A Câmara Secreta - Por Rony W. e Hermione G. escrita por overexposedxx, Popione


Capítulo 14
Capítulo 14 - Diante da Câmara




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— Tantas vezes estivemos naquele banheiro, e ela ali a apenas três boxes de distância – comentou Rony, amargurado, à mesa do café, na manhã seguinte –, e poderíamos ter perguntado a ela, e agora com toda a patrulha dos professores e a cena do ataque sendo vigiada, como chegaremos lá?

Harry não respondeu: parecia não ter nada em mente também.

Na primeira aula do dia, Transfiguração, a Profa McGonagall avisou que os exames começariam no dia primeiro de junho, dali a uma semana.

— Exames? – gritou Simas Finnigan. – E vamos ter exames?

Ouviram um estrondo atrás de Harry quando a varinha de Neville escapuliu e fez desaparecer um pé de sua carteira. A professora restaurou-a com um aceno da própria varinha e se virou de cara amarrada para Simas.

— A razão de se manter a escola aberta neste momento é vocês receberem educação – disse ela severamente. – Portanto, os exames vão se realizar normalmente, e confio que vocês estejam estudando a sério.

Houve muitos murmúrios de protesto na sala que fizeram a professora amarrar ainda mais a cara.

— As instruções que recebi do Prof. Dumbledore foram no sentido de manter a escola funcionando o mais normalmente possível. E isto, não preciso dizer, significa descobrir o quanto os senhores aprenderam neste ano.

Rony não conseguia acreditar que as notícias ruins não paravam de chegar. Já não era um excelente aluno quando a varinha funcionava, quem dirá agora. Além disso, sempre contou com a ajuda de Mione para estudar e desta vez não teria isso também. E, é claro, ela ficaria em desespero se soubesse dos exames e não tivesse estudado.

— Você pode me imaginar fazendo exames com isso? – perguntou ele a Harry, mostrando a varinha, que começara a assobiar alto.

Três dias antes do primeiro exame, a Profa McGonagall deu outro aviso no café da manhã.

— Tenho boas notícias – disse, e os alunos no Salão, ao invés de se calarem, desataram a falar.

— Dumbledore vai voltar! – exclamaram de alegria vários alunos.

— Apanharam o herdeiro de Slytherin! – gritou, esganiçada, uma menina na mesa da Corvinal.

— Os jogos de quadribol vão recomeçar! – berrou Olívio excitado.

Quando o vozerio diminuiu, a professora disse:

— A Profa Sprout me informou que finalmente as mandrágoras estão prontas para serem colhidas. Hoje à noite, poderemos ressuscitar os alunos que foram petrificados. Não será preciso lembrar a todos que um deles talvez possa nos dizer quem ou o que os atacou. Tenho esperanças que este ano tenebroso terminará com a captura do culpado.

Finalmente uma notícia boa - foi o que pensou Rony, sentindo-se instantaneamente mais feliz, e falou pra Harry:

— Então, não vai fazer diferença nunca termos perguntado nada à Murta! Mione provavelmente terá todas as respostas quando a acordarem! E mais, vai endoidar quando descobrir que vamos ter exames dentro de três dias. Ela não estudou. Seria mais caridoso que a deixassem onde está até os exames terminarem.

Nesse instante, Gina Weasley se aproximou e se sentou ao lado de Rony.

— Que foi que aconteceu? – perguntou Rony, servindo-se de mais mingau.

Gina não disse nada, mas olhava de uma ponta a outra da mesa da Grifinória com uma expressão apavorada no rosto.

— Desembucha logo – disse Rony, observando-a, começando a se preocupar com o estado da irmã.

— Tenho que lhe contar uma coisa – murmurou Gina, tomando cuidado para não olhar para Harry.

— O quê? – perguntou Harry.

Gina fez cara de quem não conseguia encontrar as palavras certas.

— Que é? – perguntou Rony, já apreensivo.

Gina abriu a boca, mas não saiu som algum. Harry se curvou para a frente e falou baixinho, de modo que somente Gina e Rony pudessem ouvir.

— É uma coisa sobre a Câmara Secreta? Você viu alguma coisa? Alguém se comportando estranhamente?

Gina tomou fôlego e, naquele exato momento, Percy Weasley apareceu, com a cara cansada e pálida.

— Se você já terminou de comer, fico com o seu lugar, Gina. Estou morto de fome. Acabei de ser liberado do serviço de vigilância.

