1812 — Interativa escrita por Holtzmann


Capítulo 9
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Olá, ladies! Aproveitando o fim de uma cadeira particularmente infernal para aparecer e soltar mais um capítulo desta história para vocês!
Só eu que não estou aguentando mais? Sinceramente, quero que esse semestre acabe logo e que esse ano acabe logo porque eu juro que se eu passar mais um dia vivendo nesse tempo eu vou s u r t a r. Well, well, pitangas de lado, eu vim aqui com mais um capítulo naquele estilo uma narração de char-uma narração de um dos boys. O próximo será nesse mesmo estilo, pois eu senti a necessidade narrativa de fazer eles deste modo. Mas acho que, após este capítulo oito, as narrações dos rapazes irão rarear mais. Ao menos, é o que me parece em minhas programações.
De qualquer forma, aqui está o capítulo! Eu me diverti bastante escrevendo ele, e espero que vocês também se divirtam lendo-o. Boa leitura!



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Somersetshire, 1812

 

Preciso ser babá do Conde de Lannair? — indagou Isabella, exasperada, colocando-se de pé.

Passara aquela manhã na biblioteca de Covington, na companhia de Henrique. Haviam pausado somente para almoçar e então retornado para o abrigo que cheirava a couro velho e papel. O rapaz ficara deslizando entre as prateleiras, evidentemente imerso naquele mundo ao qual Isabella não pertencia. Não que fosse aversa à conhecimento ou detestasse ler, mas leitura definitivamente não estava no topo de sua lista de diversões preferíveis. Ela era infinitamente mais dada a diversões mais ativas. Mas desejava muito passar algum tempo com seu irmão mais novo, e aquele parecia ser o único modo, nas circunstâncias em que se encontravam.

Ela sentia bastante falta dele, embora não tocasse muito no assunto. Henrique era, de longe, o mais doce e solícito de seus irmãos. Todos o adoravam e ele adorava a todos, e fora uma provação vê-lo partir para Eton, de modo que sempre que tinha a opção, Isa apreciava aproveitar a companhia do caçula. Neste momento, ele acabara de retirar-se do cômodo afim de pedir emprestado a Hartfield um exemplar que lhe interessara. E Francesca escolhera justo este instante para deslizar para dentro do lugar e apresenta-la sua ideia.

Aquele seria o dia em que sua temporada festiva começaria. A visita e o encontro desagradável com o Conde de Lannair já passara e Isabella se considerava suficientemente recuperada deste fatídico incidente – embora soubesse que ainda teria de cumprimenta-lo ao menos uma vez mais, graças ao convite que Francesca fizera ao sujeito.

Por estarem no interior de Somerset, a princípio não haveriam muitos convidados – além da família presente, de George Hartfield e do Conde de Lannair, somente alguns outros viriam. Cavalheiros e damas menos abastados que moravam nas redondezas e amigos íntimos de Hartfield. Mas aquela quantidade diminuta de convidados era suficiente para despertar em sua prima seu senso de senhora de uma casa e anfitriã.

Fran parou por um momento, encarando-a. Então uniu as mãos à frente do corpo, no tipo de postura que se fazia quando se ia falar com uma criança malcriada:

— É claro que não, Bella. — ela respondeu. — Só estou lhe pedindo para fazer com que ele se sinta incluído. Ele só virá hoje, afinal. Então pensei que pudesse entretê-lo enquanto estivéssemos na sala de estar e sentar perto dele no jantar.

Isabella gemeu.

— É provável que ele fique em um canto, sozinho. — continuou sua prima. — E não quero que meus convidados se isolem desse modo.

— Talvez ele goste de ficar sozinho. — retrucou Bella. — Ele não parece fazer o tipo sociável, convenhamos.

Francesca deu um suspiro, então aproximou-se da prima, pegando sua mão entre as dela.  

— Você é muito boa em conversar com as pessoas. Sempre sabe o que dizer.

— Não para ele. — a espanhola emendou rapidamente.

— Ah, Bella, você nem o conhece de fato. Como essa poderia ser uma experiência tão terrível?

— É claro que eu o conheço. — a mais nova protestou. — Eu o encontrei antes de Heybridge, lembra? Em Londres. E esse encontro foi tudo, menos agradável. O homem é horrendo, Fran. Não acredito que você não enxerga isso. Não notou como ele nos tratou quando fomos visita-lo?

Francesca franziu o cenho delicadamente.

— Claro que notei. Sei que ele não é o mais simpático ou cordial dos homens, mas... Ah, Bella, olhe para a vida dele: Ele não deve ser tão mais velho que você, e sua vida acabou de começar, a bem dizer, e ele já está... — ela mordeu o lábio ligeiramente, como se as palavras seguintes fossem difíceis de se pronunciar. —... Naquela condição. Você não seria muito lisonjeira se vivesse daquele jeito, seria?

— Eu não usaria isso como desculpa para tratar mal a visitantes bem-intencionadas e gentis. — foi o que Isa rebateu.

