guiavam desde pequeno (não que ele ainda não seja), contavam histórias, ensinaram várias coisas. Aquelas duas são amigas valiosas para si e sentia que para Rose também. 

— Veja, você o assustou, ele nem sabe mais o que responder — Hortense reclamou.

— E você distrai muito qualquer pessoa, Violet — respondeu a outra.

— Eu… eu estou bem — respondeu Harry, baixinho.

— Está vendo? Ele está bem — disse a garota de olhos azuis.

— Não é só porque ele diz que está bem quer dizer que verdadeiramente ele esteja bem — refutou Violet.

— Harry, você está bem mesmo, certo? — perguntou Hortense agitada.

Harry, que se via perdido entre as duas, apenas balançou a cabeça afirmando, fazendo com que as duas suspirassem aliviadas.

— Bom, nós viemos conhecer você, mas, não somente isso — disse Violet

— Estamos aqui porque nossa senhora nos pediu que viessemos avisar — disse Hortense

— Avisar o que? — perguntou Harry

— Que ela viria te visitar também — disse Hortense

— Não vai demorar a visita dela — disse Violet

— Ela quer apenas conhecer vocês — disse Hortense

— Ver se estão bem — disse Violet

— Falar com vocês — disse Hortense

— Somente — disseram as duas.

Ele ficou tonto. Ele sabia que às vezes ele e sua irmã falavam assim também, só não sabia que iria se sentir tonto quando passasse pela mesma coisa. Pensar em Rose o fez levantar uma questão. 

— E a minha irmã?

— O que tem ela? — disse Hortense

— Ela vai ser visitada também? — perguntou o menino.

— Claro, porque não? — disse Violet

— Ela quer conhecer os dois, sabe? —disse Hortense

— Está muito animada com isso — disse Violet

— Disse até que vai trazer uma sur- Ai, Violet!

— Você tem a boca grande demais — disse a irmã com um olhar de repreensão, que nem seu papai Severus faz no papai James. 

Sorrindo para ele, Hortense passou a mão suavemente pelo seu rosto, com um sorriso suave, olhando bem no fundo dos seus olhos. 

— Acho que é a nossa hora de ir, você não acha, irmã? — perguntou ela. 

— Sim, eu concordo — disse a outra garota — Foi divertido te conhecer pessoalmente Harry, espero que no futuro nós possamos nos encontrar novamente. 

— Sim, eu também espero — disse Hortense ainda sorrindo para ele — Já é hora de dormir, tenha bons sonhos, pequeno viajante — disse continuando o carinho no rosto. 

Parecia um canto de sereia. Assim que ela terminou de falar, seus olhos seguiram a ordem e ficaram pesados, o fazendo entrar na terra dos sonhos pouco tempo depois. 

Estava correndo desesperado. Sabia que se parasse ele seria capturado. Olhando para trás, via o moinho pintado de vermelho enquanto ouvia os gritos das pessoas do pequeno vilarejo. Ainda segurando a mão de Rose, que chorava copiosamente, corria, precisava fugir. Não haveria prisioneiros, ninguém sobreviveria. Puxando sua irmã para a floresta, para se esconder em entre alguns arbustos, tentou acalmá-la de qualquer maneira. Respirando pesadamente prestou atenção a qualquer barulho além dos gritos de desespero a sua volta, não podiam ser pegos. Abraçou Rose na esperança de que ela parasse de chorar, para não delatar sua localização. Eles não poderiam ficar ali, era perigoso. Devagar, decidiram subir na maior árvore que puderam encontrar, pensando que eles não olhariam para cima. Gritos, desespero, vermelho. Os dois estavam tão cansados que acabaram caindo no sono. 

Acordaram doloridos, seguros entre os galhos da árvore frondosa. Tomando cuidado para não cair, desceram da árvore, ainda prestando atenção em qualquer barulho que poderiam ouvir. Não sabiam se aquelas pessoas ainda estavam à espreita. Ao chegarem ao chão, não tiveram nenhum tempo. Alguém tapou a boca do pequeno Harry enquanto outro fez a mesma coisa com sua irmã. Desespero passou pelos seus olhos castanhos. Ambos esticaram as mãos, querendo se tocar mais uma vez. Sabiam que provavelmente essa seria o último momento que se veriam, e por isso, queriam ao menos se tocar, sentir seu calor um último momento. Não puderam. Separados, Harry não se mexeu. Sabia que deveria economizar energia se quisesse fugir dali. Assim que foi colocado no chão, agiu rápido: socou as partes íntimas de seu captor e correu desesperadamente. Queria alcançar Rose, sua metade, mas não sabia onde a mesma estava. Resolveu correr novamente para a floresta. Quando pisou na sua entrada, ouviu um grito, era ela. Foi um grito tão desesperado, tão feio que ele sabia que nunca iria se esquecer dele. Correndo, olhou mais uma vez para trás, para aquele moinho escarlate. Fechou seus olhos e suspirou, uma lágrima escorreu de seus olhos, dor e sofrimento rugindo dentro do seu peito.

