Capítulo 3: Os Milagres acontecem

Lara e Alicia desceram as escadas preparando-se para tomar o rumo da farmácia mais próxima. No entanto, os seus planos saíram gorados já que Grace decidiu acompanhá-las.

- Grace não é preciso ires! Eu e a Alicia só vamos dar uma volta e já voltamos. – Lara tentava desesperadamente convencer Grace a ficar enquanto a governanta punha um chapéu cheio de penas coloridas.

- Que é isso! Eu vou sim senhora. Não vos quero atrapalhar, mas como me esqueci de pedir nabos, tenho de visitar de novo o mercado. E até apanho ar! – Grace pegou na carteira e abriu a porta.

- Se quiser podemos trazer do mercado, escusa de se incomodar Grace. – Alicia olhou para Lara que se encontrava desesperada.

- Não é incómodo nenhum! – Grace saiu e as duas raparigas encolheram os ombros, não tendo outro remédio senão segui-la.

O mercado ficava a três quarteirões de casa e chegaram lá rapidamente. Grace tinha um andar bastante rápido para a sua estatura e arrastou Alicia e Lara enfiando o braço a cada uma. A secção alimentar era interior, mas do lado de fora várias lojas e cafés serviam quem passava.

- Nós vamos ficar cá fora. Precisamos comprar uma revista! - Alicia puxou Lara para a papelaria.

- Estejam à vontade! Se calhar ainda vou demorar e lá dentro está sempre uma confusão. – Grace entrou e Alicia e Lara folheavam as revistas expostas, tentando não dar nas vistas.

- Cum' caneco, Alicia! O que é que fazemos agora? – Lara folheava página por página mas não prestava atenção.

- Tive uma ideia! – Alicia aproximou-se de Lara. – Se formos as duas a Grace vai dar por ela…

- Mas eu não tenho cara para lá ir e pedir isso! – Lara sentia-se como se fosse ser enforcada a qualquer momento.

- Por isso vou eu! A farmácia é perto, em 10 minutos volto. – Alicia olhou em volta e não viu ninguém. Depois caminhou apressadamente até ao local programado.

Lara ficou olhando distante. Em meses, ou melhor em dias, a sua vida tinha mudado 180 graus. Tinha medo de fazer o teste. Já tinha tido atrasos, mas como este não. O cálculo que fez indicava que este tanto tinha atrasado no passado como no presente. Já não percebia nada. Pousou a mão no ventre e sentiu-se esquisita. Definitivamente era um momento que só tinha planeado para dali a 10 anos.

- Olá Lara! – uma voz atrás de si fez com que desse um salto. Thomas estava especado atrás de si com ar simpático.

- Olá… Thomas! – disse com voz meio sumida. Definitivamente, Thomas aparecia quando não devia, mas também o pobre coitado não sabia em que alhada Lara se tinha metido.

- O que estás aqui a fazer? – Perguntou olhando fixamente, o que deixou Lara incomodada.

- A Grace teve de vir ao mercado e eu e a Alicia viemos também. – Lara desviou os olhos para a revista. Há algum tempo atrás, aquela situação a deixaria completamente ruborizada e sem saber o que fazer. Agora, Lara continuava sem saber o dizer, mas não se sentia nervosa. Isso só acontecia quando tinha aqueles olhos cor de chocolate e irresistíveis pregados em si.

- E aonde está a Alicia? – Perguntou o rapaz.

- Foi buscar uma coisa e vem já. – Lara olhou para o trajecto feito por Alicia à procura de algum sinal.

- Não achas estranho? – A pergunta de Thomas fez Lara voltar a cabeça em sua direcção sem perceber. – Que nos cruzemos duas vezes no mesmo dia?

- Ah, isso. As coincidências acontecem! – Lara fez um sorriso amarelo, mas para mal dos seus pecados, Grace apareceu no mesmo instante.

- Ora aqui está, menina Lara! – Grace olhou para Thomas de cima a baixo deixando este bastante envergonhado. – Eu sabia! Se era para isso, bastava dizer Larinha!

- Era o quê? – Lara estava confusa assim como Thomas.

- Ué! Para a menina se encontrar com o namorado! Eu vim sem saber e acabei estragando tudo. – Grace olhou em volta. – Até a menina Alicia saiu para vos deixar a sós!

Lara estava com vontade de correr tudo à chapada e Thomas parecia ter levado com um tacho na cara. Mas a volta de Alicia fez com que o clima pesado que se instalou quebrasse.

