Guiding Light escrita por violet hood


Capítulo 2
Parte II: Albus


Notas iniciais do capítulo

Olá! Estou de volta para finalmente marcar uma fanfic do Pride como concluída!
Muito obrigada red e Shippersdunne pelos favoritos ♥ E mais um obrigada red por betar os surtos do nosso gaymer albus
Tenho muito para falar do fim de CILAW mas vou deixar para as notas finais, espero que gostem!



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Era muito difícil ser um Potter.

E era ainda mais difícil ser o irmão mais novo de James Sirius Potter.

Os dois não poderiam ser mais diferentes: enquanto James era um atleta desde pequeno, Albus sempre preferiu jogar jogos que não envolvessem esforço físico e, enquanto James havia passado todos os primos se tornando o mais alto, Albus nunca conseguiu sair de uma altura mediana. James vivia em festas, dava em cima das garotas que gostava e não ficava abalado quando levava um fora, era confiante o bastante para aceitar e seguir para próxima. Albus preferia o conforto da sua cadeira gamer e, diferente do irmão heterossexual, não achava fácil chegar em alguém que gostava, por isso preferia remoer os sentimentos dentro de si até que eles sumissem com o tempo.

Era claro que os dois não se pareciam nem um pouco. Qualquer um podia ver aquilo. Até mesmo os nomes eram bem diferentes — James nunca sofreu bullying por se chamar James, diferente de Albus, que nunca entendeu o motivo de seus pais acharem que Albus Severus seria um bom nome. James Sirius e Lily Luna poderiam não ser as combinações mais comuns de nomes compostos, mas pelo menos eram nomes aceitáveis.

Porém, apesar dessa longa lista de grandes diferentes, era comum que os dois fossem confundidos em situações como a entrega de correspondências. Quando Albus retirou uma caixa média e duas pequenas dos correios faculdade naquele dia, ele deveria ter parado para conferir o nome: afinal, só havia comprado duas coisas online e não três. Mas não era culpa dele se os funcionários pareciam achar que todos os Potters eram a mesma pessoa e sempre colocando objetos endereçados para “James Sirius Potter” nas coisas dele.

E foi só no meio do caminho de volta para o dormitório que a cabeça de Albus deu um estalo e, ele pensou que não fazia ideia do que era a caixa maior que segurava. Para sua defesa, era um pobre estudante cansado e havia acabado de sair de uma sessão de estudos na biblioteca.

Albus revirou os olhos quando leu o nome do irmão na embalagem. Sabia que se voltasse até os correios só iriam pedir para que ele entregasse para James, já que eram irmãos. A verdade era que eles estavam acostumados a ficar semanas sem se ver e, Albus não tinha planos para lidar com James naquela semana em especial.

Bufou irritado pegando o celular no bolso para ligar para o irmão, torcendo para que ele estivesse próximo de onde Albus estava.

— Oi — ouviu a voz de James do outro lado da linha.

— Colocaram um pacote seu nas minhas coisas e eu levei, ‘to perto dos correios ainda — explicou, sem enrolação. — Você ‘tá por perto? Posso levar pro meu dormitório e depois você vem pegar.

— Eu ‘to indo para o vestiário aqui na quadra, mas fácil você vir aqui.

Albus soltou um muxoxo descontente. Última coisa que queria era ir até a quadra e correr o risco de encontrar com Anthony Zabini, o garoto que ele gostava desde a primeira vez que o viu, quando foi buscar Roxanne depois da aula dela, para um dos ensaios da banda. Esperava que o tempo fosse ajudar Albus a superar esses sentimentos, mas mesmo depois de meses, ainda gostava demais de Anthony Zabini.

— Depois você passa lá na Sonserina — insistiu.

James bufou, estressado. Pela sua voz parecia estar cansado por conta do treino.

— Vem logo, Al. Sonserina é do outro lado — disse. — E não tem ninguém aqui, todo mundo já foi.

Albus aceitou a derrota, contanto que não encontrasse Anthony, não ligava de ir até onde o irmão estava.

Ligou mais uma vez quando chegou, mas James não atendeu. Deduziu que ele ainda estava no banho. E como não havia mais ninguém ali, não viu problema em entrar no vestiário. Poderia deixar a caixa em um dos bancos e sair.

— James? — chamou assim que entrou na sala mal iluminada e cheia de armários vermelhos.

Caminhou um pouco vendo que o lugar estava mesmo vazio, só para ter certeza de que James ainda estava no banho.

Parou em um dos corredores de armários ao ver uma pessoa que com certeza não era seu irmão.

Anthony Zabini estava parado olhando para ele, segurando uma cueca branca e completamente nu.

Albus foi tão pego de surpresa que a única coisa que conseguiu fazer foi olhar para Anthony. E se controlou muito para que seu olhar não descesse, ou reparar demais no abdômen trincado dele. Agora os sonhos que tinha com o Zabini seriam bem mais detalhados.

Até Anthony parecia estar chocado demais para vestir a cueca. Albus sentia que seu rosto estava incrivelmente vermelho.

E pela primeira vez na vida, agradeceu a existência de James.

O irmão apareceu com a toalha enrolada na cintura, sem notar o clima tenso do ambiente.

— Albus que demora para chegar — disse indo até ele e tirando a caixa de suas mãos. James analisou a etiqueta e exclamou animado: — Estava um tempão esperando por essa encomenda!

Tudo que Albus queria era sair do vestiário o mais rápido possível. E Anhtony ainda não havia colocado a maldita cueca.

Estava prestes a falar tchau para o irmão, quando o mesmo olhou para o colega de time.

— Zabini, coloque uma roupa, vai deixar meu pobre irmãozinho constrangido — ordenou em um tom de brincadeira.

Albus já estava muito mais que constrangido, nem ao menos sabia se existia uma palavra que pudesse mostrar o que ele estava sentindo.

Pelo menos, a fala de James pareceu tirar Anthony do estado de choque. E ele começou a vestir as roupas tão rápido que era impossível de acompanhar.

Albus pigarreou, tentando ter certeza de que ainda era capaz de falar.

— Já vou, então — disse se segurando para não olhar Anthony mais uma vez antes de virar.

Ouviu James gritar um “até mais” enquanto saía do vestiário.

Albus se apoiou na porta e respirou fundo.

Seu irmão havia dito claramente que todos do time tinham ido embora.

Naquele dia decidiu que nunca mais confiaria em uma palavra de James.