Gina deu um pulo como se sua cadeira estivesse eletrificada, lançou a Percy um olhar rápido e amedrontado e saiu correndo. Percy se sentou e pegou uma caneca no meio da mesa.

— Percy! – disse Rony aborrecido. – Ela ia começar a nos contar uma coisa importante!

A meio caminho de beber um gole de chá, Percy se engasgou.

— Que tipo de coisa? – perguntou ele, tossindo.

— Acabei de perguntar se tinha visto alguma coisa estranha e ela começou a dizer... - disse Harry.

— Ah, isso, não tem nada a ver com a Câmara Secreta – disse Percy na mesma hora.

— Como é que você sabe? – perguntou Rony erguendo as sobrancelhas.

— Bem, se você faz questão de saber, Gina, hum, esbarrou comigo no outro dia quando eu estava... bem, não importa, a questão é que ela me viu fazendo uma coisa e eu, hum, pedi a ela para não contar a ninguém. Devo dizer que achei que ela ia cumprir a promessa. Não é nada, verdade, só que eu preferia...

Uma sensação de alívio atingiu Rony, que logo encarou o irmão de volta, querendo rir:

— Que é que você estava fazendo, Percy? Vamos, conte para a gente, não vamos rir.

Percy não retribuiu o sorriso.

— Me passa esses pães, Harry, estou morto de fome.

Ao contrário do que Rony imaginara, Harry estava decidido a falar com Murta, mesmo que Hermione fosse voltar no dia seguinte e esclarecer tudo: teve a prova disso no meio da manhã, quando a turma estava sendo levada para a aula de História da Magia por Gilderoy Lockhart. O professor, que parecia contrariado por ter que levá-los, ia dizendo como achava tudo aquilo uma besteira já que Hagrid tinha sido pego, quando, para surpresa de Rony, Harry concordou com o professor.

— Obrigado, Harry – disse Lockhart, gentilmente, enquanto esperavam uma longa fila de alunos da Lufa-Lufa passar. – Quero dizer, nós, professores, já temos muito o que fazer sem ter que acompanhar alunos às aulas e ficar de guarda a noite inteira...

— Tem razão – disse Rony, percebendo a jogada. – Por que o senhor não nos deixa aqui, só temos mais um corredor pela frente...

— Sabe, Weasley, acho que vou fazer isso. Preciso mesmo preparar a minha próxima aula...

E se afastou depressa.

— Preparar a aula – Rony caçoou quando o professor se foi. – É mais provável que vá é enrolar os cabelos.

Os dois amigos deixaram o resto dos colegas da Grifinória seguirem em frente, dispararam por uma passagem lateral e correram para o banheiro da Murta Que Geme. Mas quando estavam se parabenizando pela jogada genial...

— Potter! Weasley! Que é que os senhores estão fazendo?

Era a Profa McGonagall, e sua boca parecia um fio de linha de tão fina.

— Íamos... íamos... – gaguejou Rony. – Íamos... ver...

— Mione – disse Harry. Rony e a professora olharam para ele.

—Não a vemos há séculos, professora. - continuou Harry depressa, pisando o pé de Rony - E pensamos em entrar sem sermos vistos na ala hospitalar, sabe, e contar a ela que as mandrágoras já estão quase prontas e... para não se preocupar...

Rony, por um instante, achou que a desculpa não ia colar com McGonagall, mas quando a professora respondeu, tinha a voz estranhamente rouca.

— Claro! Claro, compreendo que isto tenha sido mais duro para os amigos dos que foram... compreendo bem. Está bem, Potter, é claro que os senhores podem ir visitar a Srta. Granger. Vou informar ao Prof. Binns aonde foram. Diga a Madame Pomfrey que têm a minha permissão.

Harry e Rony se afastaram, mal ousando acreditar que tinham evitado uma detenção. Quando dobraram o canto do corredor, ouviram distintamente a professora assoar o nariz.

— Essa – disse Rony entusiasmado – foi a melhor história que você já inventou.

Não havia escolha agora senão ir à ala hospitalar e dizer à Madame Pomfrey que tinham permissão da Profa McGonagall para visitar Mione.

Madame Pomfrey os deixou entrar, com relutância.

— Não tem sentido conversar com uma pessoa petrificada – disse ela, e os garotos tiveram que admitir que estava certa, depois de se sentarem ao lado de Mione. Era evidente que Mione nem imaginava que tinha visitas, e que tanto fazia dizerem ao armário de cabeceira para não se preocupar, tal era o bem que a conversa poderia produzir.

