Scorpius e eu nos mudamos para a Inglaterra logo que a pandemia terminou e nos casamos dois anos depois. A nossa cerimônia foi simples e restringiu-se, basicamente, à família Weasley. Aconteceu na casa dos meus avós, onde compartilhávamos grande parte das nossas memórias juntos.

Albus nos atormentou durante exatamente um ano, acreditando que estávamos pregando uma peça nele, porque, segundo ele, era impossível que duas pessoas tão diferentes pudessem se apaixonar. Contudo, quando se trata do amor e do coração, a razão já não tem mais sentido, e mesmo as coisas mais mirabolantes e inesperadas podem acontecer.

O amor é arrebatador e traiçoeiro. Ele aparece sorrateiramente, sem que você perceba e, quando você se dá conta, já está amando. Eu não sei exatamente quando me apaixonei por Scorpius Malfoy. Se foi na adolescência, quando ele partiu ou quando nos reencontramos. Era difícil de dizer quando um misto de sentimentos tão intenso tomava conta de mim, todas as vezes em que as memórias invadiam a minha mente. No entanto, isso não importava. A única coisa realmente importante era que eu o amava de todo o coração, e isso era algo que nem mesmo o destino fora capaz de mudar.

Olhei ao redor, encarando a multidão de pessoas que parecia andar de um lado para o outro. Já havia perdido a conta de quantos indivíduos tinha cumprimentado naquela noite e de quantos “parabéns” havia recebido. Não que eu estivesse insatisfeita, mas eu detestava ser o centro das atenções.

De longe, avistei Scorpius, aproximando-se lentamente, com um sorriso nos lábios, na companhia de uma garotinha de apenas dois anos, caminhando desajeitadamente, desviando das pessoas. Eu ri, achando aquela a cena mais adorável do mundo. Não demorou muito para que eles finalmente chegassem onde eu me encontrava.

— O Albus não aguentou ficar com ela? — perguntei.

Meu primo era péssimo lidando com crianças, provavelmente porque se comportava como uma delas.

— Segundo Albus, a Lizzie é uma criança muito difícil — Scorpius me respondeu, sem conter o riso. — Dá pra acreditar? A Lizzie é um anjinho, olha para essa mocinha.

— Você é um pai babão, Scorpius — brinquei, risonha. — Mas, sim, ela é um anjinho.

— Pelo visto, você é uma mãe babona — ele retrucou, também em tom de brincadeira. — Ah, e eu acho que também sou um marido babão. — Scorpius se aproximou de mim e pressionou seus lábios contra a minha testa. — Eu estou orgulhoso de você.

— Obrigada. — Sorri, verdadeiramente feliz. — Você provavelmente foi a única pessoa que comprou os meus livros durante um bom tempo, então eu é quem preciso agradecer.

— Não seja tão dura consigo mesma — repreendeu. — Você está lançando o seu primeiro livro por uma editora, será que consegue reconhecer o seu talento pelo menos uma vez?

— Ok, talvez eu não seja uma escritora tão ruim assim.

Scorpius revirou os olhos.

— A história desse livro me parece um pouco familiar — Scorpius ergueu as sobrancelhas, conforme lia a sinopse de um dos exemplares que carregava em suas mãos. — Dois amigos de infância que se odiavam e se reencontraram anos depois, na quarentena. Será que eu já vi isso em algum lugar? — perguntou, sugestivo.

Balbucei por um instante, sem ter uma reação exata.

— Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência — menti.

— Achei que odiasse a mentira — ele rebateu, desafiador.

Bufei.

— Idiota — murmurei.

— Tampinha — ele retrucou, tão baixo quanto eu.

Velhos hábitos nunca morrem.

— Vocês realmente se casaram? Não importa quantos anos passem, ainda é esquisito — Albus proferiu, surgindo sabe-se lá de onde.

— Albus, nós temos uma filha, será que é tão difícil assim de acreditar? — perguntei, indignada.

— Sim. É difícil de acreditar — respondeu, sério.

Dei de ombros, e Scorpius riu.

Naquele momento tão bobo e simples, percebi que eu estava inteiramente feliz.

Às vezes a vida pode ser um pouco irônica. Eu sou uma escritora de livros de romance, mas nunca, em toda a minha vida, imaginei que viveria uma história como essa. Aventurei-me nos mais diferentes tipos de clichês desde que iniciei a minha carreira. Escrevi inúmeras histórias. Contudo, dentre todos os romances que já escrevi, esse, definitivamente, sempre será o meu favorito.

Bastaram quarenta dias para que eu encontrasse o meu final feliz.