A caminhada até o dormitório da Sonserina pareceu mais longa do que nunca e, quando finalmente chegou no seu quarto não conseguiu fazer outra coisa que não fosse largar suas coisas no chão e se jogar na cama.

Mal conseguia olhar na cara de Anthony normalmente, como conseguiria olhar agora?

Parecia que James Sirius Potter havia nascido com o propósito de arruinar a sua vida. Sim, James era o mais velho, mas sabia que a existência dele era um plano maligno para que Albus não pudesse ser feliz nem mesmo no seu primeiro dia de vida.

Não sabia como seus pais nunca tinham notado a verdadeira face do filho mais velho, foi James que o deixou cair da cama quando era bebê. E foi James também que roubava os doces dele quando ele nem ao menos sabia falar. Não, Albus não se recordava desse momento, mas o seus pais amavam contar essas histórias rindo. Ele nunca entendeu a piada.

E graças a James nunca mais poderia olhar para Anthony Zabini, nem mesmo de longe, sem se lembrar do que viu no vestiário.

Albus se levantou da cama. Não podia descontar sua raiva no irmão, mas podia tentar se distrair com uma partida de videogame.

Enviou uma mensagem para Scorpius perguntando se ele queria jogar Valorant com ele. Ficou com um pouco menos de raiva quando Scorpius concordou na mesma hora.

Desde que o melhor amigo começou a namorar sua prima, Albus passava cada vez menos tempo livre com ele. Normalmente não tinha problemas com isso, mas agora precisava de uma distração.

Depois que o namoro de Scorpius e Rose foi oficializado, eles nunca o faziam sentir excluído. Rose também era sua prima mais próxima e, ele gostava de poder passar tempo com os dois juntos. Muito melhor do que antes, quando tinha que dividir seu tempo, porque Rose dizia odiar Scorpius e, Scorpius não conseguia ficar um segundo no mesmo ambiente da garota que gostava.

Ironicamente, agora eles estavam namorando e Albus havia herdado a reação de Scorpius de não saber como agir perto da pessoa que gostava.

Então, achou que o videogame seria a solução para todos os seus problemas e, normalmente era. Mas, aparentemente, não funcionava quando se tratava de tirar Anthony Zabini da sua cabeça, principalmente depois do vestiário.

Scorpius logo comentou pelo fone de ouvido:

— Cara, desde quando você é tão ruim?

Albus soltou uma risada sem humor.

— Achei que pudesse jogar até esquecer algo que aconteceu hoje — disse soltando um longo suspiro cansado, enquanto apertava as teclas do teclado. — Mas parece que não está adiantando muito.

— O que aconteceu? — perguntou o amigo, ainda focado no jogo. Albus sabia que ele não estava realmente curioso, só sendo educado.

Respirou fundo. Ao mesmo tempo que queria contar para Scorpius, também estava com vergonha demais. Pelo menos não estavam no mesmo aposento, e Albus não precisava ver a reação do amigo enquanto contava sobre sua tarde desastrosa.

— Tive que entregar uma encomenda para James, e ele disse que estava sozinho no vestiário — começou, distraindo-se do jogo e soltando um xingamento em voz baixa, enquanto via tudo dar errado. Não sabia o quando Scorpius prestava atenção na partida e na conversa deles, mas continuou: — Mas ele não estava sozinho, e quando entrei encontrei Anthony Zabini. Pelado.

Uma voz, que não pertencia ao amigo, exclamou:

— O quê?!

— Rose está aí? — perguntou. Não estava nos planos dele contar para Rose, até porque ela era muito mais expressiva que Scorpius, porém já era tarde demais.

— Sim, estou aqui — respondeu como se fosse obvio. — Como assim você viu garoto que você gosta pelado?

Albus logo se defendeu:

— Eu não olhei! — retrucou, e abaixou a voz para acrescentar: — Tudo.

Conseguiu ouvir uma risada baixa de Scorpius pelo fone, que não parecia querer fazer nenhum comentário sobre o assunto, nem mesmo para tentar salvá-lo do interrogatório de Rose. Às vezes Albus se arrependia de ter feito Scorpius aceitar o namoro falso, deveria ter deixado o amigo sofrendo pela garota pelo resto da vida. Assim como ele.

Rose soltou um gritinho, animada com a informação nova.

— Não acredito nisso!

Albus apertou as teclas do teclado com mais força.

— Nem eu! Tudo culpa do James.

— Como você vai encarar o Anthony de novo? — perguntou Rose. Albus não se deixou enganar pelo tom de preocupação na sua voz, sabia que ela estava se divertindo com a tristeza dele.

Antes que pudesse responder, Scorpius disse:

— Não é como se ele encarasse antes — comentou fazendo com que a namorada soltasse uma risada alta.

Albus queria arrancar os fones de ouvido. Era difícil encontrar amigos que levassem seu sofrimento a sério hoje em dia.

— Acho que já ‘tá bom de videogame por hoje... — comentou fazendo drama.

— Não! — gritou Rose. Albus fez uma careta sentindo seus ouvidos doerem. — Desculpa Al, mas não tem como não rir da sua situação.

Ele revirou os olhos.

— Você é a pior prima do mundo — disse e logo acrescentou: — E Scorpius é o pior amigo.

Scorpius riu em resposta, mas não retrucou. Ele era um homem de pouquíssimas palavras. Rose, felizmente, podia falar o bastante para os dois:

— Aposto que foi tão constrangedor para ele quanto foi para você.

Albus revirou os olhos.

— Ajudou muito — disse irônico.

— O que eu estou tentando dizer — continuou ignorando o comentário dele. — É que ele também não vai querer falar do assunto. E se vocês um dia conversarem, podem fingir que nada aconteceu.

Ele não gostava muito do tom de deboche de Rose ao dizer “um dia”, mas sabia que ela estava certa. Albus tentaria fazer o máximo para esquecer do seu constrangimento, e torceria para que Anthony fizesse o mesmo.

***

Os ensaios da banda sempre o animavam. A música sempre foi o maior hobby de Albus, escrevia as próprias letras desde pequeno, mesmo sem ter coragem de cantá-las para o público. Covers eram divertidos e muito menos aterrorizantes, já que não estava cantando sobre algo pessoal para diversas pessoas. O festival foi sua primeira e única exceção, não sabia muito bem o que havia passado pela cabeça dele quando mostrou a música para o Cloud Code, mas sabia que não faria aquilo de novo.