— Mas eu me pergunto se ela terá visto o atacante – disse Rony, contemplando com tristeza o rosto rígido de Mione. – Porque se ele chegou sem ser visto, ninguém nunca vai saber...

Harry não parecia prestar atenção: estava chegando mais perto da mão direita da amiga e, verificando onde estava Madame Pomfrey, ele apontou um papel que estava preso na mão dela.

— Tente tirar – cochichou Rony, mudando a posição da cadeira de modo a esconder Harry da vista de Madame Pomfrey.

Rony ficou vigiando enquanto Harry tentava tirá-lo e, quando conseguiu, viram que se tratava de uma página rasgada de um livro muito velho da biblioteca. Harry alisou-a ansioso, e Rony se curvou mais para ler também.

"Das muitas feras e monstros medonhos que vagam pela nossa terra não há nenhum mais curioso ou mortal do que o basilisco, também conhecido como rei das serpentes. Esta cobra, que pode alcançar um tamanho gigantesco e viver centenas de anos, nasce de um ovo de galinha, chocado por uma rã. Seus métodos de matar são os mais espantosos, pois além das presas letais e venenosas, o basilisco tem um olhar mortífero, e todos que são fixados pelos seus olhos sofrem morte instantânea. As aranhas fogem do basilisco, pois é seu inimigo mortal, e o basilisco foge apenas do canto do galo, que lhe é fatal."

E, no pé da página, Mione tinha escrito: "Canos".

— Rony – sussurrou Harry – É isso. Isso é a resposta. O monstro na Câmara é um basilisco, uma cobra gigantesca! É por isso que andei ouvindo a voz por todo lado, e ninguém mais ouvia. É porque entendo a língua das cobras...

Harry ergueu os olhos para as camas à sua volta e desatou a falar como se tudo estivesse ali o tempo todo. Rony começou a processar de volta todas as informações que estavam em sua cabeça, junto àquelas novas.

— O basilisco mata as pessoas com o olhar. Mas ninguém morreu, porque ninguém o encarou. Colin viu o bicho através da lente da máquina fotográfica. O basilisco queimou o filme que havia dentro, mas Colin só ficou petrificado. Justino... Justino deve ter visto o basilisco através do Nick Quase Sem Cabeça! Nick recebeu todo o impacto, mas não podia morrer novamente... e Mione e aquela monitora da Corvinal foram encontradas com um espelho ao lado delas. Mione acabara de perceber que o monstro era um basilisco. Aposto o que você quiser que ela preveniu a primeira pessoa que encontrou para antes de virar um canto, primeiro olhar o outro lado com um espelho! E aquela garota tirou o espelho da mochila... e...

O queixo de Rony caíra.

— E Madame Nor-r-ra? – perguntou, ansioso.

Harry pensou bastante – A água... – disse lentamente. – A inundação do banheiro da Murta Que Geme. Aposto como Madame Nor-r-ra só viu o reflexo...

Harry examinou a página que tinha na mão, pressuroso.

— "...O canto do galo... lhe é letal!" – leu ele em voz alta. – Os galos de Hagrid foram mortos! O herdeiro de Slytherin não queria nenhum perto do castelo quando a Câmara fosse aberta! "As aranhas fogem do basilisco!" Tudo se encaixa!

— Mas como é que o basilisco anda circulando pelo castelo? – perguntou Rony. – Uma cobra gigantesca... Alguém a teria visto...

Harry, porém, apontou para a palavra que Mione escrevera no pé da página.

— Canos. Canos... Rony, ela está usando os canos. Tenho ouvido aquela voz dentro das paredes...

Rony agarrou de repente o braço de Harry. Soava tão evidente que, ao mesmo tempo, parecia surreal.

— A entrada para a Câmara Secreta! – disse com a voz rouca. – E se for um banheiro? E se for o...

— Banheiro da Murta Que Geme – completou Harry.

Os dois ficaram sentados ali, a excitação circulando com rapidez pelo corpo, mal conseguindo acreditar.

— Isto significa – disse Harry – que não devo ser o único a falar a língua das cobras na escola. O herdeiro de Slytherin deve ser outro que fala também. É assim que ele controla o basilisco.

— Que vamos fazer? – perguntou Rony, cujos olhos faiscavam. – Vamos direto à Profa McGonagall?

— Vamos à sala dos professores – disse Harry, ficando de pé de um salto. – Ela vai para lá dentro de dez minutos. Já está quase na hora do intervalo.

