Sins of Hope escrita por DGX


Capítulo 21
O Quarto Pecado




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Opening

O cheiro de sangue e morte, que era exalado pelas ruas de Araruna, penetrava o nariz de um homem de cabelos negros e lhe proporcionava imensa nostalgia. O homem com os enormes músculos que  escondia debaixo de uma roupa folgada não possuía o olho direito, que era substituído por um de vidro, proveniente de uma história que se orgulhava, por ser do único homem que de fato havia conseguido feri-lo. Seus cabelos negros eram semi longos e se moviam muito pouco com a brisa que balançava suas roupas largas. Andava com uma expressão carrancuda, afastando qualquer um que tentasse se aproximar muito dele. 

Já estava na cidade a quase 10 anos, mas a nostalgia já era de antes. Não havia ninguém caminhando além dele. O clima fúnebre pairava sobre o lugar, e não havia qualquer som, exceto o dos passos pesados dele. A sensação de solidão não parecia incomodá-lo, pois este apreciava estar só. Era um grande mercenário e ladrão antes de se envolver em assuntos do reino.

Porém, sabia que a cidade não estava vazia. Araruna era a capital do desespero, onde nem a morte gostaria de viver. Recheada de ladrões, assassinos e outros criminosos piores que estes. Isso parecia não o incomodar, pelo contrário, parecia até agradá-lo.

Para alguém que cresceu no campo de batalha, Araruna soava como um segundo lar.

Entrou em um estabelecimento de fachada tão podre quanto o clima. O interior não ficava pra trás. Haviam algumas pessoas, ou pelo menos o que julgava ser pessoas. Todas caladas. O único som que percorria o ar era o da batida dos copos na mesa e de cartas sendo embaralhadas. Havia também cheiro de decomposição no ar. Sabia que se procurasse um pouco, encontraria um corpo. Mas ele não queria isso neste momento, apenas queria uma doce caneca de cerveja.

Sentou-se próximo ao balcão e falou, com voz rouca, como a de alguém que não falava háum tempo.

—Eu quero uma caneca de cerveja.

O dono do bar pegou uma das canecas, que não parecia estar limpa o bastante e encheu com um líquido amarelado e espumante, que esperava que fosse cerveja.

O homem deu uma pequena golada e não pode conter a cara de descontentamento, não era nem um pouco parecida com a cerveja que tomava acompanhado do seu antigo grupo, e pensou que comparado ao que bebia, aquilo não fosse nem um destilado nem fermentado, muito menos algo que continha álcool. 

Afastou a decepção e tornou a beber. 

Não demorou muito e já havia terminado. Ele coloca a mão em um de seus bolsos e solta um saco cheio de moedas em cima da mesa.

O som do impacto das moedas umas com as outras restaura o total silêncio no local. Ele não olhou, mas podia sentir os olhos de todos os presentes fitando sua nuca. O enorme homem tira uma moeda e deixa em cima da mesa, coloca seu saco de moedas de volta no bolso e sai do lugar, em passos largos e calmos.

Finge não notar o fato de estar sendo seguido por outros três indivíduos, provavelmente ladrões atrás do seu saco de moedas. 

Ao entrar em um beco próximo, completamente sem saída, ele caminha mais alguns passos até que para de frente para uma parede. Agora ele podia sentir os 3 atrás dele. 

Ele se vira lentamente para encará-los.

—Você não passa daqui. – Fala um deles, com uma voz esganiçada e enjoada, como se debochasse do homem truculento a sua frente.

—É muito tolo de sua parte entrar em um beco de Araruna sem estar devidamente prevenido. – Segue um com uma voz grave, como se até sentisse pena pelo que iria fazer em seguida.

—Ei, você. – Completa o que ainda não havia se pronunciado, com uma voz normal. – O que acha de nos dar esse saco de moedas que tem aí? Se o fizer, não o machucaremos tanto.

O homem se vira para os bandidos e os encara, entretanto, a sua face continua inalterada.

—Eu discordo disso, deveríamos destrinchar o corpo dele e levar tudo que tem, seria mais divertido! – Responde o primeiro a ameaçar, com uma voz que incomodava os ouvidos sensíveis do ex-mercenário e ladrão. O som da risada aguda dos criminosos corta o ar.

—Me destrinchar? – Começa a falar. –  Não sei que merda vocês têm usado, mas vai custar a vida de vocês.

—O que este cara está falando? – Pergunta o de voz grave para seus companheiros.

—Não sei, mas não temos com que nos preocupar. Vamos abri-lo no meio! – Grita o homem que possuía a voz aguda e irritante.

