A Câmara Secreta - Por Rony W. e Hermione G. escrita por overexposedxx, Popione


Capítulo 13
Capítulo 13 - Siga as aranhas




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Rony e Harry tentaram visitar Mione, mas as visitas tinham sido proibidas. Segundo Madame Pomfrey, eram medidas de segurança, pois existia a possibilidade do atacante voltar para tentar terminar o serviço.

Com a saída de Dumbledore, o clima na escola ficou mais tenso que nunca. Nem mesmo os gêmeos Weasley estavam brincando, o que deixou Pirraça mais controlado também.

A pista deixada por Hagrid, por sua vez, não agradava nem um pouco a Rony. Ele tinha pavor de aranhas e agora precisava segui-las, sabe-se lá para onde. Tinham que ser aranhas?

De toda forma, ainda que relutante, ele ajudou Harry a procurar pelo castelo por qualquer aranha para seguir, mas, subitamente, todas pareciam ter fugido de lá. A busca era ainda dificultada pelo fato de não poderem andar sozinhos: tinham que se deslocar pelo castelo com um grupo de alunos da Grifinória.

Durante uma aula de Poções, Rony e Harry sentaram-se atrás de Draco e seus amigos, e foram obrigados a ouvir o garoto se vangloriar de que o pai afastara Dumbledore, que a próxima seria a substituta McGonagall, e ainda bajular Snape, dizendo que ele quem devia ser o diretor.

— Professor – perguntou Draco em voz alta. – Professor, por que é que o senhor não se candidata ao lugar de diretor?

— Vamos, Malfoy – respondeu Snape, embora não conseguisse refrear um sorrisinho. – O Prof. Dumbledore foi apenas suspenso pelo Conselho. Quero crer que estará de volta conosco logo, logo.

— É, claro – disse Draco, rindo-se. – Acho que o senhor teria o voto do meu pai, professor, se quisesse se candidatar, vou dizer ao meu pai que o senhor é o melhor professor que temos, professor...

Rony só ouvia Draco, quando olhou para a cadeira vazia de Hermione e, de repente, se sentiu chateado demais até para dar atenção àquele babaca mimado.

Até que ele foi longe demais.

— Fico surpreso que os sangues ruins não tenham feito as malas – continuou Draco. – Aposto cinco galeões que o próximo vai morrer. Pena que não tenha sido a Granger...

Não houve um segundo entre a última letra que Draco dissera e a reação de Rony: ele saltou do banco para socar Draco, avançando para ele com as mãos fechadas, mas no mesmo instante a sineta tocou e a saída dos alunos camuflou sua tentativa, impedida por Harry e Dino, de chegar ao garoto.

— Me deixe agarrar ele! – rosnou Rony, seguro pelos braços, pelos amigos. – Nem estou ligando, não preciso da minha varinha, vou matar ele com as mãos...! - ele continuou a se debater, muito vermelho, das bochechas às orelhas, e as pontas dos dedos esbranquiçadas, tamanha a força com que fechava as mãos.

— Vamos depressa, tenho de levá-los à aula de Herbologia – disse rispidamente Snape à classe e logo saíram, com Harry, Rony e Dino fechando a fila, Rony ainda tentando se desvencilhar.

Alguém tinha que ensinar àquele Malfoy uma lição, e honestamente, Rony não se importava que fosse ele. Afinal, quem é que aquele garoto pensava que era para falar daquele jeito sobre Hermione? Já não bastava ser um supremacista estúpido, com toda aquela ideia de que nascidos-trouxa e trouxas eram inferiores aos bruxos: ele precisava, realmente precisava, achar graça naquela situação assustadora e desejar a morte não de alguém - o que já seria bem ruim -, mas de Hermione, especificamente.