Os garotos correram diretamente à sala dos professores que ainda estava deserta. Ficaram andando de um lado para o outro, esperando a sineta do intervalo tocar, mas ela jamais tocou. Em vez disso, ecoando pelos corredores, ouviram a voz da Profa McGonagall, magicamente amplificada.

"Todos os alunos voltem imediatamente aos dormitórios de suas casas. Todos os professores voltem à sala de professores. Imediatamente, por favor."

Harry virou-se para encarar Rony e disse:

— Não outro ataque! Não agora!

— Que vamos fazer? – disse Rony horrorizado. – Voltar ao dormitório?

— Não – disse Harry, olhando à sua volta indicando um guardaroupa à sua esquerda, onde guardavam as capas dos professores. – Ali dentro. Vamos ouvir o que foi. Depois podemos contar o que descobrimos.

Os garotos se esconderam dentro do armário, escutando o barulho de centenas de pessoas andando no andar de cima e a porta da sala de professores se abrir e bater. Do meio das dobras mofadas das capas, observaram os professores chegarem um a um. Alguns pareciam intrigados, outros completamente apavorados. Então chegou a Profa McGonagall.

— Aconteceu – disse ela na sala silenciosa. – Uma aluna foi levada pelo monstro. Para a Câmara.

O Prof. Flitwick deixou escapar um grito fino. A Profa Sprout tampou a boca com as mãos. Snape agarrou com muita força o espaldar de uma cadeira e perguntou:

— Como você pode ter certeza?

— O herdeiro de Slytherin – disse a professora muito pálida – deixou outra mensagem. Logo abaixo da primeira. "O esqueleto dela jazerá na Câmara para sempre."

O Prof. Flitwick rompeu em lágrimas.

— Quem foi? – perguntou Madame Hooch, que afundara, com os joelhos bambos, numa cadeira. – Que aluna?

— Gina Weasley – respondeu McGonagall.

As pernas de Rony falharam e ele escorregou silenciosamente para o chão do armário, apoiando a cabeça na parede. Seu coração pareceu falhar numa batida exagerada e engatilhar-se com esforço novamente, enquanto sua voz sumia da garganta. Sua irmã. Sua irmãzinha, Gina. Em perigo mortal, nas mãos de alguém terrível e impiedoso, para ajudar, provavelmente armado com a fera que era um Basilisco.

— Teremos que mandar todos os alunos para casa amanhã – continuou ela. – Isto é o fim de Hogwarts. Dumbledore sempre disse...

A porta da sala de professores bateu outra vez, e pela voz era Lockhart.

— Lamento muito, cochilei, que foi que perdi?

— O homem de que precisávamos! Em pessoa! - Rony ouviu a voz de Snape dizer - Uma menina foi sequestrada pelo monstro, Lockhart. Levada para a Câmara Secreta. Chegou finalmente a sua vez.

— Isto mesmo, Gilderoy – disse a Profa Sprout. – Você não estava dizendo ainda ontem à noite que sempre soube onde era a entrada da Câmara Secreta?

— Eu... bem, eu... – gaguejou Lockhart.

— É, você não me disse que tinha certeza do que havia dentro dela? – falou o Prof. Flitwick.

— D-disse? Não me lembro...

— Pois eu me lembro de você dizendo que lamentava não ter tido uma chance de enfrentar o monstro antes de Hagrid ser preso – continuou Snape. – Você não disse que o caso todo foi mal conduzido e que deviam ter-lhe dado carta branca desde o começo?

— Eu... eu realmente nunca... vocês devem ter entendido mal...

— Vamos deixar o problema em suas mãos, então, Gilderoy – disse a Profa McGonagall. – Hoje à noite será uma ocasião excelente para resolvê-lo. Vamos providenciar para que todos estejam fora do seu caminho. Você terá oportunidade de cuidar do monstro sozinho. Enfim, terá carta branca.

Após um breve silêncio, Rony o ouviu dizer:

— M-muito bem. Estarei... estarei em minha sala me... me preparando. E saiu.

— Muito bem – disse a Profa McGonagall, cujas narinas tremiam –, com isso o tiramos do caminho. Os diretores das casas devem ir informar os alunos do que aconteceu. Digam que o Expresso de Hogwarts os levará para casa logo de manhã. Os demais, por favor, certifiquem-se de que nenhum aluno fique fora dos dormitórios.

