Coração escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 3
Capítulo 3 - Coração


Notas iniciais do capítulo

Essa mini fanfic tem conexão com minha one shot "A estrela e o morango" e com a mini fanfic que lancei antes dessa, "Eu desejo que você seja feliz".

*A primeira fanart desse capítulo está disponível no Pinterest. Não achei indicações do autor, e peço que me digam se souberem quem é. A segunda está no Deviantart de "Dodus-Taijou", que é o autor segundo à assinatura na parte de baixo da imagem.



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Capítulo 3 – Coração

— Tem certeza que não vem com a gente? – Ichigo perguntou a Isshin quando ele e Rukia já estavam prontos para seguir à Soul Society.

— Tenho sim. As meninas ainda não sabem de tudo e prefiro não deixá-las sozinhas agora. Mas eu irei em algum momento no futuro. Digam a Kuukau e Ganju que o tio Isshin lhes mandou um grande abraço.

— Nós diremos – Ichigo sorriu.

— Estão prontos pra ir? Que bom que não estamos em guerra ou nada parecido, assim poderão aproveitar o passeio e resolver suas questões – Urahara falou ao abrir o portal para a Soul Society.

Sem que precisassem trocar qualquer palavra, o casal deu as mãos, sorrindo um para o outro e entrando juntos no portal.

— Voltamos em dois dias – Rukia falou.

— Fica de olho no Kon, pai.

Isshin riu.

— Pode deixar, filho

******

— Quem é que não para de bater na porta? Ganju? Ganju?! Isso não tem mais graça, seu moleque... – Kukkaku ficou surpresa ao abrir a porta.

— Tá doida?! – Ganju apareceu de outro cômodo da casa – Tava cuidando dos afazeres que você pediu junto com os gêmeos. Não sou mais criança pra perder meu tempo com coisas assim.

O mais novo também se calou ao ver Ichigo e Rukia entrarem, ambos trajando quimonos comuns. Rukia num quimono roxo estampado com flores e Ichigo vestindo um azul. O ruivo apoiou as duas zampakutous na parede e deixou no chão duas bolsas que Ganju reconheceu como sendo um tipo de mochila de trabalho que os shinigamis usavam às vezes. Kaien tivera uma dessas.

— Dê as boas vindas a nossas visitas, Ganju. Quando o tio falou que vocês viriam logo, não achei que fosse ser hoje, mas são bem vindos aqui a qualquer hora – Kuukaku falou com seu sorriso sério, mas ainda acolhedor.

— Ele pediu pra dizer que o tio mandou um grande abraço pra vocês – Ichigo falou.

— Mande nossos cumprimentos também quando estiverem de volta.

— E aí, Ichigo?! – Ganju o cumprimentou – Que roupa é essa? Decidiu tirar folga do serviço, foi? Oi, Rukia.

Rukia sorriu e acenou de volta.

— É uma visita de família. Achamos que seria legal usar roupas comuns no lugar do uniforme pra variar. Mas vamos trocar antes de irmos à Sereitei – Ichigo explicou.

— Então não vão ficar aqui? – Kuukaku questionou.

— Vamos. Mas antes de ir pra casa amanhã vamos fazer uma visita ao irmão da minha garota.

— Conferência, é? Não deixa ele te matar antes do casamento.

— Ah, cala a boca, Ganju – Ichigo respondeu, fazendo todos rirem.

— Você disse visita de família... – Kukkaku começou – Então esse dia finalmente chegou. Ele contou tudo pra vocês.

— Espera aí... – Ganju disse confuso – Contou o que? Que história é essa? Achei que ele tivesse falando do cunhado dele.

— Ganju... – Kukkaku falou num tom muito mais doce que o comum – Vamos todos nos sentar. Temos uma conversa pela frente. Naquela época, eu também não sabia de nada – ela falou encarando o casal novamente – Mas foi assustador, sabe... Você é quase um clone perfeito do meu irmão.

— Sim, todos nós pensamos isso – Ganju disse pensativo – Todo mundo ficou abismado, mesmo sem dizermos nada. Talvez por isso eu tenha conseguido confiar tanto em você. Mas o que Ichigo tem a ver com nossa família?