Pois, sua mãe que o desculpasse, mas da próxima vez em que aquilo acontecesse, nem Harry, nem Dino, nem Snape ou coisa alguma no mundo o impediria de meter a mão em Malfoy. Quem sabe ele ficasse menos pomposo de nariz quebrado ou olho roxo, e pensasse duas vezes antes de sequer tocar no nome de Hermione, e claro, falar todo o lixo o que lhe vinha àquela cabeça oca.

Pensando em sua vingança, ele esperava, iminente, Rony inalou profundamente o ar dos jardins, se dando conta de onde estavam, e relaxou um pouco sob o aperto de Harry e Dino. Eles então, finalmente acharam que era seguro soltá-lo - eles estavam atravessando a horta em direção às estufas.

Na aula de Herbologia, Ernie foi procurar Harry e pediu desculpas por sua desconfiança. Agora que Hermione tinha sido atacada, não restavam mais dúvidas de que Harry não era culpado. Com isso, o garoto e sua amiga Ana foram se juntar a Harry e Rony.

— Aquele tal de Draco Malfoy – disse Ernie quebrando galhinhos secos – parece muito satisfeito com tudo isso, não é? Sabe, eu acho que ele bem poderia ser o herdeiro de Slytherin.

— Você é tão inteligente! – disse Rony, ironicamente, e irritado com o garoto. Ele, de fato, não perdoava fácil como Harry.

— Você acha que foi Malfoy, Harry? – perguntou Ernie.

— Não – respondeu Harry com tanta firmeza que Ernie e Ana arregalaram os olhos.

Rony estava bem concentrado na atividade da aula, até que Harry bateu em sua mão com a tesoura de poda.

— Ai! Que é que você...

Harry apontou para as aranhas do lado de fora da vidraça que se deslocavam numa estranha linha reta, como se tomassem o caminho mais curto para ir a um encontro combinado.

— Ah, é! – exclamou Rony, tentando parecer satisfeito, mas sem conseguir. – Mas não podemos segui-las agora...

Ernie e Ana ouviam curiosos.

— Parece que estão indo para a Floresta Proibida... - disse Harry, para tristeza de Rony.

Ao fim da aula, a Profa Sprout acompanhou os alunos até a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Harry e Rony deixaram-se ficar para trás para poder falar sem serem ouvidos.

— Teremos que usar a capa da invisibilidade outra vez – disse Harry a Rony. – Podemos levar Canino conosco. Ele está acostumado a entrar na floresta com Hagrid, talvez possa ajudar.

— Certo – concordou Rony, que revirava a varinha nos dedos, nervoso. Além da ideia de seguir as aranhas não deixá-lo nem um pouco confortável, era sabido que a Floresta Proibida era realmente perigosa. Isso devia ser o bastante para tirar deles a ideia de querer se enfiar lá, certo? – Hum... não dizem que tem... não dizem que tem lobisomens na floresta? – acrescentou, quando se sentavam nos lugares de sempre, no fundo da classe de Lockhart.

Harry ignorou a pergunta e disse:

— Mas lá também tem coisas boas. Os centauros são legais, e os unicórnios...

Mas, Rony ainda ainda estava temeroso: nunca estivera na Floresta Proibida antes. Harry, por outro lado, já tinha ido uma vez durante uma detenção no ano anterior.

Lockhart entrou aos saltos na sala, e a classe ficou olhando para ele. Todos os outros professores na escola pareciam mais sérios do que o normal, mas Lockhart estava, no mínimo, animado e confiante.

— Vamos, garotos! – exclamou, sorrindo para todos os lados. – Por que essas caras tristes?

Os garotos trocaram olhares exasperados, mas ninguém respondeu.

— Vocês não percebem – disse Lockhart, falando lentamente, como se todos fossem um pouco retardados – que o perigo passou! O culpado foi levado embora...

— Quem disse? – perguntou Dino em voz alta.

— Meu caro rapaz, o Ministro da Magia não teria levado Hagrid se não estivesse cem por cento convencido de que era culpado – disse Lockhart, num tom de voz de alguém que explica que um mais um são dois.

— Ah, teria levado, sim – disse Rony, ainda mais alto do que Dino.