- Lara já trago aqui o… - Alicia vinha correndo mas estancou ao chegar ao local. Olhou para Lara e viu que esta lhe pedia para a tirar dali a todo o custo. - …aquilo que me pediste!

- Óptimo! – Lara agarrou Alicia pelo braço. – Até amanha Thomas. Grace podemos ir?

- E não te despedes do moço? – Grace olhava para Lara reprovadoramente.

- O que é que se passa? – Alicia fitava os presentes sem perceber nada.

- Já me despedi. Vamos. – Lara caminhou a passos largos arrastando Alicia.

Lara e Alicia tinham-se trancado no quarto e não quiseram comer. Mesmo assim Grace levou um lanche ao quarto, resmungando sempre a mesma ladainha da magreza e da "gordura é formosura".

- Vais fazê-lo ou não? – Alicia olhava impaciente para Lara. Esta já tinha lido as explicações do teste mil vezes.

- Se calhar é só um atraso… - Lara foi interrompida por Alicia.

- Lara! – Alicia suspirou fundo. – Só vais saber isso quando o fizeres! É fácil.

- Fácil para ti, que não estás nesta situação! – Lara resmungou.

- Também era difícil. – Alicia desabou na cama e suspirou.

- Tu e o Will… - Lara deu a entender.

- Se acontecesse algo tinha-te dito não era? – Alicia rebolou os olhos. – Ele é daqueles que só depois do casamento. – Disse desconsoladamente.

Lara sorriu. Tinha muitas saudades dos pais e de algumas coisas do seu mundo. Mas nos últimos dias, as saudades de Jack e daquele mundo à parte eram insuportáveis. Tinha saudade de tudo, até da vida não muito cómoda a bordo de um navio. As piadas de Pintel e Raguetti, as zangas entre Barbossa e Jack e até as conversas loucas com Elizabeth. Também ficava triste ao ver que Alicia, embora tentasse disfarçar, estava quase a arrebentar de saudades de Will.

Olhou para Alicia. Esta tinha-se colocado de pé e em posição de ordem. Era agora ou nunca. Levantou-se pesarosamente e arrastou-se até à casa de banho, fechando a porta e deixando Alicia roendo as unhas.

Tinha passado quase meia hora e Lara continuava trancada na casa de banho.

- Caramba Lara, caís-te à sanita? Daqui a pouco morro à seca! – Alicia andava de um lado para o outro. Ouviu o click da porta e olhou ansiosamente.

Lara saía de olhos fechados e às apalpadelas.

- Vê tu o resultado primeiro. – Disse, esticando o teste a Alicia e abrindo os olhos.

- E foi preciso tanto tempo? – Alicia pegou no teste e olhou o resultado.

- Estive a meditar sobre a minha vida e acho que pirei de vez. – Lara sentou-se na beira da cama, olhando de lado para a amiga.

- Pelas barbas de Oceano! – Alicia olhou para Lara com um sorriso de orelha a orelha, mas esta manteve-se estática e com um olhar de pânico.

- Não pode ser! – Murmurou.

- Lara, tu estás grávida! – Alicia pulou de alegria. – Já viste! Eu quero ser a madrinha! – Alicia abraçou uma Lara gelada e absorta.

- Grávida? – Lara disse. – Grávida de um filho do Jack Sparrow?

- Claro que sim! Havia de ser de quem? – Parecia que quem estava grávida era Alicia e não Lara.

Lara olhou para Alicia e desabou num choro.

- Raios Lara. Havias de estar feliz!

- Alicia… - Lara tentou limpar as lágrimas mas estas não paravam. – Não é que não esteja feliz, mas como é que eu vou explicar isto aos meus pais? Com que cara é que vou olhar para eles, dizer que estou grávida e que ainda por cima é de alguém que não está cá, que morreu há quase 300 anos e que toda a gente pensa ser uma personagem de ficção? – Lara levou as mãos à cara.

- Bem, pode ser que não seja preciso dizer nada! – Alicia sorriu. – Podemos voltar para lá e assim ninguém descobre.

- Mas tu és parva, Alicia? Como é que vamos voltar se a bússola é a errada? – Lara pôs-se de pé e andava de um lado para o outro. – Ainda por cima aquele homem que me deu a bússola desapareceu do mapa!