— Muito mais do que você pensa – o ruivo respondeu.

— Eu espero que essa conversa não vá... – Rukia começou, sem saber como completar a frase.

Ichigo segurou sua mão, imediatamente querendo protegê-la de seus próprios fantasmas.

— Relaxa, Rukia – Kuukaku repousou uma mão em seu ombro, fazendo a baixinha encará-la – Isso tudo já passou. Vamos apenas encaixar as peças que faltam.

******

— O QUE???!!!!! – Ganju exclamou ao fim das explicações dos demais.

— Eu tive a mesma reação quando meu pai nos contou – Ichigo falou enquanto Rukia e Kuukau riam da reação de Ganju.

— O que??!! – Ele repetiu – Eu e o Ichigo somos primos?! Ele é o filho do tio?!!

— Sim, é ele – Kuukaku respondeu simplesmente.

— E você tem mais duas primas gêmeas, adolescentes, que ainda não sabem disso. Yuzu costuma esconder quando se sente mal, mas ela também sofreu muito quando perdemos nossa mãe. Ela é muito mais sensível que Karin e eu. Então resolvemos esperar mais um pouco pra que elas saibam sobre isso e outros detalhes.

— Isso foi sábio – Kuukaku comentou.

— Esse tempo todo, tudo que passamos, e sem saber de nada?!! E você nunca me contou! – Ganju reclamou para a irmã.

— Eu também não sabia quem era o filho do nosso tio, só comecei a suspeitar há algum tempo, então da última vez que falei com ele, ele me disse o que tinha acontecido e que eles dois viriam aqui. Já que íamos de todo jeito falar sobre isso, resolvi fazer uma surpresa pra você.

— Nossa... – Ganju falou como se estivesse hipnotizado, ainda absorvendo tudo que acabara de descobrir – Isso é tão irônico e estranho.

— Eu pensei o mesmo – Rukia falou.

— Você já pensou...? – Kuukaku falou par a baixinha, chamando sua atenção – Que tudo isso até parece um presente dele pra você?

Ichigo arregalou os olhos, lembrando-se do que ele mesmo havia pensado naquela noite, embora não tivesse dito a Rukia ainda.

— Como assim? – A shinigami questionou.

— Olha, eu nunca fui de acreditar muito em sonhos, premonições, avisos do além... – Kuukaku disse com um risinho – Mas essa noite eu sonhei com nosso irmão. Ele estava rindo e tirando sarro da nossa cara como sempre, mas com aquele sorriso inabalável que conseguia contagiar qualquer pessoa. Não lembro da maior parte do que conversamos, mas me lembro dele ter me dito pra cuidar bem da nossa família, e de tentar ser mais dócil de vez em quando. Eu ri muito com isso. Ele também parecia ser meio grosseiro às vezes.

— Eu percebi – Rukia falou com um sorriso de saudade.

— Das vezes em que encontramos nosso irmão naquela época, ele sempre falava de como levava a vida na Sereitei, e sempre contava sobre os companheiros. Ele gostava muito do capitão e de alguns oficiais em especial, inclusive você – ela disse a Rukia, cujo olhar ficou surpreso – Ganju estava sempre brincando ou aprontando alguma coisa nessas horas, achava nossas conversas de adulto chatas, por isso registrou pouco do que Kaien dizia. Ele adorava treinar novatos, e me lembro de quando ele contou sobre você, de que era muito mais do que uma protegida de família nobre como alguns pensavam, e que você tinha um grande potencial, e também um grande coração, e como Miyako também gostava de você por isso. A Admiração que você tinha pelos dois era recíproca, caso não saiba. Eu tenho certeza que se fosse possível, o meu irmão voltaria dos mortos, mesmo que apenas por um instante, pra te dizer pra não sofrer com o que aconteceu. E de alguma forma ele voltou. Foi a família dele que salvou você. E agora você faz parte dela. O sonho dele se realizou de uma forma muito maior do que ele queria. O coração dele vive em todos nós, a começar por você, que foi com quem ele o deixou no instante em que partiu.