Mas, na verdade, ela ainda não havia parado para refletir naquilo sob aquela luz; Ela ficara ciente da deficiência do Conde – do pior modo possível – quando o conhecera. Contudo não parara para pensar ainda nas minúcias do fato. Como o que talvez tivesse causado aquilo, por quanto tempo o Conde estava naquela situação, ou como sua condição afetava sua vida num modo geral – ela não sabia nada sobre deficiências como aquela, mas e se não fosse sobre não poder andar? Se ele estivesse há muito tempo daquele modo – ele era muito jovem, então teria vivido muito pouco tempo como uma pessoa comum. Pior: se aquele fosse um defeito de nascença e o Conde nunca tivesse experimentado uma vida normal?

Isabella nunca pensara nisso desse modo, mas a verdade era que adorava poder andar. E correr. E dançar. Ela era incapaz de conceber uma vida em que não pudesse fazer essas coisas. Muito menos uma vida na qual nunca tivesse experimentado nenhuma delas. Seria ela tão positiva e afável se estivesse nessa situação? Não sabia dizer. O que talvez tirasse dela o direito de julgar o Conde por sua hostilidade.

Mas não lhe tirava o direito de desgostar dele.

— Fran. — reiterou, antes que sua prima pudesse responder a suas últimas palavras. — Eu tentei falar com ele. Juro que tentei, quando fomos visita-lo. Mas não consigo. O homem me deixa desconfortável, e estou convencida de que ele não gosta de mim.

— Não seja tola. Todo mundo gosta de você. — rebateu Francesca.

— Não. — Bella contrapôs, com muita franqueza. — Todos gostam de você. Eu não tenho o seu coração bom e puro nem sua postura impecável. Você tenta encontrar o melhor em todos, mas eu sou uma pessoa mais cética e... — fez uma pausa. — Graças a esses meus modos, existem pessoas que me acham irritante.

— Isso não é verdade. — Fran contestou. Mas aquela foi uma resposta automática, do tipo que se dava quando não se queria ferir alguém por concordar com esta pessoa. Uma resposta leal, bem o tipo de Francesca. Mas não completamente sincera.

— Sim, é verdade, Fran. — continuou Bella. — Mas isso não me incomoda. Bom, não muito. E certamente não me incomoda em relação ao Conde de Lannair, porque tenho uma opinião semelhante sobre ele.

Francesca pareceu parar por um momento para assimilar suas palavras. Então revirou os olhos. Não muito; foi um movimento muito ligeiro, quase imperceptível. Mas aquilo era o mais perto que sua prima educada e afável chegava de um ataque histérico.

— Acho que você deveria dar uma chance a ele. Nunca tiveram uma conversa decente, afinal. Quem sabe esta só tenha sido uma primeira impressão ruim?

Definitivamente, não houvera nada de decente na conversa que haviam tido. Se é que aquele encontro no sarau pudesse ser chamado dessa forma. Eles quase tinham se estapeado. Ele gritara com ela, e ela certamente não saberia o que dizer a ele sobre aquele acontecimento. Se sentia mal só de lembrar daquela noite. Ela não fizera nada além de proferir clichês e agir como uma debutante petulante. Só faltara ter batido com os pés.

Ele provavelmente a considerava uma imbecil, e embora ela não se importasse com o que ele pensava a seu respeito, e o achasse um grosseirão terrível, estúpido e ignorante, naquele fatídico momento o Conde de Lannair a tinha reduzido a alguém que ela não apreciava muito. Alguém que se intimidava e fugia das investidas hostis que os peões da sociedade inglesa vez ou outra davam sobre ela.

E isso era imperdoável.

— Não posso definir com quem você vai se dar bem ou não. — prosseguiu Fran. — Mas acho que você pode encontrar energias em algum canto longínquo e bondoso de seu ser para tolerar Lorde Lannair por esta noite.

— E George. — acrescentou Isabella, significativamente.

— E George. Embora eu ache que, enquanto você estiver rondando o Conde, George não aprontará nada impossível de se manusear.

— De fato.

Sua prima sorriu abertamente:

— Sabia que podia contar com você, Bella. — ela apertou sua mão outra vez. — Seja positiva. Ele não deve ser tão terrível. Eu acho, na verdade, que ele é bastante bonito. Seria mais se abrisse um sorriso, mas mesmo carrancudo não é de se jogar fora.

— Não importa que seja bonito.

— Então você o acha bonito?

Isabella não parara para pensar nisso. De modo que foi pega completamente despreparada pela indagação risonha de sua prima.

— Eu o acho muito esquisito. E antipático. — retrucou. — Ouça, eu farei isso por você, pois sabe que eu faria qualquer coisa por você. Até me jogar na frente de uma carruagem em movimento.

— Por sorte, sentar com Lorde Lannair será menos doloroso que tirar sua vida.

— Será?

Mas Bella riu da própria piada, e Francesca a acompanhou, apesar de balançar a cabeça.

 

Londres

 

William deixara a casa de Levi uns dois dias após bater à sua porta em busca de abrigo.