— Me lisonjeia dizer que sei um tantinho mais sobre a prisão de Hagrid do que o senhor, Sr. Weasley – disse Lockhart num tom presunçoso.

—Acho que nem tant... - ele começou a dizer, com raiva, mas Harry o chutou com força por baixo da carteira.

— Não estávamos lá, lembra? – resmungou o amigo.

A animação desagradável de Lockhart, suas insinuações de que sempre achara que Hagrid não prestava e também sua confiança de que a história toda agora chegara ao fim, devia estar irritando e entediando a Harry tanto quanto a Rony, pois este logo lhe rabiscou um bilhete: Vamos hoje à noite.

Rony leu o bilhete e engoliu com força. Então, eles precisariam seguir as aranhas para dentro da floresta. Isso não lhe agradava nem um pouco - pelo contrário, lhe dava a maior sensação de pânico. Suas mãos começavam a gelar, empalidecer, e ele sabia que se perdesse a si mesmo no imaginário do que seria aquela noite, começaria a suar frio ali mesmo e não conseguiria dizer outra coisa senão "não", para o plano. E para outras pessoas isso poderia parecer bizarro, mas um medo era sempre um medo: não é comparável. O que representava para ele e a dimensão que tinha sob sua perspectiva, era diferente. Como alguns tipos de dor, pensou ele: uma pessoa não pode falar sobre uma dor que nunca sentiu, certo? E, mesmo que a tenha sentido, as pessoas sentem dores iguais de maneiras e intensidades diferentes.

Porém, enquanto pensava nisso, seu olhar se arrastou até a carteira vazia em que Hermione normalmente se sentava naquela aula. Aquele tipo de dor, no entanto, ele sabia como era, e achava que podia comparar. A de não tê-la ali, mesmo que exageradamente admirada por Lockhart, e sim na Ala Hospitalar, petrificada, sabe-se lá por quem fosse o monstro que lhe havia deixado assim. A de pensar que, embora ele não a pudesse ter impedido - porque Hermione era mesmo muito teimosa -, teria que haver algo que pudesse fazer para recompensar. Para não deixar que outras pessoas, quem sabe mais um dos três, ficasse daquele jeito, e muito menos que acontecesse a ela de novo.

Esse foi o pensamento que o encorajou a dispensar os pensamentos temerosos, dobrar o bilhete em mãos e acenar com a cabeça para Harry, em confirmação.

A nova medida que obrigava os alunos a ficarem na sala comunal a partir das seis horas fazia a sala ficar sempre muito cheia e só esvaziava depois da meia-noite. Harry buscou a capa da invisibilidade no malão logo depois do jantar e passou a noite sentado em cima dela, esperando a sala se esvaziar. Fred e Jorge desafiaram Harry e Rony para umas partidas de snap explosivo, e Gina se sentou para apreciar, muito quieta na cadeira que Hermione geralmente usava. Os dois amigos perdiam todas as partidas de propósito, tentando terminar o jogo depressa, mas mesmo assim, já era mais de meia-noite quando Fred, Jorge e Gina finalmente foram se deitar.

Harry e Rony esperaram até ouvir os ruídos distantes das portas dos dormitórios se fechando antes de apanhar a capa, atirá-la sobre seus corpos e sair pelo buraco do retrato. Foi outra travessia difícil do castelo, evitando esbarrar nos professores. Finalmente chegaram ao saguão de entrada, puxaram o trinco das portas de carvalho, esgueiraram-se entre as duas folhas tentando impedir que elas rangessem e saíram para os jardins banhados de luar.

Rony tentava se convencer de que ir para a floresta não era o correto, não era o que daria resultado.

— Claro – disse Rony abruptamente quando atravessavam o gramado –, podemos chegar na floresta e descobrir que não há nada para seguir. Aquelas aranhas talvez nem estivessem indo para lá. Sei que parecia que se deslocavam naquela direção geral, mas...

A voz dele foi emudecendo, cheia de esperança.