— Nossa... Nunca imaginei que você tinha esse dom pra discursos emotivos – Ganju comentou com olhos lacrimejantes.

— Há coisas que se guarda pros momentos certos, irmão – ela brincou – Mas fui sincera em cada palavra.

Rukia riu baixinho com o comentário de Kuukau.

— Isso é uma coisa que ele diria num momento sério – a baixinha lembrou com um sorriso de saudade.

— Ei... Não fica assim – Ganju falou com gentileza ao ver lágrimas silenciosas correrem pelo rosto de Rukia.

Ela sorriu entre o choro.

— Eu sei que eu já chorei muito com isso desde que aconteceu, mas...

Ichigo sorriu e afagou o topo de sua cabeça.

— Se você precisar, você pode chorar, querida. Tem que deixar tudo sair pra abrir espaço pra um caminho novo. Somos sua família agora – o ruivo lhe disse.

Ela riu, e secou os olhos, ainda que as lágrimas continuassem. Não fez objeções quando o amado a abraçou, estando sentando na cadeira bem ao lado da dela.

— Nossa... Em pensar que a gente podia viver como nobres na Sereitei... – Ganju falou com um olhar imaginativo e distante – Ia ganhar seu cunhado muito mais fácil, Ichi.

— Não sei, cara... O Byakuya é super protetor com a Rukia, apesar de dar uma de durão.

— Você se sente chateado? Por não sermos mais nobres? – Kuukaku perguntou a Ichigo.

— Nem um pouco – ele respondeu sorrindo, ainda abraçando Rukia.

— Vão contar essa história ao capitão? – Ganju perguntou.

— Vamos – o ruivo falou com preocupação – Mas não acho que isso será um obstáculo. Nada vai mudar. Não temos intenção de retomar nossa nobreza de qualquer forma, apesar do que houve na guerra, que nem tivemos nada a ver. É só pra... Deixar tudo mais claro. Eu prefiro assim. Quero que ele continue confiando em mim pra cuidar dela.

— Ele vai – Rukia falou com um sorriso sincero – Só um louco não veria que nunca haveria alguém melhor que você pra isso, Ichi.

O ruivo sorriu, e seus olhos brilharam.

— Já que agora somos oficialmente parentes, vocês podiam nos chamar pra ser seus padrinhos, não é, Ichigo? – Ganju brincou.

— Isso ainda vai demorar muito, cara. E eu preciso morrer primeiro pra podermos viver na Soul Society o tempo todo.

— Vai ser muito difícil escolher entre todas as pessoas importantes pra nós – Rukia disse – Mas é claro que pensaremos em vocês. E não é só pro casamento que precisaremos de padrinhos.

******

— Sejam bem vindos – Byakuya falou quando os recebeu em um dos portões da Sereitei e rumaram juntos para a casa dos Kuchiki.

— E aê, Ichigo?! Rukia! Achei que só estariam aqui em mais algumas semanas – ouviram quando passavam perto de um dos refeitórios.

— Oi, Ikakku!

Kira, Momo, Hitsugaya e Matsumoto estavam com ele.

— Vão cumprimenta-los. Então seguiremos caminho – Byakuya disse.

— Eu agradeço – Ichigo falou ao se afastar para falar com os amigos.

— Rukia... – o nobre tocou levemente o ombro da irmã quando ela fez menção de se afastar – Você está bem? Não gostaria de ouvir que ele é o motivo pra você ter chorado recentemente

A shinigami encarou o irmão um pouco surpresa, embora ele fosse bem melhor em lê-la atualmente. Nem mesmo ela notara algum resquício em seu rosto do choro do dia anterior ao se olhar no espelho naquela manhã, talvez distraída por tudo que tinham que fazer.

— Não. Ichigo cuida tão bem de mim que às vezes até parece que nem mereço tanto amor, irmão – ela respondeu olhando para o amado com um sorriso, e encarando novamente Byakya – O que acontece é que... Aquela história... Com os Shiba. Não acaba naquela noite como eu pensava. Tem algo muito importante... E embora achemos que não vai mudar nada, eu e Ichigo gostaríamos que você soubesse. E talvez... Seja importante ter a opinião do comandante.

