Durante um longo trajeto da estrada, o silêncio pairou dentro do carro, porque era óbvio que os três estavam desconfortáveis com aquela situação. Afinal, Elena havia feito questão de que Kate fosse no banco do carona na frente com Damon, deixando Kate numa situação delicada porque não sabia se falava realmente sério ou se estava de alguma forma testando-os.

Kate decide por fim ligar o rádio para quebrar um pouco o silêncio, já que podia se ouvir a batida do coração de cada um. Porém, o rádio parecia não cooperar muito com ela, porque ou o canal estava fora de sintonia ou uma música melancólica soava. Ela estava impaciente e a princípio achava ser por conta do silêncio e do fato de não estar encontrando uma boa estação de rádio, mas por fim, percebe que estava ficando com fome.

—Alguém trouxe algum lanche?

—Damon, você por um acaso trouxe alguma bolsa de sangue? - Elena cerra os olhos, desconfiada por achar que a resposta seria ‘não’.

—Eu disse que iria ensiná-la a se controlar e é isso que eu vou fazer. - Ele apenas responde Elena e então se volta para Kate com um breve sorriso - Já estamos chegando no hotel que vamos dormir.

—Tem certeza que isso vai dar certo? - Kate parece cair na real sobre o que eles iriam fazer e começa a ficar apreensiva.

—Confia em mim.

—Na verdade, é melhor confiar em mim.- Elena interrompe, fazendo Kate abrir um sorriso espontâneo.

O hotel era pequeno de apenas dois andares, com alguns quartos por andar, quase intitulado como uma pousada de tão acolhedora e caseira com a lareira na recepção e quadros dos fundadores da empresa pendurados na parede atrás da recepcionista. A localização não era tão boa, levando em consideração que não havia muito comércio em volta, um pouco isolado do centro e era bem por isso que Damon havia escolhido aquele local, apenas por precaução.

—Que bom recebê-los aqui, o que seria pra vocês? - A ruiva atrás do computador os recebe com um largo sorriso, impressionantemente entusiasmada mesmo trabalhando madrugada a dentro.

—Um quarto com… - Damon dá uma checada na reação das garotas e acha melhor não pedir uma cama só como gostaria - três camas.

—Oh, achei que vocês… eram um trisal. - Ela brinca tentando ser engraçada, mas as garotas visivelmente ficam sem jeito. - Desculpem.

—Não exatamente. - Damon apenas diz, ouvindo suas palavras simplesmente saltarem pra fora de sua boca.

—Aqui está a chave, tenham uma boa noite. - Ela entrega a chave do quarto para Damon e ele aproveita para prender sua atenção, compelindo-a.

—Seria ótimo se você nos acompanhasse até lá. - Ele a compele, com um sorriso convincente, vendo-a assentir com a cabeça.

—Claro, eu mostro a vocês o caminho.

—Damon… - Kate sente suas veias saltarem no momento em que a garota passa por ela para mostrar o caminho, quando Elena é mais rápida e se coloca de frente para ela.

—Respira fundo. - Elena diz, focando seu olhar no dela para que se concentre em suas palavras - Você precisa aguentar até o quarto, pra não correr o risco de alguém te ver.

—Tudo bem… - Kate diz ofegante, respirando fundo até que suas veias desaparecem novamente. - Obrigada.

Eles entram juntos, deixando que a recepcionista mostre os móveis e fale um pouco sobre o cômodo, quando Damon a compele novamente e desta vez, para que ela não se mexa ou grite, enquanto Elena tranca a porta do quarto para prevenir alguma possível interrupção. Kate não consegue parar de fitar o pescoço da mulher e volta a sentir suas veias abaixo dos olhos saltarem, assim como seus dentes crescerem, quando ouve a voz de Damon vindo por trás dela, sussurrada em seu ouvido.

—Você só precisa de 10 segundos, é o suficiente pra gente começar.

—Lembre que ela é uma pessoa, com alma e possivelmente uma família. - Elena complementa com direcionamentos mais sensíveis e continua, ao receber um olhar curioso de Damon que se surpreende com sua intromissão. - O quê? Eu estou errada?

—10 segundos. - Damon volta a repetir.

—Se eu não parar…

—Eu estarei aqui. - Ele sussurra, encorajando-a.

No mesmo segundo, Kate se aproxima da garota ruiva e sem pensar em como faria aquilo, ela simplesmente se deixa levar por sua intuição e morde o pescoço pulsante com firmeza. Suas mãos se agarram no corpo da vítima para garantir que ela permaneceria imóvel enquanto sente o sangue saciar sua fome instantaneamente, inebriando seu corpo todo com uma estranha sensação de poder e satisfação e por isso nem se dá conta de quanto tempo estava alimentando-se.

—Kate… - Damon se aproxima sutilmente e toca seu ombro, para lembrá-la do combinado, mas ela ameaça avançar em Damon mostrando seus dentes e sua boca ensanguentada, voltando a morder a garota novamente. - Kate!

Damon então decide apelar para mais brutalidade ao ver que estava saindo do controle e a puxa pelo ombro com força para conseguir afastá-la da vítima por fim. Elena reage no mesmo segundo, pressionando Kate contra a parede, vendo que parte dela ainda estava disposta a avançar descontroladamente para o sangue.

—Kate, me ouve! - Elena chacoalha-a para chamar sua atenção e a olha determinada - Você não quer matar aquela mulher! Você já bebeu o suficiente! Perceba como seu corpo já está mais forte, você não precisa de mais.

Enquanto Kate volta a tentar controlar seus sentidos e seu corpo começa a se acalmar novamente, Damon compele a recepcionista uma última vez para que ela esquecesse tudo o que aconteceu e achasse que havia sido atacada por um animal nos fundos do prédio, liberando-a logo em seguida e voltando-se para as garotas. Por mais que a situação parecia controlada, seu orgulho falava mais alto, porque ele queria fazer do seu jeito e Elena estava atrapalhando algumas coisas.

—Eu ia fazer isso.

—Agora já está resolvido, de nada. - Elena responde, irônica, soltando Kate devagar ao vê-la recuperando seu autocontrole.

—Eu não achei que seria tão intenso… - Kate limpa sua boca na manga de seu casaco enquanto respira fundo e lentamente.

—Você foi muito bem, levando em consideração muitos vampiros de primeira viagem. - Elena dá um sorriso encorajador e lembrando de sua primeira vez se alimentando, ela desvia seu olhar, constrangida.

—O que acontece geralmente? - Kate fica curiosa, olhando a reação dos dois, que se entreolham um tanto receosos.

—Na maioria dos casos… - Damon começa a falar, tentando ser o mais breve possível - Acabam não tendo ajuda e matam pessoas. O que leva a um efeito dominó: arrependimento extremo, desligamento da humanidade, mais catástrofes,... 

—Que sutil. - Elena o repreende.

—Desligamento da humanidade?

—O que ele quis dizer, é que…

—Nós vampiros temos a possibilidade de desligar nossas emoções, mas… - Ele percebe o olhar incrédulo de Elena e então finaliza rapidamente ao perceber que não era um bom assunto no momento - não recomendo.

—De qualquer forma… - Elena se volta para Kate, pousando a mão em seu ombro - você foi muito bem hoje e amanhã será melhor ainda.