Rony ouviu os professores se levantaram e saíram. Quando estavam novamente sozinhos, Harry indicou que poderiam sair de lá e os dois foram à Sala Comunal. Rony estava devastado, assim como seus irmãos. Harry, ele, Fred e Jorge se sentaram juntos a um canto da sala comunal da Grifinória, incapazes de dizer qualquer coisa. Percy não estava presente: fora despachar uma coruja para os pais, depois trancou-se no dormitório.

A tarde se arrastou. A Torre da Grifinória nunca esteve tão cheia e, no entanto, tão silenciosa. Próximo ao pôr do sol, Fred e Jorge foram se deitar, porque não conseguiam continuar sentados. Rony não parava de pensar no que Gina iria contar pra ele mais cedo. Afinal, ela buscara por ele aquela manhã, e ele, de novo, não pudera ajudar. Como havia sido em não poder impedir Hermione de ir à biblioteca, mas pior, porque estava vendo o quanto Gina estivera estranha nos últimos dias e não devia ser à toa. Ele devia saber. Devia conhecer melhor sua irmã, como agora parecia, pelo que imaginava ter sido óbvio.

— Ela sabia alguma coisa, Harry – disse Rony, falando pela primeira vez desde que entraram no armário da sala de professores. – É por isso que foi sequestrada. Não era uma bobagem sobre o Percy, nada disso. Descobriu alguma coisa sobre a Câmara Secreta. Deve ter sido por isso que foi... – Rony esfregou os olhos com força. – Quero dizer, ela era puro sangue. Não pode haver nenhum outro motivo. - e então, engoliu a seco. Dissera o verbo no passado, sem pensar. Estava muito assustado.

— Harry – disse Rony. – Você acha que pode haver alguma chance de ela não estar... sabe...

Mas o amigo nada disse, o que pareceu indicar que a resposta era não. Rony não conseguia aceitar aquilo. Não podia simplesmente aceitar que sua irmã estava morta e que tudo havia acabado.

Então, por mais que odiasse o professor Lockhart, se ele iria mesmo tentar entrar na Câmara, a única coisa que passou por sua cabeça foi ajudá-lo.

— Sabe de uma coisa? – falou Rony. – Acho que devíamos ir ver Lockhart. Contar a ele o que sabemos. Ele vai tentar entrar na Câmara. Podemos contar onde achamos que é, e avisar que tem um basilisco lá dentro.

Harry concordou. Os alunos da Grifinória na sala estavam tão infelizes e sentiam tanta pena dos Weasley, que ninguém tentou impedi-los quando se levantaram, atravessaram a sala e saíram pelo buraco do retrato.

Anoitecia quando desceram à sala de Lockhart. Parecia haver muita atividade lá dentro. Os garotos ouviram coisas sendo arrastadas, baques surdos e passos apressados.

Harry bateu e fez-se um repentino silêncio na sala. Então abriu-se uma frestinha na porta e eles viram o olho de Lockhart espreitando.

— Ah... Sr. Potter... Sr. Weasley... – disse, abrindo um pouco mais a porta. – Estou muito ocupado no momento, se puderem ser rápidos...

— Professor, temos umas informações para o senhor – disse Harry. – Achamos que podem ajudá-lo.

— Hum... bem... não é tão... – A metade do rosto de Lockhart que podiam ver parecia muito constrangida. – Quero dizer... bem... muito bem...

Ele abriu a porta e os garotos entraram.

Sua sala tinha sido quase completamente desmontada. Havia dois malões abertos no chão. Vestes verde-jade, lilás, azul-meia-noite, tinham sido apressadamente dobradas e guardadas em um deles; livros tinham sido enfiados de qualquer jeito no outro. As fotografias que cobriam as paredes agora estavam comprimidas em caixas sobre a escrivaninha.

— O senhor vai a algum lugar? – perguntou Harry.

— Hum, bem, vou – disse Lockhart, arrancando um pôster com a sua foto em tamanho natural das costas da porta, enquanto falava, e começando a enrolá-lo. – Chamado urgente... inevitável... tenho que partir...

— E a minha irmã? – perguntou Rony, de supetão.

— Bem, sobre isso... foi muito azar... – respondeu Lockhart, evitando encarar os garotos, enquanto puxava uma gaveta com força e começava a esvaziar o seu conteúdo em uma mochila. – Ninguém lamenta mais do que eu...

— O senhor é o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas! – exclamou Harry. – Não pode ir embora agora! Não com todas essas artes das trevas em ação!

— Bem... devo dizer... quando aceitei o emprego... – resmungou Lockhart, agora amontoando meias por cima das vestes – nada na descrição da função... não era de esperar...