Os garotos chegaram à casa de Hagrid, e quando Harry empurrou a porta, Canino ficou louco de alegria de vê-los. Preocupados que ele pudesse acordar todo mundo no castelo com seus latidos fortes e ressonantes, eles lhe deram quadradinhos de chocolate, que grudava os maxilares, de uma lata em cima do console da lareira.

Harry deixou a capa da invisibilidade em cima da mesa de Hagrid e chamou Canino:

— Vamos, Canino, vamos dar um passeio – disse Harry dando palmadinhas na perna, e Canino saiu de casa dando saltos de felicidade atrás deles, correu para a orla da floresta e levantou a perna contra um enorme sicômoro.

Harry puxou a varinha, murmurou "Lumos!" e brilhou uma luzinha na ponta, suficiente para deixá-los ver o caminho à procura das aranhas.

— Bem pensado – disse Rony. – Eu acenderia a minha também, mas você sabe, provavelmente iria explodir ou fazer outra maluquice qualquer...

Harry bateu no ombro de Rony, apontando para o capim. Duas aranhas solitárias corriam para longe da luz da varinha procurando a sombra das árvores.

— Muito bem – suspirou o ruivo. Conformado com o que teria que enfrentar, ele se encheu de coragem, lembrando outra vez da amiga e continuou –, estou pronto. Vamos.

Os dois se embrenharam na floresta, com Canino correndo à volta, cheirando raízes e folhas de árvores. Orientados pela luz da varinha de Harry, seguiram o fluxo constante de aranhas, por cerca de vinte minutos sem falar, procurando ouvir outros ruídos que não fossem os dos gravetos estalando ou das folhas rumorejando.

A floresta se tornou mais densa, o céu não era mais visível e a única luz presente era a da varinha de Harry. As aranhas abandonaram o caminho e se embrenharam na floresta. De repente Harry deu um pulo ora trás e esmagou o pé de Rony.

— Desculpe... foi só o nariz de Canino que tocou em mim. - falou Harry em seguida. E completou - Que é que você acha?

— Já chegamos até aqui – disse Rony, preocupado em sair do caminho, mas sabendo que era necessário.

Então, os dois acompanharam as sombras velozes das aranhas entrando pelo meio das árvores. Mais de uma vez tiveram que parar para que Harry pudesse se agachar procurando as aranhas à luz da varinha.

Caminharam pelo que pareceu pelo menos meia hora: as vestes agarrando nos galhos baixos e espinheiros. Passado algum tempo, repararam que o chão parecia estar descendo, embora o arvoredo estivesse mais denso que nunca.

Canino de repente latiu e o som ecoou por todos os lados, fazendo Harry e Rony se sobressaltarem.

— Que foi? – perguntou Rony alto, olhando a escuridão à volta e segurando o cotovelo de Harry com força, assustado.

— Tem alguma coisa se mexendo ali adiante – sussurrou Harry. – Escute... parece uma coisa grande... Eles escutaram. A uma certa distância para a direita, a coisa grande estava partindo galhos à medida que abria caminho por entre as árvores.

— Ah, não! – exclamou Rony. – Ah, não, ah, não, ah...

— Cale a boca – mandou Harry muito nervoso. – A coisa vai ouvir você.

— Me ouvir?! – exclamou Rony numa voz estranhamente aguda. – Ela já ouviu o Canino!

A escuridão parecia estar empurrando para dentro as órbitas dos olhos deles enquanto aguardavam aterrorizados. Ouviram um ronco esquisito e em seguida o silêncio.

— Que acha que ela está fazendo? – perguntou Harry.

— Provavelmente está se preparando para atacar.

Os dois esperaram, tremendo, mal atrevendo a se mexer.

— Você acha que foi embora? – cochichou Harry.

— Sei lá...