A verdade era que desejara intensamente continuar lá, quieto, por um bom tempo. Por ele, teria adiado o inevitável até que não pudesse mais fazer isso. A primeira noite fora confortável e ele se divertira no dia seguinte, observando seu amigo e o jovem aprendiz dele mergulharem em seus afazeres. Fora divertido adentrar naquele mundo que ele não desconhecia por inteiro – afinal, durante a infância e a juventude estivera incluso nele – mas que ainda assim era estranhamente inédito: o mundo do trabalho.

Mas não demorou para notar que se permanecesse ali, ficaria encontrando desculpas para abusar da hospitalidade de seu companheiro e voltaria a ser o recluso que acabara se tornando nos últimos anos. Não que houvesse algo de errado em ser recluso quando se preferia viver de modo solitário. Mas os próprios amigos de William sempre haviam dito que aquele não era seu estado natural e que ele corria um sério risco de explodir qualquer dia, como um rojão à espera da centelha para ser detonado.

Bom, ele não explodira até então. Mas quando a manhã do terceiro dia de sua hospedagem chegou, após a divertida noite que tinha provado ao ir num evento artístico com Levi e Thomas, ele sentira-se na obrigação de ir embora. Sabia que teria de ir à Casa Dashwood cedo ou tarde. Teria de encarar sua família, tinha de ver Cecily. Mas aquela era uma coceira que ele insistia em não coçar. Não queria coçá-la.

Contudo, essa era uma atitude que ele não poderia manter para sempre. Pelo bem de Cecily.

Ela estava ficando mais velha a cada dia que passava. Aos dezoito anos, era bastante nova, claro, mesmo que sempre sugerisse em suas cartas que estava se tornando uma anciã. Will sabia que muitas moças se sentiam como solteironas se não casassem antes dos vinte anos – embora achasse isso uma tolice. Mas, de qualquer modo, ele acreditava que aos dezoito elas deveriam estar se divertindo com outras pessoas da mesma idade. Deveriam poder olhar em volta e procurar possíveis parceiros, ter experiências, tomar decisões.

E Cecily não teria liberdade para tal se ele não interferisse.

Ele ficara surpreso quando tinha recebido uma carta dela dizendo que se apresentaria à rainha naquele ano. Mas imaginou que sua mãe teria acatado isso somente porque era uma formalidade praticamente obrigatória na aristocracia. No entanto, sua mãe tinha uma saúde frágil e – de acordo com suas palavras – sofria terrivelmente com seus nervos, de modo que “não podia acompanhar Cecily para lugar algum”. E “ah, como poderia viver sem a menina a seu lado todos os segundos do dia?”

Will podia não ter apreciado o novo casamento de sua mãe com o Barão de Dashwood, e podia ter sua própria lista de conflitos com ela, mas a amava. E adorara Cecily desde o momento em que ela nascera. De modo que sabia que, para o bem de sua irmã, precisaria enfrentar a matriarca cedo ou tarde.

Para sua sorte, quando tinha encontrado com sua irmã pela primeira vez, sua mãe não estava em casa. Cecily ficara mais que feliz ao vê-lo. Tinha soltado gritinhos ruidosos e atravessado correndo a sala de estar da Casa Dashwood quando ele fora anunciado pelo mordomo, se jogando em seus braços:

— Will! — exclamara. — Ah, Will. Você veio. Enfim. E sem avisar ninguém, seu danado. Vai ficar?! Ah, diga que vai ficar, Will! Por favor, Will!

Ele a tinha abraçado com força e permitido ser invadido, em iguais proporções, pelo amor e pela culpa de ter passado tanto tempo longe. Pelas descrições que mais tarde a Senhorita Wright, a governanta dela que estava presente no momento, deu a ele, Cecily estava muito bonita. Mais do que ele se lembrava nas suas memórias de quando ainda enxergava. A magreza e altura que a faziam parecer uma vareta na infância agora a tinham tornado uma jovem esguia e elegante. As sardas que pareciam moedas quando era pequena tinham se tornado discretos e charmosos pontilhados. E o cabelo flamejante que herdara de seu pai tinha crescido, emoldurando aqueles olhos que eram verdes e ansiosos como os do próprio Will.

A governanta dissera também que, quando ela havia posto os olhos sobre ele, havia uma centelha em seu olhar e cor no seu rosto, mesmo parecendo que ela precisava tomar mais sol.

Ele colocaria tudo nos eixos. Por ela.

— Vou ficar. — ele a dissera, com o nariz enfiado em seus cachos acobreados. — Prometi que viria para vê-la, não foi? Você está linda, Ceci. E eu nem preciso vê-la para saber isso. Como ficou tão linda assim, por Deus? Não posso acreditar!

A levara para passear naquele primeiro dia e levara um tremendo susto quando ela contraíra um resfriado pesado logo depois. Mas, graças aos cuidados da governanta dela e, posteriormente, aos conselhos que o próprio Levi tinha dado, Cecily conseguira se recuperar. E então insistira para visitar alguns primos, tios e tias que estavam próximos, e Will a levara para vê-los, notando que todos ficaram bastante felizes em vê-la – e, principalmente, em vê-lo. Já que ele estivera desaparecido ultimamente.