— O senhor quer dizer que está fugindo? – disse Harry, incrédulo. Se sua voz não tivesse sumido de novo sob a aflição da ideia de que, a cada minuto perdido ali, e agora, com a notícia da fuga covarde de Lockhart, sua irmã estava cada vez metida em mais perigo letal, ele teria gritado e, finalmente, xingado o Professor de todos os nomes que havia dito pelas costas dele, e muito mais – Depois de tudo que fez nos seus livros...

— Os livros podem ser enganosos – disse Lockhart gentilmente.

— Mas foi o senhor quem os escreveu – gritou Harry.

— Meu caro rapaz – disse Lockhart se endireitando e amarrando a cara para Harry. – Use o bom-senso. Meus livros não teriam vendido nem a metade se as pessoas não achassem que eu fiz todas aquelas coisas. Ninguém quer ler histórias de um velho bruxo feio da Armênia, mesmo que tenha salvado uma cidade dos lobisomens. Ele ficaria medonho na capa. Nem sabe se vestir. E a bruxa que afugentou o espírito agourento tinha lábio leporino. Quero dizer, convenhamos...

— Então o senhor só está recebendo crédito pelo que outros bruxos e bruxas fizeram? – perguntou Harry, incrédulo.

Rony estava espumando. A qualquer minuto, poderia descontar naquele professor tudo que estava sentindo.

— Harry, Harry – disse Lockhart, sacudindo a cabeça com impaciência –, a coisa não é tão simples assim. Há muito trabalho envolvido. Eu tive que procurar essas pessoas. Perguntar exatamente como conseguiram fazer o que fizeram. Depois tive que lançar um Feitiço da Memória para elas esquecerem o que fizeram. Se há uma coisa de que me orgulho é do meu Feitiço da Memória. Não, foi muito trabalhoso, Harry. Não é só autografar livros e tirar fotos de publicidade, sabe. Se você quer ser famoso, tem que estar preparado para dar duro.

Ele fechou os malões com estrondo e trancou-os.

— Vejamos – disse. – Acho que é só. É. Só falta uma coisa.

E tirou a varinha e se virou para os garotos.

— Lamento muito, rapazes, mas tenho que lançar um Feitiço da Memória em vocês agora. Não posso permitir que saiam espalhando os meus segredos por aí. Eu jamais venderia outro livro...

Harry apanhou a própria varinha bem na hora. Lockhart mal erguera a sua, quando Harry berrou:

— Expelliarmus!

Lockhart foi atirado para trás, caiu por cima do malão; a varinha voou no ar; Rony agarrou-a e atirou-a pela janela.

— O senhor não devia ter deixado o Prof. Snape nos ensinar isso – disse Harry furioso, chutando o malão de Lockhart para o lado. Lockhart ficou olhando para ele, parecendo frágil outra vez. Harry apontava a varinha em sua direção.

— Que é que você quer que eu faça? – perguntou Lockhart com a voz fraca. – Eu não sei onde fica a Câmara Secreta. Não há nada que eu possa fazer.

— O senhor está com sorte – disse Harry forçando Lockhart a se levantar com a varinha. – Achamos que sabemos onde fica. E o que tem lá dentro. Vamos.

Saíram os três da sala, desceram as escadas mais próximas, e seguiram pelo corredor escuro em que as mensagens brilhavam na parede até a porta do banheiro da Murta Que Geme.

Empurraram Lockhart na frente. Rony viu que o professor tremia e aquilo lhe deu prazer. Ele merecia aquilo, por tudo o que acabara de confessar ter feito e que, pelo visto, estava disposto a continuar fazendo.

No banheiro, Murta Que Geme estava sentada na caixa de água do último boxe.

— Ah, é você – disse quando viu Harry. – Que é que você quer agora?

— Perguntar como foi que você morreu.

A atitude de Murta mudou na hora. Parecia que nunca alguém lhe fizera uma pergunta tão elogiosa.

— Aaaah, foi pavoroso – disse com satisfação. – Aconteceu bem aqui. Morri aqui mesmo neste boxe. Me lembro tão bem! Eu tinha me escondido porque Olívia Hornby estava caçoando de mim por causa dos meus óculos. Tranquei a porta e fiquei chorando e então ouvi alguém entrar. Disseram uma coisa engraçada. Deve ter sido numa língua diferente, acho. Em todo o caso, o que me incomodou foi que era a voz de um garoto. Então destranquei a porta do boxe para mandar ele sair e ir usar o banheiro dos garotos e então... – Murta inchou fazendo-se de importante, o rosto brilhante. – Morri.