Então, para a direita, eles viram um clarão repentino tão intenso, na escuridão, que os dois ergueram as mãos para proteger os olhos. Canino latiu e tentou correr, mas ficou preso num emaranhado de espinhos e latiu ainda mais alto, quando Rony identificou o que estava ofuscando a visão dele.

— Harry! – gritou Rony, a voz esganiçando de alívio. – Harry, é o nosso carro!

— Quê?

— Ande!

Rony foi o mais rápido possível na direção da luz, seguido de perto por Harry, chegando numa clareira. O carro de seu pai estava parado, de faróis acesos, no meio de um círculo de árvores grossas e foi de encontro a ele como se o cumprimentasse.

— Estava aqui o tempo todo! – disse Rony encantado, andando à volta do carro. Viu que suas laterais estavam arranhadas e sujas de lama – Olhe só para ele. A floresta fez ele virar selvagem... – E nós achamos que ele ia nos atacar! – disse Rony, apoiando-se no carro e lhe dando palmadinhas. – Fiquei muito tempo imaginando onde teria sumido!

— Perdemos a pista. - disse Harry preocupado - Vem, vamos tentar encontrá-las.

Rony, porém, não conseguiu responder nada: estava paralisado. Tinha acabado de ver, seu maior pesadelo, a uns três metros acima do chão da floresta, logo atrás de Harry. O terror tomou conta de seu corpo.

Harry nem pôde se virar: de repente a coisa gigantesca que Rony vira agarrou seu amigo pela cintura e o ergueu do chão, deixando-o de cara para baixo. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, Rony sentiu-se pego também e carregado para o meio das árvores escuras, cada vez mais para dentro, no coração da floresta. Canino devia ter sido pego, pois era possível ouvi-lo lutando para se libertar de um terceiro monstro, ganindo alto.

Rony não tinha reação: estava sendo carregado por uma aranha gigante e, enquanto isso, se perguntou mentalmente, em pânico, como as coisas poderiam piorar. Era literalmente a pior coisa que já havia imaginado, se materializando.

Logo, porém, ele soube que havia pensado cedo demais: tinham chegado à borda de uma vasta depressão, uma depressão que fora desmatada, de modo que as estrelas iluminaram o chão coberto de aranhas. Aranhas de todos os tamanhos.

Agora sim, nem em seus maiores pesadelos Rony teria imaginado aquilo. Era absolutamente terrível, desesperador, e não havia saída.

A aranha que o carregava, então, desceu uma encosta íngreme em direção a uma teia enevoada em forma de cúpula, bem no meio da depressão. As outras a sua volta acorriam de todos os lados, batendo as pinças excitadas.

Rony foi jogado no chão com um baque surdo, ao lado de Harry e Canino, que não uivava mais - apenas se encolheu onde tinha caído. Rony estava de boca arreganhada numa espécie de grito silencioso, e seus olhos saltavam das órbitas. Ele mal estava consciente das suas reações - só conseguia ver tudo e gritar mentalmente, esperando que alguém o acordasse, ou milagrosamente viesse salvá-los.

Uma das aranhas começou a emitir um som estranho, como se dissesse "Aragogue''. Então, do meio da teia enevoada em forma de cúpula, emergiu lentamente uma aranha do tamanho de um filhote de elefante. Havia fios cinzentos na pelagem do seu corpo e nas pernas negras, e cada olho, em sua feia cabeça provida de pinças, era leitoso. A aranha era cega.

— Que é? – disse, batendo rapidamente as pinças.

— Homens – bateu a aranha que apanhara Harry.

— É Hagrid? – perguntou a aranha aproximando-se, os oito olhos leitosos movendo-se vagamente. – Estranhos – bateu a aranha que trouxera Rony.

— Mate-os – bateu Aragogue preocupada. – Eu estava dormindo...

— Somos amigos de Hagrid – gritou Harry.

Clique, clique, clique - fizeram as pinças das aranhas por toda a depressão.

Aragogue parou.

— Hagrid nunca mandou homens à depressão antes – disse lentamente.

— Hagrid está enrascado – disse Harry respirando muito rápido. – Foi por isso que viemos.