Nesse meio tempo também recebera uma carta de Levi sobre Aiden, que aparentemente noivara num tempo recorde, e conseguira visitar o amigo comprometido junto com o médico sob a desculpa de conhecer sua noiva. Mas o que Will realmente queria era ver como Aiden estava. Toda a rapidez e discrição da situação tinha causado-lhe grande estranheza, e deixara o Visconde um tanto preocupado com o amigo – intimamente, ele esperara que Aiden levasse mais tempo para realizar sua escolha. Pensara que talvez ele pudesse encontrar alguma mulher que realmente estimasse ou, melhor, que amasse, apesar de saber o pensamento do amigo sobre o tema. 

Sabia que Aiden não acreditava em nada naquilo. Ao menos, não em seu caso. Mas também sabia que, por sua natureza, ele teria levado mais tempo e sido mais cuidadoso em sua decisão. O que não acontecera. De modo que devia haver alguma coisa por trás daquele arremedo repentino.

De qualquer modo, teve que se contentar em esperar. Não encontrara uma boa oportunidade para conversar com o duque ainda sobre o tema, e não tinha certeza de que ele gostaria de explicar isto, de qualquer forma. Talvez só tivesse feito o que lhe fora mais conveniente. Talvez só tivesse desejado fazer aquilo como se arrancava um curativo: rápido e eficientemente, afim de ser o mais indolor possível.

O Visconde não fazia ideia. Mas optou por resguardar suas preocupações por enquanto. Precisava focar em uma questão por vez.

E sua questão, naquela tarde, era Cecily. Passeavam pelo Hyde Park, numa das trilhas de caminhada mais reservadas do parque, visto que preferiam evitar a principal e a presença de conhecidos e desconhecidos que teriam de parar para cumprimentar por cortesia. Eles caminharam por caminhos estreitos que serpenteavam, subiam e desciam entre as árvores e, às vezes, tinham pedras e raízes que poderiam fazê-los tropeçar se não tomassem cuidado.

Os caminhos eram tranquilos e isolados, com vislumbres ocasionais e distantes de gramados e pequenos grupos de pessoas, tanto de cavaleiros como de pedestres – de acordo com as descrições de Cecily. Ela falou a ele sobre  duas babás sentadas ao longe na grama e falando com as crianças enquanto montavam jogos para seu divertimento. Um cão pequeno passou disparado por eles em algum momento. Ele podia sentir os aromas do verde e das flores silvestres que provavelmente despontavam ao seu redor. Pelo doce calor que beijava sua pele, também era capaz de dizer que aquele era um dia ensolarado de primavera, e ele podia sentir que a irmã erguia o queixo para poder senti-lo abaixo da aba de seu chapéu de palha.

Tudo seria muito pacífico, se William não estivesse percebendo aos poucos que talvez não fosse tão fácil cumprir suas responsabilidades com ela.

— Você é um Visconde, Will — ela salientou. Como se ele não soubesse do fato. — E é um oficial de guerra. Você tem abertura para circular nas mais elevadas esferas. Quando a notícia de que você está na cidade se espalhar, certamente você vai receber vários convites. Já imaginou ir a todos esses bailes e saraus e piqueniques?

Will virou o rosto em sua direção. Já comparecera a um desses eventos com ela recentemente – um piquenique organizado por Lady Keeping no dia anterior. E embora tivesse tido uma surpresa divertida no meio do evento, ao mesmo tempo não apreciara muito a atenção especial que Cecily recebera de um cavalheiro em particular, o herdeiro do Visconde de Whitmore.

Não era questão de ciúme. Mas ele ouvira algumas coisas acerca da reputação do homem. Coisas que não o tinham agradado muito, do ponto de consideração de que sua irmã aparentemente estava retribuindo o interesse dele.

— Tenho certeza que você vai atrair um exército de admiradores onde você for, Ceci. Outros além do Rodwell.

Ela parecia estar sorrindo quando disse:

— Não valerá de nada se eles se revelarem chatos.

Ele franziu o cenho.

— Eu sou chato às vezes. Você me detesta por isso?

— Não, não detesto, mas isso é porque você é chato e muito querido enquanto irmão. — ele sentiu ela dando um toque em seu nariz, como costumava fazer com ela quando era pequena e queria chamar sua atenção. — Mas como marido, um homem chato não seria nada querido. Não quero chatice. Nem mesmo nobreza é uma exigência, se vier só acompanhada de uma respeitabilidade sóbria e toda empolada. Quero um pouco de... Ah... Audácia. Alguma aventura! Estou errada em querer isso?

Não estava, Will pensou, suspirando. Quase conseguia ver o brilho nos olhos da irmã ao pronunciar aquelas palavras. Imaginava que todas as meninas sonhavam em se casar com um príncipe antes de acabarem se casando com um homem um pouco mais comum, que pudesse apoiá-las e cuidar de suas necessidades. A diferença entre essas meninas e Cecily era que ela enxergava uma forma de realizar seu sonho ou de pelo menos se aproximar o bastante de um príncipe para contemplá-lo.