— Como? – perguntou Harry.

— Não faço ideia – disse Murta sussurrando. – Só me lembro de ter visto dois olhos grandes e amarelos. Meu corpo inteiro foi engolfado e então me afastei flutuando... – Ela olhou para Harry sonhadora. – E então voltei. Estava decidida a assombrar Olívia Hornby, sabe. Ah, como ela lamentou ter-se rido dos meus óculos.

— Onde foi exatamente que você viu os olhos?

— Por ali – respondeu Murta apontando vagamente na direção da pia em frente ao boxe em que estava. Harry e Rony correram para a pia. Lockhart ficou parado bem mais atrás, uma expressão de puro terror no rosto.

Parecia uma pia comum. Eles examinaram cada centímetro, por dentro e por fora, inclusive os canos embaixo. Harry examinava uma torneira e tentou abri-la, mas Murta informou que aquela nunca tinha funcionado.

Rony desandou a pensar em possibilidades para abrir àquela torneira emperrada, que na verdade devia ser uma abertura para a Câmara, e a primeira que lhe veio à mente pareceu a mais coerente: fazia sentido pensar que apenas ofidioglossia abriria a Câmara fundada por Slytherin, que era um ofidioglota cuja casa, por isso, tinha uma cobra como símbolo, e que provavelmente guardara uma espécie de cobra gigante - o Basilisco - abaixo dali.

— Harry – disse Rony. – Diga alguma coisa. Alguma coisa em língua de cobra.

— Mas... – Ele fixou o olhar na torneira e disse "Abra".

— Nossa língua. - informou Rony, sacudindo a cabeça.

Harry tornou a olhar para a torneira, se concentrou e fez um som estranho, como um assovio.

A torneira brilhou com uma luz branca e começou a girar. No segundo seguinte, a pia começou a se deslocar; a pia, na realidade, sumiu de vista, deixando um grande cano exposto, um cano largo o suficiente para um homem escorregar por dentro dele.

Rony soltou uma exclamação e Harry anunciou:

— Vou descer!

— Eu também – falou Rony. Sua irmã estava lá embaixo e, viva ou morta, precisava resgatá-la, não importava o que mais estivesse lá com ela.

Houve uma pausa.

— Bem, parece que vocês não precisam de mim – disse Lockhart com uma sombra do seu antigo sorriso. – Eu vou...

E levou a mão à maçaneta da porta, mas Rony e Harry apontaram as varinhas para ele.

— Você pode descer primeiro – rosnou Rony. Já que iam se arriscar, levariam aquele inútil junto. Pelo menos serviria de escudo e, quem sabe, faria bem a ele enfrentar algum perigo de verdade, depois de tantas mentiras sobre já ter feito isso antes.

De rosto lívido e sem varinha, Lockhart se aproximou da abertura.

— Rapazes – disse com a voz fraca. – Rapazes, que bem isto vai trazer?

Harry cutucou-o nas costas com a varinha. Lockhart escorregou as pernas para dentro do cano.

— Eu não acho... – começou a dizer, mas Rony deu-lhe um empurrão, e ele desapareceu de vista. Harry seguiu-o em silêncio e depois foi a vez de Rony. Estavam escorregando por um cano muito largo, descendo cada vez mais fundo sob a escola, para além das masmorras mais fundas. Rony batia ligeiramente na curvas.

Finalmente aterrissou no chão úmido de um túnel de pedra às escuras, suficientemente amplo para a pessoa ficar de pé. Lockhart estava de pé um pouco adiante e Harry mais ao lado, quando ele finalmente parou.

— Devemos estar quilômetros abaixo da escola – disse Harry, sua voz ecoando no túnel escuro.

— Provavelmente debaixo do lago – sugeriu Rony, apertando os olhos para enxergar as paredes escuras e limosas.

Os três se viraram para encarar a escuridão à frente.

— Lumus! – murmurou Harry para sua varinha que acendeu.

— Vamos – chamou Rony e Lockhart, e lá se foram os três, seus passos chapinhando ruidosamente no chão molhado.

O túnel era tão escuro que eles só conseguiam ver uma pequena distância à frente. Suas sombras nas paredes molhadas pareciam monstruosas à luz da varinha.

— Lembrem-se – disse Harry baixinho enquanto avançavam com cautela –, a qualquer sinal de movimento, fechem os olhos imediatamente...

