Primeiro amor escrita por Bruninhazinha


Capítulo 2
Primeira dança


Notas iniciais do capítulo

Aproveitando a inspiração para atualizar mais uma vez. E quero deixar aqui meus agradecimentos à T, por todo o carinho ♥



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Aquela era a última sexta-feira do mês, dia de faxina.

Ninguém estava realmente animado, afinal, a Torre era um lugar enorme, cheia de andares gigantescos, móveis lustrosos e cômodos em excesso para uma equipe tão pequena quanto a deles. Ainda assim, alguém precisava manter o local em ordem. Uma pessoa eficiente, disciplinada. E ninguém melhor para isso que o líder dos Titãs, certo?

Robin passou a semana inteira montando um roteiro do que cada um faria. Era impressionante como levava tudo a sério. O dia da faxina parecia uma operação de guerra.

No fundo, era mesmo.

Imagine só o estado de uma casa daquele tamanho no fim do mês, tendo Ciborgue e Mutano – as duas criaturas mais porcas do mundo – como moradores. Só mesmo alguém treinado pelo próprio Batman para dar conta do recado.

Felizmente, os poderes de Ravena ajudavam muito, o que facilitou bastante a vida de Richard na hora de organizar o tal roteiro. Conseguir levitar coisas tornava tudo infinitamente mais fácil para todos.

Não para a empata, evidentemente.

Acredite, mesmo que fosse forte e centrada, usar os poderes por tanto tempo era extremamente cansativo. Todavia, não havia muito o que fazer. Precisavam de Ravena para terminar aquilo no mesmo dia; eram super-heróis, tinham responsabilidades demais para se preocuparem com algo assim depois.

Por isso ela não fez objeções. Passou parte da manhã levitando móveis enquanto Ciborgue esfregava o chão com uma carranca das grandes e Estelar voava de um lado a outro, organizando os objetos no armário e retirando toda a poeira. Depois disso, precisou colocar vassouras e baldes para trabalharem sozinhos em alguns andares.

Às cinco da tarde, estava exausta. E ainda faltava colocar as roupas para lavar.

Não era a mais fácil das tarefas. Só o quarto da alienígena tinha um closet de oitenta metros. Rachel, porém, não reclamou; cumpriu o trabalho silenciosamente. Enquanto o sol se punha atrás do mar, no horizonte alaranjado, ela cruzava corredores e descia escadas, sendo seguida por um amontoado de roupas envolvidas pela luz negra de seus poderes. Suspirou pesadamente, pensando que precisaria, no mínimo, de dois dias inteiros meditando para recuperar a paz de espírito depois que essa merda toda acabasse.

A lavanderia era um local apertado, cheio de máquinas de lavar e secar enfileiradas. Ao contrário de Ravena, que tinha muito trabalho pela frente, o resto da equipe já tinha terminado os afazeres (Ciborgue encomendou umas cinquenta pizzas para comemorar). No momento em que abriu as portas, porém, percebeu que não, nem todos haviam terminado.

Mutano estava lá, limpando o chão, com o suor molhando o cabelo verde. Ela piscou sequencialmente, estagnando no lugar, com as sobrancelhas arqueadas, observando a patética cena que se desenrolava logo a frente. Ele cantarolava de um jeito desafinado, valsando para lá e para cá, segurando o esfregão com força, os fones enfiados nas orelhas pontudas.

Raven fez força para não rir. É claro que não funcionou. Não é todo dia que se vê um homem adulto, alto, cheio de músculos e totalmente verde valsando com um esfregão.

Garfield logo notou a presença dela – ela não soube se foi por conta da risada ou do cheiro, já que o rapaz tinha um olfato aguçado. Mas ele virou, sorrindo de um jeito que a deixou desconcertada. O coração falhou uma batida e ela precisou de um segundo para controlar aquele frio odioso no estômago, ou acabaria explodindo algo. Esse é o problema de ter poderes movidos a emoções. Mesmo que a morte de Trigon tivesse facilitado – e muito – a vida dela, ainda era difícil manter o controle.

Era difícil porque Mutano causava sensações nela. Sensações fortes. 

Eles ainda estavam naquilo de se conhecerem melhor entre beijos.  Não namoravam; certamente, também não eram amigos. Ao menos, na concepção de Ravena, amigos de verdade não ficam por aí, se beijando as escondidas quando dá na telha. Não contaram a ninguém sobre o que vinha rolando entre eles e, francamente, era melhor assim, mesmo que não houvesse qualquer lógica para tomarem tal decisão. Meio que soava errado que estivessem se gostando desse jeito. Além disso, todos os outros ainda achavam que não se davam bem.