Gostava muito dos companheiros de banda, porém não gostava de se sentir tão exposto.

Naquele dia, notou que estava um pouco menos focado que o normal. Quase uma semana desde a última vez que viu Anthony e, seus dedos coçavam para compor uma música nova. Contudo, Albus tentava ao máximo lutar contra aquela vontade, já havia composto uma música pensando em Anthony, e eles nunca nem haviam conversado direito.

Assim que terminaram de ensaiar Helena do My Chemical Romance, o baterista, Ronan Thomas-Finnigan, comentou:

— Ei Albus — chamou fazendo com que o vocalista olhasse para trás. — Aconteceu alguma coisa? Você ‘tá meio desligado hoje.

Lorcan Scamander, concordou atrás do teclado.

— A sua energia não ‘tá fluindo bem — disse. Lorcan gostava muito de falar sobre energia, astrologia e outras coisas que Albus nunca entenderia.

— Foi mal gente. Estava um pouco distraído, pensando em um trabalho — mentiu, mostrando um sorriso para tranquilizar os amigos.

Noah Jordan assentiu.

— É isso que dá fazer engenharia — disse e todos concordaram. — Quer passar outra música? A gente pode encerrar por aqui hoje.

— Vamos passar outra — respondeu. — Vou só pegar mais água.

Albus pegou sua garrafa de água e saiu. O bebedouro ficava perto da entrada do na sala de música.

Já havia anoitecido, Cloud Code não eram os únicos a usar a sala, é claro, mas só eles começavam a praticar perto do fim da tarde. Era o melhor horário, visto que, todos da banda faziam cursos diferentes em Hogwarts.

Não pode deixar de notar que sua prima, Roxanne, não tinha comentado nada sobre Albus não estar muito focado no ensaio. Roxy sempre era a primeira a comentar qualquer assunto.

Não foi uma surpresa para Albus, quando a prima o seguiu até o bebedouro.

— Então, o que rolou? — perguntou se apoiando na parede.

Albus não se deu o trabalho de olhar para ela e, focou em encher a garrafa.

— Já disse — insistiu. — É coisa da faculdade.

— Albus você não me engana, a gente tem o mesmo sangue.

Terminou de encher a garrafa e olhou para a prima que estava com os braços cruzados, e um olhar determinado.

— Não é possível que você conheça todos os nossos primos o bastante para sempre saber o que está na cabeça deles — retrucou teimoso.

A última coisa que queria era admitir para Roxanne que gostava de Anthony. Principalmente porque sabia que os dois eram amigos, ou talvez até mais do que isso. Albus não gostava de pensar naquela possibilidade.

Infelizmente, Roxanne não desistiu.

— Mas eu conheço você bem o bastante.

Talvez ela não fosse tão próxima de Albus como Rose era, mas era impossível não se sentir próximo a alguém depois de passar tantas horas tocando na mesma banda. Além disso, os dois haviam aprendido a tocar instrumentos juntos, quando ainda eram crianças.

Mas Albus não daria o braço a torcer tão fácil.

— Não é nada demais, juro.

Roxanne não acreditava nas palavras dele.

— Tem alguém mexendo com você de novo? — perguntou preocupada. Descruzando os braços nervosa com o que poderia estar acontecendo com o primo. — Você tem que contar para gente.

Albus sorriu fraco, para tranquilizá-la. Não imaginou que ela iria pensar naquela possibilidade, às vezes Albus sentia que já haviam se passado mais de dez anos desde o ensino médio e às vezes parecia que tudo tinha acontecido ontem. Fazia tempo que Albus não se recordava do passado. Então notou que não pensava muito sobre isso quando sua cabeça estava ocupada pensando em Anthony.

— Não é nada disso — insistiu. — É algo bobo, não é nada demais. E vai passar.

— Tudo bem — disse Roxy, por fim, suspirando aliviada, enquanto colocava o braço em volta dos ombros dele. Não parecia mais que ela iria comentar mais sobre o assunto. — Vamos ensaiar essa última música então, preciso logo deitar na minha cama e dormir.

***

Assim que o ensaio acabou, Albus guardou sua guitarra na case e se despediu dos amigos.

Estava saindo da sala quando Roxanne gritou:

— Espera! Vou com você.

Eles deram menos de dez passos para fora quando Albus se viu mais uma vez cara a cara com Anthony Zabini. Dessa vez, completamente vestido.

Anthony também parecia surpreso em vê-lo. Albus não sabia o que ele fazia tão longe do dormitório a essa hora, mas logo se lembrou da prima.

Talvez, Anthony estivesse ali para encontrar Roxanne. Ele provavelmente estava ali para acompanhá-la até em o dormitório da Grifinória.

Albus lembrou que Scorpius sempre fazia isso por Rose, mesmo que seus dormitórios fossem de lados opostos. Sentiu seu estômago embrulhar ao perceber que Roxy estava mesmo namorando Anthony.

E ele se sentia ainda mais patético por gostar da mesma pessoa que sua prima gostava.

— Anthony! — exclamou Roxy surpresa. — Não achei que viria.

— Você disse que era ur-

Roxanne não deixou que ele terminasse. Colocou a mão na testa como se tivesse acabado de lembrar algo:

— Não acredito que esqueci!

Os dois a encaram confusa. O baixo estava no seu ombro, Albus não poderia imaginar o que mais pela poderia ter esquecido.

— Esqueceu o quê? — perguntou.

— Esqueci aquela coisa — disse parecendo estar preocupada. — Você sabe... aquela coisa.

Albus não sabia que coisa que era.

Roxanne não parecia se importar com isso.

— É melhor eu voltar para pegar — concluiu. — Vocês dois podem ir juntos, moram no mesmo dormitório.

Ela saiu correndo de volta para a sala do clube, antes que algum deles pudesse dizer algo.

Não bastava sua prima estar namorando Anthony, ainda teria que caminhar uma longa distância ao lado dele.

Aquilo não poderia ficar mais desconfortável.

Não tendo outra escolha, Albus e Anthony caminharam juntos até o prédio da Sonserina. Albus imaginou que não seria muito diferente da última vez que voltaram lado a lado do festival. Seria um silêncio constrangedor pela maior parte do tempo.

Estava enganado.  Anthony parecia determinado a conversar com ele, o que só o fez temer até que ponto aquela conversa poderia chegar.

Primeiro, começou tentando se explicar que Roxanne havia dito que era uma emergência e insistiu para que ele fosse até lá. Albus não sabia por que ele estava se explicando, namorava Roxanne e não tinha motivo para se explicar para outra pessoa.