"Me perdoe" disse imerso em dor "Na próxima vez não vou te deixar sozinha"

E assim, ele correu floresta adentro. 

 — Harry? — ouviu uma voz infantil chamar — Harry, está acordado? 

Abriu seus olhos, se sentindo cansado, como se a corrida de seu sonho tivesse cobrando seu preço. Olhou em volta, esperando encontrar as suas visitantes, nenhum sinal. Olhou para a porta e lá estava ela, Rose, sua amada irmã. Se levantou depressa, desesperado e correu para ela, e a abraçou apertado. 

— O que? Harry, o que aconteceu? — disse preocupada, abraçando seu irmão na mesma intensidade. 

Poucos segundos depois ela sentiu algo molhado em seu ombro, lágrimas. Ficou desesperada, não entendia o que estava acontecendo, mas, não disse nada. Ficou ali, segurando seu irmão que parecia que tinha medo de que ela sumisse no ar, esperando ele se acalmar para lhe dizer o que estava acontecendo. Quando sentiu o aperto folgar um pouco mais e ouviu ele fungar com nariz, ela folgou seu próprio aperto, procurando olhar para o rosto de Harry. 

— O que aconteceu? — perguntou curiosa

— Pesadelo — respondeu com a voz rouca

— Como ele era? Falar sobre eles ajuda a esquecer, como a tia Lily vive dizendo — sorriu para ele.

— Sonhei que perdia você — soa voz agora estava embargada 

— Eu estou aqui, não estou? — apontou para si mesma — Foi só um sonho, está tudo bem.

Para ele o sonho tinha sido real demais, intenso demais. Para fazer a irmã feliz ele apenas afirmou com a cabeça para deixá-la mais tranquila, mesmo ainda repassando o sonho na sua cabeça. 

— Aí estão vocês — disse James chegando no corredor — Pensei que vocês tinham se perdido pela casa — assim que chegou mais perto, viu o rosto de Harry inchado e seus olhos molhados — O que aconteceu?

— Harry teve um pesadelo, papai, está tudo bem agora — disse Rose segurando a mão dele. 

— Bom, se foi só isso, vamos para a cozinha, o café está esfriando.

— O que temos hoje papai? — perguntou Rose

— Panquecas — respondeu

— Com gotas de chocolate? — disse esperançosa

— Sim, formiguinha, com muitas gotas de chocolate. — disse James sorrindo.

— Eba! — disse animada

Harry nada disse durante todo o caminho. Ele segurava apertado a mão de sua irmã, não soltando nem mesmo para comer, o que ela não reclamou. Ela sabia que era isso que seu irmão precisava e nunca negaria nada que ele precisasse, mesmo que doesse. 

Eles passaram o dia assim, aonde Rose fosse Harry iria junto (menos ao banheiro, ele ficava esperando na porta) e, na hora de dormir, ele pediu para dormir junto dela, o que ela logo aceitou. Seus pais passaram o dia preocupados com o comportamento. No dia seguinte, se sentindo mais confiante, agiu normalmente, para o alívio de todos. Harry prometeu para si mesmo que não importa o que acontecesse, ele iria ser forte o suficiente para protegê-la de todos se precisar, para nunca mais sentir o que sentiu em seu sonho. Por conta disso, ele esqueceu totalmente do encontro com as irmãs gêmeas. 




● ●



Ele sentia que algo estava para acontecer. Durante todo o dia se sentiu inquieto, andando de um lado para o outro, esperando alguma coisa que não sabia o que era. Quando chegou a hora de dormir, mal ouviu o boa noite de seus pais e tentou dormir mesmo agitado. Não sabia que horas havia caído no sono. 

Quando abriu seus olhos, viu um teto estranho. Sabia que aquele não era seu quarto, que tinha o teto cheio de estrelas brilhantes. Ao olhar em volta, viu inúmeros quadros por toda parte. No canto da parede, havia uma menina. Ela parecia concentrada, suja de tinta. Parecia que mais nada existia no mundo, só seu quadro e suas tintas, que pintava de modo diligente. Poucos momentos depois ela parou. Virou sua cabeça em direção a ele e sorriu. 

— Vejo que você acordou — disse suavemente. 

Harry levantou e caminhou devagar até ela. Seus olhos eram de um vermelho intenso com cabelos cacheados parecidos com os da tia Bella. Em seus pulsos haviam correntes e seu vestido manchado de tinta. Ele observou bem a menina à sua frente, de aparência forte e ao mesmo tempo frágil, com olhos selvagens que diziam que ela não era tão fraca como parecia. 

— Vejo que eu ainda não me apresentei, não é mesmo? — disse animada — O meu nome é Michelè e esse aqui é o meu lar — rodopiou de braços abertos em volta de si mesma — Claro que eu sei que é um sótão, antes que você diga, mas é aqui que eu vivo. E você é Harry, certo? — perguntou com uma voz animada. 