— E você acha que o Rodwell vai lhe oferecer audácia e aventura e respeitabilidade e felicidade? — indagou.

Ela deu risada.

— Eu não vou casar com o Senhor Rodwell, Will, acabei de conhecer ele! Mas toda jovem tem o direito de sonhar.

— Eu só preferiria que você não sonhasse com esse cavalheiro em específico. Ceci, não sei como posso te explicar isso com clareza, mas Rodwell é...

Nesse momento, ele pôde senti-la interrompendo a caminhada abruptamente. Não podia enxerga-la, é claro, mas conhecendo-a, adivinhou que ela acabara de fazer um gesto de mão para interrompê-lo.

— Eu sei o que ele quer. — Ceci disse, muito incisiva.

William encarou-a, de repente muito consternado. E cético. Precisava encontrar um modo delicado de explicar a ela os fatos. Mas como diria isso sem ferir suas expectativas nem seus ouvidos jovens e inadequados a determinados assuntos?

— Não acho que saiba, Ceci. — começou, cautelosamente. — Você ainda é muito nova para...

Mas ela o interrompeu de novo.

— Ele quer o que todos vocês homens querem.

Ele engasgou, embora não estivesse comendo nem bebendo nada.

— Mas não conseguirá de mim. — ela concluiu, invicta. — Não sem pôr uma aliança em meu dedo antes. E não fará mesmo isso a não ser que tenha outra razão para deseja-lo.

Will teria feito de tudo, naquele momento, para poder ver o rosto de sua irmã. Nenhuma descrição dada por ninguém nesse mundo poderia fazer ele compreender como ela crescera. Mas aquelas palavras, naquele instante, foram como um soco de realidade em seu estômago. A pequena Ceci, a menina espontânea e distraída que colhera flores para entregar a ele quando ele partira para a guerra aos dezessete anos, não era atenta ao que ocorria ao seu redor. Ela nunca acreditaria que poderia haver maldade ou falha de caráter em qualquer ser humano. Para ela, todos eram bons e doces como o seu próprio coração era.

Mas aquela menina não existia mais, é claro. Fora somente Will que ficara preso no tempo, afastado pela sua tolice juvenil, pela guerra e então pelos seus ferimentos por tempo o suficiente para ser quase incapaz de reconhecer a jovem mulher que ela se tornara.

Aquela repentina e dura percepção trouxe-lhe um aperto ao estômago. E o que ela depois só agravou a sensação:

— Só acho insultante que todos acreditem que eu não sei disso. — Cecily murmurara aquilo muito baixo, como se para si mesma. E, por tudo que era mais sagrado, William não sabia o que dizer a ela.

Mas, no fim, não foi preciso dizer nada. Pois a própria jovem voltou a caminhar, envolvendo o braço livre dele que não se ocupava com a bengala enquanto dizia, com leveza:

— Sabe, Will, eu sei que você se sente na obrigação de evitar que um libertino qualquer se aposse de mim e da minha fortuna.

— Eu quebraria o nariz do sujeito se essa ideia se quer passasse pela cabeça dele. — O Visconde emendou.

— Mas, por hora, eu me contento com você indo aos lugares comigo. Arranje esses convites, me leve para eles e fique comigo. Faz tanto tempo que eu não te vejo. Embora... Bom, acho que Philipp e Annelise chegarão amanhã, com mamãe.

Foi a vez de Will parar por um momento. Só a menção do nome de seu meio-irmão e da esposa dele foi capaz de destruir com todo seu humor. Esquecera-se deles. Talvez porque somente sua mãe já parecera um desafio suficiente para a temporada. Ele permaneceu em silêncio por um instante, processando as palavras, sentindo a ameaça de uma dor de cabeça fustigante aproximando-se. E dores de cabeça não eram bom sinal. Na verdade, eram um péssimo sinal. Eram o sinal para que ele se afastasse, para que fosse embora.

Mas como poderia deixar Cecily sozinha? Quem sabia quando seria a próxima vez que teria a coragem de aproximar-se de novo? Não podia dar-se ao luxo de perder mais da vida dela. Já perdera o suficiente para uma vida inteira de arrependimento.

Ele se voltou vagarosamente para o lado, para ficar de frente com a irmã, e levantou a mão até encontrar o queixo fino dela. Ergueu os dedos e encostou-os na ponte de seu nariz arrebitado, forçando um meio-sorriso:

— Acredito que eu posso fazer isso.

Por um momento não ouviu nada. E temeu que talvez a tivesse chateado além da conta. Mas então a jovem começou a dar gritinhos eufóricos e se pendurou em seu pescoço. Felizmente, eles só estavam rodeados de árvores e grama coberta de orvalho e não de possíveis olhos curiosos.

— De verdade?! Eu o amarei para sempre se fizer isso! Não que eu não vá amá-lo para sempre de qualquer jeito.

— De verdade.

— Ah, vai ser incrível! — ela exclamou. — Você é incrível, Will! Obrigada, obrigada, obrigada! Sabia que tudo ficaria bem quando você voltasse para casa! Eu te amo, eu te amo!