— Enrascado!? – exclamou a aranha idosa, – Mas por que o mandou?

— Na escola acham que Hagrid andou fazendo uma... Uma coisa com os alunos. Levaram ele para Azkaban.

Aragogue bateu as pinças furiosamente, e a toda volta da depressão o som foi repetido pela multidão de aranhas.

— Mas, isso foi há anos – disse Aragogue preocupada. – Anos e anos atrás. Lembro-me muito bem. Foi por isso que o fizeram sair da escola. Acreditaram que eu era o monstro que morava na chamada Câmara Secreta. Acharam que Hagrid tinha aberto a Câmara e me libertado.

— E você... você não veio da Câmara Secreta? – perguntou Harry.

— Eu! – exclamou Aragogue, batendo as pinças zangada. – Eu não nasci no castelo. Vim de uma terra distante. Um viajante me deu de presente a Hagrid quando eu ainda estava no ovo. Hagrid era só um garoto, mas cuidou de mim, me escondeu num armário do castelo, me alimentou com restos da mesa. Hagrid é um bom amigo e um bom homem. Quando fui descoberta e responsabilizada pela morte da garota, ele me protegeu. Tenho vivido aqui na floresta desde então, onde Hagrid ainda me visita. Ele até me arranjou uma esposa, Mosague, e você está vendo como a nossa família cresceu, tudo graças à bondade de Hagrid...

— Então você nunca... nunca atacou ninguém? - perguntou Harry com coragem.

— Nunca – falou rouca a aranha. – Teria sido o meu instinto, mas por respeito a Hagrid, eu nunca fiz mal a um ser humano. O corpo da menina que foi morta foi encontrado no banheiro. Não conheço parte alguma do castelo a não ser o armário em que cresci. A nossa espécie gosta do escuro e do silêncio...

— Mas então... Você sabe o que matou aquela garota? – perguntou Harry. – Porque a coisa que matou está de volta atacando pessoas outra vez...

Suas palavras foram abafadas por uma eclosão de cliques e o ruído de muitas pernas longas a se agitar com raiva; grandes sombras escuras moveram-se a toda volta.

— A coisa que mora no castelo – disse Aragogue – é um bicho que nós aranhas tememos mais do que qualquer outro. Lembro-me muito bem como supliquei a Hagrid que me deixasse ir embora, quando senti a fera rondando pela escola.

— O que é? – perguntou Harry pressuroso.

Mais cliques altos, mais movimentos; as aranhas pareciam estar fechando o cerco.

— Nós não falamos nisso! – disse Aragogue com rispidez. – Não mencionamos seu nome! Eu nunca disse nem a Hagrid o nome daquele temível bicho, embora ele tenha me perguntado muitas vezes.

Harry não insistiu mais. As aranhas se aproximavam por todos os lados e Aragogue recuava lentamente para sua teia em forma de cúpula.

— Bem, então vamos embora – falou Harry, desesperado, a Aragogue.

— Embora? – repetiu Aragogue lentamente. – Acho que não...

— Mas... mas...

— Meus filhos e minhas filhas não fazem mal a Hagrid, porque eu assim ordeno. Mas não posso negar a eles carne fresca, quando ela entra com tanta boa vontade em nosso ninho. Adeus, amigo de Hagrid.

Rony continuava paralisado, e mal ouvia a conversa entre Harry e a enorme aranha, até que percebeu o cerco se fechando ao redor deles. Uma parede de aranhas tinha se erguido, dando cliques, os muitos olhos brilhando nas cabeças feias. Ele teve o instinto de empunhar a varinha mas, mesmo que funcionasse, não serviria de nada. Aquele era o fim. O fim mais terrível e bizarro de todos, definitivamente. O fim.