— Sim, sou eu — respondeu meio sem jeito. 

— Ah, finalmente nos encontramos novamente — disse olhando para Harry — Fico feliz que você esteja bem. Como está sendo essa nova vida? — perguntou sorrindo.

— Essa o que? — disse confuso.

— Ah, sim, você não lembra. Bom, não importa, eu vim ver como você está. — chegou mais perto de Harry — Preciso que você me responda uma pergunta com sinceridade, você faria isso? — perguntou agora ao lado de Harry.

— Que pergunta? — perguntou Harry

— Você é feliz? Digo, você gosta da sua família, amigos, esse tipo de coisa? — olhava profundamente nos olhos dele.

— Sim, claro que sim! — respondeu exasperado. Que tipo de pergunta tinha sido aquela? Ele se afastou um pouco da garota, não sabendo se era seguro estar perto dela. 

— Fico feliz que você gostou dos meus arranjos. — saiu andando a sua volta — Imagine que triste seria se meus esforços dessem errado.

— Do que você está falando? — ele colocou a cabeça de lado, deitado em seu ombro. 

— Nada, só estou divagando um pouco. — disse sorrindo — Você gosta de histórias? — continuava na mesma posição. 

Harry não sabia o que responder. Na realidade, não tinha muito o desejo de responder aquela menina. Ele sentia em volta dela uma coisa estranha, não sabia o que era, o deixando confuso. Ela ainda olhava para ele atentamente, esperando uma resposta. 

— Sim, eu gosto — respondeu. 

A garota deu um sorriso aberto encantador e segurou a mão de Harry,  o puxando para perto de um dos quadros. 

— Então você poderia me ajudar? Este aqui — apontou para o quadro que estava pintando antes — Ainda está incompleto. Você poderia me ajudar? 

Harry olhou suas opções e percebeu que não tinha muitas. Ele não sabia onde estava, se estava perto de casa ou não, onde estava sua família. Só eram ele e Michelè, a garota toda suja de tinta. Balançou a cabeça, concordando com a menina. Ela pegou a sua mão e o puxou para perto da tela que estava pintando antes dele acordar e ofereceu algumas de suas tintas.

— Eu sei que são poucas cores, espero que não se importe — ela parecia envergonhada.

Eram apenas três cores de tinta.

— Tudo bem — disse Harry suavemente — Só tem um problema, não sei pintar.

— Isso não tem problema — disse animada — É só seguir as linhas, está vendo? — ela apontava para os pequenos contornos delimitando o desenho. 

Passaram um bom tempo pintando o quadro. Devagar, misturando as cores para criar cores novas, os dois foram dando vida à tela. Assim que terminaram, sorriram um para o outro, felizes pela conclusão do trabalho. Ao olhar para o quadro completo, Harry viu o que parecia uma batalha entre dois homens, um com uma lança e outro com duas lâminas. Olhando para Michelè que tinha um sorriso sereno em seu rosto, perguntou.

— O que aconteceu entre eles?

— Eles lutam pelo controle de seus destinos.

— Não entendi.

— O homem com a lança acredita que o destino é imutável enquanto que o homem com as lâminas acredita que o destino é feito de acordo com o desejo e esforço da pessoa. 

— Hm…

— O que você acha? Concorda com qual dos dois homens? — perguntou para ele

— Não sei — respondeu sinceramente

— Não precisa saber agora — disse calmamente — Deixe para me responder quando estiver mais velho. Bom, agora que o quadro está completo, queria te dar um presente. Espere só o minuto — disse correndo para os fundos do sótão.

Harry queria dizer para ela que não precisava, mas sua curiosidade foi maior que qualquer coisa. Naqueles poucos minutos em que ela desapareceu no fundo escuro daquele lugar, ele passou pela sua cabeça o que poderia ser seu presente. Poderia ser tintas, já que ele a ajudou com o quarto, ou comida. Antes de poder pensar em mais coisas, ela voltou carregando uma pequena bola branca.

— Tome — ela entregou nas pequenas mãos dele — Cuide muito bem dela, é uma das minhas preciosas.

Ao sentir o peso em suas mãos sentiu algo macio, e, quando olhou, viu uma pequena bola de pelos. Olhando mais atentamente percebeu orelhas, um rabo e quatro patas. Quando a pequena bolinha olhou para ele, com olhos azuis quase prateados, percebeu o que era, um pequeno gato branco. Encantado, ele sempre quis um bichinho de estimação, seus pais não achavam que era a hora de tê-lo. Sorriu para o gatinho e o apoiou melhor em seu colo, coçando atrás de suas orelhas enquanto ele ronronava. 

— Qual nome você quer dar para ela?

— É uma menina?

— Sim, ela é

— Eu não sei — olhava pensativo para a pequena criatura em seus braços.

— Posso sugerir um nome? Que tal El? Acho um nome adequado para ela. 