Anthony perguntou sobre o ensaio. E Albus apenas respondeu com “sim” e acenos tímidos da cabeça, informou as músicas que ensaiaram quando Anthony perguntou, mas o outro não parecia conhecê-las.

— E a música do festival? — perguntou.

Albus ficou surpreso que ele ainda se lembrava dela, sem mesmo saber que ele a havia composto pensando em Anthony.

Tentou parecer indiferente.

— Não estamos mais ensaiando essa — explicou. — Foi só para o festival.

Anthony parecia estar decepcionado.

— E ela tem nome? — Fez outra pergunta e, depois que Albus o encarou confuso ele acrescentou: — A música. Você não disse o nome no festival.

Albus não tinha notado isso no dia, estava ainda mais surpreso que Anthony tinha. Ele deixou aqueles pensamentos de lado, notando que havia ficado muito tempo em silêncio.

Bloom.

Bloom — repetiu pensativo. — Gostei.

Era um sentimento estranho ver a pessoa que o inspirou na música comentando sobre ela. Quase como se o segredo de Albus estivesse sendo exposto.

Quando Anthony perguntou para Albus sobre a música no caminho de volta depois do festival, Albus pensou apenas como um gesto educado, provavelmente qualquer um perguntaria. Mas havia se passado tanto tempo, e ele não conseguia imaginar que alguém ainda poderia pensar naquela música tanto quanto ele.

Será que Anthony conseguia sentir que Albus a compôs pensando nele? Não era possível, eles não eram próximos o suficiente para que Anthony considerasse aquilo.

— Albus, tem algo que eu queria de perguntar — chamou, deixando Albus ainda mais nervoso.

Tentou acompanhar os passos de Anthony, que eram mais rápidos que os seus, e com muito esforço conseguiu. Seu coração parecia que ia sair para fora do corpo, e qualquer ação parecia difícil de realizar. O que Anthony poderia perguntar para ele?

E outro garoto encarou o silêncio de Albus como sinal verde para continuar:

— Eu gostei muito da música. — Os passos de Anthony ficaram mais lentos, e Albus agradeceu mentalmente por isso.  — Queria saber... se você se importaria de cantá-la mais uma vez?

Anthony não o encarava, parecia estar nervoso.

Albus, com certeza, não esperava por essa. E demorou alguns segundos para que ele percebesse que precisava dar uma resposta.

— Claro. — Coçou a cabeça, constrangido. — Você pode falar com a Roxy e aparecer no próximo ensaio...

— Não! — interrompeu Anthony, fazendo com que Albus tomasse um susto. — Quero dizer... — começou sem graça. — Queria que você tocasse para mim. Só nós dois.

Albus parou de andar na mesma hora, e Anthony logo em seguida.

— O quê? — perguntou, tendo certeza de que estava escutando tudo errado.

Anthony parecia arrependido, e talvez prestes a sair correndo. Mas respirou fundo e encarou Albus antes de responder:

— Queria ouvir você cantando de novo, mas sem o resto da banda — explicou, e logo acrescentou: — Desculpa se isso foi estranho, você pode recusar se quiser, foi um pedido bobo.

— Tudo bem — respondeu Albus sem pensar, sentia estar dentro de um dos seus sonhos. Não sabia por que isso estava acontecendo, mas nunca conseguiria recusar um pedido de Anthony.

Anthony arregalou os olhos, incrédulo.

— Tudo bem?

Albus concordou com a cabeça. O sorriso que Anthony colocou no rosto logo em seguida, fez com que Albus tivesse certeza de que havia feito a escolha certa.

— Pode ser amanhã às 17h? Na sala de música.

Mais uma vez Albus apenas concordou, sem conseguir dizer uma palavra.

Anthony parecia muito feliz, o que era bom.

Porém, não tinha ideia do que estava acontecendo. Primeiro, ele viu Anthony pelado e agora ficaria preso com o garoto que gostava em uma sala cantando a música que havia composto pensando nele?

Seu coração batia tão rápido que Albus não sabia se estaria vivo até amanhã às 17h.

A primeira coisa que fez quando entrou em seu quarto foi ligar para Rose.

— Scorpius ‘tá aí? — perguntou assim que ela atendeu.

— Não, ‘to no meu quarto — respondeu indiferente, provavelmente estava estudando quando Albus ligou. — Por quê? Quer falar com ele?

— Não, queria falar com você mesmo.

Albus percebeu que Scorpius era péssimo para dar conselhos, ou escutar desespero dele. E se estivesse com Rose, apenas iria rir da cara de Albus.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Rose preocupada, agora mais focada na conversa.

Albus estava prestes a falar quando outra voz surgiu do outro lado da linha:

— Oi Albus! — Reconheceu a voz da colega de quarto da Rose, Jia Chang, na mesma hora.

— Você nunca está sozinha? — questionou a prima.

— É algo que a Jia não pode saber?

— Ei! — protestou Jia. — Eu sei tudo que a Rose sabe, pode contar.

Albus pensou que ela não sabia sobre Anthony. Ou será que sabia?

— Você contou para ela? — perguntou Albus nervoso para Rose.

— Contei o quê?

— Eu quero saber! — exigiu Jia. — Agora vai ter que contar!

Albus revirou os olhos, ele não teria como sair dessa. Talvez, fosse mais fácil se Rose já tivesse contado.

— É que eu gosto de alguém... — começou.

— Quem? — interrompeu Jia, animada com a fofoca.

Rose respondeu antes dele:

— Anthony Zabini.

Jia ficou em silêncio e Albus entendia por quê. Provavelmente estava encarando Rose e pensando “Anthony não está namorando Roxanne?”, e Albus não queria entrar em uma conversa para discutir a possibilidade do cara que ele gosta estar saindo com uma de suas primas. Então, logo começou a contar o que havia acontecido:

— Hoje, depois do ensaio, o Anthony apareceu e pediu para que eu cantasse a música original que cantei no festival.

— Ele quer ver o ensaio da banda? — perguntou Rose. — Deve ter gostado mesmo da sua música.

— Não exatamente o ensaio da banda — corrigiu. — Ele quer que eu cante sem a banda. Só eu e ele.

As meninas ficaram em silêncio por um tempo, processando a informação. Rose foi a primeira a falar:

— Tipo um encontro? — questionou sugestivamente. Albus sentiu suas bochechas esquentarem. — Al, isso não é bom?