Dessa vez foi Byakuya quem mostrou uma expressão surpresa.

— Vá falar com seus amigos, conversaremos daqui a pouco, em casa, seja qual for o assunto.

— Obrigada – ela disse com um sorriso, ao qual Byakuya retribuiu antes de vê-la se afastar.

******

Quando o casal terminou a história era Byakuya que estava de olhos arregalados e mudo, tendo parado seu copo de chá a meio caminho para bebê-lo.

— Então... Você, o tempo todo... – ele falou pensativo, devolvendo o copo à mesa que havia entre eles.

— Eu também não sabia. Espero que os motivos do meu pai pra não ter contado até hoje estejam claros.

— De fato alguém tinha interesse na retomada da nobreza dos Shiba durante a guerra, para fins duvidáveis e provavelmente nada altruístas. E falavam muito sobre isso na época que aconteceu, mas eu era mais jovem e não tinha proximidade com o shinigami deserdado, não tinha ideia de quem ele era.

— Quero deixar claro que não temos qualquer intenção de mudar nada sobre nosso status. Eu só achei que você devia saber. Meu relacionamento com Rukia é muito importante pra mim, eu quero casar com ela e criar nossa família um dia, e acho que confiarmos uns nos outros é importante.

— Ichi... – ela murmurou o olhando com um sorriso orgulhoso.

O ruivo se surpreendeu ao ver Byaluya sorrir, o que vinha acontecendo bem mais nos últimos anos, mas não fez comentários.

— Seu respeito por minha irmã, por nossa família e pela Soul Society é admirável, e eu valorizo isso.

— Acha que isso pode nos causar problemas? – Rukia quis saber.

— Não. Não mais.

Os dois entenderam. Yamamoto era conservador sobre regras e acontecimentos passados, o que felizmente Kyouraku parecia não ser, ao mesmo tempo que não era extremo como Aizen ou Yhwach, equilibrando bem as coisas.

— Eu acredito que a essa hora, ele esteja em seu esquadrão. Já que querem mesmo a opinião dele sobre isso, podemos ir até lá quando acabarmos a refeição.

******

— Estava preocupado com isso, Ichigo? – Kyouraku perguntou com um risinho simpático – Seu amor e consideração por ela são admiráveis. E também seu respeito a todos nós daqui. Faz muito tempo que me lembro de ter visto uma história tão bonita acontecer aqui na Soul Society – ele disse olhando na direção de Byakuya, que se manteve sério, mas Rukia não perdeu o brilho que passou por seus olhos cinzas.

Os quatro estavam sentados em volta de uma pequena mesa no chão, numa sala do 1° esquadrão.

— Sabe o que meu velho amigo diria se estivesse aqui? – O comandante da Sereitei perguntou a Rukia, que sentiu a saudade esquentar seu peito ao lembrar-se de seu antigo capitão – Que nunca me perdoaria se eu não desse minhas bençãos a vocês. E eu concordo totalmente.

— Muito obrigada – Rukia falou com um sorriso sincero.

— Isso não vai mudar as coisas. Nós confiamos em vocês. Os Shiba sempre tiveram almas muito nobres, independente de seu status social aqui ou fora. Nós é quem fomos tolos e lentos o suficiente pra colocarmos outras coisas e nossos medos acima disso. E por tudo que veio disso, em nome de toda a Soul Society, eu peço desculpas. E quero que se lembre que são bem vindos aqui, Ichigo.

— Obrigado, capitão – ele sorriu.

******

— Esse foi uma surpresa em todos os sentidos – Ichigo riu baixinho, sentando-se na cama ao lado da esposa e do filho recém-nascido, beijando a têmpora da shinigami e acariciando a mãozinha do pequeno – Três dias antes do esperado... Você está bem mesmo?

— Sim. E foram só três dias. A médica nos disse que mesmo se fosse uma semana antes ainda seria normal.

— Na primeira vez eu achei que estando num gigai, talvez... Você não se machucasse. Que bom que tivemos Orihime pra curar você logo nas duas vezes.