— El? Hm… Eu acho que pode ser…

— Ótimo — se aproximou da filhote nas mãos de Harry — Cuide muito bem dele, El — fez um carinho atrás das orelhas da gatinha — Espero que seja muito feliz em sua nova casa. Bom, acho que já é hora de você voltar para casa, daqui a pouco vai amanhecer. Estou feliz por nos encontrarmos novamente, Harry. Se precisar, estarei sempre por aqui. Agora, vá para casa — se aproximou dele e segurou seu rosto — Ah, feliz aniversário — deu um beijo em sua testa. 

Assim que ele sente os lábios frios, um cansaço terrível o preencheu, o fazendo fechar os olhos e cair imediatamente em um sono profundo. 

Quando acordou, olhou para o teto tentando absorver seu sonho estranho. Foi quando ouviu um miado fininho. Rapidamente ele se levantou e olhou para sua cama, encontrando um pequeno filhote de gato olhando profundamente para ele. 

— El? — perguntou exultante.

A pequena gata miou novamente, confirmando sua identidade, o que fez Harry sorrir. Pegando a pequena no colo, começou a fazer carinho por todo o seu corpo, fazendo El se esticar inteira, aproveitando o carinho dado por seu dono. De repente, sua porta abre com força e uma pequena Rose entra como um mini furacão em seu quarto segurando algo. 

— Olha só o que eu ganhei — disse mostrando um ovo em suas mãos. 

Harry olhou sua irmã toda feliz e animada com aquele pequeno ovo. Rose percebeu o pequeno gato em seus braços e sorriu.

— Vejo que a Michelè visitou você também — disse sorrindo — Como foi com ela? O que fizeram? 

— Pintamos um quadro — respondeu mais desperto — E você? 

— Conversamos. Ela me contou várias histórias, foi bem legal.

Ainda olhando o ovo de sua irmã, ele apontou para ele.

— O que isso faz? 

— É um metamorfo, ela disse que se transforma no passarinho que eu quiser — disse alegre — Eu só preciso chocar ele primeiro.

Antes de Harry responder, seus pais, padrinhos, Lily e Tom entraram em seu quarto carregando balões e um belo bolo de chocolate.

— Feliz aniversário — gritaram juntos. 

Todos olharam confusos. Resolveram acordar Harry primeiro por ser o mais fácil, ele tinha sono leve, não esperavam Rose estar em seu quarto. Foi quando Lily viu o pequeno gato branco em seu colo e o pequeno ovo nas mãos de Rose. 

— Ora, ora, acho que alguém ganhou presentes antes de chegarmos. 

Essa fala fez os pais olharam melhor para seus filhos e verem que Lily tinha razão. 

— Alguém pode me dizer o que isso significa? — disse Severus de braços cruzados.

— Foi um presente papai, Harry ganhou um gato e eu um ovo metamorfo, olha só — disse mostrando o ovo que tinha em suas mãos aos seus pais.

— Presente de quem, meu amor? — perguntou James.

— Foi uma amiga, não se preocupe — o sorriso de Rose era gigantesco.

E foi só isso de resposta que eles tiveram. Sempre aconteciam coisas estranhas em volta de seus filhos e eles sempre não falavam muito. Era difícil arrancar qualquer coisa de algum deles, pareciam que combinavam para dar respostas esquivas. Respirando fundo, Severus resolveu jogar isso para o fundo de sua mente, tentando não pensar muito nisso, mesmo que ele pretendesse voltar nesse assunto futuramente. 

Tom estava animado com o pequeno ser no colo de Harry, brincando com ele usando um pedaço de barbante que usavam para prender o balão. Rose falava animada para uma Lily intrigada, analisando o ovo de todas as formas. 

Depois do café da manhã, seus amigos e familiares chegaram para um dia inteiro de comemoração regado a muitas guloseimas e brincadeiras. 




● ●




Era dezembro, a neve caía devagar pelo jardim. Por todo esse tempo, Rose não desgrudava de seu ovo, na esperança de que ele chocasse. Até mesmo no banho ela o colocava na água morna, esperando que isso ajudasse o ovo a chocar mais rápido. Mesmo assim, ela nunca perdia a esperança, sempre animada e positiva, sempre esperando. 

Era dia vinte e quatro de dezembro e todos estavam animados decorando a casa. Dessa vez, todos estavam na mansão Longbottom para comemorar o natal. As crianças estavam eufóricas por conta dos presentes, até mesmo Corvus estava animado, era sempre divertido passar o natal com todos.

Assim que amanheceu, Severus esperava os seus pestinhas, como carinhosamente apelidou seus filhos, correrem para o seu quarto para acordá-los. James, que ainda dormia, roncava baixinho, alheio ao que iria acontecer. Assim que Severus pensou nas crianças, eles entraram em seu quarto, como um furacão. Ao ver um dos seus papais acordado ficaram desapontados. Foi quando viram o seu papai James ainda em sono profundo. Sorrindo um para o outro, gritaram "Feliz Natal" bem alto, pulando na cama. James, que acordou assustado, olhou emburrado para seu marido que apenas riu de sua situação, chamando as crianças para abrir os presentes. 

