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Emmeline Vance odiava religião.

Não conseguia entender como alguém podia ainda acreditar num livro escrito há milhões de anos. Para sua infelicidade, seus pais eram extremamente católicos e não aceitavam que sua filha não era que nem eles. Obrigavam-na a ir para a igreja com eles todo domingo, mesmo que Emmeline desse um escândalo toda vez antes de ir. Convenceram o ministro a deixá-la continuar na catequese, mesmo que ele tivesse sugerido que ela devia se retirar porque fazia perguntas estranhas demais sobre a bíblia. E, ao invés de realmente escutar a filha, apenas a colocaram num colégio interno católico desde os 11 anos.

Ela odiava Hogwarts. Odiava as pessoas de lá, que fingiam ser católicos modelos, mas no fundo eram todos pecadores. James Potter e Lily Evans já iriam para o inferno por terem feito sexo antes do casamento: todo mundo sabia dos rumores sobre os dois no banheiro feminino do terceiro andar; Severus Snape e seu grupinho de amigos fingiam que eram as pessoas mais puras do mundo, porém todos sabiam do que eles faziam com as drogas que contrabandeavam para dentro da escola. A única pessoa que Emmeline respeitava um pouco era Sirius Black, já que era provavelmente a pessoa mais honesta ali dentro. A cada novo ano escolar os alunos apostavam que aquele seria o que o Black seria expulso. Isso não acontecia, graças às generosas doações dos pais dele para a escola.

Emmeline não tinha a menor ideia do que o padre estava falando. Fazia questão de deixar seus pensamentos tomarem conta de sua mente toda missa que a escola os obrigava a frequentar. Observou James Potter fazer alguma gracinha para Lily, que sentava dois bancos à frente de Emmeline. Enquanto a ruiva ria, Vance revirava os olhos. Tudo o que mais queria era ir para o seu quarto e ficar lendo na cama.

Então escutou aquela risada, provavelmente seu som favorito. Lily Evans tinha comentado alguma coisa no ouvido de sua melhor amiga, Marlene McKinnon, que tentava não rir muito alto.

Ela era a única coisa que Emmeline não odiava naquela escola infernal.

†

Marlene era a menina mais popular de Hogwarts. Todos amavam ela, por ser a simpatia em pessoa. Era também uma das mais bonitas da escola, com os olhos azuis e o cabelo loiro comprido. Seu perfume de jasmim marcava os corredores, podendo ser sentido sempre por onde ela passava. Ela conversava com todo mundo, até com as estranhas Lisa Gallagher e Emmeline Vance.

Para alguém que havia crescido com dois irmãos mais velhos e outros dois mais novos, Marlene amava a atenção que recebia em Hogwarts. Amava ser o centro das atenções, de ter os holofotes sempre nela. Fazia questão de sempre ser simpática com todos, porque precisava que gostassem dela.

Marlene e Emmeline foram designadas como colegas de quarto logo quando entraram no primeiro ano. Por dois anos, só se falavam para questões básicas e fora do quarto, agiam como se a outra não existisse. Começaram a conversar mais com 13 anos e aos 14, era como se fossem melhores amigas. Bem, pelo menos dentro do quarto, já que nos corredores era como se nem se conhecessem.

Marlene gostava de sentar na cama com Emmeline todo fim de semana, olhando as revistas que sua mãe havia mandado ou escutando um dos vários CDs que a Vance trazia escondido junto com seu discman. Emmeline adorava quando Marlene fazia isso, sentindo o calor do corpo da menina contra o seu. As duas sabiam que aquilo não era mais somente uma amizade e o coração de Emmeline quase saiu por sua boca quando, numa brincadeira, Marlene desafiou-a a beijá-la.

Desde então, elas nunca pararam com isso. Pela escola, ainda era como se a outra não existisse, mas aquele quarto era como se fosse o mundinho particular delas. Emmeline se deitava com os pés para o lado do travesseiro e Marlene com os pés no final da cama e ficavam lá, conversando. De vez em quando passavam um tempo se beijando e voltavam a conversar. Era o momento favorito do dia das duas e mal podiam esperar para voltar para o quarto.

Fora dele, a realidade era outra: passavam pelos corredores fingindo que não notavam a presença da outra. Marlene ria das piadas que seus amigos faziam da aparência gótica de Emmeline, mesmo não concordando. Dizia “oi” para a morena, contudo nunca realmente tinha uma conversa em público com ela. Os outros simplesmente não podiam descobrir sobre as duas. Mesmo agindo desse jeito, Marlene gostava muito de Emmeline – a ponto de achar que até a amava.

Mas não podia deixar aquilo sair do mundinho particular delas. Emmeline sabia disso e isso a matava por dentro.

E foi esse pensamento de Marlene que levou a destruição tudo que elas tinham.