— Um gigai é a reprodução perfeita de um corpo humano, Ichigo. Tanto quanto ele me permitiu engravidar duas vezes, o processo pra que nossos filhos tivessem um corpo físico também era necessário. Por isso eu nunca quis passar a gravidez na Soul Society, apesar de irmos lá durante.

— Acho que nossas visitas chegaram – Ichigo disse ao sentir as pressões espirituais de Renji e Byakuya próximas ao hospital.

Rukia sorriu ao olhar novamente para o bebê aninhado em seus braços. O menino tinha pele clara e cabelos negros como ela, apesar de espetados com os de Ichigo. E seus olhos eram de um castanho claro encantador. Quando olharam para ele pela primeira vez, uma troca de olhares foi tudo que precisaram para decidir qual dos nomes que haviam pensado seria o escolhido, justamente o que Yuki e Hoshi, seus gêmeos primogênitos, mais haviam gostado.

Já haviam sido visitados por Isshin, Karin, Yusu e seus gêmeos, que estavam passando o tempo com o avô enquanto Rukia não recebia alta, o que provavelmente aconteceria antes do previsto após o corpo da jovem mãe se recuperar misteriosamente rápido, cortesia da visita de Chad, Uryu, Orihime, e Daichi, filho do quincy e da ruivinha, que tinha a mesma idade de Yuki e Hoshi. Rukia agora utilizar um gigai convencional também contribuía para uma cura rápida. Outros vários amigos da Soul Society também já tinham aparecido em grupos de dois, três ou quatro, uma vez que o hospital não permitia que muitas pessoas se aglomerassem lá dentro. Uma enfermeira chegou a perguntar a Ichigo se um deles era alguma celebridade pra receber tantas visitas apenas no dia anterior, o que lhes deu uma boa crise de riso após Ichigo lhe dar uma desculpa qualquer, num momento em que o bebê estava acordado e animado suficiente para rir junto com seus pais.

— Ichigo...

O ruivo olhou na direção da porta, vendo Renji e Byakuya entrarem usando roupas comuns, como perfeitos humanos, estando Byakuya um pouco mais formal.

— Espero que nossa estrela esteja bem, cabeça de cenoura.

— Eu estou ótima, Renji.

O tenente olhou na direção de Rukia, e foi notável como seu olhar se derreteu, exatamente como anos atrás, quando ele encontrou Ichigo e Rukia cada um com um bebê ruivo ao vir visitá-los.

— Rukia... – ele disse apenas, claramente emocionado quando caminhou até à capitã, que agora tinha seu cabelo negro bem mais longo.

                - Como estão indo? – Byakuya perguntou a Ichigo.

                - Muito bem – ele sorriu – Esse veio mais parecido com ela.

                Apesar de manter sua expressão neutra, assim como Renji, Byakuya não conseguiu esconder o brilho em seus olhos ao ver a criança.

                - Olha só, capitão! – Renji sussurrou, com o bebê nos braços – É igualzinho a ela.

                - Os olhos dele se parecem mais com os de Ichigo – Rukia falou.

                - Mais ou menos. Eu acho que é uma mistura dos nossos – Ichigo disse.

                O bebê se mexeu quando Renji o pôs nos braços de Byakuya, e finalmente abriu os olhinhos para observar seus novos visitantes. O menino encarou o capitão e o tenente, ficando um longo tempo olhando para o cabelo de Renji, fazendo Rukia rir quando o olhar dele expressou questionamento.

                - Não enxergam bem quando nascem, caso você não lembre que eu já te disse isso, Renji. Cores fortes chamam a atenção deles, embora não enxerguem todas ainda logo ao nascer – a pequena explicou.

                O menino bocejou, novamente se mexendo e voltando a se encolher confortavelmente no colo de Byakuya, e sorriu. O nobre suspirou emocionado, e sorriu de volta, ficando vários segundos perdido no contato visual com o menino. Os outros três não precisaram pensar muito para imaginar no que ele estava pensando, e no quanto estava orgulhoso, mais uma vez, por sua irmã ter alcançado o que ele e Hisana não puderam.