— Amor interesseiro. — ele resmungou de volta.

Mas estava sorrindo.

 

Somersetshire

 

Mais tarde, quando desceu para jantar, Isabella sentia-se um pouco mais confiante em relação a ter de enfrentar uma noite na companhia do Conde de Lannair. Pensou que poderia enfrentar isso. Claro que poderia. Afinal, seria somente uma noite. Ela havia sobrevivido a muito mais tempo de contato com George Hartfield, por exemplo, que era um desafio de nível bastante próximo, e até então sempre saíra ilesa – ou quase ilesa. Não via razão pela qual não poderia se suportar aquela noite também.

Iria se comportar bem. Mesmo que o Conde insistisse em ser hostil e mal educado, manteria uma postura impecável, contornaria a situação, deixaria Francesca satisfeita e então nunca mais precisaria se dirigir àquele homem novamente.

No entanto, depois de quinze minutos na sala de estar, ficou deliciosamente evidente que o Conde ainda não descera. De modo que ninguém poderia acusa-la de fugir do dever.

Isa odiava permanecer calada e quieta, principalmente em reuniões como aquela, por isso se juntou à Henrique e ao Senhor Brooks, o vigário de Heybridge, perto da lareira. Engatou na conversa que estavam tendo, sobre alguma obra que tinham lido em comum, sem prestar muita atenção em suas respostas – e, na verdade, sem entender muito o que diziam, pois nunca lera o livro em questão.

Mas sua atenção foi tirada pela chegada de uma outra figura, irritantemente familiar, que abriu um largo sorriso e apertou as mãos tanto de Henrique quanto do vigário com entusiasmo. George Hartfield era parecido com o irmão mais velho; tinha os mesmos cabelos claros e os olhos cinzentos, que pareciam muito francos e afáveis de primeira instância.

Mas ela conhecia seu verdadeiro eu.

— Bella. — ele a cumprimentou, sorrindo aquele falso sorriso afável.

— É senhorita Ortiz, para você, senhor. — retrucou, sem dó.

— Ah, então agora está dando valor às minúcias sociais? — ele fingiu surpresa. — Da última vez que nos vimos, não parecia ligar para isso.

Isa cerrou os dentes levemente. Por estarem monopolizando o diálogo entre si, tinham se afastado alguns passos de Henrique e do vigário.

— Não me recordo. — murmurou.

— De ter sido imprópria?

— Da última vez que nos vimos. — reiterou, com firmeza. Lutou fortemente contra a vontade de cruzar os braços na frente do peito; isso só daria abertura para mais piadinhas idiotas pois, afinal, não era atitude digna de nenhuma dama. — Pasme, Hartfield, mas não tenho o hábito de lhe dispensar qualquer pensamento durante meu dia.

O sorriso dele tornou-se preguiçoso e mais condescendente. Agora sim estava parecendo com o George Hartfield que conhecia.

— Curta e grossa como sempre. — declarou. — A boa e velha Bella, o terror da sociedade inglesa.

— Nutria a esperança de ser o seu terror.

— Não tanto quanto eu sou o seu, certamente. — ele retrucou. — Olhe, você está ficando um pouco vermelha. E não é de rouge, é? Você não gosta de rouge.

Isabella sentia-se como uma chaleira no limite da ebulição. George Hartfield tinha este poder sobre ela; por mais desprezível que isso fosse e por mais que ela odiasse este fato. Estava acostumada a provocações – na verdade, se considerava um ás na arte de manter-se numa discussão. Mas parecia que o sujeito tinha algo a mais – ela não sabia se era a condescendência inerente, ou o estúpido sorriso que jamais desaparecia de seu rosto, um sorriso do tipo “eu sou o sabichão e você a criança idiota que tenta igualar-se à mim”. Talvez fosse essas duas coisas e muitas outras.

O ponto é que ela, como em outras situações, recusou-se veementemente a ceder àquilo.

— Não consigo conceber a razão pela qual você estaria aqui. — mudou a conversa de rumo de propósito. — Suponho que pretenda partir logo.

— Eu estou aqui pois quis ver meu irmão. E quis ver meu sobrinho.

— Seu sobrinho não nasceu ainda.

— Mas logo vai nascer, não é? — ele reiterou, unindo as mãos atrás das costas. — Sua prima está particularmente enorme este mês, e a criança é esperada para o próximo, não?

— Sim. — ela respondeu, a contragosto.

— Então... — George sorriu novamente o seu sorriso e inclinou-se ligeiramente em sua direção. —... Terei que frustrar seu desejo de me ver desaparecer, Bella. Adoro frustrá-la. Sabia disso?

Mas antes que pudesse respondê-lo – embora Isabella não soubesse exatamente o que diria; talvez tivesse só que se controlar para não cuspir naquele rosto amplamente sorridente, o sujeito recuou e se afastou, indo na direção da esposa do vigário e de Francesca, que o recebeu com um sorriso caloroso.

E foi então – claro – que o Conde de Lannair chegou.