Ele corre em sua direção com uma adaga afiada, do tipo que serve para penetrar e causar um enorme dano. Ele para na frente de sua vítima e, quase como se teleportasse, vai para suas costas com uma alta velocidade.

—É o seu fim– 

Antes que pudesse desferir um golpe, o homem gira sua espada e o atinge, dividindo-o em dois.

Seu corpo dividido em dois cai no chão e arranca um suspiro dos outros criminosos.

—M-Mas que merda é essa? – Pergunta o com a voz grave.

Os dois fitavam a espada.

—Aquilo… é uma espada ornada demais para ser de um bandido... – Responde o outro. 

A espada era bela, com ornamentos que brilhavam em prata cintilante quando a luz refletia em sua lâmina. A guarda dourada, bem como o cabo, possuía runas que brilhavam com magia que era transferida do usuário para a arma. Sim, magia. Aquela espada com certeza era algo especial.

—Qual é? – As palavras proferidas parecem libertar os dois do transe. – Vocês não disseram que iam me destrinchar?

Ele diz sorrindo, enquanto caminha lentamente.

Uma forte brisa passa pelo local, fazendo com que as roupas extremamente largas do homem balancem com o vento.

A brisa também ergue, mesmo que pouco, a manga dele, mas o bastante para que os dois bandidos vejam a sua tatuagem.

—E-Essa tatuagem...? – O bandido viu uma marca na parte superior do seu pulso direito. Três moedas que representavam os desejos avarentos e a cobiça dos homens. A marca de um Pecado.

—Ora, ora, vejo que me reconheceu. – Caminha lentamente na direção deles. – Que azar o de vocês, cruzarem o caminho logo comigo.

—Maldição, você!? – Exclama aterrorizado um dos homens.

—Sim. – Sorri cheio de maldade. – Venham os dois.

Ele diz empunhando sua espada na direção deles. Eles se colocam em posição de defesa, como se estivessem pedindo desculpas.

—Está na hora de pagar pelo seu pecado… – Começa a falar enquanto se aproxima dos homens aterrorizados. – O pecado de me subestimar... Eu, o Pecado da Ganância, Takashi!

Não demora muito até que os dois restantes estejam no chão, em pedaços, apenas contribuindo com a paisagem imunda do local.

—Eh? É só o que tem a me oferecer? Francamente…

Takashi checa os corpos no chão em busca de algo valioso, até que algo desvia sua atenção. Ouve o grito agoniado de uma garota, e antes que pudesse reagir, sente uma presença da qual jamais se esqueceria.

Correu até a saída do beco, quando dá de frente com um homem carregando uma jovem moça de cabelos avermelhados em suas costas.

Takashi move sua espada com agressividade, mas ao mesmo tempo com suavidade, quase que compondo uma melodia com o som das tripas batendo no chão, acertando apenas o corpo do sequestrador.

Takashi se abaixa para checar a integridade física da jovem. Ela estava bem.

Ao olhar mais cuidadosamente, reparou em seu dedo um detalhe peculiar.

Era um anel, que remetia profundas lembranças em Takashi, fazendo com que o mesmo tocasse em seu olho de vidro, onde antes existia um olho de carne.

—Esse anel...

—Socorro! – Grita desesperada a jovem.

A garota tenta correr de Takashi, mas este a segura.

—Espera! É perigoso pra uma garota como você andar nessa cidade por aí.

Ele puxa a garota pelo braço, mas sem medir a força, que acaba marcando o pulso dela.

—Ai! Você está me machucando! – Ela grita com o homem.

—Sinto muito. – Disse sem sentir nada com o rosto impassível.

Eles caminham um pouco para se afastar da cena, Takashi deduziu que aquela imagem não era muito agradável para uma moça. Sentaram-se em um beco próximo dali que aparentemente estava vazio. O silêncio pairou pelo ar, e a dúvida consumia Takashi. Ele não se conteve e questionou:

—Como conseguiu o anel? – A encara com uma expressão amedrontadora, fazendo-a quase chorar apenas com o olhar.

—A-Anel? Ah, este... Eu ganhei de uma pessoa especial, Sir Nier, ele–

Takashi arregala os olhos, interrompendo a menina.

—N-Nier? – Pergunta espantado.

—V-Você conhece o Sir Nier? – A garota diz, um tanto assustada com aquilo.

Takashi começa a rir, em tom crescente, de uma risada calma até uma risada alta e maquiavélica.

—Parece que esse vai ser um bom dia...


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