                - Ele é lindo, Rukia – o capitão falou – E não poderia ser diferente sendo seu.

                - Eu concordo totalmente – Renji falou.

                Ichigo sorriu, observando os dois sentarem-se na beirada da cama de Rukia, um de cada lado para lhe devolverem o bebê e conversarem.

                - Ichigo, vocês ainda não nos disseram o nome dele – Renji falou.

                - Ele meio que já veio com nome, Renji – Ichigo respondeu, trocando um sorriso com Rukia.

******

                Ichigo abriu a porta ao ouvir batidas insistentes, e sorriu ao ver os primos.

                - Parece que acertamos a casa dessa vez também – Kuukaku falou ao entrar.

                - Cara, esse mundo de vocês é muito esquisito, mas tem muitas coisas legais aqui – Ganju falou.

                - Seja bem vindos, pessoal. Entrem.

                - Rukia está bem?

                - Ótima – ele respondeu a Kuukaku – Orihime a curou como da outra vez.

                - Tia Kuukaku! Tio Ganju! – Os gêmeos ruivos de sete anos surgiram correndo na sala, seguidos por Renji, Byakuya, Isshin, Yuzu e Karin.

                - E aê, crianças! – Ganju falou, pegando os dois no colo e girando com eles.

                Os dois riram, com seus olhos violeta cintilando de alegria.

                - Vieram ver nosso irmãozinho? – Yuki questionou.

— Ele é muito fofo!! – Hoshi falou.

— Então é outro garotinho? – Kuukaku perguntou às crianças – Viemos vê-lo sim, e ver vocês também.

                - Parece que vocês têm muita ajuda por aqui – Ganju falou enquanto as crianças cumprimentavam Kuukaku – Como vai, tio?

                - Estamos bem, seu pirralho.

                - Tio, é bom vê-lo de novo – Kuukaku o cumprimentou – E vocês duas também.

                - Yuzu não se aguenta com crianças e bebês, estamos quase sempre aqui – Karin falou.

                - Não é à toa que estou estudando pra ser pediatra – a mais nova respondeu.

                - Mesmo que já sejamos parentes há tanto tempo, ainda é estranho não chamar vocês de capitão e tenente – Ganju falou, fazendo Renji rir.

                - Há quanto tempo? – Kuukaku perguntou a Byakuya.

                - É bom revê-los também. Rukia ficará feliz.

                - Vem, vamos vê-la. Ela ficou no quarto porque as crianças estão brincando aqui. E ele estava dormindo – Ichigo falou enquanto Kuukau e Ganju o seguiam pelas escadas.

                - Ele se parece com você? – Ganju perguntou.

                - Esse veio mais parecido com ela, mas... Tem algo muito nosso também.

                - Como assim? – Kuukaku perguntou.

                Ichigo fez um segundo de suspense antes de responder.

                - Vocês vão ver. E acho que vai ser uma boa surpresa. Foi pra todos nós. Ele já começou chegando três dias antes do previsto. Rukia ficou ainda mais emocionada do que esperávamos quando o viu. Ficamos preocupados, mas ela está feliz.

                Os três finalmente chegaram ao quarto do casal, onde viram Rukia pela porta aberta, sentada com as pernas estendidas na cama e um sorriso que emanava a mais pura paz em seu rosto, enquanto fitava o bebê em seus braços. Pelo movimento dos pequenos dedinhos agarrando o polegar de sua mãe, viram que o pequeno estava acordado.

                Os três ficaram um tempo parados na porta admirando a cena. O sorriso bobo de Ichigo para a esposa e o filho poderia contagiar qualquer pessoa, mas foi quando ele suspirou durante sua observação silenciosa que Rukia percebeu a presença deles, e sorriu.

                - Seja bem vindos – ela lhes disse.

                - Quanto tempo, Rukia? – Kuukaku acenou – Viemos ver o novo integrante da família.

                - O Ichigo nos disse que parece mais com você. Eu tô curioso.

                A baixinha riu na mais pura alegria e abraçou o filho contra o peito para poder se ajoelhar na cama e ir sentar-se na beirada perto deles com as pernas para fora do colchão.