Ele deslizou para dentro da sala em sua cadeira de rodas. Estava impecavelmente vestido, todo de negro, do casaco às botas engraxadas. Os únicos pontos de cor em seu corpo eram a camisa branca e o colete prateado. O cabelo permanecia naquele estilo comprido e ligeiramente desleixado, caindo-lhe sobre a testa. Seus olhos varreram o salão com evidente desagrado e mau humor, de modo que poucos foram o que tiveram a coragem de aproximar-se. Francesca, George e Hartfield deram o primeiro passo, e de algum modo foi como se seu exemplo despertasse nos outros convidados a obrigação de enfrentar aquele dragão também. Isabella permaneceu onde estava.

Ela e George tinham ficado de frente a um enorme e sombrio retrato, que aparentemente fora pintado afim de homenagear algum dos muitos Barões de Hartfield que haviam existido. A obra mostrava um entediado e pomposamente vestido cavalheiro no auge de seus quarenta anos. Isabella nunca seria capaz de compreender como o homem conseguia parecer tão imponente com o seu colarinho pregueado, mas seu olhar de superioridade deixava claro que ele não deixaria George Hartfield sair impune de uma daquelas.

Bella continuou encarando fixamente a figura. Ele parecia encará-la de volta, o que provavelmente demonstrava grande habilidade por parte do artista.

— Nunca gostei de pinturas.

Era o Conde de Lannair. Àquela altura o seu tom de voz desagradável já se tornara bastante conhecido. Francesca deve tê-lo empurrado até ali. Ele certamente não estaria buscando sua companhia por livre e espontânea vontade.

— Lorde Lannair. — ela o cumprimentou, aliviada por sua voz sair quase normal enquanto fazia uma pequena reverência. — Arte não é algo que lhe apetece?

— Disse que não gosto de pinturas, não de arte num geral. — ele respondeu secamente.

Isabella forçou-se a abrir um leve sorriso, como se não tivesse notado o modo como o sujeito falava:

— Então quer dizer que se interessa por algum tipo de arte?

Céus, como soava tola! Parecia uma debutante tonta, desesperada por ganhar aprovação e chamar a atenção de um Lorde rico e promissoramente solteiro – embora ela não soubesse realmente se Lorde Lannair era solteiro. Não parecia ser casado. Era bem novo. E fora para Heybridge sozinho. Além disso, Bella não estava certa se alguma mulher teria a paz de espírito suficiente para tolerar aquele humor ranzinza e o comportamento grosseiro e ignorante que ele exibia.

Mas não importava o quão tola parecia, ela iria em frente. Não fugiria do dever que Francesca lhe dera. E, principalmente, não se deixaria intimidar de novo por aquele sujeito.

Ele a observava com olhos estreitados, como se estivesse desconfiado ou então se divertindo com sua postura atípica. Provavelmente era um pouco das duas coisas. Mas parecia se encolher ligeiramente contra a cadeira, como na noite do sarau. Sua pele não estava pálida como naquela ocasião, mas sua cabeça estava um pouco afundada nos ombros, e seus olhos permaneciam desconfortavelmente fixos em Isabella – como se quisesse evitar olhar para qualquer outro ponto.

Bella comprimiu os lábios. Então inclinou-se um pouco para a frente, murmurando suavemente, quase num sussurro:

— Está com dor, senhor?

O rosto dele, já franzido, fechou-se por completo:

— Não, senhorita. E mesmo se estivesse, não diria a você, não é? Ou então gritaria comigo.

Isa recuou como se tivesse levado um tapa. Seus olhos chisparam. O Conde, por sua vez, juntou as pontas dos dedos, formando um triângulo com as mãos.

— Não é interessante... — continuou, falando muito lentamente. —... Que tudo isso seja forjado por convenção social?

Isabella encarou-o, embora soubesse que nunca conseguiria interpretar a expressão do Conde – e estivesse lutando contra a vontade de lhe estapear o nariz perfeitamente reto. Ele tombou a cabeça lateralmente, o movimento reorganizando as sombras em seu rosto impassível.

Era bonito, Bella percebeu de repente, lembrando do que Francesca dissera mais cedo naquela tarde. Seus traços em si eram bastante comuns; olhos e cabelos castanhos, pele impecavelmente branca e um rosto liso e jovem. Então não era exatamente graças a isso que parecia bonito. Era o modo como olhava para as pessoas, de maneira inabalável e até intimidante. Isso lhe dava uma intensidade difícil de se ignorar. E a boca – ele não parecia sorrir muito, ao menos nunca sorrira para ela —, havia um quê de perversão nela. Isabella supôs que aquilo não deveria parecer atraente mas estranhamente...

Era. Precisava admitir isto, embora não se sentisse minimamente atraída. Afinal, o desprezava.

— Aqui estamos nós dois — continuou o Conde, apontando elegantemente para o resto dos convidados na sala. —, presos em uma sala com...

Isa ainda não entendera aonde ele queria chegar, mas completou:

— Quinze? Vinte pessoas?

— Sim. — ele cedeu, embora não tivesse se dado ao trabalho de olhar a sala tempo o suficiente para confirmar a contagem. — E a presença coletiva destes estranhos está fazendo com que a senhorita, que sabemos não ser civilizada, seja educada comigo.