Albus ainda não sabia o que sentia. Ele havia gostado, e muito, de ver o sorriso no rosto de Anthony quando ele aceitou. Mas, talvez, o Zabini só tivesse gostada muito mesmo da música dela. Além disso tinha Roxanne. Nunca iria querer magoar a prima, não importava o quanto o sorriso de Anthony Zabini era bonito.

— Mas a Roxy... — começou soltando um longo suspiro.

— Olha, Albus — interrompeu Rose. — Talvez eles sejam só amigos. Roxy sempre negou quando alguém dizia que eles estavam namorando, ela não teria razão para esconder esse namoro.

Rose estava certa, mas aquilo também não descartava totalmente a possibilidade de eles estarem namorando. Além disso...

— Ele é hétero — retrucou Albus.

Dessa vez foi Jia quem respondeu, depois de soltar uma risada.

— Nada mais heterossexual do que chamar um homem para cantar uma música romântica no seu ouvido...

Rose também riu e Albus quis desligar o telefone na cara das duas. Às vezes era como se seus amigos não o levassem a sério.

— Eu não vou cantar no ouvido dele — protestou. — Manteremos uma distância segura dentro da sala de música.

As meninas riram de novo. E antes que ele pudesse mesmo finalizar a ligação, Rose disse:

— Não se preocupe demais com isso. Você precisa ter um pouco mais de confiança em si mesmo, Anthony pode muito bem gostar de você de volta.

Albus duvidava daquilo. Mas aceitou o conselho da prima.

Dormiu muito mal naquela noite, seu coração estava acelerado e suas mão tremiam só de pensar no suposto “encontro” com Anthony Zabini. Como conseguiria tocar o violão se não parava de tremer?

Chegou na sala de música vinte minutos antes. Andou de um lado para o outro nervoso, depois arrumou todas as coisas da sala, ainda nervoso. E, por fim, colocou duas cadeiras — em uma distância segura — no meio da sala, sentou-se em uma delas com o violão no colo.

O melhor que poderia fazer era ficar parado até que Anthony chegasse. O que será que aconteceria? Ele tocaria a música e Anthony falaria “que legal, cara. Até mais!” e fim da história?

Ou ele faria perguntas sobre a música, e Albus surtaria por não saber o que responder.

Estava tão distraído com seus próprios pensamentos que não notou quando Anthony entrou pela porta.

Ele pigarreou fazendo com que Albus tomasse um susto e quase se desequilibrasse na cadeira, por pouco não caiu no chão junto com seu violão. Aquele teria sido uma ótima maneira de começar o “encontro” deles.

— Oi — cumprimentou Anthony sem graça, ele apontou para a porta. — A porta estava aberta então só entrei, não vi que você já estava aqui.

Albus ainda estava pensando no desastre que quase havia acontecido. Então, o máximo que conseguiu fazer foi concordar com a cabeça em resposta.

Os dois ficaram em um silêncio desconfortável por um tempo. E Albus pensou que deveria falar alguma coisa, mas parecia que todas as palavras haviam sumido da sua mente.

Por sorte, Anthony pareceu notar a outra cadeira perto de Albus e se sentou nela.

— Isso deve ser desconfortável para você — começou ele. — Se quiser eu posso ir embora, não precisa cantar.

— Não, ‘tá tudo bem! — exclamou rápido. Ainda não saberia se conseguiria cantar bem na frente de Anthony, mas já havia prometido fazer. — Nós já tivemos em uma situação mais desconfortável que essa.

Disse para tentar quebrar o gelo. Contudo, no mesmo segundo se arrependeu. Albus não planejava nunca falar sobre o que havia acontecido no vestiário e, torcia para que Anthony não comentasse também. Porém, agora, sem pensar direito, havia trazido o assunto à tona.

Sentiu suas bochechas corarem. E Anthony desviou o olhar, parecendo estar igualmente constrangido. Albus queria dar um tapa no próprio rosto, mas fazer aquilo na frente de Anthony só deixaria a situação ainda pior.

— Sobre o que aconteceu no vestiário... — começou, vendo que não teria outra escolha a não ser falar diretamente sobre. — Eu não quis...

— Tudo bem — interrompeu Anthony, com um sorriso envergonhado no rosto. Ele voltou a olhar para o rosto de Albus: — É normal os caras ficarem sem roupa no vestiário, não é nada demais. Só fiquei surpreso, porque não sabia que teria outra pessoa ali além do James.

Albus fez o melhor para sorrir de volta, sem muito sucesso. Anthony não ligava que ele havia o visto pelado, ele não era diferente dos outros caras do time de futebol. Não queria que Anthony ficasse mal por Albus tê-lo visto sem roupa, mas doía saber que ele não era diferente dos outros.

Rose e Jia com certeza estavam erradas sobre isso ser um encontro.

— Me desculpa de qualquer maneira — disse, por fim. — James disse que estava sozinho.

— Ele provavelmente disse isso para você não ficar constrangido e levar a encomenda dele até ele. — Anthony soltou uma risada.

Albus não tinha parado para pensar nisso. Adicionou aquilo como item na sua lista mental de motivos para matar James Sirius Potter.

Lembrou, também, que Anthony estava ali para escutar a música e não para conversar com ele.

Albus ajustou o violão no seu colo.

— Vou começar a cantar, então — anunciou. — Você deve ter outras coisas para fazer depois daqui.

Não esperou pela resposta. Aproveitou o pequeno impulso de coragem que sentiu para iniciar a música.

A sensação de cantar algo que compôs para a pessoa que gostava na frente dela, era algo que Albus nunca esperou sentir. Não conseguia nem ao menos encarar Anthony, seria muito constrangedor se fizesse.

Ele gostava de Bloom, orgulhava-se de ter escrito aquela letra. Mas ainda temia que Anthony perguntasse mais sobre ela, ou que naquele momento enquanto cantava, Anthony pensasse que talvez a música tivesse sido escrita para ele.

Albus não fazia ideia o quanto “na cara” ele deixava que gostava de alguém. Esperava, ou melhor, torcia que não fosse fácil de notar.

Mesmo com Anthony presente, cantar foi mais fácil do que ele pensou. Talvez, porque Albus ficava levemente mais confiante do que o normal quando começava a tocar. Assim que a música acabou ainda teve coragem de levantar o rosto, olhando diretamente para a pessoa na sua frente.