Ok, não dava para negar: continuavam discutindo. A diferença é que, agora, ao invés das brigas terminarem com o rapaz apanhando ou sendo lançado em uma dimensão desconhecida, os pombinhos acabavam agarrados, como se as diferenças entre eles só incendiassem aquele estranho vínculo.

— Há quanto tempo está aí? — ele perguntou, voltando a esfregar o chão, sorrindo.

Ela deu de ombros, começando a separar as roupas por cores, movendo as mãos, enquanto as peças voavam de um lado a outro, entrando sozinhas nas máquinas.

— Acabei de chegar.

— Sei. — lançou um olhar de quem não acredita. — Precisa de ajuda?

— Não.  

Mas ele não deu ouvidos. Nunca dava. Largou o esfregão e a ajudou, ligando as máquinas, colocando amaciante e sabão em cada uma delas.

— Achei que estivesse com os outros. — Ravena quebrou o silêncio, fitando-o de soslaio.

— Eu sabia que estaria aqui, então troquei os afazeres com o Cib. Era ele quem deveria limpar a lavanderia.

Ela arqueou as sobrancelhas, cética.

— Prefere ficar comigo ao invés de estar com os outros, descansando e comendo pizza?

— Lógico. Jamais perderia a oportunidade de passar um tempo sozinho com você.

Ela ficou vermelha de vergonha. As luzes piscaram logo acima deles, envoltas pelo poder escuro. Ravena tentou concentrar em não explodir as lâmpadas.

Mutano lançou uma olhadela rápida para cima e alargou o sorriso. Ela crispou os lábios.

Ele sabia como a atingia, e gostava dos efeitos que causava nela. Perto dele, Ravena estava sempre vulnerável e envergonhada e, por mais que se esforçasse, não conseguia simplesmente esconder. Cada mísera emoção era projetada nos poderes.

— O que está escutando? — questionou, tentando desviar os pensamentos. Mutano tirou um dos fones do ouvido para, então, colocar no dela.

Ravena arregalou os olhos.  

— Você, — soou com uma nota acusatória, sem conseguir conter a surpresa. — escutando Ludovico Einaudi?

— Qual o problema?

— Nenhum. — piscou sequencialmente. — Só não imaginei que gostasse de clássicos.  

— Sei lá, acho legal. — deu de ombros enquanto desconectava o fone do celular. Guardou o fio no bolso, a música agora ecoando pelo cômodo, por cima da cacofonia trêmula das máquinas. — Você não acha?

— Acho.

O silencio reinou. Só então ela percebeu como estavam próximos.

Garfield também pareceu notar o mesmo, porque a expressão dele ficou séria. Deu um passo à frente, colocou o celular em cima de uma máquina e a puxou delicadamente pela cintura.

Ravena quase fechou os olhos, preparando para o beijo.

Um beijo que não veio.

Notou, tarde demais, o que ele pretendia. Ela gelou quando ele a abraçou, movendo-a para lá e para cá, lentamente, no ritmo da música. Tentou afastá-lo, sem muito sucesso. 

— Não sei dançar. — confidenciou, baixinho, encarando os próprios pés. Ele a fitou longamente com a expressão indecifrável. — Eu nunca dancei assim, com alguém.

Garfield, porém, não riu dela como ela pensou que faria. Longe disso. Só a puxou para mais perto, afundando o nariz em seu pescoço.

— Para tudo tem uma primeira vez.  

Então ficaram lá, girando devagar, sem sair do lugar, inebriados com o calor de suas peles encostadas, os corpos perfeitamente encaixados, os braços dela envoltos no pescoço dele. As lâmpadas voltaram a piscar loucamente. Ela inspirou profundamente e fechou os olhos. Ok, que fosse, já não se importava. Gostava dele. Gostava do estranho relacionamento que tinham.

Parecia que seu coração ia pular para fora. Algo quente surgiu no peito – uma sensação que cresceu de dentro para fora. Deitou a cabeça no ombro do rapaz, suspirando baixinho, tonta com tantas emoções.

— O que está acontecendo conosco?

Mutano não respondeu de imediato.

— Não sei. Mas é bom, essa sensação. Estar perto de você.

Ela fechou os olhos.

— É. É bom. — abraçou-o com mais força. — Eu ficaria assim para sempre, se pudesse.  

Sentiu-o sorrir.

— Eu também.


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