Isabella mordeu a própria língua. E segurou-a tempo o suficiente para, no momento em que abriu novamente a boca, limitar-se a declarar.

— O senhor não gosta de mim.

— De fato, não gosto.

Qualquer cavalheiro minimamente digno teria mentido, mas aquele não fora o caso. E, de qualquer modo, apesar de sua crescente indignação, Bella sentia que teria sentido-se ofendida se ele tivesse mentido. Parecia, afinal, que não conseguiria manter-se sorrindo como uma tonta obtusa pelo resto da noite. O que não era de todo ruim. Ser honesta provavelmente tornaria sua noite bem mais suportável.

— E eu não gosto do senhor. — concluiu.

— Não achei que gostasse.

— Mas não estou sendo educada com o senhor porque há dez ou doze pessoas na sala, e sim pois minha prima me pediu para fazê-lo. — rebateu.

— Então talvez eu deva elogiá-la, — falou ele, de modo zombeteiro, inclinando um pouco a cabeça. — Por seu imenso senso se honra e responsabilidade.

— Eu me ofenderia se descobrisse que pareço uma pessoa minimamente elogiável aos seus olhos, senhor.

Ele se quer piscou.

— E, ainda assim, sua prima a atrelou a mim.

— Ela se preocupa com a possibilidade de o senhor não ser acolhido aqui em Covington. — confessou Isabella, no tipo de tom que deixava claro que não compartilhava desta preocupação.

O conde ergueu as sobrancelhas com condescendência.

— E ela acha que a senhorita é a pessoa certa para fazer com que eu me sinta acolhido?

— Não contei a ela sobre as minúcias de nosso primeiro encontro.

— Ah. — ele assentiu bruscamente. — Tudo começa a fazer sentido.

Bella cerrou os dentes em uma tentativa fracassada de não bufar. Como odiava aquele tom de voz! Era muito parecido com o que George Hartfield usava. Mas pior. Era aquele tom de voz que parecia dizer “ah, estou vendo como sua linda e pequena mente feminina funciona”. O Conde certamente não era o primeiro homem na Inglaterra a utilizá-lo, mas parecia ter adquirido o dom de torna-lo dez vezes mais afiado que o comum.

 Isabella realmente não conseguia imaginar como alguém podia tolerar a companhia dele por mais que alguns minutos. Sim, era estranhamente agradável aos olhos – o que era ridículo pois, afinal, ela acreditava que todos os vilões deveriam ser feios – e, por mais que odiasse admitir isto, parecia bastante esperto, pelo modo astuto e afiado como falava. Definitivamente não tinha receio de expor suas opiniões. Mas, por Deus, o homem era tão exasperador quanto unhas arranhando a lousa.

Ela se inclinou para a frente e encarou-o, desafiadora.

— Gostando ou não, senhor, terá de me aturar pelo resto da noite, visto que minha prima fez o favor de coloca-lo ao meu lado no jantar. Talvez seja hora de inventar uma desculpa e recusar o convite dela tardiamente.

— Eu acho — o sujeito começou, daquele jeito lento com o qual aparentemente adorava falar, aquele tom que fazia parecer que falava com uma criança particularmente burra. — que é tarde demais para isso, senhorita Ortiz. E, de qualquer modo, talvez esta se quer seja a última noite na qual nos vemos.

Bella recuou, pega de surpresa. Ele pareceu saborear sua reação, com aqueles olhos escuros com um brilho ligeiramente perverso.

— Sua prima afavelmente estendeu seu convite para quando estivermos em Londres. Eu partirei amanhã, mas logo ficarei sem muito o que fazer na cidade.

— Não tem motivos para aceitar. — a espanhola rebateu prontamente. — Não conhece Hartfield. Nem tem proximidade com ninguém aqui.

— Não mesmo. — o homem concordou. — E odeio pessoas de modo geral. Mas o tédio é uma força notavelmente influente sobre um homem, você sabe.

Ele estava claramente divertindo-se às suas custas. Provavelmente estava se revirando de rir internamente da exasperação crescente que estava despertando nela. Exatamente como acontecera na última vez em que tinham conversado, mas pior; antes, ele a tinha intimidado graças à grosseria e ao constrangimento. Agora, estava a tirando do sério. Um poder que Isabella odiava ceder a outros.

— Cuidado da próxima vez que estiver usando suas muletas. — sibilou. — Talvez eu não resista ao ímpeto de arrancá-las do senhor.

Ele arqueou uma única sobrancelha. E ela estava pronta para virar-se e disparar para longe de sua pessoa, esquecendo sua promessa à Francesca, seu dever, tudo. Mas justo quando estava na metade do caminho, cruzando a sala de estar, Francesca decidiu anunciar que o jantar estava para começar.

Pouco após isto, ouviu o som das rodas deslizando a seu lado.

— E, ainda assim, — começou o Conde, num tom de voz muito baixo. — está atrelada a mim pelo resto da noite, não é?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Me deixem saber aqui embaixo!
Xoxo



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