Foi uma verdadeira loucura. Eram seis crianças em frenesi abrindo presentes e mais presentes. Rose estava segurando uma nova vassoura quando sentiu algo mexer no bolso do seu pijama. Animada, pegou o ovo que ela guardou em seu bolso e sorriu.

— Olhem, vai nascer! 

O passarinho parecia que lutava desesperadamente para sair de sua casca, para vir ao mundo. Passaram-se dois minutos de muita espera e expectativa até o pequeno passarinho nascer. Era um pardal. Um pequeno e fofo pardal. Ele já nasceu com penas e no tamanho de um adulto. Rose estava irradiando alegria. Finalmente seu bichinho tinha aparecido. Ela não se importava que fosse pequeno, só importava para ela que era seu companheiro. 

— Como é fofo! — disse Bellatrix — Já pensou em um nome para ele? 

Rose olhou para todos da sala e, ainda sorrindo, apenas disse.

— Eros, seu nome será Eros — disse olhando para o pequeno pardal.

Como se ele concordasse, apenas piou voando para seu ombro, bicando sua orelha de maneira carinhosa. Feliz, agora sim ela se sentia completa, com seu mais novo amigo ao seu lado.  




※ ※ ※




SÉTIMO ANO: CLAUSTROFOBIA




Era a época das flores. Várias estavam desabrochando em todo jardim, espalhando um cheiro maravilhoso. Na casa dos Longbottom, o cheiro era ainda mais forte. Sendo uma família que usava magia elemental da terra, em cada canto do lugar era cheio de vida. As crianças estavam fazendo um belo lanche no jardim, perto da primeira estufa, com El deitada perto de Harry e Eros acomodado entre os cabelos revoltos de Rose. Os pequenos estavam imersos em sua conversa sobre as suas estações favoritas.

— Eu prefiro o verão, sabe? Sentir aquele calor gostoso — Draco fechava os olhos como se sentisse o calor em sua pele. 

— Eu definitivamente odeio o calor. Todo aquele suor escorrendo pelo corpo — Rose fez uma cara de nojo.

— A melhor época de todas é o inverno — disse Tom.

— Claro que você gosta do inverno, é bem no seu aniversário, bobão — falou Rose que recebeu em troca Tom mostrando a língua para ela. 

— Dá para fazer guerra de bolas de neve — Draco apontou.

— Então, Rose,  qual a sua estação preferida? — perguntou Tom

— Eu prefiro a primavera — respondeu

— Previsível

— Eu também gosto da primavera, é quando o tempo fica gostoso e o cheiro das flores é muito bom — Draco disse comendo mais um pedaço de sanduíche.

— Eu gosto do outono — falou Harry

— Porque? — perguntou Tom

— Gosto das folhas caindo e também das cores. É menos quente também. 

— Outono é divertido brincar na montanha de folhas — Draco estava com a boca cheia de sanduíche.

— Você gosta de todas as estações, Draco — Neville deu uma risadinha. 

— Ainda é frio — Rose se abraçou como se estivesse tremendo

— E você, Neville? — perguntou Harry

— Inverno — disse envergonhado

— O que? — Rose, Draco e Harry disseram.

— Isso! Não estou sozinho — Tom ficou em pé na cadeira fazendo uma dança de vitória.

— Sério? — disse Rose.

— Chega gente, eu só gosto do silêncio que o inverno tem — disse Neville ainda envergonhado

— Sabia que eu não era o único — Tom dava pulinhos na cadeira.

— Certo, Tom, nós entendemos — Rose revirou os olhos.

Harry apenas sorriu. 

O resto da tarde passou assim, cheio de brincadeiras e sorrisos. Quando chegou a hora de ir para casa, não queriam se separar, o que levou a todos juntos em uma festa de pijama na mansão Malfoy.  Narcisa ficou de cabelo em pé correndo atrás dos cinco monstrinhos. Quando ela finalmente conseguiu os colocar deitados em seus colchões no quarto de Draco, se levantaram e fizeram uma guerra de travesseiros. Foi uma guerra feroz e cada um deles colocou o máximo de força e estratégia em seus golpes. O que se via era somente as penas voando por todo o quarto, como uma espécie de chuva. Cheio de penas por todo os lados, as crianças usaram a sua esperteza para  conseguir subornar Dobby com seus olhinhos de cachorrinho abandonado para conseguir doces. O ficou elfo feliz por deixar as crianças felizes e retornou com as guloseimas que foram imediatamente atacadas por todas elas, não sobrando nenhum. Suados e empanturrados, finalmente acabaram sendo abraçados pelo sono.