                - Querido – ela disse encarando o bebê – Esses são seus primos, embora provavelmente você vá chama-los de tios como seus irmãos fazem. Vieram conhecer você.

                O bebê sorriu para a mãe, embora nenhum deles tivesse ideia de que ele podia ou não entender as palavras de Rukia.

Ichigo sentou-se ao lado da shinigami, pondo um braço em volta de seus ombros, e Kuukau e Ganju se aproximaram para ver o bebê, ficando ambos boquiabertos e sem palavras quando o pequeno abriu os olhos. A cor era diferente, mas era impossível não lembrar dele. O menino tinha a mesma pele alva e cabelos negros da mãe, porém espetados com os do pai, e seu olhos tinham um belo tom de castanho claro.

Ainda sem palavras, Kuukaku se agachou para ficar numa altura mais próxima do menino e segurou uma de suas mãozinhas, a qual o pequeno agarrou imediatamente enquanto a olhava com curiosidade.

— Isso... É impressionante – Ganju conseguiu dizer.

— Não é? – Kuukaku falou com um sorriso, num raro momento em que não reprimia sua emoção nas palavras – Ele é lindo, apesar de provavelmente todo mundo já ter dito isso.

— Ichigo, qual é o nome dele?

O ruivo trocou um olhar e um sorriso com a esposa antes de encarar os irmãos.

— Ele se chama Kaien Kuchiki Shiba Kurosaki – Ichigo lhes disse.

Os dois arregalaram os olhos ao ouvir o nome do menino, sentindo-se tão surpresos quanto felizes pela homenagem a seu irmão. E isso significava que realmente agora Rukia estava em paz com aquele passado.

— Quer segurar ele? – Rukia perguntou a Kuukaku.

— Eu ninei os gêmeos em todas as vezes que nos vimos. Vamos manter a tradição – ela respondeu com alegria, cuidadosamente segurando o pequeno quando Rukia o passou para seus braços, e levantando-se com ele para que Ganju o visse melhor.

                - É igualzinho a ele – Kuukaku falou emocionada.

                - O tio achava que o Ichigo era um clone perdido, mas seu filho ganhou, primo.

                Ichigo riu.

                - Cuidado pra não assustar ele com sua cara feia, Ganju.

                - Só não te dô uma lição aqui e agora em respeito a sua esposa e ao novo membro da família. Se liga, cabeça de cenoura.

                Ichigo tornou a riu quando Ganju pegou Kaien do colo de Kuukaku, e olhando de um para o outro o menino sorriu.

                - Esse também veio simpático como a mãe – Ganju falou brincando com o pequeno, e agora era Rukia quem ria da expressão indignada de Ichigo.

                - E o seu irmão? – Kuukaku perguntou a Rukia.

                - O nii-sama se faz de sério, mas fica completamente bobo e derretido com ele, exatamente como fica com Yuki e Hoshi desde que nasceram. Renji mais ainda.

                - Eles não ficaram enciumados? – Ganju quis saber.

                - Não, embora nós esperássemos que fossem – Ichigo respondeu – São loucos pelo irmão e querem ajudar a cuidar dele o tempo todo. Yuzu diz que essa é uma das vantagens de gêmeos, aprendem a dividir tudo desde cedo, inclusive nossa atenção.

                - A Soul Society deu férias a vocês de novo?

                - Por alguns meses, embora eu ainda saia pra pegar alguns hollows e almas perdidas às vezes – Ichigo disse – Estamos criando uma geração futura afinal. Iremos até lá de novo quando Kaien crescer um pouco.

                - Que bom que as coisas estão bem agora – Kuukaku falou pensativa olhando pela janela.

                - Sim. É maravilhoso – Rukia disse, também admirando o dia ensolarado lá fora.

******

                Rukia observou Ichigo terminar de organizar as almofadas dos sofás, espalhadas pelo chão durante a guerra de travesseiros de Yuki e Hoshi com Renji e Ganju, e depois entre eles mesmos. Estavam apenas eles agora, embora Renji, Byakuya, Ganju e Kuukaku ainda fossem ficar por perto por alguns dias. Nesse momento deviam estar todos celebrando na casa de Urahara, que já os havia visitado com Yoruichi, Tessai, Jinta e Ururu no hospital.