O túnel estava silencioso e o primeiro som inesperado que ouviram foi o ruído de alguma coisa sendo esmagada quando Rony pisou em um crânio de rato. O chão estava cheio de ossos de pequenos animais. Harry ia à frente e virou uma curva escura do túnel.

— Harry... tem alguma coisa ali... – disse Rony rouco, agarrando o ombro do amigo.

Viam apenas um contorno enorme de uma criatura curvilínea, deitada atravessada no túnel. A coisa não se mexia.

— Talvez esteja dormindo – sussurrou Harry. Lockhart agora tampava os olhos com as mãos. Harry, muito devagarinho, avançou aos poucos com a varinha erguida.

A luz revelou uma pele de cobra gigantesca, de no mínimo uns seis metros de comprimento.

— Droga – xingou Rony em voz baixa ao ver aquilo. Então, o Basilisco era mesmo real.

Ouviram então um movimento súbito às costas. Os joelhos de Lockhart tinham cedido.

— Levante-se – disse Rony com rispidez, apontando a varinha para Lockhart. O professor se levantou – em seguida atirou-se contra o garoto, derrubando-o no chão.

Harry deu um salto à frente, mas demasiado tarde – Lockhart já se erguia, ofegante, a varinha de Rony na mão e um sorriso radioso novamente no rosto.

— A aventura termina aqui, rapazes. Vou levar um pedaço dessa pele de volta à escola, dizer que cheguei tarde demais para salvar a garota e que vocês dois enlouqueceram tragicamente ao verem o corpo dela mutilado, digam adeus às suas memórias!

Ele ergueu a varinha de Rony, emendada com fita adesiva, acima da cabeça e gritou:

— Obliviate!

A varinha explodiu com a força de uma pequena bomba. Rony se jogou pro lado, Harry ergueu os braços para o alto e fugiu e Lockhart caiu para trás com o impacto do feitiço que o atingiu em cheio no peito. Pedaços do teto do túnel caíram com estrondo no chão separando Harry dos outros dois.

Rony levantou-se, já preparando-se para enfrentar o professor, mas este estava caído, meio abobado.

— Rony! – ele ouviu Harry chamar do outro lado da parede de pedra recém formada. – Você está bem? Rony!

— Estou aqui! – respondeu Rony – Estou bem, mas esse bosta aqui não está, a varinha acertou nele... - respondeu dando um chute na canela de Lockhart que reclamou com um sonoro "ai!".

— E agora? – perguntou Rony, desesperado, a padece era enorme – Não podemos passar, vai levar séculos...

Harry ficou em silêncio. O desespero começou a tomar conta de Rony.

Sua irmã estava ali embaixo com aquela coisa que, pelo visto, era mesmo enorme e, ainda pior, letal, ele, por sua vez, nem podia imaginar o que estava acontecendo com ela e agora, para piorar tudo realmente, estava preso, sem poder ajudar - por culpa, é claro, daquele estúpido do Lockhart, que agora parecia um bêbado risonho no chão.

Rony o chutou, nervoso. Então Harry voltou a falar.

— Espere aí! Espere com Lockhart. Eu vou continuar... Se eu não voltar dentro de uma hora...

Houve uma pausa cheia de significação. Hermione havia estado em perigo por causa daquela história toda, agora sua irmã, e a ideia de Harry ser o próximo a estar o fez congelar no lugar também, por alguns segundos.

— Vou tentar afastar umas pedras – disse Rony, tentando manter a voz firme. – Para você poder... poder passar na volta. E, Harry... - ele não conseguiu continuar a frase.

— Vejo você daqui a pouco – disse Harry, compreensivamente.

Rony assentiu e se pôs a mover as pedras. Lockhart não ajudava em nada: parecia não saber aonde estava e nem quem era - o que, embora deixasse o garoto certamente aliviado por não ter que lidar com o verdadeiro Gilderoy a uma hora daquelas, também o deixava irado, porque o homem ficava dando risinhos inconvenientes de onde estava.

Mas, ele empenhou sua raiva por isso e aflição pela irmã em trabalhar o mais rápido que conseguia: as pedras eram muito pesadas e ele nem podia arriscar tentar tirá-las com magia, já que sua varia era imprevisível e poderia fazer tudo desabar de uma vez. O tempo todo que ficara fazendo aquilo, Rony só conseguia pensar em Gina, e agora em Harry, que estava indo sozinho tentar salvá-la.

 


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