Na manhã seguinte, Draco bateu na porta do quarto da sua mãe com as mãos na barriga. Narcisa, ainda sonolenta, foi devagar ver quem seria na porta, ainda era muito cedo para os pequenos estarem acordados. Ao abrir, não teve tempo para mais nada, o jovem dragão vomitou em seus pés. Desesperada, chamou seu marido e pegou seu filho no colo, checando sua temperatura. Estava quente, muito quente, com febre. O casal ficou preocupado na hora, imerso ao desespero do seu amado filho estar doente. Os dois estavam acolhendo o menino quando ouviram barulhos e gemidos vindos do quarto de Draco. Ao olhar para dentro do cômodo, acharam o resto das crianças com dores de estômago, ainda cobertas de várias penas da guerra de travesseiros. Desesperados, tentaram fazer as crianças falarem o que tinha acontecido até Dobby aparecer e dizer o que as crianças fizeram. Se culpando por ter entregado os doces, o pequeno elfo doméstico se puniu batendo a cabeça na parede e só parou quando foi ordenado por um Lucius estressado e determinado a cuidar dos pequenos. Com uma chamada de flu, Severus foi para mansão com uma porção para a dor de estômago, que foi cuidada rapidamente. A febre do pequeno Draco foi rapidamente cuidada por Severus também.  Após a perturbação ocorrida pela manhã, todos ficaram de castigo por uma semana por desobedecer os adultos e enrolar um pobre elfo doméstico. As crianças ficaram tristes, mas, aceitaram sem reclamar, ainda fracas por conta da dor que sofreram.



● ● 



Verão, a mansão Longbottom estava recheada com todos os seus amigos para o aniversário do herdeiro. Há sete anos, Neville nasceu e, mesmo que seu aniversário seja um dia depois dos gêmeos Potter-Prince, decidiram  comemorar os aniversários separados. Os adultos  acreditavam que cada uma das crianças merecia um dia de destaque em seu próprio aniversário, ao invés de dividir. As crianças amavam por terem duas festas em dois dias. 

Naquele dia ensolarado e quente, as crianças resolveram brincar de esconde-esconde depois de terem parado um pouco com as brincadeiras para tomar um delicioso sorvete. Lily e Bellatrix dessa vez foram sorteadas para observar as crianças e ver se não aprontam mais do que o normal. Elas definitivamente eram pequenos monstrinhos em puro desenvolvimento, segundo Sirius. As crianças resolveram usar algumas chamadas "áreas proibidas" para brincar, aproveitando que suas tias Lily e Bellatrix, que deveriam estar prestando atenção nelas, estavam distraídas  uma com a outra. 

Harry era péssimo em esconde-esconde. Ele sempre não sabia onde se esconder, sempre era o primeiro a ser achado. Se escondia em lugares fáceis demais para os outros o encontrarem, ficando perdido sobre um lugar bom que poderia se esconder. Dessa vez, quem iria procurar seria Corvus. Ele contava rápido, o que exigia que os outros achassem esconderijos de maneira mais rápida também. Correndo, resolveu que uma das estufas seria um local perfeito para se esconder. A estufa cinco ficava na ponta extrema da mansão, por ser um lugar com mais sombras e por isso, abrigando plantas mais sensíveis à luz. Por dentro era bem escuro e abafado para conservar as propriedades das plantas. 

Harry parou em frente e considerou se deveria entrar ou não. O lugar era muito escuro passando uma aura assustadora e medonha. Ele não tinha muito tempo, Corvus já deveria estar procurando por ele, resolveu entrar na estufa. Era muito mais quente do que imaginava, por ser verão. Se lembrava de sua tia Alice dizer para ele que ali, por ser mais quente, vivia muitas plantas tropicais.  

Entrou na estufa devagar, na ponta dos pés, com medo de perturbar alguma planta. Começou a pensar em qual delas seria melhor para se esconder. Ele queria se esconder e ao mesmo tempo conseguir olhar para o lado de fora, para saber se ainda estava sendo procurado. Sorrindo, começou a procurar plantas grandes que poderiam fazer essa tarefa muito bem. Andando, achou vários tipos de plantas engraçadas. Ele achou uma que acreditava que seria uma carnívora, se afastando imediatamente dela, com medo. Perto do fim, achou uma perfeita. Ela parecia uma árvore e tinha outras plantas pequenas o suficiente para o esconder se ele se agachar. Ali, encolhido, sentado no chão, olhava para fora, como havia planejado, esperando alguém o procurar. Depois de um tempo, não sabia quanto havia passado, aquilo começou a deixá-lo entediado, o fazendo ficar aborrecido. 

Em meio aquelas plantas, olhou em volta mais uma vez, na intenção de se distrair. Estava tão alheio a sua volta que não percebeu uma planta cheia de tentáculos sorrateira, chegando cada vez mais perto dele. Só a percebeu quando ela agarrou seu tornozelo e o suspendeu no ar, o balançando como se fosse um pêndulo. Harry gritava desesperado. Ali, de cabeça para baixo, tinha medo de cair no chão e se machucar. Gritando por ajuda, via o chão para lá e para cá, o que o estava deixando enjoado. A planta que parecia que estava cansada de brincar com ele, o balançou uma última vez, o jogando para dentro de um grande armário de ferramentas, o trancando lá dentro. Harry estava com sorte, pois no armário havia sacos de adubo que amorteceu sua queda. Enojado por ter caído em cima do adubo, começou a se levantar olhando em volta. Estava tão escuro que não conseguia enxergar nada. Tateou todo o armário na esperança de achar a porta. Sentiu uma fisgada na mão e tinha certeza de que tinha se machucado. Ao achar a porta, tentou abri-la, a encontrando trancada. Desesperado, bateu na porta, esperando que alguém o ouvisse e abrisse para ele. Gritou tanto que ficou rouco. Quando nada funcionou, resolveu sentar nos sacos de adubo, tentando ver algum pedacinho de luz, o que não tinha. 