A verdade é que o homem esquisito tinha desaparecido. Haviam ido quase todos os dias lá e apenas encontravam uma rapariga no seu lugar, que dizia sempre a mesma coisa: ele tinha ido tratar de assuntos pessoais e não tinha data para voltar.

- Mas também não pensamos na outra hipótese. – Alicia fez com que Lara parasse de andar em círculos. – A bússola está com o Jack, por isso pode ser que venham cá parar!

- Pois, mas para isso o Jack tem de desejar isso. – Lara bufou. – E milagres não existem.

- Não sabes! – Alicia exclamou. – Mas agora falando na novidade, o que é que queres? Menino ou menina?

Lara fitou Alicia e rebolou os olhos. O seu mundo tinha virado ao contrário.

Durante a noite, Lara não conseguiu dormir. Não parava de pensar na alhada em que se tinha metido e só queria uma de duas coisas: que tudo não passasse de um sonho, ou então o abraço reconfortante de Jack. E parecia que nenhuma das duas iria acontecer. Adormeceu debulhada em lágrimas.

- Meninas! – O berro de Grace fez com que Lara e Alicia saltassem da cama. – É hora de acordar!

- Pelo amor de Deus, são oito da manhã! – Alicia olhou para o relógio depois das fortes batidas de Grace na porta.

- E então? Nunca ouviu dizer que levantar cedo faz o dia render muito mais? – Ouviram a gargalhada da governanta prolongar-se no ar, enquanto descia as escadas.

- Isto só pode ser um pesadelo! – Alicia atirou a almofada ao ar.

- A quem o dizes. – Resmungou Lara.

- Caramba Lara, anima-te! – Alicia levantou-se. – Vais ver que tudo se vai resolver.

Enquanto Alicia se arranjava na casa de banho, Lara continuava prostrada na cama olhando o tecto. Havia de existir uma maneira de voltar ao passado, pensava enquanto mirava o aposento mais que conhecido. Decidiu que iria voltar à barraca do homem todos os dias até o encontrar. Começava a desconfiar daquela figura e a dar razão a Alicia. Aquele homem escondia algo. Lembrou-se também da mulher misteriosa que viu duas vezes e pensou que talvez tivesse algo a ver com o velho homem.

Depois, algo passou pela sua cabeça: o filho que esperava. Ficou apreensiva, mas depois deu consigo a sorrir ao tentar adivinhar a reacção de Jack. Isto se alguma vez o voltaria a ver.

Quando Alicia saiu finalmente da casa de banho, Lara fez o mesmo.

- Estou lá em baixo a ver TV. – Alicia saiu e Lara apenas acenou com a cabeça.

Fechou a porta da casa de banho e rodou o chuveiro para aquecer. Normalmente entrava logo na banheira, mas naquele dia decidiu esperar e lavar primeiro os dentes.

Enquanto esfregava calmamente a escova pelos dentes, olhava-se no espelho. Estava mais morena. Muito mais do que costumava ficar e perguntou-se se os seus pais notaram isso quando voltou.

Os seus pensamentos foram atravessados por uma luz forte que a fez fechar os olhos. Baixou a cabeça e ouviu um estrondo. Abriu os olhos e mirou em volta. Pensou que fosse o varão da cortina da banheira que tivesse caído, mas este mantinha-se intacto no seu lugar. Mas algo esquisito se passava com a dita cortina. Movia-se freneticamente como se alguém estivesse lá dentro. "Está alguém ou algo lá dentro!", pensou assustada. E foi aí que vozes conhecidas se fizeram ouvir.

- Sai de cima de mim, seu cão sarnento! – Berrou Barbossa.

- Calma, só depois do eunuco e da lady pararem de partir as minhas costelas! – Exclamou Jack com ar sarcástico.

Lara começou a sentir o seu coração prestes a sair do peito. Cuspiu a espuma da pasta dentífrica e limpou a boca com mãos trémulas.

- Raios, tinha de chover agora! – Elizabeth berrou.

Lara caminhou até à banheira e afastou a cortina de uma só vez. Foi aí que viu uma cena que a fez recuar sem saber o que fazer, mas que poria qualquer um a rir. Barbossa estava espalhado no funda banheira com Jack em cima de si, que por sua vez tinha Will e Elizabeth em cima de si também.

- JACK? – Lara exclamou caindo redonda no tampo da sanita.

- Aye Love! – Jack sorriu com o seu típico ar de safado.

Continua…