Anthony encarava Albus de uma maneira que ele não conseguia bem descrever. Parecia que os pensamentos dele haviam viajado para outro lugar, enquanto ouvia a música, e ele tinha um leve sorriso contente no rosto.

Albus pensou que ele deveria gostar mesmo de Bloom. Sentiu-se orgulho enquanto pensava nisso.

Demorou um pouco para que Anthony falasse.

— Obrigado — agradeceu, com sorriso ainda maior. — Eu gostei muito da música.

Albus sorriu de volta, sem saber muito bem o que deveria dizer. Aquela provavelmente era hora que eles se despediam e nunca mais falariam sobre isso novo.

Porém, antes que pudesse falar, Anthony continuou:

— Na verdade, acho que essa não é a primeira música sua que eu escuto — admitiu envergonhado. Albus o encarou confuso, e ele continuou: — Eu ouvi você cantar aqui uma vez. Estava esperando por Celeste, que combinou de me encontrar aqui.

Como Albus não disse nada, Anthony continuou se explicando:

— Eu não sei cantar, mas a letra era algo como “I can't get you off my mind, I can't get you off in general”.

Albus deveria estar extremamente vermelho agora. De todas as músicas que ela já havia composto, Anthony tinha escutado logo aquela.

— Eu não sabia que você tinha escutado — disse em voz baixa, encarando o chão.

— Desculpa — disse Anthony rapidamente. — Eu não escutei de propósito, não sabia...

— Eu sei — interrompeu Albus, envergonhado. — É que eu nunca mostrei aquela para ninguém, é meio pessoal.

Não que as outras não fossem. Mas Albus havia escrito aquela música no pior momento da sua vida e, às vezes a odiava tanto quanto a amava.

— É uma música linda — comentou Anthony, tentando melhorar o clima. — Talvez um dia você possa tocar de novo. Se você se sentir confortável, é claro.

— O nome é Boyish — contou, sem saber por que havia contado.

Anthony sorriu e Albus sentiu seu coração bater mais rápido.

— Depois que eu escutei você cantando, não consegui mais parar de pensar na música.

Albus não sabia o que fazer com aquela informação. Anthony Zabini pensava nele, ou melhor, na música dele por tanto tempo assim? Como aquilo era possível?

— Eu posso cantar de novo — disse sem pensar.

Albus não mostrou aquela música nem mesmo para sua antiga psicóloga. Por que sentia tanta vontade de mostrar para Anthony? Justo a música que mostrava o seu lado mais frágil.

Contudo, todas as suas dúvidas deixaram de existir quando o sorriso de Anthony ficou ainda maior.

— Eu adoraria escutar.

Albus respirou fundo. E tocou pela primeira vez Boyish na frente de alguém.

Assim que terminou, precisou de mais alguns segundos para poder levantar o rosto.

— Eu gostei ainda mais agora — admitiu Anthony quando Albus, finalmente, o encarou. — Você é incrível, Albus.

— O-obrigado — gaguejou sem saber como responder ao elogio. — É uma música antiga.

— Ela é triste — comentou Anthony. — É triste pensar que você teve que se sentir desse jeito para escrever a música.

Albus não sabia o que havia tomado conta dele para dizer o que disse a seguir:

— Eu meio que namorei um cara no ensino médio, mas não é muito legal ser gay no ensino médio — contou soltando uma risada sem humor. — E ele era amigo do James, do tipo de futebol, e saía com muitas garotas mesmo quando estava saindo escondido comigo. Eu fingia não me importar, mas...

Albus deixou que as palavras morressem. Não sabia por que resolveu contar aquilo para Anthony, mas já se sentia tão exposto depois de cantar Boyish.

— Ele parece ser um babaca — disse Anthony por fim.

Albus não conseguiu segurar uma risada.

— Ele é — concordou. — Outro cara do time viu a gente se beijando uma vez, e quando o rumor começou pela escola, ele disse para todo mundo que eu o agarrei.

Ainda doía pensar nisso. Mesma com as sessões de terapia, e mesmo que James e Fred o tivesse deixado ele com o olho roxo. Na época só Rose sabia sobre ele ser gay, e ele nunca teve a chance de contar para os seus parentes por conta própria. No fim, era grato pelo apoio de todos eles, mas aquilo não melhorava os traumas que o seu primeiro relacionamento havia deixado.

— Sinto muito que você tenha que ter passado por isso — disse Anthony, tirando-o de seus pensamentos.

— Já faz muito tempo — falou Albus tentando melhorar o clima. — E James o deixou com o rosto bem machucado.

— Ele mereceu —  falou Anthony rápido. — Ele estuda em Hogwarts?

— Felizmente não — respondeu aliviado e, depois analisou um pouco melhor a expressão do homem na sua frente. — Você estava pensando em bater nele?

Anthony coçou a cabeça, envergonhado.

— Talvez...

Albus riu alto, não conseguiu deixar de imaginar a cena.

— Isso ficou no passado — assegurou, tentando parecer confiante. — Eu gosto muito de Boyish, só queria não relacionar essa música a algo ruim toda vez que canto ela.

— Eu posso ajudar — ofereceu determinado. — Agora você pode pensar nela como a música que me fez não parar de pensar em você.

Albus o encarou totalmente sem palavras. Até mesmo Anthony parecia surpreso com o que havia dito.

— Quero dizer... — começou a tentar se explicar, mas Albus o interrompeu.

— Vou tentar — prometeu rapidamente, mais uma vez com uma confiança que não sabia tinha dentro de si. — Vou tentar pensar em você quando cantar.

***

No dia seguinte, Albus sabia que precisava falar com Roxanne.

Ele gostava muito de Anthony, gostava ainda mais depois dos acontecimentos do dia anterior. Mas nunca magoaria sua prima por isso.

Talvez Rose estivesse certa sobre eles não estarem namorando, e depois do que Anthony disse sobre Boyish, Albus se deixou considerar a possibilidade. Porém ele precisa ter certeza, o que não o dava outra escolha a não ser perguntar para Roxanne.

Ele estava caminhando em direção a sala de música para o ensaio, pensando em quando poderia ficar a sós com Roxy, para que pudessem conversar, quando a prima apareceu.

— Albus — chamou enquanto corria para alcançar o primo. Assim como ele, ela também segurava o instrumento no ombro.

Albus parou no caminho, esperando por Roxanne.

— Não esperava te encontrar no caminho — disse ela quando o alcançou. — Você sempre é o primeiro a chegar.