Não sabia novamente quanto tempo tinha se passado ali, mas sentiu uma coisa se agitar em seu peito. Começou a sentir seu coração acelerar rapidamente, como se ele quisesse sair do peito, sua respiração começou a ficar ofegante. Não sabia o que estava acontecendo, só sentia um medo terrível assombrar o sua mente. Sentia seu corpo começar a adormecer, o sentindo insensível, principalmente seus braços e pernas. Não sabia mais como respirar. Sua mente ficou embaçada, como se estivesse revivendo uma situação. Um armário escuro debaixo da escada, uma porta trancada, um Harry encolhido e assustado. Tudo isso invadia sua mente nublada pelo desespero. E se nunca mais fosse encontrado? Se acabasse morrendo ali? Nunca mais veria sua família? Seus amigos? Seria esse seu fim? Pensamentos horríveis passavam pela sua mente enquanto tentava respirar sem muito sucesso. Colocou a mão em seu peito, desejando que seu coração se acalmasse. O pensamento de que iria morrer inundava a sua mente. Era isso, era seu fim. Desejava ver sua família uma última vez e, como o Harry da sua mente dentro do armário, ele estaria sempre sozinho. 

Seu desespero tomava conta de seu ser quando ouviu um miado. O miado ficava cada vez mais alto e desesperado. Ouvia arranhões na porta, como se pedisse para abri-la. O miado ficava mais e mais desesperado até o som de passos serem ouvidos. Harry só conseguiu ouvir as vozes, sem conseguir distinguir o que elas diziam. Foi quando uma luz entrou naquele lugar, a porta se abriu. Ainda com a dor no peito e o medo, Harry se jogou na primeira pessoa que passou por aquela porta e abraçou forte, como se seu mundo dependesse daquele abraço. Era quente, confortável, amoroso, seguro. Ouvia a pessoa dizer alguma coisa, mas, não sabia distinguir o que era, só sabia que o deixava mais calmo a cada segundo. Ainda não respirava muito bem e ainda sentia a dor em seu peito, mas, se sentia melhor do que a poucos instantes atrás. 

Quando finalmente prestou atenção, ele estava agarrado em Tom e El estava em suas pernas, se esfregando nelas para passar conforto. Seu tio Remus estava junto dele, parecendo aliviado. Respirando melhor, ele ainda tremia, ainda experimentando o medo que vivenciou a pouco tempo. 

— Graças a Mãe Mágica que achamos você — disse um Tom preocupado — Estávamos te procurando a mais de uma hora.

— Eu… me desculpe — foi a única coisa que conseguiu dizer. 

— Ainda bem que você agora está seguro, filhote — Remus sorria ternamente.

— Vem, tio James e tio Severus estão morrendo de preocupação — agarrou a mão de um Harry ainda tremendo e o puxou com ele. 

Como se para demonstrar que ainda não tinha se recuperado, seus joelhos cederam ao dar o primeiro passo, o fazendo olhar para Tom perdido. O maior, acabou ajoelhado à sua frente, oferecendo suas costas.

— Vem, eu levo você.

— Tem certeza, filho? Você aguenta? — perguntou o pai preocupado.

— Sim, papai, não se preocupe — respondeu Tom decidido.

— Se é assim, só cuidado para vocês não se machucar. Vamos — e guiou o caminho de volta à mansão. 

Tom ainda esperava Harry subir em suas costas e ele não estava em condições de recusar. 

Chegando perto da mansão, Rose foi a primeira que os viu. Desesperada, correu até o irmão com olhos lacrimosos, tocando em seu no rosto para confirmar que ele estava ali. Seus pais deram muitos beijos além de um sermão, mas a alegria de estar com ele novamente era maior do que a raiva. Todos ficaram grudados nele, cuidando para que ele melhorasse logo, cuidando de seu ferimento na mão, sempre oferecendo qualquer coisa para ele enquanto El ficava em seu colo, ocasionalmente lambendo seu dono. Depois de comer um pouco de bolo, Harry se sentiu mais feliz do que antes e, por algum motivo, não conseguia se lembrar de nada que aconteceu enquanto estava ali, naquele armário. Ele sabia que nunca mais iria querer repetir a experiência, e agora tomaria mais cuidado para não ficar preso no que quer que fosse novamente. 