Foi então que o carro de seu pai roncou encosta abaixo, os faróis acesos, a buzina tocando, derrubando aranhas para os lados; várias foram atiradas de costas, as múltiplas pernas sacudindo no ar: Rony ofegou, olhando naquela direção, alegremente desacreditado com sua espécie de milagre. O carro parou cantando os pneus diante dos garotos e as portas se abriram.

— Apanhe o Canino! – gritou Harry, mergulhando no banco da frente.

Rony levou apenas segundos: se ergueu de um pulo, agarrou o cão pela barriga e atirou-o, ganindo, no banco de trás. As portas se fecharam e ele nem tocou no acelerador, pois o carro não precisou disso; o motor roncou e eles partiram, atropelando mais aranhas. Subiram a encosta a toda velocidade, saíram da depressão e logo estavam correndo pela floresta, os ramos fustigando as janelas do carro enquanto ele rodava com inteligência pelos vãos mais largos, seguindo um caminho que obviamente conhecia.

Agora parado enquanto o carro se movia sozinho, Rony voltou a ficar em choque. Sua boca estava aberta, sem poder emitir som algum, mas seus olhos não estavam mais arregalados.

— Você está bem? - quis saber Harry. Mas, o amigo olhava fixo para a frente, incapaz de responder.

Eles rodaram pelo mato rasteiro, Canino uivando alto no banco de trás, o espelho lateral partir ao tirarem um fino de um grande carvalho e após dez minutos de estrépito e saculejões, as árvores foram se espaçando e o céu começou a ficar visível novamente.

O carro parou tão de súbito que eles quase saíram pelo para-brisa. Tinham chegado à orla da floresta. Canino disparou por entre as árvores para a casa de Hagrid, quando Harry abriu a porta, o rabo entre as pernas. Harry desceu também e depois de recuperar um pouco a sensibilidade nas pernas, Rony desceu, ainda de pescoço duro e olhar fixo. Nem conseguiu agradecer ao carro que acabara de salvar sua vida, ele logo deu marcha a ré na floresta e desaparecia de vista.

Harry foi até à cabana de Hagrid,mas Rony não conseguiu acompanhá-lo: ao chegar na horta de abóboras , vomitou violentamente.

— Siga as aranhas – disse Rony, fraco, limpando a boca na manga. – Não vou perdoar o Hagrid nunca. Temos sorte de estar vivos.

— Aposto como ele pensou que Aragogue não faria mal a amigos dele.

— Este é exatamente o problema de Hagrid! – retrucou Rony, dando murros na parede da cabana. – Ele sempre acha que os monstros não são maus por natureza, e olhe onde é que ele foi parar! Numa cela em Azkaban! – Rony tremia sem parar agora. – Para que foi que ele nos mandou lá? Que foi que descobrimos? Eu gostaria de saber.

— Que Hagrid nunca abriu a Câmara Secreta – disse Harry, atirando a capa sobre Rony e cutucando-o no braço para fazê-lo andar. – Ele era inocente.

Rony bufou. Evidentemente, criar Aragogue em um armário não correspondia à ideia que ele fazia de ser inocente.

Ao chegarem na sala comunal tiraram a capa e foram para o dormitório. Rony caiu na cama sem se dar o trabalho de tirar a roupa. O pânico que sentiu e a tensão que havia passado o haviam deixado exausto. Por outro lado, ele não sabia se conseguiria dormir: aquelas cenas que acabara de ver ficariam em sua mente por muito tempo. Os pesadelos com aranhas que tivera até ali, agora pareciam sonhos infantis.

De todo jeito, o garoto fez-se fechar os olhos, se deixando levar pelo cansaço, quando ouviu Harry chamá-lo de repente.

— Rony... Rony...

Sem esperar por isso deu um ganido como o de Canino, correu os olhos arregalados à volta e viu Harry.

— Rony, aquela garota que morreu. Aragogue disse que ela foi encontrada no banheiro. E se ela nunca saiu do banheiro? E se ela continua lá?

Rony esfregou os olhos, franzindo a cara para a lua. E então ele também entendeu.

— Você não acha que... não a Murta Que Geme?


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