Aquilo era verdade, mas dessa vez Albus acabou se distraindo e demorando um pouco mais para fazer o caminho.

— Perdi o tempo hoje — explicou.

— Por quê? Estava ocupado com outra coisa? — perguntou com um sorriso malicioso no rosto.

Albus não entendia o que ela queria dizer com aquilo. Entretanto, pensou também que aquela seria a melhor oportunidade para fazer a pergunta para Roxanne, ou teria que esperar até o fim do ensaio. Às vezes a banda gostava de conversar sobre assuntos aleatórios quando terminavam de ensaiar e nem sempre Albus e Roxy saiam sozinhos da sala.

— Na verdade — começou. — Tem algo que eu queria te perguntar.

A prima o encarou curiosa.

— O quê?

Albus respirou fundo sabendo que era agora ou nunca.

— Queria saber se você ‘tá namorando alguém? — perguntou e rapidamente acrescentou, antes que perdesse a coragem: — E se esse alguém é Anthony Zabini?

Se preparou para qualquer resposta que pudesse vir, e que teria que apenas aceitar se a resposta fosse “sim”. Mas o que não esperava era que Roxanne começasse a rir, ou melhor, gargalhar no meio do campus.

— Por que ninguém leva a sério o que eu falo? — perguntou para si mesma. — Quantas vezes eu tenho que dizer que a gente não está namorando.

— Não? — indagou Albus animado.

Roxanne o encarou suspeita, e Albus logo tentou controlar a animação no rosto.

— Por quê? Está interessado?

Albus pigarreou. E olhou em volta sem saber o que dizer.

— É melhor a gente ir logo, ou vamos chegar atrasados — disse apressando seus passos.

— Você é péssimo em mudar de assunto! — exclamou Roxanne correndo para acompanhar seus passos.

O fato de Roxanne não estar namorando Anthony não queria dizer que Anthony se interessaria por ele. Mas Albus sentia como se um peso tivesse sido tirado de suas costas.

O ensaio acorreu bem melhor do que o último. Cloud Code agora tocava quase todos os finais de semana no Três Vassouras, graças ao show que fizeram apenas para que Scorpius se confessasse para Rose. Parece que Albus cantando Rose Of Sharon do Mumford & Sons deixou todo mundo emocionado, incluindo o dono do estabelecimento.

Ainda era estranho ser reconhecido fora de Hogwarts e, não era como se eles quisessem ser mais do que uma banda universitária, cantavam apenas por diversão. Mas ganhar um dinheiro sempre era bom.

Quando o ensaio acabou, Albus correu para sair antes de todo mundo e não ser abordado por Roxanne, que parecia louca para falar com ele sobre Anthony.

Por mais que apreciasse — e precisasse — de ajuda, mesmo que Roxy não namorasse Anthony eles ainda eram amigos próximos. Temia um pouco saber o que ela poderia falar para ele. Talvez massacrar o pequeno fio de esperança que havia surgido na mente de Albus depois do dia de ontem, dizendo que Anthony era sim hétero e Albus nunca teria chances.

Ele preferia não saber a verdade e continuar vivendo sua vida e, cantando suas músicas caso Anthony pedisse.

E ele pediu.

Eles se esbarraram de novo dois dias depois quando Albus saia do refeitório junto com Scorpius e Rose.

Anthony o comprimento antes mesmo de falar com seu amigo de infância, Scorpius. Albus estava tão feliz com isso que nem ligou para os olhares maliciosos que os amigos trocaram.

No dia seguinte, eles se encontraram enquanto saiam do dormitório. Anthony pediu pelo número de Albus e, contou que não havia conseguido parar de pensar nas músicas dele.

Albus não sabia como reagir, mas disse que Anthony poderia enviar uma mensagem quando quisesse que ele as cantasse de novo.

Anthony entrou em contado no dia seguinte e novamente eles estavam a sós na sala de música.

Albus ofereceu para tocar uma música diferente das que tinha mostrado antes. Ainda era estranho cantar todas aquelas músicas que havia guardado para si por tantos anos, porém, notou que não se sentia desconfortável mostrando-as para Anthony.

Think Of England não é exatamente sobre ele, mas escrevi alguns meses depois que tudo acabou — apresentou a música antes de começar.

Anthony prestava atenção, com os olhos atentos a todos os movimentos de Albus. Eles haviam chegado na sala juntos dessa vez e Anthony colocou a cadeira ainda mais perto de Albus do que da última vez. E agora ele não conseguia parar de pensar o quanto eles estavam próximos e, talvez um distanciamento maior fosse melhor para o seu coração.

Pigarreou baixo e tentou voltar o foco para o violão e, sem olhar para Anthony, começou a cantar:

You're not drinking as much as you used to

I'm the same old, same old

And all those fires that died in our bedroom

I was out fetching wood 

 

Do you lie back

And think of England?

Do you lie back? Do you lie back

And think of England with fireworks flashing?

Do you lie back?

Learn to feign your feelings 

 

[Você não está bebendo tanto quanto você costumava

Estou na mesma, na mesma

E todos esses incêndios que morreram em nosso quarto

Eu estava fora buscando madeira 

 

Você se deita

E pensa na Inglaterra

Você se deita? Você se deita

E pensa na Inglaterra com fogos de artifício piscando

Você se deita?

 Aprenda a fingir seus sentimentos]

 

No fim do refrão tomou coragem para levantar o rosto. Anthony sorriu de leve quando os olhares dos dois se cruzaram.

 

You know I tried my best to love you

 To bear all your pride

But you shook all the habits I gave you

As you shake off the snow in your stride

 

[Você sabe que eu tentei o meu melhor para te amar

Para suportar todo o seu orgulho

Mas você deixou para trás todos os hábitos que eu te dei

Assim como você deixa pegadas na neve no seu caminhar]

Quando a música terminou, Anthony logo elogiou.

— É perfeita.

Albus sentiu suas bochechas esquentarem.

— Não é minha melhor, mas...

— Todas as suas músicas são perfeitas — interrompeu determinado. — Você é meu cantor favorito.

Albus riu.

— Ok! Eu entendi que você gosta de todas as minhas músicas, mas não precisa exagerar.

Anthony o encarou confuso.

— Mas é verdade — protestou. — Ninguém canta ou compõe músicas como você.

— Existem muitos outros cantores melhores — comentou. — Você deve ter outro cantor que goste.

Anthony negou.

— Eu não escuto música — disse sincero. — Só quando você canta.