 

● ● 

 

Outono, a época em que as folhas mudam de cor e o frio começa a invadir devagar. Rose sentava tranquila no balanço que seu tio Sirius fez para os gêmeos, observando as folhas caindo das árvores do jardim. Eros estava aninhado em seus cabelos revoltos, extremamente confortável.

— Sabe, Eros, o outono também é bonito, mesmo que eu prefira a primavera. O Harry tem razão às vezes — olhava para as folhas da árvore onde o balanço se encontrava. 

— Só às vezes?

— Que susto! Quer me matar? — Rose deu um salto, com a mão no peito.

— Jamais faria isso com a minha pessoa favorita — deu uma risadinha olhando com carinho para sua irmã.

— Mentiroso, sua pessoa favorita é o Tom, todos sabem disso — Rose sorria para seu irmão.

— Nada disso — disse envergonhado — Ele é legal.

— Sei…

— Deixa eu balançar você — Harry mudou de assunto. 

Rose adorava atormentar seu amado irmão já que ele era muito quieto. Ver as reações dele era um dos seus passatempos favoritos.  

Ficaram assim, Harry balançando Rose enquanto ela sentia o vento frio bater em seu rosto. Era confortável para os dois naquele momento somente deles, era um momento gostoso.

Voltaram para casa pouco tempo depois, estavam com fome e sabiam que Tina, a elfo doméstico da família, iria providenciar algo bem gostoso para os dois. Seguidos por seus bichinhos, Harry logo colocou El em seus braços enquanto Eros ainda estava aninhado nos cabelos de Rose. 

Depois de seus lanches, resolveram fazer suas coisas individuais juntos. Rose quis pintar, amava fazer desenhos e depois pintá-los enquanto Harry resolveu escrever um pouco. Desde o início do ano, ele sentiu vontade de escrever histórias que sempre vinha em sua mente. Algumas vezes era com algo que ele sonhava, o fazendo querer colocar tudo isso no papel. Seu tio Remus deu um caderno com folhas sem fim para ele e, como ele começou a aprender a escrever com seus cinco anos, mesmo que devagar, ele colocava no papel o que imaginava.

 Era gostoso passar o seu tempo assim, dividindo o espaço, mesmo que fazendo coisas separadas. Rose prometeu que um dia faria um desenho de alguma história que seu irmão escrevera enquanto Harry prometeu escrever sobre algo que sua irmã desenhasse. Aproveitar seus momentos no outono era ótimo, mesmo sendo uma estação que as pessoas não sabiam apreciar, segundo Harry. 

Mais tarde naquele dia, seus padrinhos vieram visitar junto com Tom. Ele se juntou aos irmãos com um livro debaixo do braço. Os três ficaram assim: Rose pintava, Harry escrevia e Tom lia. E foi assim até a hora do jantar. 



● ● 



Inverno, época em que tudo morre. Onde a neve branca e pura preenche todos os espaços. Seis crianças estavam fazendo bonecos de neve, se dividindo em duplas. Harry estava junto de Tom, Rose ia com Corvus enquanto Draco estava com Neville. Todos tinham perto de si os acessórios necessários para completar os bonecos.

— Nosso boneco será o melhor — disse Rose com convicção.

— Nem vem, o nosso vai ser o melhor, certo Neville? — Draco estava orgulhoso do seu trabalho.

— Sim — Neville respondeu concentrado em seu boneco.

— Nem vem, vocês vão perder — ela dizia animada

— Cala a boca e faz o seu boneco — mandou Draco.

— O que disse?

— Disse para calar a bo- — e foi atingido por uma bola de neve. 

O que aconteceu ali foi uma confusão. Eram bolas de neve para todos os lados. Rose e Corvus faziam uma boa dupla, Neville e Draco não ficavam atrás. Nenhum deles queria ceder e admitir a derrota, mesmo que estivessem ficando cansados, molhados e com frio. Cinco minutos se passaram com os quatro ainda em guerra quando Bellatrix saiu para o jardim.

— Ei, monstrinhos, hora do lanche.

Os quatro pararam na hora, olhando para Bellatrix com interesse. Quando os quatro deram o primeiro passo para dentro da casa ouviram uma voz proclamar.

— Terminei! 

— Finalmente ficou pronto — Tom disse aliviado.

— Você é péssimo nessas coisas — Harry deu uma risadinha.

— Eu não sou péssimo — disse indignado cruzando os braços.

— Certo, diga o que faz você se sentir melhor — rumou em direção à casa. 

Os quatro ficaram chocados ao perceber que em meio a sua guerra esqueceram totalmente de Harry e de Tom. Ainda atordoados, entraram logo atrás da dupla que conversava animada sobre seu boneco de neve. 

Após se secarem, tomaram chocolate quente e assaram marshmallows na lareira. Conversaram sobre seus assuntos infantis e brincaram mais um pouco. 

A vida era boa para os pequenos e a felicidade habitava em sua grande e maravilhosa família. 








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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Estava pensando em colocar as historias que Harry escreve, o que acham?



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