                Ichigo subiu rapidamente as escadas, conferindo o quarto onde Karin e Yuzu haviam feito um forte para os gêmeos, com cadeiras, travesseiros, lençóis e cobertores, onde todos os quatro estavam dormindo agora. As duas passariam alguns dias com eles, para ajuda-los nas primeiras noites agitadas com o bebê. O shinigami sorriu ao erguer um dos tecidos para vê-los.

                - Durmam bem – sussurrou antes de voltar ao andar debaixo da casa.

Sentou-se ao lado de Rukia, envolvendo-a pelos ombros e beijando seus cabelos. Ela ergueu o rosto para beijá-lo, e o ruivo a retribuiu demoradamente, beijando sua testa em seguida, um hábito que Rukia amava nele, embora não o fizesse todas as vezes que se beijavam.

— Eles estão dormindo?

— Todos devidamente apagados, só não sei até quando.

Ela riu.

                - Será que hoje ele nos deixará dormir? Já que passou boa parte do dia acordado?

                - Talvez... – Ichigo respondeu, observando o filho enquanto Rukia o amamentava – Mas vamos dar conta. Sobrevivemos a dois de uma vez antes.

                A shinigami sorriu e se endireitou no sofá para repousar a cabeça no ombro do marido. Ichigo abraçou os dois e apoiou sua cabeça na dela enquanto observavam o pequeno.

                - Às vezes você também para pra pensar em tudo que nós passamos e pensa que é incrível que estejamos aqui agora?

                - Várias vezes. Eu passei a maior parte da minha vida achando que eu jamais teria o que temos agora. O trabalho como shinigami não parecia deixar espaço pra isso. Então você mudou tudo – ela riu baixinho.

                - Você fez a chuva parar. E naquele dia em que te pedi ao seu irmão, eu prometi pra você que te faria feliz. O mínimo que eu podia fazer é tornar isso possível.

                - Obrigada, Ichi.

                A única resposta dele foi outro beijo em seus cabelos, e como tantas vezes antes, palavras não eram necessárias.

                - Não é irônico?

                - O que? – Ela perguntou.

                - Byakuya te revelou que você e Hisana morreram nesse mundo e foram pra Rukongai. E por isso você passou toda sua vida como shinigami. Meu pai estava na Soul Society e precisou fugir pra cá, e por isso passei toda minha vida como humano. Então você apareceu, e devolvemos um ao outro o que as circunstâncias nos tiraram.

                - Eu nunca tinha parado pra pensar nisso – ela disse, com um olhar que misturava surpresa e concordância – Mas é verdade... Somos como um eclipse. Depois que ele passa, parece que nada aconteceu, mas os que viveram aquele momento o guardarão para sempre, e isso muda tudo.

                - Hum...

                - Você até tem o sol na sua cabeça o tempo todo – ela riu.

                - Ah, tá, engraçadinha. E você parece que quer competir com a lua pra ver quem é mais branca.

                Rukia gargalhou baixinho a fim de não incomodar Kaien, que ainda se alimentava aninhado em seu seio.

                - Ichigo... Que bom que encontrei você – ela falou o encarando com todo amor que tinha por ele em seus olhos violeta.

                Ele sorriu com essas palavras enquanto brincava com uma das mãozinhas do filho, e a encarou de volta.

                - Você salvou minha vida, Rukia – Ichigo sussurrou em resposta, com o mesmo amor no olhar – E agora nosso coração está aqui, mais um deles – falou olhando para o filho.

                Rukia assentiu e voltou mais uma vez seu olhar de Kaien para seu shinigami, sorrindo antes de seus lábios se unirem mais uma vez.

                - Shhh... – ouviram Yuzu sussurrar das escadas.

                Os dois sorriram no beijo e aprofundaram o contato, não ligando para as risadinhas das duas duplas de gêmeos escondidas no topo das escadas.


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