Albus riu de novo, sem acreditar no que ouvia. Como alguém poderia simplesmente não escutar música?

Sempre achou que Anthony tivesse muito interesse no assunto, já que gostava tanto quando Albus tocava para ele.

— Não é possível.

— Quando ouvi você cantar foi a primeira vez que tive interesse em música — contou.

Albus encarou o chão sem saber como reagir, sentiu suas bochechas ficarem ainda mais ruborizadas. Nunca pensou que pudesse ouvir aquelas palavras de alguém, ainda mais da pessoa que gostava.

Seu coração batia rápido demais para ser normal, Albus sentia que precisava dizer algo para quebrar aquele silêncio.

Ainda encarando o chão disse:

— Se você falar desse jeito vai parecer que está dando em cima de mim.

Assim que terminou a frase, arrependeu-se de suas palavras. Albus queria melhorar o clima com uma piada, mas só havia conseguido deixar tudo ainda mais estranho.

Porém, Anthony o surpreendeu ao responder sem hesitar.

— E se eu estiver?

Albus rapidamente levantou o rosto, assustado. Anthony parecia determinado, e havia falado com determinação, mas conseguia ver como ele apartava com força as próprias mãos apoiadas na perna.

Ficaram em silêncio por um tempo, os dois se encarando nervosos sem saber muito bem o que dizer. Albus ainda processava a pergunta, quando Anthony se aproximou.

Ele se levantou um pouco, para poder chegar mais perto de Albus. Colocou a mão direita na bochecha de Albus e no segundo seguinte eles estavam se beijando.

Precisou de uns segundos para conseguir corresponder, Albus abriu os lábios permitindo que Anthony aprofundasse ainda mais.

A posição não era uma das mais confortáveis, mas isso não impediu o beijo de acontecer. E ele só parou quando Anthony não aguentava mais ficar na mesma posição.

Assim que se separaram, não conseguiram segurar os sorrisos que dominavam os seus rostos.

Depois disso, Albus descobriria que tinham lugares muito mais confortáveis para beijar alguém. E ele também nunca foi tão grato por não ter um colega de quarto.

Depois de semanas saindo, não sabia dizer se os dois estavam namorando. Albus nunca pediu ninguém em namoro, e pelo visto Anthony também não. Mas os dois estavam sempre juntos fora dos horários de aula, Anthony assistia todos os ensaios da banda e todas as apresentações nos Três Vassouras. E todos os amigos do dois pareciam ter certeza de que eles estavam sim namorando.

Albus não ligava para os rótulos, contando que pudesse beijar o garoto que gostava quantas vezes quisesse. E ele podia.

Seus primos pareciam felizes por ele ter encontrado alguém que o tratasse bem. E James tinha feito questão de ter uma conversa com Anthony sobre o que faria se Albus saísse magoado daquela reação, e ele queria revirar os olhos sempre que lembrava disso.

Cloud Code também começou a tocar as músicas compostas por Albus. Primeiro, eles apresentavam uma ou duas no meio dos covers de sempre, mas depois de um tempo havia mais músicas originais do que covers.

Não imaginava que a banda fosse ficar tão animadas com tudo que Albus mostrava, mas eles até mesmo tinham começado a ajudar a compor músicas novas. Cloud Code ainda era apenas uma banda universitária e continuaria assim. Porém, Albus passou a vida inteira escrevendo músicas sozinho, e era muito melhor poder dividir aquela experiência com os amigos.

Principalmente com sua prima, Roxanne. Os dois escreveram uma música juntas que chamaram de Rearview e com muito esforço convenceram Rose a cantar junto com a banda. Roxy havia se oferecido como sempre, ela nunca desistiria de tentar convencê-los que ela sabia cantar. Porém, Cloud Code não queria perder o emprego, então precisaram recusar.

Três Vassouras estava lotado como costumava a estar nos sábados. Contudo, era fácil avistar Anthony sentado em uma das mesas próximas ao palco, onde sempre se sentava, com os olhos estavam fixos em Albus.

Anthony era o único em sua cabeça enquanto cantava e todas as suas músicas eram sobre ele.

I wanted to hold you like I won’t let go

You can tie a rope around my soul

Tapping on the window, I can’t be without you

So hold me like you won’t let go

Like no one ever has to know

Tapping on the window, I can’t be without you

 

[Eu queria te abraçar como se não fosse soltar

Você pode amarrar uma corda ao redor da minha alma

Batendo na janela, não posso ficar sem você

Então me abrace como se você não fosse soltar

Como ninguém nunca precisasse saber

Batendo na janela, não posso ficar sem você

Eu não posso ficar sem você

Eu não posso ficar sem você]


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Notas finais do capítulo

E É O FIM DO MUNDINHO CILAW!!

Pensei muito em como terminar essa fanfic, sei que os pais do Anthony não vão aceitar o relacionamento dele com o Albus, mas não queria colocar esse drama na fanfic. CILAW, Woman e GL são histórias felizes, uma comédia romântica básica por violet hood. Mas tenham certeza que todos os meus personagens nesse mundinho terão um final feliz pro resto da vida!! Assim que a Celeste estiver formada e se sustentando, Anthony vai saber que não precisa mais tentar agradar os pais, e vai poder se desprender completamente deles, ou eles vão ter que aceitar o filho namorando um gaymer, engenheiro e músico

Escrevi CILAW em 2020 imaginando que seria uma fanfic de 4k (pra quem não leu cilaw tem 23k), e era a primeira vez que escrevia desde 2017, não tinha ideia como era a minha escrita mais, acho que melhorei nesse um ano, estou me encontrando mais e me conhecendo mais. No fim, das três fanfics que escrevi no mundinho CILAW, Guiding Light se tornou minha favorita (mas amo muito e tenho muito orgulho de minhas 3 filhas!)
Sinto que estou fazendo um agradecimento de livro aqui kkkk. Muito obrigada quem leu essa fic, e muito muito muito muito obrigada para quem leu todas as fanfics e acompanhou meus surtos com elas. Graças a CILAW que Jia Chang existe, então também quero agradecer todos vocês que amam essa OC que eu criei, fico muito feliz quando falam dela para mim, ou me pedem para colocar ela em outras fanfic
Enfim, obrigada! Estou finalizando minha primeira fanfic do Pride, mas amanhã atualizo Color Rush e segunda posto CHEER UP, espero ver vocês por lá ;)
Beijos, Violet



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